Lise ficara sabendo que haveria uma festa na mansão dos Willian's e não deixaria de marcar presença, caminhou lentamente até a pequena rua, pouco iluminada pelas lâmpadas dos postes.

Seu olhar era frio e distante, apertou ambas as mãos contra os bolsos do casado de lã, queria mostrar que não era mais aquela garotinha assustada que deixaram na porta da velha pensão Bouchard.

Essa noite será minha. — pensou, encarando fixamente a rua deserta coberta de alguns flocos de neve. Damon a observava de longe, inquieto e apreensivo.

Assim que abriu as pesadas portas da pensão, deu de cara com alguns hóspedes novos, caminhou cabisbaixa até a escadaria. O olhar da velha Julie acompanhou-a, pensativa, sabia que a garota iria aprontar, era bem óbvio e escancarado naquele rosto pálido de Lise.

Dizem que quando convivemos por muito tempo com uma pessoa, passamos a conhecer suas atitudes com apenas um olhar, o que não era difícil para a velha vampira.

Lise praticamente jogara toda suas roupas sobre a cama ainda desarrumada, parecia preocupada e aflita, até, por fim, achar um vestido azul turquesa. Era longo e um pouco discreto, fez uma careta e logo o arrancou do cabide. Com passos apressados, pegou a pequena tesoura que ficava no criado mudo, mediu a altura dos joelhos e cortou o vestido, deixando uma abertura lateral. Arrancou as magas.

Estava perfeito! Rapidamente caminhou na direção do banheiro, sua mente parecia girar a toda velocidade, as gotas de água morna escorriam por todo seu corpo, deixando-o relaxado.

"Eu vi um lobisomem. Sei que deve achar isso uma maluquice, mas vi. O que me atacou era um lobisomem. Meu Deus, que loucura!",ainda podia ouvir sua voz amedrontada ecoar em sua mente, fechou os punhos e os olhos, tentava esquecer-se daquela noite em que fora atacada.

Aquele maldito pesadelo não queria partir, insistia em rondar sua mente toda vez, como em um susto, arregalou os olhos e fixou-os nos gelados pisos de porcelana.

Terminou de se vestir. Ao se olhar no espelho estava perfeita, com aquela maquiagem sombria e com as longas mechas loiras. Antes de sair do quarto, pegou o velho e batido sobretudo e as chaves da velha Cherb. Saiu.

Quando passou pela recepção, estranhou não ter ninguém, fez uma careta, seguindo em direção à caminhonete. Os ventos gelados de inverno estavam aumentando.

Dessa vez, a velha Cherb não dera trabalho para ligar, sua mente relutava para impedi-la de ir até a casa de Noah Willian, porém, não ligou para seu bom senso, e prosseguiu.

Damon observava o veículo se distanciar da cidade. Sabia que ela era jovem e imatura para estar fazendo aquela besteira, mas não poderia impedi-la de ir até lá, era uma decisão dela e não dele. Apenas acompanhou-a de longe. Se algo acontecesse estaria lá para defendê-la.

— Ela é maluca. — murmurou, com os olhos fixos no veículo distante.

A loira avistou a entrada, respirou fundo e pisou no acelerador, era tudo ou nada. Assim que se aproximou dos portões, pode notar alguns jovens parados conversando amenamente, com bebidas nas mãos.

Assim que saiu do veículo, chamou a atenção de todos para si, pode notar alguns cochichos, ignorou e caminhou até a porta.

— Mas vejam quem está aqui? — indagou Brian, admirado.

Lise parou, e encarou-o.

— Por quê? É proibido? — questionou irônica.

Todos que estavam ao redor do jovem soltaram algumas risadinhas discretas, mas o rapaz encarou-os, furioso. E logo entenderam o recado, deixando ambos sozinhos. Brian caminhou em volta da loira, observando-a dos pés até a cabeça e parando em sua frente.

— Não é a mesma boa garota que conheci; amedrontada e zangadinha. — balbuciou.

A loira se aproximou do rapaz e segurou em sua camisa, aproximando-o de si.

— Não deixei de ser zangada, então, cuidado. — disse, empurrando-o para passar.

Brian mordeu os lábios e a observou sumir entre a multidão de jovens, que estavam na sala central da mansão dos Willian's. A passos lentos, Lise percorria a sala, seus olhos observavam atentos todos.

Damon estava parado perto do portão, observando de longe para não causar mais conflitos. Noah permanecia parado perto da imensa escadaria, conversando com dois rapazes de terno, mas, ao se virar, notou a presença de Lise observando-o atenta, com uma taça de vinho tinto na mão.

— Já retorno. — disse educadamente aos rapazes.

Logo caminhou na direção da garota, com uma expressão de surpresa. Ela, então, começou a caminhar em direção oposta dele, deixando-o afoito.

— Ei, Lise. — chamou, sua voz era abafada pelo som alto do ambiente.

