Certo, aquela criatura, ou mostro, o quer que fosse aquilo, era muito estranho, ele parecia um anjo, igual a Gabriel, mas as asas pareciam atrofiadas, e o corpo era totalmente negro, os olhos eram vermelhas, e pareciam fendas, na boca, dentes afiados, parecidos com de tubarões, e ele estava com uma lança na mão.

         -O que é isso? – perguntei, pegando minha faca, Caled, colocou o braço na minha frente, como se fosse pra eu não fazer movimentos bruscos, era o que eu estava fazendo, eu ia disfarçadamente, pegar minha faca, e cravar no coração, do mostro.

         -Um demônio, não é daqueles que vamos ter que enfrentar, eles são mais poderosos, esse é... bem, é como se fosse algo entre um demônio e um zumbi – falou Tiago, e então olhou para Caled, que encarava o demônio.

         -Como se mata um desses? – eu perguntei olhando para Caled, que deu um leve sorriso, só que não era um sorriso de felicidade, ou de graça, era um sorriso irônico, como se a resposta fosse algo bem pior do que a nossa situação.

         -Eles não morrem, quer dizer, não morrem de verdade, porque eles já estão mortos, o único jeito de fazer com que eles desapareçam, e de certo modo voltem do lugar de onde vieram, e fincar uma faca, ou uma bala, na nuca deles – parecia fácil, foi aí que eu vi, que o monstro tinha uma espécie de proteção nessa área, eu franzi o cenho, e mostrei a língua pro demônio.

         -Quem foi o idiota que escreveu as regras disso? Isso não é justo – eu reclamei olhando pro demônio, que estava agora nos analisando e acho, que estava vendo qual de nós iria matar primeiro.

         -Eu não sei quem fez isso, só sei que estamos ferrados – comentou Theo, vendo que mais dois demônios se aproximavam. Eu revirei os olhos, e peguei mais uma faca, elas voltavam para a minha mão.

         -Nem tanto – eu falei, observando melhor os demônios, a proteção deles, não passava de um capacete de metal, que tinha duas presilhas nos cantos, se atingíssemos com facas, aqueles dois pontos, as proteções deles não iriam mais funcionar e teríamos uma chance – Eu tenho um plano – eu falei, e olhei para Caled, e apontei as presilhas no capacete, e ele sorriu, Tiago, olhou para nós, e para onde olhávamos, e deu um leve sorriso vitorioso.

         E nesse momento, foi que aquelas coisas, vieram pra cima de nós, quer dizer, eles vieram correndo, em uma velocidade sobrenatural, e eu não sei como, consegui me desviar, com um pulo. Eu me agarrei nas costas de um dos demônios, e arranquei o capacete. Assim que o demônio notou o que eu tinha feito, ele agarrou um dos meus pulsos, e me jogou longe. De algum jeito, eu consegui me equilibrar, e cair de pé, meio curvada.

         Tiago, e Caled, estavam ocupados, com os outros demônios, e Theo, e as meninas, estavam protegendo as coisas, e Theo protegia as meninas. Eu voltei meu olhar pro demônio que estivera lutando comigo, ele estava vindo com tudo pra cima de mim. No último segundo, eu desviei, e pulei em cima das costas do monstro, com as duas facas, na mão, e cravei em sua nuca. Ele se desfez, em uma poeira negra.

         Eu saí dali, e fui ajudar os outros. Tiago, estava com um joelho machucado, ele havia cortado quando o mostro o jogou no asfalto da rua, o joelho dele estava sangrando bastante, e ele parecia estar com dor.

         -Sam, ajude ele – eu berrei para a namorada dele, que parecia saber o que fazer, ela me olhou, e saiu correndo com uma mala na mão, pra perto de Tiago.

         Eu fui atrás do demônio que havia ferido ele. O mostro estava, junto com o outro, encurralando Caled, que não tinha condições de vencer os dois. Pra minha sorte, nenhum deles, estava mais com a proteção contra o ponto fraco, e os dois estavam de costas pra mim.

         Peguei a minha faca, que estava suja com uma gosma preta (sangue de demônio) e corri silenciosamente para cima dos demônios, que assim que um deles deu um urro de susto, ao perceber que eu estava nas suas costas, tentando fincar uma faca em seu pescoço, o outro virou para ajudar o colega, e Caled, conseguiu fazer o mesmo que eu, e acabar com o outro demônio. Eu finquei uma das facas nas costas do demônio, e a outra no pescoço. E assim, eu e Caled, acabamos com os dois últimos demônios.

         Tiago, já estava de pé e bem, pelo que percebi o joelho dele estava bem melhor. Caled me abraçou, e eu sorri pra ele, apesar de não termos motivos pra sorrir. Ter derrotado aqueles demônios não significava que derrotaríamos outros.

         -Só vai piorar – eu comentei, e ele assentiu, e beijou meu pescoço, fazendo com que ondas de choque passassem pelo meu corpo.

         -Mas nós encaramos essa. Nós dois, juntos, vamos conseguir – ele falou, e sorriu, eu não pude conter um sorriso, Caled, estava tentando me alegrar, só eu, ele e Tiago, tínhamos percebido que aquilo ia piorar, os outros, estavam comemorando que nós tínhamos conseguido matar os demônios.

         -Foi mal gente, eu deveria ter levantando e lutado – falou Tiago, chegando perto de onde eu e Caled estávamos, um pouco mais afastado do grupo, limpando nossas facas.

         -Você estava machucado, qualquer um de nós poderia estar, nem eu e nem Sarah deixaríamos você voltar a lutar com aquele joelho sangrando – falou Caled, olhando para Tiago que deu ombros e sorriu em agradecimento.

         -Só vai piorar, não é mesmo? – ele perguntou olhando para nós, e deixando o sorriso ir embora, nós dois assentimos, não poderíamos mentir.

         -Nós damos um jeito – eu falei olhando pra Tiago – Nós estamos vivos, mesmo estando em coma, então acho que somos capazes de vencer isso – eu sorri encorajando tanto a ele, tanto a Caled, e eu mesma.

         Certo, eu já tinha matado um fantasma, dois demônios, teria que enfrentar um covil de anjos caídos, e fazer uma escolha que mudaria o mundo, então a minha vida estava bem fácil. Mas se eu sobrevivesse a tudo isso eu nunca mais duvidaria de nada.

         Tiago, foi até Sam, e os outros, e eles começaram a conversar animados, nós pegamos nossas coisas, e voltamos a andar.

         -Caled, você disse que tudo pareceria longo aqui, mas já faz uma semana em tempo normal pra mim, e não parece que foi há tanto tempo quando você falou que seria – eu falei o olhando, e ele suspirou, e depois sorriu para mim.

         -Sah, há quanto tempo parece que você me conhece? – isso eu não precisava pensar, parecia que eu conhecia ele há anos, assim como os outros...

         -Há muito tempo – eu falei, e aí eu me toquei, não era exatamente o tempo em si, mas como nós parecíamos conhecer as coisas, eu estava ali há apenas sete dias, mas parecia que eu estava ali há um ano, porque eu já conhecia muita coisa, já tinha passado por um monte de coisa também.

         -Entendeu? – ele perguntou bagunçando o meu cabelo, e eu dei um tapa de leve nele, que riu junto comigo, e me beijou.