O Rei das Trevas escrita por Cdz 10


Capítulo 46
Capítulo 046:Os Trenden serão as próximas vítimas?




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Capítulo 046: Os Trenden serão as próximas vítimas?  

       O pequeno e humilde barco de Krink e Diell continua parado, sacolejando para cima e para baixo bem lentamente sobre as águas próximas à cidade de Roul. As embarcações à frente formando aquela fila tortuosa também repetem praticamente o mesmo movimento, um murmúrio um tanto volumoso toma conta daquele local.

            Krink permanece olhando para a esquerda da ponte larga do Porto Principal, mais especificamente às embarcações amarradas à ela, a sua expressão facial ainda indica um tanto de satisfação mesclada com o sentimento de alívio.

            Krink: Muito bom, Diell, muito bom mesmo! Parece que as coisas estão melhorando para nós! Eu farei de tudo para encontrar esses pescadores...

            Diell ainda encara aquelas embarcações semelhantes àquela em que ele se situa neste momento. O pequeno se vira para o seu protetor.

            Diell: Tomara realmente que consigamos encontrá-los, Krink... mas, como você pretende fazer isso? Uma vez que estivermos com os nossos disfarces e hospedados, não seria melhor ficarmos sossegados no nosso canto, esperando pelos meus pais e os outros? É melhor não ficarmos nos arriscando...

            Krink: Eu entendo a sua preocupação, Diell, mas se conseguirmos entrar em contato com os pescadores de Lunn, nós poderemos ter uma estadia muito mais tranqüila por aqui, pelo menos é o que eu acho... e ainda...

            Diell percebe uma mudança não só na expressão de Krink como também em seu tom de voz, que passa para um tom ligeiramente preocupado.

            Diell: O que foi, Krink? Diga.

            Krink: Ainda tenho que pensar em como poderemos encontrar os seus pais e os demais... supondo que eles consigam chegar normalmente aqui em Roul, eles não saberão onde estaremos hospedados e, considerando a hipótese de eles não conseguirem chegar até aqui por algum motivo...

            Krink percebe que Diell fica rapidamente com uma expressão triste em seu rosto, algo, por sua vez, inevitável. O fato de ao menos considerar que os seus pais poderiam ter perdido a batalha contra o Logru Ryumann ou que eles poderiam ter vencido, porém, ficado tão feridos a ponto de não conseguirem chegar até a cidade de Roul é algo que, naturalmente, causa um sentimento que mescla tristeza e desespero no interior do jovem Bour.

            Krink: ... Eu precisarei arranjar um jeito de encontrá-los, caso estejam foragidos em algum outro lugar, ou ainda confirmar se eles...

            Diell desvia o seu rosto e fecha os olhos quase que no mesmo instante e então fala em um tom de voz ligeiramente alto ao seu companheiro.

            Diell: Já chega, Krink! Eu já entendi qual é a sua preocupação, não precisa me contar mais nada!

            Sem mais palavras, Diell se vira de costas, distancia-se do seu amigo e anda até a extremidade do barco, sentando no chão, com a cabeça baixa e encostada nos joelhos dobrados.

            Krink observa esta movimentação do jovem com um olhar relativamente triste, mas é algo que o Bour não pode evitar falar, afinal é a mais pura verdade e o pequeno Diell não podia ser poupado dela.

            Krink (pensando): Perdões, Diell, mas é exatamente isso o que estamos passando agora... há esperança de que seus pais e os outros amigos estejam bem, mas não é nem um pouco impossível que eles não consigam chegar até aqui, independente do motivo...

            Krink fica olhando para o pequeno por mais alguns poucos momentos até que então sua mente desperta para um outro assunto: o disfarce o qual eles teriam que colocar dentro de alguns momentos a fim de que conseguissem se hospedar em Roul com a máxima segurança possível.

            Ele caminha até o jovem, se abaixa e coloca as suas mãos sobre seus ombros, fazendo Diell erguer lentamente a sua cabeça.

            Krink: Vamos lá, não fique assim, Diell... sabe, nós ainda não podemos ficar totalmente tranqüilos, lembre-se de que ainda temos que arranjar disfarces melhores do que esses que estamos vestindo.

            Diell esfrega um pouco os olhos com as costas de sua mão direita e o início de lágrimas que começava a sair se detém lá dentro, junto com toda a sua tristeza.

            Diell: Sim... Sim, eu sei...

            Krink fica mais alguns segundos abaixado com as mãos nos ombros de seu protegido até que então ele volta a se erguer e se vira de costas, dirigindo agora um olhar bastante atencioso na direção à sua frente, observando as embarcações simplórias que formam aquela fila tortuosa na qual eles estão agora.

            Os ocupantes de cada um daqueles barcos pequenos e humildes são ligeiramente sujos e, em geral, com pouca roupa: os que estão no barco logo à frente do de Krink e Diell possuem uma coloração de pele escurecida com roupas apenas da cintura para baixo, roupas estas que são parecidas com calças curtas de quase a mesma cor da pele, enquanto que os seres do barco seguinte têm a pele mais voltada para a cor azul com diversos chifres pelo corpo e estão aparentemente nus, e a quantidade de chifres é tanta que Krink mal consegue identificar a localização dos órgãos genitais daqueles seres.

