O Rei das Trevas escrita por Cdz 10


Capítulo 34
Capítulo 034: O reencontro




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Capítulo 034: O reencontro.

       Na região oeste da cidade de Roul, o Bour Krink continua cambaleando bastante devido à tonteira que continua perturbando-o, indo cada vez mais para frente a fim de encontrar-se com Diell.

            Krink (pensando): Droga... do jeito que eu estou, não vou conseguir dar prosseguimento ao meu plano mesmo depois de eu achar o Diell. Terei que arranjar um jeito de melhorar as minhas feridas antes, senão eu não vou poder mais avançar... por favor, Diell, espere por mim, eu já estou chegando.

            A esta altura, Krink já está há vários metros distante do local onde ocorrera o confronto contra os três Ports, portanto, o chão não é mais recoberto de inúmeros destroços e sim de mato bastante colorido, além de ser rodeado por diversos Furors. Ao ir caminhando, ele permanece se esquivando deles.

            Enquanto isso, Diell continua de pé, completamente parado diante de um grande Furor. Seus olhos permanecem fixos à frente, mas, da mesma maneira que em todos os momentos anteriores, ele não percebe nenhum tipo de movimentação. As lágrimas agora quase não saem mais de seus olhos, ainda que a sua expressão facial deixe claro o seu sentimento de apreensão e tristeza.

            Diell: Droga, Krink, droga! Será mesmo que você foi derrotado...? Mas ainda... há a hipótese de ele ter se ferido bastante na luta contra os Ports e, por causa disso, não ter conseguido chegar até aqui. Só mais um pouco... só mais um pouquinho e eu vou sair daqui para procurá-lo.

            A expressão do pequeno Bour se altera um pouco, passando a ilustrar mais determinação, mas ainda não deixa de demonstrar um intenso nervosismo. Os segundos vão se passando lentamente, mas nada acontece: ninguém chega àquele local. Então, Diell fecha rapidamente os olhos e dá um grande e longo suspiro, voltando, logo em seguida, a olhar para frente. As suas pernas agora se encontram um tanto bambas.

            Diell: É... não vai ter jeito... eu vou ter que ir embora... espero que o Krink só esteja ferido mesmo, tomara... tomara que ele não tenha perdido a vida para aqueles Ports. Bem, vamos indo...

            Diell dá dois passos para frente, quando seus ouvidos são invadidos por um ruído de um leve farfalhar de folhas, farfalhar este que não é provocado por algum tipo de vento ou brisa. O jovem então pára de se mover na mesma hora.

            Diell (pensando): Ah, não, será que alguém está vindo para cá?

            Ele permanece parado olhando fixamente para frente por alguns segundos até que vê uma sombra projetada sobre o chão de mato colorido. O Bour arregala os olhos na mesma hora.

            Diell (pensando): Não! Realmente... realmente tem alguém!

            Incontrolavelmente, Diell recua vários passos até que as suas costas topam com o tronco de Furor em cuja base ele estava sentado há poucos instantes atrás. Ele vira o seu rosto um pouco de lado, mas, em menos de um segundo depois, volta a encarar a direção à frente com uma expressão de intenso medo, a sombra projetada no solo se torna cada vez maior e mais próxima.

            Diell (pensando): Estou perdido! Tomara que não seja nenhuma raça agressiva pelo menos!

            A sua boca está extremamente trêmula e os olhos ainda mais arregalados. Detrás de alguns Furors, começa a ocorrer alguma movimentação e, em questão de segundos, os olhos de Diell avistam alguns chifres pretos à distância. A expressão facial deixa de ilustrar medo para demonstrar dúvida.

            Diell (murmurando): Não... espera, será que...

            As suspeitas de Diell se confirmam neste momento: a sombra agora está bem próxima e o ser possuidor dos chifres se revela por completo, ficando há quase cinco metros à sua frente. O rosto de Diell ganha um sorriso muito grande na mesma hora, porém seus olhos continuam extremamente abertos.

            Diell (a voz sai em um grito bastante alto): KRINK!!!!!

