O Rei das Trevas escrita por Cdz 10


Capítulo 18
Capítulo 018: A Cidade de Roul




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Capítulo 018: A Cidade de Roul.

       O barco onde Krink e Diell estão continua avançando sobre as águas numa boa velocidade para frente. A cada segundo que se passa, o grande território que se estendia sobre as águas lá no final do horizonte vai aumentando, tornando-se mais próximo dos dois.  Diell está ao lado de Krink, ambos bem próximos do volante do barco.

            Diell: Você tem noção do tempo exato em que nós vamos chegar lá, Krink?

            Krink: Certeza absoluta eu não tenho, mas agora que já podemos avistar a cidade... creio que em cerca de dez ou quinze minutos nós estaremos chegando.

            Diell: Ainda bem... eu espero que meus pais nos encontrem aqui logo.

            Krink: Eu estou torcendo para que isso aconteça também.

            O tempo vai se passando lentamente, Diell mantém seus olhos fixos para frente, observando a cidade aproximando-se a cada segundo. Os dois Bours ali começam a observar algumas construções relativamente altas e pontudas, algo que acaba chamando a atenção do pequeno.

            Diell: Krink, mas... o que são aquelas coisas grandes? Elas são tão altas!

            Krink: Elas são os chamados Pilares de Roul.

            Diell: Pilares... de Roul?

            Krink: Isso. Essa cidade, Diell, se caracteriza por possuir uma grande quantidade de raças. Todas elas, por sua vez, coexistem numa profunda paz...

            O Bour é interrompido.

            Diell: Hum! Bem diferente do que acontece lá na nossa cidade de Lunn, a presença daqueles Logrus malditos impede qualquer tipo de existência de paz lá...

            Krink: De fato, são poucas as cidades como Roul, na qual a paz reina. Entretanto, apesar desse grande número de raças que vive ali, existem quatro principais, quatro raças que estão em maioria na região dessa cidade. Tyre, Uuil, Korks e Ghaands.

            Diell: Puxa... eu nunca tinha ouvido falar em raças com esses nomes... mas pelo que você está dizendo, essas quatro são bastante pacíficas, não são?

            Krink: Sim, com certeza. É como eu disse, a paz reina em Roul, lá todas as raças vivem em acordos igualitários.

            Diell: Como assim?

            Krink: Todas as raças têm direitos e deveres iguais. O fato de essas quatro raças que mencionei serem as principais não quer dizer que elas têm privilégios mediante às outras.

            Diell: Então elas só são principais por estarem em maior número, é só isso?

            Krink: Não exatamente... elas estão em maior número sim, porém são elas que... digamos que são elas que governam Roul e garantem que não haja injustiças entre os seres das diversas raças que vivem ali.

            Diell: Ah, sim, entendi, então são essas raças que trabalham em conjunto para protegerem esses direitos e deveres igualitários?

            Krink: Sim... e cada uma delas se responsabiliza por uma determinada região da cidade, e, por causa disso, no norte, sul, leste e oeste de Roul existem os enormes pilares, que são característicos dessa cidade. Em cada um desses pilares reside o conselho de cada uma dessas raças. O Conselho de Tyre reside no Pilar do Norte, o de Uuil, no Pilar do Sul, o de Korks no Pilar do Leste e, por fim, o de Ghaands no Pilar do Oeste. Mas é claro que esses conselhos não são formados por todos os membros dessas raças, apenas os mais sábios e capacitados de cada raça é que compõem os conselhos que controlam a cidade.

            Diell: Acho que entendi... mas como é que se definem quais seres de cada raça são os mais sabeis e capacitados para regerem os quatro conselhos?

            Krink: Votação. Uma votação entre os habitantes de cada uma dessas quatro regiões acontece de seis em seis meses para que sejam eleitos sete membros de cada raça e então, esses sete passam a fazer parte dos conselhos. Geralmente não há nenhum tipo de competição entre os candidatos ou até mesmo entre os eleitores... afinal, é como eu disse, todas as raças que vivem ali se caracterizam por levarem uma vida bastante pacífica.

            Diell: Puxa, é demais! Incrível, a cidade de Roul deve ser um lugar maravilhoso para se viver, não é?

            Krink: Com certeza. Mas a chegada de novos habitantes ali é simplesmente impossível.

            Diell parece ficar um pouco perplexo.

            Diell: E por que?