            E, como esses, todos os outros também aparentam uma grande humildade. Um barco com seres trajando roupas esbranquiçadas e esburacadas, outro levando seres de sobretudo avermelhado, aparentemente inteiro, porém basta apenas olhar para o aspecto para dizer que faz tempo que eles haviam sido comprados e ainda uma outra embarcação que traz seres cujos trajes se assemelham a placas feitas de material semelhante a ferro ou metal, porém, bastante velhos e não chegam nem perto de serem iguais às armaduras imponentes e brilhantes como as que pertencem aos Logrus, por exemplo.

            Krink vai analisando com o seu olhar cada uma dessas embarcações observando com bastante atenção os trajes dos seres que os ocupam, mas nenhum deles parece ser mais eficiente em esconder a aparência do que aqueles que eles já estão usando: o chapéu de penas juntamente com o manto amarelado e sua criatura ornamentada virada pelo lado avesso.

            Krink (pensando): Droga... será que não tem nenhum disfarce decente por aqui...? Não podemos sair do porto sem estarmos com os disfarces, daqui deveremos partir direto para o conselho, então já devemos estar com as nossas roupas prontas...

            O Bour permanece um tanto apreensivo, olhando com bastante atenção cada uma daquelas embarcações que formam a fila, até que então os seus olhos finalmente recaem sobre um barco, relativamente pequeno carregando cerca de cinco seres que trajam mantos largos e pretos, além de capuzes de mesma cor, ainda que a aparência dos trajes seja bastante velha. O veículo está situado a vários metros à frente e mais um pouco para a esquerda, quase na extremidade da fila, próximo de aportar na região determinada na larga ponte do Porto Principal.

            Krink vira o seu rosto um pouco de lado e então chama rapidamente pelo seu jovem companheiro.

            Krink: Diell! Ei, Diell, venha até aqui, rápido!

            Diell ergue a cabeça quase que no mesmo instante e obedece rapidamente, levantando-se de um salto e correndo para o lado de Krink.

            Diell: Diga.

            Krink: Aqueles seres ali, está vendo?

            O Bour o aponta com o seu dedo indicador direito da forma mais discreta possível.

            Diell aperta um pouco os seus olhos a fim de conseguir enxergar na direção em que Krink aponta, até que os seus olhos recaem sobre aqueles seres também.

            Diell: Aqueles que estão vestindo aquela roupa preta?

            Krink confirma com um aceno positivo de sua cabeça.

            Krink: Isso mesmo. Os disfarces deles até que são bons... bem, pelo menos, melhores do que estamos usando agora... principalmente por causa dos seus capuzes.

            Diell fica observando por alguns curtos momentos até que então recomeça a falar.

            Diell: É, são bons... serão deles então que pegaremos os nossos disfarces?

            Krink dá mais uma rápida olhada a toda a sua volta e não vê realmente nenhum disfarce que poderia ser melhor para eles dois: apenas seres trajando as roupas esfarrapadas ou não trajando quase nada em seus corpos.

            Krink: Sim... sem dúvida, creio que estes sejam os melhores trajes que conseguiremos encontrar por aqui.

            Diell: Entendo... bem, e como faremos? Qual o plano?

            Krink fica observando aqueles seres por mais alguns segundos, enquanto que a sua expressão facial ilustra uma clara preocupação e também uma pontada de ansiedade e nervosismo.

            Krink: Eu pensei em uma coisa... será bastante arriscado, mas se nada der errado, pode ser que funcione bem.

            Enquanto isso, o hall de entrada da luxuosa moradia da família Jihny-Ka permanece em um silêncio profundo e fúnebre. Várias partes do chão, teto e paredes estão quebradas e com rachaduras ligeiramente intensas, enquanto que Helsik e o Logru Ghoor estão caídos lado a lado, uma grande poça de sangue os rodeia por baixo, no chão.

            Além deles, os outros cinco Logrus, subordinados do comandante, permanecem caídos no canto daquele grande salão, ainda também inconscientes devido aos golpes que, mais cedo, receberam de Helsik Jihny-Ka.

            Não demora muito tempo até que os três Logrus que invadiram o restante da moradia retornem ao hall de entrada, pela mesma porta dos fundos através da qual haviam entrado anteriormente. Ao chegarem no local, ambos arregalam os olhos, sentindo-se surpresos pelo fato de verem o comandante deles caído.

            Logru: Senhor Ghoor!!

            Os três se apressam a correr até o comandante e, ao se aproximarem dele, todos os três se abaixam sem demora e colocam as suas mãos nele, a fim de tentar levantá-lo um pouco do chão. Um dos Logrus faz força para virar a parte do peitoral para cima, já que estava caído de frente, ainda que a tarefa seja um tanto complicada devido aos diversos espinhos presentes na imponente armadura verde-claro de Ghoor.

            Logru: Ei! Comandante! Acorde, por favor, acorde!!

            É inútil. Ghoor permanece de olhos fechados com a cabeça um pouco jogada para o lado esquerdo. O Logru olha para os seus dois companheiros.

            Logru: Pelo menos ele não está morto, mas mesmo assim... será que...

            Os seus olhos se arregalam.