            Automaticamente as lágrimas começam a escorrer de seus olhos, seguindo pelas bochechas. Diell corre rapidamente na direção de Krink que, por sua vez, ainda está meio tonto e cambaleante, mas a sua visão consegue identificar quase que normalmente o seu jovem companheiro, que lhe dá então um fortíssimo abraço. Imediatamente Krink retribui realizando o mesmo gesto. Da mesma forma que ocorrera com Diell, lágrimas também começam a sair de seus olhos de uma maneira totalmente incontrolável.

            Diell: Krink! Krink! Ainda bem que você está vivo! Raikus realmente deve existir, ele atendeu ao meu pedido! Obrigado!

            Krink: Eu não poderia deixá-lo aqui sozinho, Diell, eu nunca faria isso! Afinal... cuidar de você é a minha tarefa, eu fiz uma promessa aos seus pais e não posso quebrá-la não importa o que aconteça.

            Os dois continuam chorando e apertam-se ainda mais forte naquele abraço. Apesar de ambos estarem em uma situação de foragidos dos Logrus, seus corações estão mais felizes do que em qualquer outro momento. Assim então permanecem por mais alguns segundos, até que Krink fraqueja, flexionando um pouco as pernas. Percebendo isso, como se acordasse de um ótimo e feliz sonho, Diell abre os olhos e solta-se do abraço. Com isto, Krink cai fortemente de joelhos no chão e o jovem Bour se ajoelha também rapidamente para ficar de frente para o seu amigo.

            Diell: Krink, Krink! O que aconteceu com você?!

            Krink abaixa um pouco a cabeça e coloca as suas mãos no chão. A tonteira agora o incomoda mais do que nunca. Diell rapidamente coloca as suas mãos sobre os ombros do companheiro.

            Diell: Krink! Krink! Você... você se feriu, não é mesmo? Conte-me, Krink, por favor!

            Com leves movimentos de seus braços, Diell dá fracas sacudidas no corpo de Krink que começa a erguer lentamente a sua cabeça, algo que faz o jovem Bour parar de sacudi-lo na mesma hora. Em poucos segundos, o rosto de Krink já está frente a frente ao de Diell.

            Krink: Desculpe-me, Diell... a minha idéia inicial era de avançarmos logo depois de colocar um fim na vida daqueles Ports, mas eu não posso fazer isso agora... vou precisar descansar um pouco.

            Diell concorda imediatamente com a cabeça.          

            Diell: Sim, sim, claro. Venha... levante-se só por alguns momentos para que você possa se recostar em algum Furor para poder se acomodar melhor.

            Krink: Si... Sim...

            Krink se levanta bem devagar, sentindo uma tonteira extrema enquanto que sua visão também está bastante turva. Ele consegue ficar de pé, enquanto que Diell segura fortemente a sua mão direita agora.

            Diell: Vem...

            O pequeno vem conduzindo o seu amigo até o Furor em que estava descansando nos momentos anteriores. Eles vão andando devagar até que os dois ficam bem pertos do tronco.

            Diell: Pronto, Krink. Sente-se aí e recoste-se bem. Acho que assim você vai conseguir descansar mais confortavelmente.

            Krink apenas acena com a cabeça e obedece, sentando-se na base deste Furor, recostando-se relaxadamente no tronco. Ao fazer isso, o Bour fecha os olhos e solta um profundo suspiro, logo em seguida, Diell senta-se ao seu lado. Krink reabre seus olhos e vira o seu rosto para o pequeno.

            Krink: Ainda bem... que você está vivo, Diell. Nunca poderia saber como iria me reencontrar com os seus pais caso eu tivesse falhado com eles.

            Ao ouvir isso, a expressão de Diell que, desde a chegada de Krink ilustrava basicamente uma mistura de felicidade e alívio, dá lugar a uma ilustração de tristeza e preocupação.

            Diell: Entendo... os meus pais... será que... será que eles estão bem?

            Krink também fica com o seu rosto bastante preocupado. Ele desvia o olhar de Diell e então passa a olhar na direção do chão, com a cabeça ligeiramente abaixada.

            Krink: Eu sinceramente não sei, Diell. Gostaria de lhe dizer que tenho certeza absoluta de que eles estão bem, mas eu estaria mentindo para você se eu fizesse isto.

