My Darkness escrita por Lúcia Hill


Capítulo 19
Chapter - A Werewolf


Notas iniciais do capítulo

Dizem que matar um animal não é pecado, mas matar um homem sim. Mas afinal, onde termina um e começa o outro? (O Lobisomem )
Seria realidade ou mera coincidência?



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A brisa de inverso finalmente havia chegado, era meados de novembro, logo estaria nevando em St. John's. Tudo parecia tão calmo que era para se estranhar, por mais que se tratasse de uma pacata cidadezinha do interior.

Robert permaneceu conversando com o prefeito na mesa de quatro lugares, enquanto Lise observava-o como se quisesse entender algumas atitudes de seu chefe. Na noite anterior a festa anual da sociedade, ele teve uma reação estranha, parecia afobado e ansioso por algo que nem se quer a jovem conseguia imaginar.

— Concentrada novamente? — questionou uma voz áspera.

Ao voltar-se na direção daquela voz, assustou-se. O jovem de cabelos levemente ondulados a encarava com um sorriso torto. Lise arqueou a sobrancelha, mal conseguia formular perguntas ou, se quer, responder.

— Está tudo bem? — questionou novamente.

— Est-tá... É que... Nossa! — pausou bruscamente, tentando colocar as palavras certas em sua mente. Continuou. — Ralph, eu pensei que havia morrido naquele acidente. — disse confusa e trêmula.

O jovem dos olhos caramelos mostrou um largo sorriso, afinal, todos da cidade também pensavam o mesmo do tal. Ralph era o único sobrinho que Robert possuía e, para a surpresa geral, lá estava ele, em pé, vivo, na frente do balcão, encarando-a.

—Também pensou que eu tinha morrido... Imaginei. — disse, enquanto brincava com uma moeda entre os dedos.

Lise corou.

— E-É. Todos, na verdade. — a princípio, gaguejou.

A presença do rapaz não era bem aguardada naquele local, seu acidente fora planejado para dar um sumiço em sua rebeldia, mas pelo seu aparecer, não deu muito certo.

Sem delongas, o prefeito apertou o braço de Robert, impedindo que fosse até o balcão. Olhou rancoroso na direção do jovem parado perto de Lise.

— Seu sobrinho é de fato um maluco. Dê um jeito de fazê-lo sumir novamente, ou será o fim para nosso clã. Do contrário, terei que tomar medidas bem drásticas a respeito. — praticamente rosnou, trincando os dentes.

Robert engoliu seco, aquelas palavras. Era seu único parente, mas ele havia quebro uma das principais regras do clã, revelando a um humano sua origem verdadeira. Temia por ele, pois Ralph sempre fora incontrolável.

— Darei um jeito, fique tranquilo. — grunhiu e logo se afastou da mesa.

Robert caminhava a passos lentos e um olhar pensativo. Mesmo que para os demais do clã, o jovem fosse um delator, para ele, continuava sendo seu sobrinho. Mal sabiam que dias atrás, ambos haviam se encontrado na calada da noite, no píer do lago Toure.

Sem delongas, Robert agarrou no braço do jovem e o arrastou até a sala do fundo. Fechou a porta com certa violência e o encarou profundamente, com os olhos em tons de vermelho vivo.

— Pirou de vez, Ralph? — questionou.

O jovem nem se quer esboçou reação, apenas continuou encarando seu tio com um olhar sombrio e monótono. Desejava colocar um fim naquele maldito clã, que controlava as leis naturais de um Lobisomem.

— Já disse o que realmente desejo, tio, e não desistirei, farei cada um deles sofrer da mesma forma que me fizeram sofrer, naquela maldita noite. — vociferou.

Robert levantou ambas as mãos até o rosto, cobrindo-o. Sabia que fora uma covardia matarem a jovem pelo fato de saber toda a verdade, mesmo sendo uma ordem direta de Jake Willians.

— Não faça nada que vá se arrepender. — precaveu.

— Tenha a certeza que não farei, tio. — disse, saindo da sala e deixando Robert sozinho.

Robert sentou-se na pequena cadeira velha de madeira e curvou-se sobre os braços, respirando fundo. Sabia que com a presença de Ralph ali, seria uma tragédia, na certa.

Eloise permaneceu parada na porta, observando-o, assustada. Seu chefe nem se quer esboçou reação, permaneceu parado no canto, pensativo.

— Robert, está tudo bem? — a voz de Lise parecia um fio.

Robert levantou a cabeça, voltando-se para o teto com os olhos fechados. Fez um gesto positivo, mesmo não estando. Odiava mentir e ter que esconder algo das pessoas. Sabia que seu sobrinho fora de certa forma corajoso em revelar-se a pessoa que tanto amava. Um ato que Robert nunca faria, por obediência.

— Se quiser, posso fechar o bar, acaso esteja cansado. — grunhiu.

Robert levantou-se e a encarou. Ela era tão frágil e inocente para entender o que realmente estava se passando ali... Talvez ela acreditasse ou riria da cara dele. Por outro lado, tinha Damon Salvatore, que a defenderia se algo tentasse feri-la. Não queria começar uma briga entre as raças.

— Tudo bem. Preciso descansar. — disse, saindo pela portinha do fundo.