            Logru: Será que... ele foi atacado por algum outro membro da família Jihny-Ka enquanto nós estávamos investigando o restante da moradia?!

            Os outros dois se apressam a levantar, assumindo uma posição de combate e um deles fala apressadamente.

            Logru: O que significa que em breve nós seremos alvo de algum ataque também, correto?

            Os dois permanecem de pé, olhando apreensivamente em todas as direções daquele hall, enquanto que o outro permanece agachado com Ghoor em seus braços.

            Assim ambos ficam por mais alguns poucos segundos até que o comandante mexe lentamente a sua cabeça e começa a falar em um tom de voz extremamente baixo.

            Ghoor: Nã... Não...

            Ao ouvir isso, os dois que haviam se levantado voltam rapidamente a se agachar a fim de ficarem mais perto de Ghoor.

            Ghoor: Não... se preocupem. Eu não sofri nenhum ataque... não mais do que os que recebi de Helsik... eu só estou assim... devido à luta que tive contra ele, os danos realmente foram... foram... muito grandes.

            Ghoor cospe um pouco de sangue pela boca  que faz os três Logrus arregalarem os olhos por um momento.

            Ghoor: Sem contar... que gastei uma quantidade muito grande de energia para conseguir vencê-lo... creio que não... poderei continuar com as investigações, pelo menos por enquanto...

            Neste momento, o comandante cospe mais alguma gotas de sangue e então o Logru que o segura o aperta com um pouco mais de força.

            Logru: Agüente, senhor Ghoor, por favor!

            Ghoor fica encarando o seu subordinado por mais alguns momentos, mas sem muita significância no olhar, parece que ele começa a ficar em órbita. O Logru então se vira para os seus dois companheiros.

            Logru: Escutem! É melhor vocês irem ver como estão os demais Logrus que foram atacados pelo Jihny-Ka! Eu vou ver como consigo carregar o senhor Ghoor... precisamos retornar para a Morada o quanto antes.

            Os dois Logrus então voltam a se levantar e se dirigem rapidamente aos cinco Logrus caídos ao canto do hall, ao mesmo tempo em que Ghoor aperta uma das mãos do seu subordinado com uma considerável força, o que o faz redirecionar o seu olhara para o seu comandante.

            Logru: O que foi, senhor Ghoor, o que está vendo?

            Ghoor: Você... não pode parar as investigações...! Eu disse que... eu não poderei continuar com elas, mas vocês três podem... e talvez aqueles outros cinco também...

            Logru: Não, mas senhor Ghoor, se o deixarmos aqui sozinho do jeito que está, é quase certo de que o senhor irá morrer! Não há nenhum problema de retornarmos à Morada... até porque, o senhor não é o único comandante que está responsável por investigar a região leste da cidade de Lunn, o senhor Jok também está fazendo isso e com a ajuda de outros dez Logrus subordinados. Por favor, senhor, tente me entender, regressarmos para a Morada dos Logrus agora é a melhor alternativa para nós e... principalmente para o senhor.

            Ghoor se remexe um pouco nos braços de seu subordinado e geme um tanto de dor até que, sem dizer mais nenhuma palavra, o Logru começa a erguer com dificuldade o seu comandante nos braços e, uma vez de pé, ele dá uma hábil volta com ele e o coloca sobre as suas costas, com os seus dois braços caindo sobre os seus ombros.

            Logru (pensando): Droga... essa armadura é pesada demais pra carregar...

            O subordinado mantém Ghoor sobre seus ombros, que ainda geme um pouco, enquanto que os outros dois ainda estão agachados analisando os outros cinco caídos no canto.

            Logru (em um tom de voz mais ou menos alto): E então?

            Apenas dois dos cinco que estavam caídos acordam, ainda um tanto tontos e abalados, mas depois de ficarem de pé, conseguem recobrar a consciência por completo, mas os outros três permanecem desacordados.

            Depois de alguns poucos segundos em que eles erguem os três e os colocam sobre os seus ombros, da mesma maneira que foi feito com o comandante Ghoor, eles então começam a se virar na direção da saída da moradia Jihny-Ka, mas são interrompidos pela voz do comandante.

            Ghoor: Esperem!

            Todos se viram para ele, inclusive o Logru que o carrega, que, por sua vez, direciona o seu rosto um pouco para o lado.

            Logru: Senhor...

            Ghoor: Eu me... esqueci de perguntar o mais importante... conseguiram alguma pista do maldito Bour?

            O local fica em silêncio durante alguns segundos, com os três Logrus que haviam investigado a moradia anteriormente se olhando de lado até que aquele que carrega o comandante se apressa em responder.

            Logru: Não senhor... nada. Apenas mais alguns guardas ainda mais fáceis de serem derrubados do que aqueles de entrada, mas quanto ao Bour... nada mesmo.

            Ghoor: Tsc... que merda! Vamos embora então... de uma vez desse lugar fétido!

            Sem dizer mais nada, os Logrus então começam a andar na direção da saída da moradia, deixando para trás um Helsik totalmente apagado e coberto de sangue e ferimentos, além de um hall estraçalhado, evidentemente marcado por uma batalha.

            Os dois Bours ainda permanecem parados no pequeno barco, enquanto que o pequeno Diell agora está com uma expressão um tanto apreensiva.