            Os olhos de Krink vão se franzindo lentamente, o Bour agora sente uma raiva crescente dentro de si.

            Krink: Droga! Droga! Olhe só para tudo isso que nós estamos passando desde a invasão que fizemos... não era para nada disso acontecer, mas que merda!

            Diell ainda fica triste por alguns segundos até que algo desperta a sua atenção e ele recomeça a falar.

            Diell: “Não era para nada disso acontecer” que você disse, Krink? Agora que falou isso... eu me lembrei de uma coisa.

            O Bour volta a encarar o jovem.

            Krink: Coisa? Mas que coisa?

            Diell: É que... quando o meu pai chegou em casa e avisou desesperadamente que os Logrus estavam vindo atrás de nós e que precisávamos sair o mais rápido possível... eu me lembro de que a minha mãe fez uma pergunta a ele.

            Krink: E o que foi?

            Na mente de Diell, as palavras ditas pelos seus pais começam a ser repassadas.

            “Marrncifer (correndo bem rápido): Luyul, querido, eu entendi que os Logrus já estão vindo atrás de nós, mas eu preciso perguntar. Para onde é que nós vamos agora? O que nós vamos fazer?!

            Luyul: Alguém nos traiu! Quase todos os membros da CIV que estavam na missão foram mortos, apenas eu e mais quatro sobrevivemos, mas o Krink está muito ferido!”

            Diell tem sua cabeça voltada para o presente de novo.

            Diell: Eu me recordo de que o meu pai falou algo sobre alguém ter traído a CIV e, por causa disso é que a missão de invasão à Morada dos Logrus falhou.

            Krink volta a fazer cara de raiva e dá um leve soco no solo, provocando um ruído relativamente pequeno ali.

            Krink: É. Estávamos a um bom tempo programando os planos de invasão à Morada dos Logrus, ficando vários e vários dias observando a movimentação do local e tudo mais... até que chegamos à conclusão de uma estratégia. E todo o plano de invasão... foi mantido em total segredo! Total! Sempre que discutíamos as novas informações obtidas ou até mesmo as idéias estratégicas... estávamos sempre dentro da sede da CIV e tínhamos sempre o maior cuidado para que não houvesse nenhum tipo de espião do lado de fora! Mas... quando atacamos a Morada... é como se os Logrus já soubessem que iríamos atacar, foi tudo por água abaixo! Tantos planejamentos, tantas idéias, tantas estratégias... foi tudo arruinado. Eles estavam organizados de uma maneira completamente diferente do que o normal... enfim! Fomos traídos de alguém de dentro, só pode! Hum... chega a ser irônico... tivemos o máximo cuidado para evitar qualquer tipo de espião de fora... e esquecemos da parte de dentro!

            Diell ouve tudo com bastante atenção.

            Diell: Mas então... alguém de dentro da CIV os denunciou aos Logrus...? Mas isso significa que esse alguém...

            Krink: Que esse alguém, quem quer que seja, está disposto a derrubar a CIV, ou pelo menos, alguns membros dela! Ou somente... não estava a fim de que colocássemos a mão na pedra... talvez seja um membro apenas que era contra tudo, mas não queria dizer com medo de represália dos demais ou alguma coisa assim e então, preferiu fazer isso. Eu só não consigo imaginar... que tipo de objetivo este ser maldito quer! É a pedra só para ele? Ele tem simpatia pelos Logrus? Eu não sei, não faço idéia! Mas eu juro, juro mesmo... assim que esse nosso confronto contra os Logrus terminar... eu juro que irei fazer de tudo para descobrir quem foi!

            Diell: É realmente estranho... é bastante provável que, sendo de dentro da CIV, este membro cobice a tal pedra apenas para ele... mas, Krink, eu tinha te pedido isso enquanto estávamos vindo aqui para a cidade de Roul e você ainda não explicou para mim... sabe, eu não consigo entender exatamente como é que a CIV funciona... quero dizer, exatamente, o básico eu sei, mas...

            Krink o interrompe rapidamente.