Lise permaneceu encarando a fechadura gastada pelo tempo e, assim que retornou para o balcão, deu de cara com Noah parado, encarando-a.

— Olá. — saudou-o de forma fria.

Noah pegou um copo que estava sobre o balcão e solveu o líquido amarelo do copo — aparentemente era Martine. O jovem desviou seus olhos para outro canto e nem se quer respondeu a saudação feita por ela.

Lise arqueou a sobrancelha, confusa com aquela reação. Afinal, o que estava acontecendo para todo mundo estar agindo de forma assim, tão confusa e estranha?

As duas últimas horas pareciam se arrastar pelo relógio. Assim que o último cliente deixou o estabelecimento, Lise pode fechar tudo. Verificou se estava tudo em ordem antes de acionar o alarme e pegou seu casaco de lã que estava pendurado atrás da porta.

O vento soprava de forma brusca e violenta contra Lise. Era início de inverno no hemisfério norte e, depois de colocar as chaves no bolso, protegeu as mãos daquele vento gélido, caminhando lentamente até o quarteirão de cima. O barulho proporcionado pela ventania era ensurdecedor, o rosto da jovem estava rosado. E uma sombra passou na sua frente de forma rápida, fazendo-a parar assustada.

Devo estar vendo coisas. — pensou, procurando com o canto dos olhos. Balançou a cabeça e continuou a caminhada contra aquele vento forte, mas novamente a sombra passou próxima a jovem.

— Quem está ai? — berrou contra o vento.

Para seu desespero, não houve uma resposta de imediato, apenas o assobio forte dos ventos de inverno. Lise apertou ambas as mãos contra o peito, temerosa.

Novamente, ficou frente a frente com aquela sombra que vira semanas atrás, na entrada da propriedade dos Jordan's. Estava escuro e o que podia ver eram dois olhos vermelhos e a fumaça saindo pelas narinas, parecia rosnar de forma voraz. Lise permaneceu paralisada.

Aquela forma se aproximava lentamente, encarando-a. Ela sabia que não era uma boa hora de correr ou gritar por socorro.

Não pode ser um urso, eles não têm olhos vermelhos. Meu Deus, que criatura é essa? — auto questionou-se, assustada. Estava totalmente sem saída, parada no meio do nada.

Assim que a criatura saiu da escuridão, Lise arregalou os olhos, não acreditando no que estava vendo. Sua mente só podia estar pregando-lhe uma peça. Era um Lobisomem parado a sua frente, rosnando e babando de forma feroz.

— Lo-Lo-Lobisomem. — murmurou baixinho.

Ouviu apenas um ruído e, por fim, tudo se apagou ao seu redor, sua mente girava a toda velocidade, desligando seu sistema nervoso.

Horas depois, ouvia vozes ao longe e, ao tentar abrir seus olhos, uma luz forte a fez fechá-los novamente. Cobriu o rosto com a palma da mão.

— Eloise, me diga, sente alguma dor? — questionou uma voz masculina desconhecida.

Sua cabeça doía muito, deveria ter recebido uma pancada muito forte. Aos poucos fora recobrando a consciência e, ao abrir os olhos novamente, notou que estava em um leito de hospital. Damon estava parado perto da janela, encarando algo.

Ao notar marcas de arranhões em seu braço, entrou em pânico e berrou.

— Meu Deus, o que houve?

Damon voltou-se, rapidamente, para o leito e tentou acalmá-la.

Fique calma, foi apenas uma queda. — a voz rouca de Damon entrou na mente dela, deixando-a um pouco mais tranquila. Os enfermeiros entraram afoitos no quarto.

— Está tudo bem, por aqui? — questionou um deles.

Damon balançou a cabeça de forma positiva e a enfermeira se aproximou do leito e verificou se tinha algo de errado, mas nada encontrou.

Assim que os enfermeiros deixaram o quarto, Eloise continuou olhando as marcas roxas que tinha por toda parte de seu corpo. Houve um silêncio torturante, a princípio.

— Damon. — chamou-o.

Voltou se para encará-la, pensativo. A jovem loira estava ainda mais pálida que antes. Só de pensar que algo de ruim poderia ter lhe acontecido... Se não tivesse chegado exatamente naquela hora, aquela besta fera tinha dilacerado a jovem.

— Diga. — insistiu.

As visões estavam todas embaralhadas na mente da jovem, deixando-a confusa e totalmente sem reação.

— Eu vi um lobisomem. Sei que deve achar isso uma maluquice, mas vi. O que me atacou era um lobisomem. Meu Deus, que loucura! — murmurou confusa, com os olhos cheios d'água.

Damon se aproximou e abraçou-a, confortando-a de seus medos. Encostou sua cabeça sobre a cabeça de Lise. Ele não tinha o direito de apagar aquilo da memória dela ou apenas fazer com que ela pensasse que fosse um lobo, ou talvez um urso pardo da montanha.

— Acredito em você. — sussurrou.

Eloise permaneceu abraçada com ele, de olhos fechado. Estava aliviada por saber que ele acreditava nela. Será que Noah revelará a jovem que pertence ao clã dos Willians e que praticamente toda a cidade é formada por "Lupinotuum", conhecido em Latim por Homem Lobo ou Lobisomem?


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Notas finais do capítulo

Boa Leitura!