Mas, por sorte, conseguiu alcançá-la. Segurou gentilmente em seu braço e a trouxe para um lugar mais calmo, para que pudesse conversar com ela. Ele observou para certificar que ninguém os viu saindo da sala.

— Afinal, o que faz aqui, vestida desse jeito? — questionou-a.

— Não é da sua conta, Noah, a forma que me visto. — rebateu, trincando os dentes.

Era visível sua alteração, por causa de taça de vinho tinto extraforte. Ele tomou a taça da mão dela e a colocou sobre a pia, balançou a cabeça negativamente, e continuou encarando-a.

— Eu me preocupo com você. — disse cabisbaixo.

A loira fez pouco caso das palavras do rapaz, e caminhou até a porta, que dava acesso a sala. Parou na porta, encarou-o de cima a baixo, arqueando a sobrancelha.

— Então, não se preocupe mais. — vociferou.

Noah permaneceu parado, encostado na pia da cozinha. O único que estava se divertindo com a presença da loira era Brian Easton, que rapidamente se aproximou ao vê-la retornar.

— Vejo que ainda está furiosa com Noah, por causa daquela noite. — murmurou nos ouvidos da jovem.

Lise permaneceu inerte, observando a multidão de gente que estava naquele local. As mãos de Brian pareciam duas barras de ferros, presas em seus finos braços e sua voz era aguda e penetrante. A princípio, nem se dera conta do que ele falou.

— Que tal agitarmos essa festinha morta? — murmurou provocante.

A loira se virou para encará-lo. Nunca tinha reparado o quanto o imbecil do Brian era charmoso e atraente. Mostrou um sorriso torto e aceitou a proposta do rapaz.

Ambos caminharam até a porta de entrada e Noah acompanhava ambos com o olhar. Sabia quais eram os pensamento de seu colega, assim que os dois desapareceram pela porta, o jovem caminhou desesperado para não os perder de vista. O que fora impossível, assim que chegou a imensa porta, observou os dois lados, para encontrá-los e nada. Caminhou até perto da piscina, sem sucesso.

— Está feliz agora? — perguntou Damon inerte, perto do poste de luz, com os braços cruzados, encarando-o.

Noah se voltou para trás e seus olhos fixaram em Damon Salvatore.

— Não. — rosnou, trincado os dentes.

Damon se desprendeu do poste, caminhando perto da piscina coberta pela imensa lona azul turquesa. Balançou a cabeça, acompanhando o som da música que estava tocando. Noah apenas observava-o, inquieto.

— Você provocou tudo isso, atacando-a naquela noite. — acusou, trincando os dentes.

— Está maluco? Nunca atacaria Lise. — defendeu-se.

— Ora, sei. Quando vocês se transformam, não são capazes de se controlarem. — grunhiu Damon, furioso.

Noah arqueou a sobrancelha e balançou a cabeça, desnorteado.

— Nem na cidade eu estava naquela noite.

Damon fez um careta, ironizando a patética cena; era óbvio que ele iria negar até a morte. Noah aproximou-se alguns passos na direção do vampiro.

— Poupe-me de suas desculpinhas, Noah Willians. — disse.

— Não são desculpinhas, afinal, não as devo, e você, sua sanguessuga, o que tanto quer dela? — questionou furioso.

Antes que as coisas começassem a ficar um pouco mais sérias, Lise apareceu, chamando a atenção de ambos. Estava completamente embriagada, junto com Brian.

— Mas olha só! Os dois brigando, de novo? — ironizou.

A expressão da jovem se fechou e, ao ver ambos parados ali, conversando, ela se desprendeu dos braços de Brian e caminhou desajeitadamente até perto de Noah e Damon.

— Já falei para não ficarem me incomodando. — vociferou.

Damon se aproximou e segurou no braço da garota e disse, encarando Brian — como adoraria quebrar aqueles dentes e dar uma boa lição naquele sujeito sem caráter.

—Vim te buscar. — disse, ainda com os olhos fixos em Brian.

Lise protestou, afastando-se de Damon.

— Não é meu pai, agora me deixe em paz. — ordenou furiosa.

Damon encarou-a, totalmente sem reação, aquela atitude rebelde dela estava indo longe demais. Ele tinha que fazer algo ou Eloise iria se encrencar de vez.

— Não ouviu a moça? Deixe-a. — disse Brian.

— Fique de fora, seu vira-lata sarnento. — rebateu Damon.

Brian rosnou furioso com aquela comparação. Antes de poder se aproximar de onde estava Damon e Lise, Noah o interrompeu, segurando-o contra a parede.

— Vão embora, agora. — berrou Noah.

Damon agarrou novamente no braço da loira e a retirou dali. Sabia o que iria acontecer com o esquentadinho. Lise não entendeu o motivo daquela pressa, apenas acompanhou-o, a passos desajeitados, até onde estava estacionada a velha Cherb.