            Krink: Ali os estrangeiros de outras cidades só podem passar uma breve temporada, não podem viver ali de uma maneira permanente. Isso é bastante compreensível até. A justificativa do governo da cidade para isso é porque, segundo os conselheiros, se a população da cidade começar a aumentar, haverá uma tendência de aumentar também os níveis de competição, seja por espaço, por alimentos, por residências, por equipamentos, armas, armaduras, enfim... eles preferem manter a cidade com a população relativamente controlada para que a paz possa ser mantida. É por causa disso também é que existe um grande controle de natalidade.

            Diell: Controle de natalidade? Como assim, eu nunca ouvi falar disso...

            Krink: Sim, é natural que você nunca tenha ouvido falar, quase nenhuma raça adota esse tipo de pensamento... mas, em Roul, os conselheiros delimitaram um limite para a descendência de cada raça. Cada ser ali só pode gerar um descendente, ou seja, só é permitido se reproduzir uma única vez nessa cidade. Isso também é uma medida para evitar que a população cresça de maneira descontrolada.

            Diell: Então não deve quase existir irmãos ali, certo? Que chato, então todos os casais em Roul só podem ter um único filho?         

            Krink: Sim... mas não exatamente cada casal, porque há raças ali que não precisam de um outro ser da mesma espécie para se reproduzir...

            Diell fez uma expressão de estranhamento, claramente não entendendo aquilo que Krink acabara de lhe falar.

            Diell: Não precisa de um outro ser?! Mas como isso é possível, Krink?! Há seres que têm filhos por conta própria?!

            Krink: Mas é claro!

            Diell: Estranho... eu sempre achei que o ser masculino e o ser feminino deveriam se juntar para fazerem um filho...

            Krink: Nem sempre... bem, para o caso da nossa raça, os Bours, essa, de fato, é a única forma de reprodução, mas é claro que existem raças nas quais não é necessário que um ser masculino se junte a um ser feminino para fazerem...

            Krink pára bruscamente de falar, lembrando-se da idade daquele com quem estava falando. Ele fica totalmente sem graça e acaba corando um pouco.

            Diell: O que? Fazerem o que, Krink?

            Krink: Filhos! Fazerem filhos! Bem, Diell, chega desse assunto, duvido muito que os seus pais gostassem que você já soubesse dessas coisas, vamos parar de falar disso.

            Diell: Soubesse...? Mas soubesse de que, Krink?!

            Krink: Nada não, esqueça! Olhe lá, daqui a poucos minutos chegaremos na entrada de Roul!

            Diell: Eu hein...

            Agora o território da cidade já está bastante próximo do barco onde os dois Bours estão. Algumas construções, sobretudo três dos quatro Pilares de Roul já podem ser vistos com bastante clareza.

            Krink: Atenção, Diell, nós já estamos bem perto, segure-se, porque agora nós iremos mudar um pouco a nossa rota.

            Diell: Mudar a rota? Por que?

            Krink: Daqui a pouco eu te explico!

            Krink, pela primeira vez em todo o período da viagem, coloca as mãos sobre o volante e o gira para a direita, o que faz o barco virar bruscamente para essa direção e, conseqüentemente, ele acaba sacolejando bem forte, com Diell se desequilibrando levemente e se apoiando nos calcanhares para não cair. Depois desta virada, o barco passa a seguir novamente em linha reta pelas águas, mas sem ir direto para a frente da cidade de Roul e sim para a sua região oeste. Krink retira suas mãos sobre o volante.

            Diell: Krink! Por que você fez isso? Qual era o problema de seguirmos o caminho pelo qual estávamos indo?

            Krink: Ali na região oeste da cidade a quantidade de habitantes é muito menor, Diell, porque é a região que está mais distante do centro comercial.

            Diell: E daí?

            Krink: Daí que quanto menos seres souberem que estamos aqui, melhor pra gente! Não se esqueça que mesmo que os seus pais e os outros derrotem aquele Logru e nos encontrem aqui, há muito mais Logrus e eles, certamente, mais cedo ou mais tarde, virão nos procurar na cidade de Roul. Portanto, é muito bom entrarmos na cidade com a menor quantidade de habitantes sabendo disso porque, uma vez que os Logrus invadirem Roul atrás de nós, tenho certeza de que não irão hesitar em torturar alguns habitantes de Roul para dizer onde nós estamos ou se nos viram em algum lugar e, naturalmente que eles não hesitarão em dizer. Eles prezam a paz mais do que tudo, com certeza absoluta cederão à pressão dos Logrus e dirão que estamos na cidade ou que passamos por ali. Entendeu? Precisamos chegar praticamente escondidos, só vamos nos apresentar para quem for estritamente necessário.