            Krink: Olha, Diell, é como eu te disse antes, eu prometo que vou contar a você tudo o que deseja, mas... não agora, está bem? Tente entender... neste momento, eu prefiro deixá-lo a par do que iremos fazer daqui em diante. Afinal de contas, para que possamos ficar aqui em Roul esperando com tranqüilidade os seus pais e os outros chegarem... você vai ter que agir também.

            Diell logo fica com uma expressão de dúvida, claramente sem entender aquilo que Krink acabara de falar.

            Diell: Eu terei que agir...? Ah, sim! Realmente, eu fiquei na dúvida enquanto você estava lutando contra aqueles três Ports.

            Krink: Dúvida? Sobre o que?

            Diell: Bem, é que... você está planejando ficar aqui calmamente, recebendo um tratamento semelhante ao de turistas ou algo assim enquanto esperamos os meus pais e os outros... a única forma de conseguirmos isso é indo ao conselho de um dos pilares da cidade para então obtermos uma autorização por escrita e só aí nos hospedarmos em algum aposento apropriado para turistas. Lembra-se? Foi o que aquele Port Trypu nos disse... mas ao sabermos que íamos ser apresentados ao conselho que reside no pilar do Oeste, você decidiu acabar com a vida dos três... sabe, eu entendo, pois não podemos mostrar a nossa forma e tudo mais... mas como é que nós vamos conseguir algum tipo de aposento na cidade de uma maneira tranqüila se não for deste jeito?

            Krink: Sim... é exatamente nisso que eu queria chegar, Diell. Tem um outro jeito de ficarmos bem aqui sem nos apresentarmos ao governo da cidade... só que nós vamos precisar tanto de sorte quanto de habilidade.

            Diell começa a ficar um tanto preocupado, afinal, mesmo no momento em que os Bours fugiram dos Logrus ou até mesmo na hora em que Krink tivera que enfrentar os Ports, ele mesmo apenas estava presente, nunca fora útil para alguma coisa, mas agora seria diferente. Agora teria que agir também.

            Diell: Eu fiquei o tempo todo aqui esperando curioso para saber isso. Qual é o seu plano, afinal, Krink? O que é que você está pretendendo para nós?

            Krink mexe rapidamente a sua cabeça para os lados e não vê nada, cerificando-se de que não há nenhum outro ser vivo ouvindo ou observando-os. Ele faz um rápido sinal com a sua mão direita pedindo a Diell que se aproximasse. O garoto obedece sem nem se levantar, chega perto arrastando os joelhos pelo chão.

            Krink (em um tom baixo): Lembra-se de quando os Ports estavam nos conduzindo ao Pilar do Oeste?

            Diell assente com a cabeça.

            Krink: Então... lembra-se também de que eu perguntei qual era a região na qual mais os turistas chegavam?

            Diell franze ligeiramente os olhos e ergue um pouco a sua cabeça na direção do céu, procurando puxar pela memória esta informação. Assim fica por alguns segundos até que as lembranças das vozes de Krink e de Trypu conversando sobre o assunto começam a passar em sua mente.

            “Krink: Onde é que a maioria dos turistas desta cidade chega? Quero dizer, qual o lugar de Roul pelo qual os turistas mais entram? É que... depois de nos apresentarmos para o conselho que rege o Pilar do Oeste, eu gostaria de ir para lá, sabe, para que nós já possamos achar um lugar para nos hospedarmos e tal... e talvez até possamos achar alguém conhecido, quem sabe...

            Trypu: Sim, sim, é compreensível... bom, eu diria que as regiões norte e sul da cidade são as mais movimentadas no ponto de vista turístico principalmente, até porque são as regiões que apresentam as mais belas construções e paisagens da cidade de Roul, algo que naturalmente atrai os olhares e atenções dos turistas. Assim, os seus portos são sempre os que mais recebem visitantes.”

            Diell então volta a olhar para Krink.

            Diell: Sim... são as regiões norte e sul, não são?

            Krink dá um pequeno sorriso e assente com a cabeça.

            Krink: Sim, Diell. Eu já havia perguntado isso para ele naquela hora porque isso é importante para que o plano funcione.