            Diell: Mas, Krink... será mesmo que isso vai dar certo?

            Krink dá uma rápida olhada para o seu jovem protegido e depois ele o desvia na direção dos cinco seres de roupa escurecida situados no barco a vários metros à frente.

            Krink: É como eu disse antes, Diell... é um plano bastante arriscado, mas ao teremos outra alternativa. Precisamos tentar, torcendo para que nada dê errado.

            Diell apenas balança a sua cabeça em sentido positivo, dirigindo também os seus olhos na direção daqueles que estão prestes a se transformar nas mais novas vítimas do seu protetor.

            Ambos ficam encarando-os por mais alguns momentos, até que então Krink dá uma olhada atenciosa ao seu redor, observando os seres das demais embarcações. Todos estão aparentemente atarefados, conversando, arrumando as suas bagagens e outros apenas consumindo algum tipo de alimento ou bebida. Nenhum deles está dirigindo olhares à embarcação dos Bours em especial, embarcação esta que, por sua vez, situa-se em último lugar da tortuosa fila.

            Krink: Bem, vamos prosseguir conforme o planejado, Diell. Tente me dar cobertura enquanto eu vou descendo o mais lento possível para as águas.

            Diell: Sim.

            Krink então dá uma rápida olhadela para os seres do barco ao lado, os de pele amarelada e apenas um olho e observa que todos eles praticamente estão conversando e alguns entornando boca abaixo um tipo de bebida escurecida, a qual o Bour não consegue identificar qual é.

            Ele apenas dá um pequeno sorriso e então anda lentamente na direção da lateral do barco e Diell rapidamente se coloca na frente dele, a fim de tentar bloquear uma eventual visão daqueles seres amarelados.

            Diell (em um tom de voz bem baixo e direcionando seus olhos rapidamente para todos os lados): Ao que parece ninguém está observando, Krink... é melhor ir logo...

            Krink rapidamente sobe sobre a fina borda do barco e, ao fazer isto, ele se desequilibra por um rápido momento, o que faz o veículo movimentar-se um tanto mais bruscamente sobre as águas. Sem mais demora, até mesmo para não chamar muita atenção, o Bour retira os pés da borda e os direciona para a água, e depois faz o mesmo com o resto do corpo, fazendo com que em questão de pouquíssimos segundos, fique totalmente submerso.

            Diell rapidamente recua alguns passos e se vira para trás, seus olhos ainda indo em grande velocidade de um lado para outro e também para frente, observando com bastante atenção os seres, mas nenhum deles parece observar a humilde embarcação em que ele se encontra.

            Debaixo das águas, Krink vai nadando rapidamente na direção à frente e contornando também um pouco para a esquerda, indo encontrar os seres de roupas pretas. Ele olha rapidamente para cima e apenas vê uma sombra bastante escura, naturalmente provocada pela parte inferior de todos os barcos que formam a fila torta. Prefere não se incomodar com tal coisa e vira novamente o seu rosto para frente, mexendo fortemente os seus braços lateralmente, para frente e para trás, impulsionando-se cada vez mais.

            Ele vai se aproximando, seus olhos mantendo-se na diagonal esquerda, observando principalmente a base do barco onde os seres de roupa preta estão. Não demora então mais do que alguns poucos segundos até que ele consiga ficar exatamente embaixo deste barco. Krink apenas pára de nadar neste ponto, a forte sombra sobre a sua cabeça.

            Krink (pensando): É provável que acabe chamando atenção dos barcos detrás, mas não haverá jeito... talvez eles terão que morrer também...

            Ele dirige um rápido olhar para trás, encarado as bases dos demais barcos da fila, mas logo em seguida volta a olhar para cima e, então, impulsiona-se nessa direção, sentindo um nervosismo um tanto grande dentro de si próprio.

            Inicialmente, o topo de sua cabeça apenas toca a base do barco, que se movimenta um pouco bruscamente e chama atenção dos seres de roupa preta. Dois deles, até então, estavam sentados, mas se levantam quase no mesmo instante em que sentem a trepidação. Eles começam andam rapidamente para uma das laterais do veículo e um deles fala em um tom de voz relativamente alto.

            Ser: Mas o que é isso?! O que está acontecendo?!

            No segundo seguinte, atrás deles, na lateral oposta do barco, Krink surge apoiando os braços na borda, saindo de baixo para cima das águas. Todos ali se viram para ele quase que no mesmo instante.

            Ser: O que?!

            Krink apenas vai fazendo força com os seus braços a fim de subir no veículo e os cinco seres se aproximam rapidamente dele, e um deles pergunta a mesma hora em um tom de voz mais ou menos ríspido.

            Ser: Mas o que foi?! Quem é você e o que está fazendo?!

            Agora já metade do corpo de Krink está sobre o barco. Ele apenas ergue o seu rosto completamente molhado, sua face, por sua vez, escondida pelas diversas penas que escorrem pelo seu rosto. Por causa do efeito da água, aquele chapéu se torna ainda mais eficiente no que diz respeito a esconder a aparência.

            Krink: Me... Me ajudem... eu preciso da ajuda de vocês...

            Ser: No que exatamente?!