            Diell: Sim, eu entendo. De certa forma eu acabei me esquecendo de que há vários Logrus que estão atrás das nossas cabeças. Me desculpe, Krink, com certeza essa decisão foi a mais sábia mesmo se a região oeste é realmente a menos habitada... mas, eu ainda não consegui entender uma coisa.

            Krink: E o que é?

            Diell: Você sabe tanta coisa sobre essa cidade, até a região que tem mais ou menos habitantes... como você sabe de tudo isso, por acaso você já passou alguma temporada aqui?

            Krink: Ah, não, não é isso não... É só porque o a cidade de Roul é a mais próxima da nossa cidade, muitas vezes viemos até aqui para comprarmos alguns objetos do centro comercial... geralmente eles vendem algumas coisas realmente muito boas!

            Diell: Ah, sim, vocês vêm fazer compras aqui de vez em quando... eu não me lembro de alguma vez que os meus pais tenham comentado que viam aqui para isso...

            Krink: Eles devem ter ficado preocupados em deixar você sozinho, e mesmo que o Luyul pudesse viajar e deixar você e sua mãe em casa, a preocupação dele não iria permitir que ele fizesse isso...

            Diell: Entendo... Eu gosto muito mesmo dos meus pais, Krink... apesar das coisas erradas que eles fazem em nome dessa CIV... eu gosto muito deles, no fundo, são seres de bom coração.

            Krink olha para Diell de uma forma mais ríspida.

            Krink: Mas é claro que são, Diell, isso algo que você não deveria nem mesmo questionar! Além disso, eu tenho certeza de que eles já te explicaram os reais motivos da CIV, não é?

            Diell: Sim, principalmente a minha mãe, ela me contou porque vocês da CIV praticam essas ações... mas, Krink, eu gostaria de saber de tudo.

            Krink faz uma cara de estranhamento e olha mais seriamente para o pequeno.

            Krink: Como assim? O que você quer dizer com isso?

            Diell: Eles me disseram que a CIV é uma organização que pratica roubos de itens que têm um considerável valor no comércio e tal... e vocês fazem isso porque a nossa raça Bour, assim como outras, vivem em condições bastante subalternas! Mas... vocês procuram tipos especiais de objetos? E esses líderes da organização, quem são eles? Como é que ela surgiu?

            Krink: Eu entendo que você...

            Ele é interrompido mais uma vez pelo jovem.

            Diell: Krink, os meus pais só me contaram sobre essa CIV de uma maneira bastante superficial, mas... olhe só pra essa situação! Os meus pais agora estão passando por um sério risco de vida em nome dessa organização, é por causa dela que, agora, eles foram obrigados a ficar para trás a fim de lutar contra aquele monstro nojento. Então, Krink, eu acho que não tem nada mais justo do que eu ficar sabendo de tudo, tudo mesmo a fundo sobre essa CIV!           

            O pequeno Bour não deixou de esconder uma ponta de revolta e raiva em sua voz. A expressão de Krink ilustra que ele ficou meio sem graça e também estava duvidoso em relação a tudo o que Diell acabara de lhe dizer.

            Krink: Diell, me escuta... eu entendo perfeitamente o que você está sentindo nesse momento e, de certa forma, eu concordo com você, concordo sim que você tem o pleno direito de saber tudo sobre a organização da qual os seus pais fazem parte... mas vamos deixar isso pra depois, por favor, Diell... já estamos praticamente aportando em Roul, precisamos ser bastante cautelosos a partir de agora... mas eu garanto que te contarei tudo, certo?

            Diell: Sim, sim... tudo bem, Krink...

            Os rostos dos dois Bours agora estão direcionados para frente. Agora, uma grande quantidade de construções invadem seus olhos, principalmente o grande Pilar do Oeste, um tipo de torre bastante alta e que parece ser construída a base de pedregulhos com coloração escurecida. Em seu topo, havia um formato bastante pontudo, feito do mesmo material que compunha o resto do Pilar. Diell sentiu-se impressionado ao ver aquilo um pouco mais de perto.

