Férias Frustradas escrita por Nunah


Capítulo 9
9 - bipolaridades


Notas iniciais do capítulo

Eu ia fazer um bônus com os olimpianos, até cheguei a escrever, então eu surtei e apaguei tudo. Hoje de manhã eu escrevi esse capítulo curtinho.



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“Você vai pagar por isso.”

“Você fica melhor calada.”

- Me larga. Agora. – ela disse séria; por trás daquelas orbes cinzas, ele podia ver a raiva contida.

Sua confusão foi automática; suas mãos fraquejaram e ela pôde sair do aperto.

- Mas...

- Sujo. – ela repetiu, fechando os olhos, tentando se acalmar, enquanto cravava as próprias unhas na mão, fechando-as.

O leve ‘tic’ da porta se fechando a sobressaltou. Ele havia ido embora, por alguns tempos ela teria sossego.

Suspirando pesadamente, ela enterrou-se mais ainda no colchão. Essa noite seus pensamentos a atormentariam.

Mas o que houve?, essa pergunta ecoava em sua mente. Ele não pode ter se ofendido. Nunca se ofende.

Ela já o chamara de coisas piores e ele nunca ligou.

Droga.

.

.

.

O que havia dado nele afinal? Ele nunca ligou para isso, não seria agora que começaria a se importar.

Mas ele estava furioso, contendo a raiva, assim como ela, e sabia disso. O que eles estavam fazendo? Aquilo não daria certo. Não podia dar certo. Não era pra dar certo.

Onde está a diversão?

Era pra ser algo divertido, não era? Algo engraçado...

E agora os dois estavam confusos. E furiosos.

O que está havendo?

Ele tinha parado no segundo andar. A porta da enorme biblioteca estava aberta e aquilo só aumentava sua raiva; sua vontade de tocar fogo em tudo, mas então ele se lembrou que era a personificação da água, dã.

Contrariado, ele entrou no banheiro e lavou o rosto com água fria.

Como ela consegue?

Ela era delicada. E inocente. E acabava com ele em poucos segundos.

Um dia Anfitrite lhe dissera uma coisa que ele não deu muita importância, mas agora começava a fazer sentido.

Nem tudo que reluz é ouro.

Era a mesma coisa que pensar: Todos imaginam que o diabo é uma coisa horrenda, mas na verdade pode ser a pessoa mais linda do mundo. Ele precisa fazer você acreditar que ele é inofensivo.

É a mesma coisa.

Ele precisava se acalmar. Já tinha aguentado coisas muito piores, não tinha?

Precisava se mostrar forte.

.

.

.

Algo dentro dela se remexia.

Eu não deveria me sentir culpada.

Ela não tinha dito nada de mais.

Ou tinha?

Ela iria repetir isso até se convencer, e a situação estava crítica.

E algo dentro dela continuava incomodado.

Talvez não seja culpa.

Athena sabia, não iria conseguir dormir.

Maldito seja.

.

.

.

Sujo, ela dissera. Ela o odiava.

Ele já sabia disso. Há muitos anos, aliás. Por que então era tão difícil ouvir?

Poseidon não conseguia dormir, sua mente tentava entender o que estava acontecendo.

Mas é complicado. Ela é complicada.

Estava tudo tão bom e ela puf. Surtou. Ele já deveria saber que não seria fácil.

Mas então por que aquilo se mostrava tão preocupante?

Ele não iria pedir desculpas. Nem que Cronos dance o Rebolation.

Era orgulhoso, ele sabia. Os dois eram. Orgulhosos e egocêntricos. Nunca admitiriam que algo tão ridículo estava lhes tirando o sono. Nunca.

Poseidon se levantou, agitado demais para continuar deitado naquele sofá. Os puffs que antes eram fofinhos aos olhos de Afrodite agora pareciam assombrações (não, ele não está com medo).

Mas o que fazer quando algo horrível está lhe tirando o sono?

O mar. A única coisa que lhe acalmava. A única saída.

Apesar de aquela ser uma praia particular, ele não se sentia bem saindo por aí apenas com uma cueca. Ele teria de subir.

Teve o cuidado de ser silencioso na hora de abrir a porta do quarto, mas desnecessariamente.

Ela estava acordada. E se mexeu na cama quando ele entrou, visivelmente incomodada.

Poseidon não quis começar outra ‘discussão’ (se é que aquilo poderia ser chamado de discussão... discussão silenciosa, talvez), portanto apenas colocou seu moletom azul escuro e uma blusa branca fina de algodão com mangas compridas, e se foi. Sem dizer sequer uma sílaba.

Argh. O que é isso? Voto de silêncio?

Ele atravessou diversos cômodos, contando a sala e um salão de jogos que ele mal olhou. Tudo o que importava era a porta.

.

.

.

Ela não aguentava mais. Estava quase sufocando.

Não queria passar a noite em claro, virando de um lado para o outro na cama.

Revoltada, ela se levantou da cama com um pulo, escancarando as portas de vidro que dividiam o quarto e a varanda.

Sentir a brisa gelada em seu rosto a acalmou consideravelmente, mas ela ainda estava alarmada. E continuaria assim por um bom tempo.

Ela o observava de longe, caminhando na areia molhada, onde as ondas quebravam. O mar estava surpreendentemente calmo, mas sua cor era mais escura do que ela se lembrava.

Então ela finalmente percebeu (leia-se conseguiu admitir porque era a única explicação), ele tinha mesmo se ofendido. Talvez de um modo exagerado porque era só uma mísera palavra. Mas mesmo assim.

Ele já deveria estar guardando esse rancor há milênios, e a cada briga, aquilo ficava mais difícil de controlar.

Então a bomba simplesmente explodiu.

Já não era sem tempo.

Ele se virou, olhando-a lá de baixo, e seus olhos se encontraram. Ele não sorriu. Não a xingou. Simplesmente ficou lá, encarando-a, enquanto milhares de coisas passavam por suas cabeças. Ele era um dos Três Grandes e sabia fazer aquela expressão autoritária, uma expressão que fazia todos tremerem na base. Menos ela. Mas naquela noite, os olhos de seu tio pareceram mais assustadores do que o normal. E ela teve medo.

Até que, com a mesma postura indiferente, ele voltou ao que estava fazendo. Deixando-a ainda mais confusa, e cheia de dúvidas. Uma coisa que Athena odiava era ser ignorada. Assim como ele.

“Temos muitas diferenças”, foi o que ela dissera uma vez.

“Mas também temos semelhanças”, ele respondera.

E ela não podia negar que eram ao mesmo tempo iguais e opostos. Semelhantes e diferentes. Assim como Sol e Lua, Céu e Inferno, Água e Fogo (e é claro que isso não tem nada a ver com personificações dos deuses, porque senão daria uma coisa confusa pra caramba, certo?).

Ele continuava andando pela praia, não ligando muito pro resto do mundo.

E ela continuava alternando seu olhar entre ele e o horizonte.

I’m here without you, baby

But you’re still on my lonely mind.


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Notas finais do capítulo

Eu queria dizer obrigada pela recomendação de DiennyLerman, que eu já tinha visto, mas esqueci de agradecer.