            Diell: Sei... então desde aquele momento você já estava com tudo armado, Krink?

            Krink: Sim. Agora, preste bem atenção.

            Diell (concordando com a cabeça): Certo.

            Krink: Logo que os Ports nos disseram que a única forma de se hospedar aqui em Roul é reportando-se ao governo, eu tive a idéia... de nos disfarçarmos.

            Diell parece ficar sem entender.

            Diell: Nos disfarçarmos?! Mas de que? E no que isso nos ajudaria?

            Krink: De algum turista. Entenda. O meu plano é ir para a região norte ou a região sul da cidade, que são as que mais possuem turistas, para conseguirmos, de uma maneira escondida, pegar dois deles pelo menos, e, depois acabar com eles para então podermos retirar as suas roupas e... as autorizações por escrito deles. Naturalmente que teremos de pegar turistas que já tenham ido ao conselho para que possamos ter essas autorizações. E será importante também que sejam turistas que tenham roupas longas, de preferência com capuz, para que nossos corpos possam ficar ocultos praticamente dos pés à cabeça.

            Diell vai abaixando o seu rosto lentamente na direção do chão, sentindo-se ao mesmo tempo surpreso, triste e também decepcionado.

            Diell: Você disse... acabar com dois turistas para pegarmos as roupas e as autorizações... quer dizer então... matá-los, certo?

            Krink agora fala de uma maneira relativamente ríspida.      

            Krink: Ah, vamos lá, Diell, não me venha com essa de novo! É a mesma coisa que o caso dos Ports, esses turistas, quem quer que sejam eles, precisam morrer para que nós consigamos sobreviver... e ainda... não serão apenas dois turistas, terão que ser mais.

            Diell arregala os olhos por um momento e volta a encarar o rosto de seu amigo.

            Diell: Mais de dois? Por que?!

            Krink: Você não me deixou terminar de contar o plano, eu disse apenas uma parte dele. Eu falei para irmos à região norte ou sul, pois, em uma delas, tendo mais turistas, será mais fácil que nós consigamos disfarces perfeitos, que nos cubram dos pés à cabeça... mas, até chegarmos lá, não podemos ir do jeito que estamos. Teremos que matar dois turistas daqui ou até mesmo dois seres vivos daqui da região oeste que tenham roupas mais ou menos boas para nos esconderem um pouco e assim, poderemos ir mais escondidos para o norte ou sul.

            Diell: Acho que... acho que entendo... mas, por que é que então não nos disfarçamos aqui direto? Quero dizer, por que é que temos ir para o norte ou para o sul se já teremos que matar turistas daqui?

            Krink: Porque, tendo mais turistas, maior é a probabilidade de acharmos disfarces perfeitos, que, por sua vez, são necessários para nos apresentarmos aos donos do aposento em que ficaremos, sem falar que, havendo mais seres, há mais movimentação e, assim, a retirada de dois seres pode ser menos percebida pelos demais. Além disso... para apenas irmos a uma dessas regiões, o disfarce não precisa ser perfeito, podemos achar algum que cubra só uma parte do nosso corpo, algo assim e, depois, é só irmos rápido para o norte ou o sul. Está entendendo? Tendo menos turistas aqui, mais difícil será achar um disfarce perfeito, então acharemos um mediano para podermos apenas nos locomover e depois achamos um melhor para nos hospedarmos.

            Diell: Sim... mas, e se acharmos um disfarce que nos cubra por completo aqui mesmo no oeste? É difícil, mas não é impossível de acontecer, certo?

            Krink: Sim, tem razão, mas não vamos ficar perdendo tempo procurando... se tivermos a sorte de o primeiro que toparmos ter roupas assim, podemos até ficar por aqui mesmo, mas vamos pegar as roupas de quem quer que seja, não vamos esperar um disfarce desses aparecer por aqui, poderemos perder muito tempo.  

            Diell faz uma expressão triste.

            Diell: Certo... bem... e nós devemos partir agora então?