            Diell: Caramba! Esses Pilares de Roul... são muito maiores do que pareciam quando nós estávamos lá atrás!

            Krink: Hehe! Pois é! Não só os Pilares, Diell, mas Roul é uma cidade que tem vários pontos bonitos, paisagens, construções, é de fato uma cidade muito linda... é uma pena que não podemos aproveitá-la como turismo dessa vez, mas garanto que um dia teremos uma temporada de diversão maravilhosa aqui...

            Diell: Seria ótimo...

            Krink se aproxima rapidamente do volante mais uma vez e coloca suas mãos sobre ele, girando levemente um pouco mais para a direita fazendo o barco sacolejar de novo, porém, mais fraco dessa vez. Eles voltam a seguir em linha reta.       

            Krink: Iremos aportar ali.

            O Bour aponta para frente, numa região em que fortes ventos batem e algumas partículas de poeira voam pelos ares, provocando um ruído meio que desconfortável.

            Krink: Parece que não há quase ninguém ali... eu desviei de todos os portos, maravilha, evitamos quase todos os seres possíveis.

            Diell: Ainda bem...

            O barco continua a avançar e depois de mais uns poucos segundos ele pára na frente de uma grande região, cujo solo é formado de algo bastante semelhante com areia, porém, de coloração mais alaranjada. Fortes ventos batem ali e várias partículas desse solo voam, formando uma densa nuvem alaranjada no ar.

            Krink: Vamos descer?

            Diell: Sim.

            Os dois seguem por todo o veículo e dão um pequeno salto, saindo da extremidade da frente do barco e pousando sobre o chão.

            Diell: Que coisa mais estranha... esse lugar parece mais um tipo de deserto do que alguma outra coisa qualquer...

            Os dois Bours ficam olhando para os lados e avistam três seres de cor levemente amarelada a quase cem metros à esquerda.

            Diell: Ei, Krink! O que é aquilo ali? Quem são eles?!

            O jovem apontava para aqueles três seres.

            Krink: Ah, não se preocupe, são os Ports... totalmente inofensivos, como todas as raças daqui... aparentemente nem perceberam a nossa chegada...

            Diell: Entendo...

            O pequeno desvia a sua atenção dos Ports e se volta para frente, uma grande extensão do território à frente e o grande Pilar do Oeste, a quase quinhentos metros dele, mas, mesmo a essa distância, o seu tamanho já parecia imenso.

            Diell: Bem, Krink, considerando que nós temos que nos esconder aqui o máximo possível... o que devemos fazer a partir de agora?

            Krink: O fato de termos que nos esconder ao máximo, não quer dizer que não teremos que falar com ninguém aqui... se quisermos esperar pelos seus pais e os outros em boas condições, teremos que falar com alguém inevitavelmente, até porque, precisamos fazer isso senão não seremos tratados como turistas e sim como invasores.

            Diell: Invasores? E por que?!

            Krink: Ora, Diell, você não acha que, mesmo sendo para temporadas, estrangeiros possam entrar e sair daqui livremente, não é?

            Diell: E o que deve ser feito então?

            Krink: Eu já pensei em tudo, acalme-se... primeiro, me siga...

            Krink começa a caminhar lentamente para a esquerda. Diell arregala os olhos, sentindo-se surpreso e assustado.

            Diell: Krink! Mas o que é que você está fazendo?

            Krink: Não entendeu o que eu acabei de dizer? Precisamos falar com alguém, não tem jeito... e ninguém melhor do que os Ports. Vem, siga-me!

            Krink continua andando e Diell vai atrás de seus passos rapidamente. Ao perceber a aproximação dos dois Bours, os três seres amarelados desviam seus olhares para eles. Estando mais próximos, Diell pôde distinguir mais algumas características dos Ports: alem da pele amarela, tinham algumas listras pretas horizontais e eram também bastante peludos, além de um pequeno rabo, também amarelado, entre as pernas na parte de trás. Eles eram semelhantes a tigres, só que com duas pernas e dois braços. Seus dedos eram bastante pontudos. Quando estão a quase dois metros deles, Krink pára de andar e tenta fazer uma expressão de amizade e abre um leve sorriso em seu rosto.

            Krink: Vocês... são Ports, não são? Eu gostaria de falar com vocês...

           

             

           

           

             


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