            Dois dos seres se apressam e se abaixam, ajoelhando-se e colocando suas mãos sobre o corpo do Bour, ajudando-o então a trazê-lo para cima do barco. Neste momento, os seres dos dois barcos que estão logo atrás na fila começam a perceber a estranha movimentação que acontece ali. Os seres trajando as placas velhas que parecem ser de um material semelhante a metal e os que trajam um manto avermelhado bem gasto, todos eles ficam encarando o barco à frente.

            Krink finalmente fica com o seu corpo todo no chão do veículo, sentado. Os dois seres, que o haviam ajudado, retiram seus capuzes e então finalmente revelam as suas faces: rostos de coloração azul-clara, olhos muito bonitos, praticamente da mesma cor, e uma barba levemente dourada e raspada e dois pequenos chifres na testa, de coloração preta. A diferença mais marcante está apenas na cor e no formato dos cabelos: um de cabelos vermelhos, lisos e escorridos para trás enquanto que o outro possui cabelos bem amarelos e jogados para cima. O ser que havia falado anteriormente ainda mantinha seu capuz escondendo um tanto o seu rosto e é ele quem começa a fazer as perguntas.

            Ser: Muito bem, explique-se! O que está fazendo aqui em nosso barco?!

            O de cabelos vermelhos se vira rapidamente para ele, com um olhar um tanto raivoso.

            Ser de cabelos vermelhos: Fique calmo, Makhein! Não há necessidade para se estressar!

            Ser: Como não, Khaas?! Ele invadiu o nosso barco e...

            O que se chama Khaas se apressa em responder, interrompendo bruscamente o seu companheiro.

            Khaas: Ele não o invadiu! Ele disse antes que estava precisando de ajuda! Deixe que eu cuide disso!

            Sem mais palavras, ele se vira para Krink.

            Khaas: Agora fale. O que houve?!

            Krink finge estar bastante ofegante, as penas escorrendo pesadamente sobre seu rosto e seus olhos se movendo rapidamente indo de ser em ser, até que seus olhos param então nos olhos de Khaas.

            Krink: Ah... bem... o meu amigo... estávamos vindo, mas o meu amigo se afogou lá atrás e ele está muito fundo, não consigo salvá-lo...

            Khaas: E você quer que nós os ajudemos a salvá-lo, é isso?

            Krink afirma com um rápido movimento de sua cabeça.

            Krink: Sim... se for possível, eu prometo mesmo que os recompensarei depois... todos vocês.

            Aquele chamado de Makhein se aproxima deles e pergunta mais uma vez em um tom de voz ligeiramente brusco.

            Makhein: E por que logo nós? Se você não conseguiu salvá-lo lá atrás, por que é que não pediu para alguém mais perto do seu barco?

            Krink é totalmente pego de surpresa com aquela pergunta, e, como conseqüência disso, ele desvia o olhar quase que no mesmo instante, olhando para todos os lados bem rapidamente.

            Krink: Bem... quanto a isso... eu... acho que vocês seriam melhores para me ajudar... ele realmente está muito fundo!

            Sem mais demora, o Bour se agarra fortemente a Khaas.

            Krink: Por favor! Vocês precisam me ajudar, por favor, de verdade! Isso é... se ainda há tempo...

            Makhein: Putz! Jogue-o fora de nosso barco imediatamente, Khaas! Ele não passa de um tolo... chute-o logo, caso contrário eu mesmo farei isso!

            Khaas se vira rapidamente.

            Khaas: Cale-se, Makhein! O que custa irmos ajudá-lo?

            Makhein: Nos custa tempo! Não viemos até Roul para isso! Ele que se vire, eu não moverei um dedo para ajudá-lo e creio que você é sábio mais do que o suficiente para não ir ajudá-lo também!

            Aquele que possui cabelos bem amarelados e jogados para cima começa a se manifestar finalmente.

            Ser de cabelos amarelos: Eu concordo com o Khaas... se formos bem rápidos nós poderemos voltar o quanto antes, não perderemos muito tempo! Entenda, Makhein, é um caso de vida ou morte...

            Makhein: Humph! Há horas em que não consigo entender o motivo de nós sermos companheiros. Khaas e Nalis, vocês dois irão mesmo então?

            Nalis, o de cabelos amarelos, se vira quase na mesma hora para o seu companheiro Khaas e depois ambos se viram para Makhein, enquanto que os outros dois seres de roupa preta permanecem imóveis, sem pronunciar sequer uma única palavra.

            Khaas e Nalis apenas movimentam a sua cabeça em sentido positivo.

            Makhein: Está certo, mas não demorem, sejam rápidos! Não perderei tempo por causa da bobeira de vocês dois!

            Os dois seres apenas ignoram o aviso de Makhein e então se voltam para Krink.

            Khaas: Vamos?

            Krink: Sim... e... obrigado.

            Khaas abre um pequeno sorriso e, então, no segundo seguinte, os três se jogam na água e começam a nadar, os dois seres sendo guiados por Krink, indo na direção de volta.

            Makhein se mostra ligeiramente impaciente e então, ele se movimenta para a outra extremidade do barco e se senta no chão, observando o local onde eles estavam prestes a aportar ali no Porto Principal de Roul, local este delimitado por aqueles dois grandes postes.