            Krink: Não. Não ainda... eu preciso que o meu corpo esteja bem para derrotar os turistas... sabe, qualquer movimento em falso pode gerar um escândalo e aí muitos saberão como nós somos, sem contar que começaremos a sermos tratados como procurados pelos habitantes da cidade. Então... eu quero descansar um pouco antes, está bem?

            Diell concorda coma cabeça, mas a tristeza não o abandona.

            Diell: Está certo. Tudo bem, Krink.

            O pequeno abaixa novamente o seu rosto, olhando para o chão. O local ali fica tomado por um profundo silêncio. Não há nem mesmo o farfalhar de folhas de Furors por causa da ocorrência de alguma brisa. Krink recosta a sua cabeça no tronco e fica por alguns segundos observando o céu, até que encara Diell.

            Krink: Diell... vamos lá, não fique assim triste, por favor.

            Diell dá uma rápida olhada para seu amigo, mas logo em seguida, volta a olhar para o chão.

            Diell: Eu só quero que isso tudo acabe...

            Krink: E vai acabar. Nós com certeza vamos conseguir ficar livres desses Logrus e ficaremos seguros, você vai ver. E isso acontecerá mais rápido do que você imagina.

            Diell: Tudo bem, isso pode até ser verdade, Krink, mas... quantos seres terão que morrer para que toda essa situação melhore? Os Ports... agora esses turistas... eu sei que o que você disse, assim como s meus pais falaram, está certo... isso de que se eles morrem é para que nós possamos sobreviver, que não é justo que haja seres vivendo em condições miseráveis como a nossa... mas mesmo assim... isso que estamos fazendo, isso o que a CIV faz... não deixa de estar errado.

            O lugar volta a ficar em silêncio. Os olhos de Krink agora observam o pequeno Bour com um leve sentimento de pena.

            Krink: Diell, você...

            O jovem volta a falar, interrompendo o seu companheiro rapidamente.

            Diell: E estamos falando só dessa situação aqui, de CIV, de Logrus... mas quantos mais outros seres não podem estar sendo assassinados por interesses pessoais ao longo da nossa Dimensão de Luk? Sem falar também nas outras dimensões... por que é que existem esses interesses pessoais? Por que é que tem sempre alguém querendo alguma coisa e essa coisa prejudica o outro?

            Krink: Diell, o que você precisa entender é que...

            Diell: E ainda tem mais! O Deus Raikus... há poucos instantes, sabe, eu me reencontrei com você e a empolgação foi tão grande que acabei agradecendo a este Deus por você ter voltado, mas no fundo... no fundo eu não acredito inteiramente que este Deus exista.

            Krink: Diell, como pode dizer uma coisa dessas?

            Diell: É verdade! Se ele é o criador da nossa Dimensão de Luk, se ele tem tanta bondade... não deveria se esforçar para que tudo ficasse bem por aqui? Não deveria garantir que todos os seres vivos que habitam essa dimensão possam viver em acordo uns com os outros? E se isso não acontece... por que é que ele não resolve, por que é que ele não dá um jeito nisso?

            Krink: Diell...

            Krink continua a olhar para o pequeno, agora o olhar de pena é ainda maior. Alguma poucas lágrimas começam a sair pelos olhos de Diell. Ao perceber isso, Krink o pega pelos ombros e o puxa para perto de si, abraçando-o de lado.

            Krink: Diell... o que você precisa entender é que... os seres que vivem na Dimensão da Pureza, também conhecidos como Deuses... são seres que não devem entrar em contato direto com nós, seres vivos mais simples. E tudo isso que você falou de ele ter que cuidar para que tudo fique bem aqui entre os seres vivos... é claro que ele cuida. Mas, o problema, é que ele não pode manipular a mente de todos os seres vivos para que eles só façam coisas boas e justas. Os seres vivos são livres, Diell, para fazerem o que bem entendem e isso serve tanto para o mal quanto para o bem. Mas... sempre que oramos para Raikus, sempre que pedimos alguma coisa, tenho certeza de que ele atende. Foi o que você mesmo disse quando eu cheguei... você com certeza rezou para ele pedindo para que eu voltasse, não é verdade?

            Diell afirma rapidamente com a cabeça.