            Makhein: Merda... esses dois ainda vão nos atrapalhar!

            Os outros dois seres ainda trajando suas roupas pretas, inclusive seus capuzes, se sentam, um de cada lado de Makhein, até que o que se sentara na esquerda se pronuncia.

            Ser: Acalme-se, Makhein... creio que eles não vão demorar muito por lá, não iremos ficar assim tão atrasados.

            Makhein, por um momento, apenas se vira para a esquerda a fim de encarar o seu companheiro e, no segundo seguinte, volta a olhar fixamente para frente, fazendo um grunhido baixo e raivoso com a sua boca.  

            Krink permanece nadando bem rapidamente por baixo das bases dos barcos, olhando de segundo em segundo um pouco para trás a fim de confirmar de que aqueles dois seres azulados, Khaas e Nalis, estavam seguindo-o. Assim os três ficam por mais alguns poucos momentos até que Krink percebe estar logo abaixo do barco em que Diell ficara. O Bour pára imediatamente de nadar e faz um rápido sinal com a sua mão direita a fim de que os outros dois também parassem e, logo no segundo seguinte, aponta o seu dedo indicador para cima. Khaas e Nalis apenas acenam positivamente com as suas cabeças.

            Krink se impulsiona para cima com os seus braços e então coloca as suas mãos nas bordas do barco, o que faz com que Diell, que até então estava sentado no chão do barco olhando para frente, tome um susto e se levante, olhando para o lado. No momento seguinte, o pequeno vê o seu protetor subido ao barco pela lateral, completamente encharcado e sendo acompanhado por mais dois seres de roupa totalmente preta. Diell apenas fica encarando-os até que os três então conseguem ficar completamente sobre o chão do barco.

            Khaas: É aqui?

            Krink: Sim...

            Krink é o primeiro a ficar de pé e logo depois os outros dois repetem o mesmo movimento. A esta altura, os seres amarelados e gordos, possuindo apenas um olho, já estão mais atentos ao barco dos Bours, algo que, por sua vez, Krink percebe e faz uma expressão que ilustra um tanto de insatisfação.

            Krink: Bem... é melhor irmos logo, quanto mais demorarmos, mais fundo ele vai ficar.

            Nalis: Certo, certo! Em que direção ele está?

            Krink: Lá atrás.

            Krink corre para a extremidade oposta à do volante e começa a empurrar o barco com as mãos, fazendo o veículo avançar lentamente para trás. Khaas e Nalis apenas ficam observando-o enquanto que Diell não consegue retirar os olhos daqueles dois seres.

            O Bour então começa a falar sem tirar os olhos da direção a frente.

            Krink: Escutem, sinceramente, eu não sei como agradecer a vocês dois... Khaas e Nalis, certo? Muito obrigado mesmo por estarem vindo conosco para nos ajudar.

            Eles apenas abrem um pequeno sorriso em suas faces.

            Khaas: Ah, não se preocupe com isso! E nós pedimos desculpas pelo mal comportamento do nosso colega, o Makhein. Sabe, não é nada pessoal... ele é arrogante com todos que ele conhece...

            Krink: Não se preocupe com isso, eu entendo... mas vocês estão aqui em Roul para fazerem o que exatamente?

            Nalis é quem se apressa a responder essa pergunta.

            Nalis: Ah, bem, quanto a isso... nós somos representantes comerciais, entende? Temos um tipo de companhia que fornece armamentos, itens de cura, alimentos, bebidas e até mesmo profissionais dos mais variados tipos: forjadores de armas e armaduras, curandeiros... enfim, acho que você entendeu, certo? E estamos aqui para fazermos compras.

            Krink levanta um pouco as sobrancelhas.

            Krink: Sério? E que companhia é esta?

            Khaas: Não sei se você deve conhecer...se chama Sink Lin, é o nome do dono, na verdade, um cavaleiro bem renomado da nossa cidade de Kuish.

            Krink: Então vocês são da cidade de Kuish? Ela fica mais para norte da grande cidade de Rolly, certo?

            Khaas: Isso.

            Krink: E essa companhia Sink Lin... é formada apenas por seres da raça de vocês?

            Nalis: Na verdade, não. Nós somos da raça Trenden, e não somos muito habilidosos em combates, em um caso geral pelo menos. Somos mais voltados a assuntos burocráticos e essas coisas assim... mas existem diversas outras raças trabalhando para Sink Lin...

            Krink: Entendo.

            O barco vai se distanciando da fila tortuosa cada vez mais, enquanto que os seres apenas ficam se olhando e desviando seus olhares para Krink.

            Khaas: Nossa, ele está meio longe mesmo, hein?

            Krink: Infelizmente...

            Nalis: Escuta, você não acha que se comandasse o veículo pelo volante aqui da frente seria mais rápido? Bastaria você fazer um giro completo e então poderíamos seguir pela direção que estamos indo agora.

            Krink (pensando): Fazer um giro completo ali no lado de tantos outros veículos certamente chamaria mais atenção do que sair de fininho...

            Diell está com uma expressão bastante apreensiva. Por um momento, o pequeno Bour se preocupa com isso, pois esta expressão poderia entregá-los, mas, logo depois, tranqüiliza-se novamente, afinal de contas, para aqueles seres, um amigo estava morrendo, então nada mais natural que ele estivesse com aquela expressão.

            Krink apenas se vira um pouco para o lado, encarando com o canto dos olhos os dois seres.

            Krink: Seria, mas agora já estamos perto, não há mais necessidade de fazermos tal coisa...

            O barco agora já está ligeiramente distante da fila, os ventos vão batendo sacolejando o veículo de um lado para o outro. Krink pára de empurrá-lo com as mãos e então se vira, observando os demais barcos da fila lá ao longe, eles agora estão um tanto pequenos, menores do que já são.

            Krink (pensando): Aqui já está bom...

            Khaas e Nalis ficam com expressões um tanto felizes.

            Khaas: É por aqui que ele está se afogando então?

            Krink abre um pequeno sorriso malicioso em seu rosto.

            Krink: Não... mas é aqui que vocês dois irão se afogar!!

            Ao mesmo tempo em que Khaas e Nalis fazem uma expressão de total estranhamento em suas faces, Krink avança em uma grande velocidade e lhes desfere dois fortíssimos golpes, um potente soco na barriga de cada um deles, o que os faz cuspir bastante sangue.

            Enquanto isso, no final daquela tortuosa fila, Makhein e os outros dois seres continuam sentados na parte da frente da embarcação. Makhei está de braços cruzados, batendo os dedos da mão direita no braço esquerdo, sentindo-se bastante impaciente e nervoso.

            Makhein: Ah... mas que droga! Eu não disse que eles nos atrasariam?

            O ser sentado à sua direita rapidamente rebate.

            Ser: Relaxe. Afinal de contas, somos os próximos mas ainda não chegou a nossa vez.

            Como se esta frase tivesse sido ouvida pelo funcionário do porto, uma voz ecoa vindo da grande ponte, mais especificamente do espaço delimitado por aqueles dois grandes postes.

            Voz: Próximo!!

            Makhein se vira rapidamente para seu companheiro.

            Makhein: Satisfeito, Ghul?

            Makhein se levata rapidamente e os outros dois o acompanham. O que se chama Ghul começa a falar em um tom de voz um tanto apressado.

            Ghul: Makhein, você não vai esperar o Khaas e o Nalis?!

            Makhein: Eu disse que não perderia tempo por causa da bobeira deles! De qualquer maneira, podemos ir nos adiantando, ainda temos que nos encontrar com o funcionário do porto e entregarmos o nosso barco... não precisamos deles dois para fazer isso.

            Ghul olha de lado para o outro ser que até agora ainda não havia manifestado uma palavra sequer enquanto que Makhein vai impulsionando a embarcação um pouco para frente até que ela encosta na borda da grande ponte daquele porto. Ele dá um pequeno salto do barco, pousando na ponte bem e é acompanhado pelos seus dois colegas.

            O cenário ali é mais ou menos escurecido devido à grande marquize que se ergue acima de toda aquela larga ponte e, logo à frente, naquele local delimitado pelos postes, há apenas uma cabine, mais ou menos grande e que vai até o teto, com algo semelhante a vidro e um funcionário trajando vestes verdes por trás, com um nariz um tanto comprido demais e orelhas ligeiramente pontudas. Ao lado direito desta cabine, há um tipo de uma espessa placa de um material semelhante a metal e, na frente dela, um outro funcionário, trajando as mesmas roupas verdes daquele que está dentro da cabine, mas a sua aparência é um tanto mais bonita: este possui cabelos loiros, pele bastante branca e um espesso espinho preto saindo do queixo.

            Makhein, sendo seguido por Ghul e pelo outro ser, apenas segue na direção da cabine até que ele chega logo na frente do ser funcionário.

            Funcionário: Muito bem. Digam os seus nomes e suas raças, por favor.

            A voz dele chega a ser engraçada de tão chiante que ela é. Entretanto, Makhein não dá sequer um mínimo riso.

            Makhein: Todos nós aqui somos da raça Trenden... meu nome é Makhein e o deles é Ghul e Hark.

            O funcionário por trás da cabine apenas abaixa a sua cabeça e começa a escrever algo em um material que parece ser um papel bastante amarelado e um tanto envelhecido. Depois de alguns segundos, ele volta a erguer o seu feio rosto e a encarar Makhein.

            Funcionário: Tudo certo, então. A embarcação de vocês será muito bem cuidada aqui no Porto Principal de Roul. O funcionário ao lado estará encarregado de levá-los ao Conselho dos Tyre. Depois de vocês se apresentarem ao Conselho, receberemos uma notificação do tempo em que vocês passarão aqui na cidade e então direcionaremos o seu barco para local mais adequado. Muito obrigado e espero que tenham uma boa estadia aqui em Roul!

            Makhein apenas acena levemente com a sua cabeça e se dirige para o funcionário de pele esbranquiçada ao lado.

            Funcionário: Olá! Eu irei guiá-los até o Conselho dos Tyre, mas antes, deixe-me cuidar do barco de vocês. Em breve estarei de volta e então poderemos partir. Com a sua licença.