            Krink: Então... mas pense... como é que ele pode ajudar a aqueles que não recorrem a ele? Os seres que fazem coisas ruins e sem sentido e que nunca oram para ele... como quer que ele os ajude dessa forma?

            Diell: É... eu entendo... entendo que os seres vivos têm vontade própria e também não faria muito sentido que Raikus criasse vários seres para depois controlá-los, chegaria a ser crueldade, seríamos apenas marionetes... mas, olhe por outro lado... você, assim como meus pais, muitas vezes matam inocentes... porém, tanto vocês quanto esses inocentes têm crença em Raikus e rezam para ele... mas mesmo assim, entram em conflito... como isso é possível? Por que é que coisas assim acabam acontecendo?

            Krink desvia rapidamente o olhar do pequeno Bour, virando o seu rosto para outro lado por alguns momentos. O lugar volta a ficar em silêncio, até que ele solta um leve suspiro e encara Diell mais uma vez.

            Krink: Olha, Diell, como eu falei antes, nós não temos contato direto co  Raikus e, assim, muitas coisas, que só poderiam ser esclarecidas por ele mesmo, eu não faço idéia de como explicá-las. Muitos acreditam que, ao morrerem, vão para essa Dimensão da Pureza para receberem um tipo de treinamento especial, mas, aqueles que em vida não fizeram coisas muito boas, devem ir para a Dimensão Maligna, pois lá é o lugar que mais combina com eles. Natural que isso tudo faz parte de uma crença e só teremos certeza mesmo quando morrermos, mas, uma coisa é certa, Diell... a hora em que tudo tiver que se endireitar, isso vai acontecer, não tenha dúvidas. O que eu digo a você é que sempre deve fazer coisas boas, ajudar os outros com tudo o que pode... mas sem descuidar-se de si mesmo, você tem que ter olhos para os dois... para o outro e para você ao mesmo tempo. Entende? Se você deseja uma convivência melhor entre todos os seres vivos existentes... comece por si mesmo, Diell. Essa é a única certeza que eu tenho.

            Diell: Sim, Krink, eu entendo...

            Krink: Você já chegou a ler o Livro Sagrado?

            Diell faz uma cara de estranhamento.

            Diell: Livro Sagrado? Mas o que é isso?

            Krink: É um livro no qual está escrito tudo aquilo que o Deus Raikus pensa. Diz-se que o livro foi escrito logo depois que a Dimensão de Luk foi criada. E... os ensinamentos descritos são os que todos os seres vivos devem seguir para se ter uma convivência pacífica. Agora... se cada um vai seguir ou não, isso já é oura história...

            Diell: Agora que você está falando, eu acho até que já vi esse livro lá na minha casa... um com capa azul e ornamentos amarelos pintados, é muito bonito, mas... eu acho que nunca o li. Mas agora eu fiquei com interesse...

            Krink: Não lhe garanto que o livro resolva todas essas dúvidas, Diell, mas... acho que você poderia ter uma visão mais clara sob o ponto de vista de Raikus...

            Diell: Mas, Krink, você tem certeza que só podemos nos encontrar com este Deus quando morremos e imos à Dimensão da Pureza para recebermos o tal treinamento?

            Krink: Bem, sim... qual seria o outro jeito?

            Diell: Eu não sei... será que ele nunca veio até aqui? Será que... nem mesmo quando ele criou esta dimensão ele veio visitá-la? Porque se veio... será mesmo que ele não pode vir de novo?

            Krink: Duvido muito, Diell, é como eu disse... ele, assim como os outros Deuses... não têm o costume de terem contato direto com os seres vivos mais inferiores...

            Diell: Entendo. Mas seria muito bom se houvesse um jeito de atraí-lo para cá...

            Krink: Sim... sim, seria.

            Tanto Krink quanto Diell começam a olhar para o céu, ambos soltando leves suspiros.

            Diell (pensando): Eu ainda quero descobrir tudo isso... não é possível que os seres vivos fiquem prejudicando uns aos outros para sempre...

            Krink (pensando): Diell, eu gostaria de poder te responder todas essas perguntas, mas eu... não posso. Muitas das suas dúvidas... também são minhas.

           

   


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