            O funcionário faz uma leve reverência e se retira, indo na direção do barco dos Trenden. Makhein apenas o acompanha com o olhar e, quando seus olhos repousam sobre o seu barco, a sua visão vai para as águas, mais especificamente ao horizonte e para lá ele fica olhando por alguns momentos.

            Makhein: Humph! Eu não acredito nisso! Aqueles malditos do Khaas e Nalis, eles realmente irão nos atrapalhar!

            Aquele que é chamado de Hark agora se aproxima um pouco mais de Makhein.

            Hark: E o que nós iremos fazer então? Deveremos pedir para o funcionário do porto esperar por eles, ou vamos seguindo?

            Makhein não tem tempo de responder e então o funcionário retorna.

            Funcionário: Já falei para os empregados guiarem o barco de vocês para um lugar seguro, portanto, podem ficar sossegados. Vamos indo então?

            Makhein hesita um pouco até que então ele começa a falar, entretanto, com um tom que mescla insatisfação e um tanto de raiva na sua voz.

            Makhein: Escute, senhor... há dois colegas nossos que ficaram para trás... teria como esperar por eles para que eles possam ir conosco?

            O funcionário olha para o barco que já está sendo retirado do local pelos demais empregados do porto e depois retorna o olhar para Makhein.

            Funcionário: Como eles chegarão aqui?

            Makhein fica um tanto duvidoso. Falar ao funcionário que seria quase certo de que aqueles dois chegariam nadando ali seria algo insensato considerando a grande organização da cidade de Roul, mas se eles os esperassem ali, era certo de que os veriam chegando por debaixo das águas.

            Makhein: Bem, eles chegarão, isso eu garanto. Eu sugiro que esperemos lá fora do porto, se não podemos acabar atrapalhando o fluxo dos demais que estão na fila. Podemos esperar por eles lá fora?

            O funcionário volta a olhar para as águas e encara a longa fila de embarcações que se segue. Assim ele fica por alguns segundos até que então se volta para Makhein mais uma vez.

            Funcionário: Está certo. Mas então, dê o nome deles ali na cabine, assim só basta eles dizerem quem são quando chegarem até aqui e ele estará liberado para sair e se encontrar conosco.

            Makhein: Certo...

            Makhein se distancia e volta até a cabine enquanto que Ghul se senta rapidamente no chão, sentindo-se um pouco cansado. Logo em seguida, então, solta um alto bocejo.

            Ghul: Ai, ai... acho melhor mesmo, pelo menos não haverá desencontro quando formos nos hospedar.

            Hark: De fato...

            Depois de alguns poucos segundos, Makhein retorna e Ghul se ergue quase que instantaneamente.

            Funcionário: Venham por aqui.

            Os três seguem o funcionário que vai até a placa de material parecido com metal. Ao chegarem nela, o ser de dentro da cabine aperta um pequenino botão vermelho e a placar desce ao interior do chão abrindo caminho para que eles pudessem então passar.

            Após aquele lugar, eles se deparam com uma grande quantidade de seres por todos os lados e diversos funcionários do porto, ainda estão no interior da ponte larga do Porto Principal.

            Funcionário: Vamos esperar lá fora dessa multidão, caso contrário os amigos de vocês não irão conseguir nos achar.

            Nenhum dos três Trendens pronuncia uma palavra e o funcionário vai seguindo até que então os quatro saem da sombra da marquize, ficando finalmente do lado de fora do porto.

            O local é bastante belo: um chão de piso bastante colorido e inacreditavelmente limpo e brilhante, diversas barracas bem altas vendendo itens bem variados, pessoas trajando roupas incríveis e muito bem ornamentadas por quase todos os lados. Mais à frente, há um lindo jardim com um tipo de chafariz do qual sai um liquido avermelhado num tom um tanto mais claro do que o sangue e, lá no horizonte, bem ao fundo, um grande pilar que se ergue, aparentemente quase até o céu: o Pilar dos Tyre.

            Ghul fica olhando por todos os lados, estando quase que maravilhado com tudo aquilo enquanto que Hark e Makhein ficam mais quietos.

            Ghul: Incrível! Essa cidade é mesmo muito bonita! Aqui é a região norte, certo? Vou querer conhecer todas as paisagens que dizem ter aqui!

            O funcionário abre um grande e harmonioso sorriso em sua boca.

            Funcionário: Creio que você vai adorar! Até hoje, creio que não existiu um único ser que tenha visitado Roul e tenha se arrependido de contemplar a sua beleza!

            Makhein: Só depois de cumprirmos com as nossas obrigações, Ghul! Não se esqueça que não estamos aqui por lazer!

            Ghul faz uma expressão ligeiramente emburrada.

            Ghul: É, eu sei, eu sei...

            Ghul anda uns dois passos à frente e continua observando aquilo tudo por todos os lados.

            Makhein se vira de volta, na direção do porto, a sua expressão facial ilustra uma grande impaciência.

            Makhein (pensando): Que ódio desses dois!

            Enquanto isso, no porto, o barco pertencente aos seres que trajam as velhas placas de material semelhante a metal é o próximo a ser chamado e, neste momento, um ser de roupas pretas e de capuz de mesma cor está nadando, chegando, sob as águas, no local ocupado pela sombra da base deste barco.


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