Férias Frustradas escrita por Nunah


Capítulo 41
40 - novo inimigo, desconfiança, filho e salvação




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Katherine adentrou a biblioteca distraída, um pouco triste. Assim que viu Athena largada em uma poltrona de couro marrom, também imersa em seus próprios pensamentos, a mulher tentou melhorar seu semblante, mas não foi de muita ajuda.

- Kate, o que houve? Está triste? – perguntou a deusa, empertigando-se.

- Aah, não é nada, não precisa se preocupar...

A mulher sentou-se no sofá, suspirando. Não queria encher Athena com seus devaneios, mas não podia guardar para si. Mais cedo ou mais tarde ela perceberia.

- Não precisa tentar esconder. O que houve? – Athena repetiu, começando a se preocupar.

- Lorde Poseidon – ela deu uma breve olhada da deusa. Estava congelada no lugar, a boca se abrindo.

- Kate, fale de uma vez, o que foi que aconteceu? Onde está ele? E Valentino?

- Eles já voltaram da guerra e estão bem. O rei está um pouco mais machucado do que antes, só isso... E Valentino foi se deitar.

Kate encarou as mãos, cabisbaixa. Seu rei poderia ter perdido a vida naquela guerra. E ainda poderia fazê-lo se não se cuidasse devidamente. Não era porque tinha mais reforços do que antes que começaria a baixar a guarda.

- O-o que...? Valentino lutou? Mas como assim... Ariana, ela... Poseidon está bem... Não está?

Athena se sentou na ponta da poltrona, ansiosa. Katherine arregalou os olhos, surpresa pelo bombardeio de perguntas.

- Aah, sim, o duque foi com o rei, mas... Bom, eu não sei sobre a duquesa, ela... Ahm. É, o rei está machucado no momento, mas vai se recuperar.

A deusa saltou, caminhando rapidamente até a porta enquanto o barulho de seu salto em atrito com o chão ecoava.

- Ah, Lady Athena! – exclamou Kate. – Assim que voltou, Lorde Poseidon pediu que eu colocasse suas coisas no quarto dele, hum.

Athena, que tinha voltado alguns passos quando chamada, se desconcertou um pouco, mas logo recomeçou seu trajeto. Se vamos ser casados, que seja do jeito certo.

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A deusa se deteve à porta. Claro que não poderia ficar ali por muito tempo, ou Ariana chegaria e a encheria de perguntas, então ela bateu.

Não sei se é certo bater no meu próprio quarto, mas... Ah, o que eu estou dizendo, esse quarto não é meu!

Ninguém atendeu. Athena suspirou, girando a maçaneta. O som do chuveiro a sobressaltou. Droga, por que eu tenho sempre que chegar nessas horas?

Ela caminhou até o guarda-roupa e abriu duas das portas. Suas coisas estavam do mesmo jeito que antes, arrumadas e organizadas, só que dessa vez no quarto dele. Athena olhou para a cama. Era grande e parecia confortável, mas não foi isso que chamou sua atenção.

Havia outra coisa dela ali, que ela já tinha até se esquecido. Bem, não era bem dela. Era um exemplar recente do The New York Times que Sebastian lhe entregara um pouco depois do almoço.

Nossa, olhando por esse lado... Eu passei tempo demais na biblioteca.

Várias fotos de Manhattan alagada, a Estátua da Liberdade entortando por causa de terremotos incomuns, pessoas mortas nas praias de Miami...

- Aah, você chegou – disse uma voz conhecida.

- Poseidon, você viu o que está causando aos mortais? – perguntou ela, abrindo o jornal. – Pessoas estão morrendo e eles estão levando isso como um desastre natural!

A deusa se virou, não se deixando intimidar pela visão de um Poseidon colocando a cueca.

- A culpa não é minha se estamos em guerra, sabe. Não era você que dizia que os mortais são mais irracionais do que Afrodite? Pois bem, aí está a prova de que estava certa de novo, isso já não é suficiente? Você tem de jogar isso na minha cara? Athena, isso é uma guerra, quer que eu faça o quê? – ele levantou os olhos faiscantes para encará-la.

Athena estava paralisada pelo ataque do deus. Ela estava apenas apontando fatos, e não jogando aquilo na sua cara!

- O que é que você tem?! – exclamou. – Eu não estou tentando te ofender, quero apenas dizer que você tem de acabar com isso. E logo.

- Você sabe que isso não depende apenas de mim. – disse ele, elevando o tom de voz. – ainda mais depois de hoje.

- O que tem hoje, Poseidon? O que aconteceu? Você não conseguiu capturar Dóris? – perguntou ela, entrando em pânico.

- Sim, eu consegui, mas não é isso que me preocupa – disse ele, segurando-a pelo braço. – Seu pai estava lá, Athena. Ele se aliou àquela vadia para me derrotar, e sabe por quê? Para levar você embora. É incrível como ele sempre foge das guerras, mandando semideuses no lugar, mas quando o motivo é orgulho... Ele corre atrás do que precisa. E agora eu estou perdido. Ainda mais. Porque eu não tenho forças o suficiente para derrotar dois traidores ardendo em fúria.

Athena trincou os dentes.

- Meu pai não foge das guerras! E eu não acredito em você! Ele não pode ter se juntado à ela. Ele nunca faria isso... Você não tem como provar nada.

- E você vai defendê-lo mesmo depois de tudo?! Você sabe muito bem que eu estou dizendo a verdade! Todos sabem disso. Só porque você foi poupada todos esses anos das coisas terríveis que Zeus já fez não quer dizer que eu esteja mentindo. Eu o conheço mais do que você. E se quer uma prova de que ele está nessa guerra, vá até lá e veja com seus próprios olhos.

Athena estacou. Sua cabeça latejava de tanta informação que a atingia. Se lembrou de Ariana lhe contestando quando disse que queria lutar, de quando Hera e Afrodite a fizeram enxergar seu pai verdadeiramente, e ela soube que Poseidon falava a verdade quando percebeu que ele a estava mandando para a guerra só para provar o que falava. Então, tudo fez sentido.

- Poseidon...

- E o que você me diz de um filho, Athena? Seu pai esteve aqui para te levar. Ele me contou tudo. Por que você nunca me falou? Por que escondeu isso de mim? Eu tive um filho e nem ao menos o conheci! – ele engoliu em seco. – Por que fez isso comigo?

- E-eu... Não sabia.

- Não se faça de sonsa, Athena! – ele a jogou na cama. Os olhos da deusa instantaneamente se encheram de lágrimas.

- Me desculpe, eu ia contar! Mas só soube da verdade há pouco tempo, Poseidon, me desculpe. Alguém o tirou de mim... Afrodite disse que eu sofri um grave acidente tentando recuperá-lo e perdi a memória... Por favor, acredite em mim... Eu não queria que fosse assim... Ele virou mortal, foi criado por mortais... Eu não o consegui de volta... Todos esses anos... Todos esses anos eu sofri vendo-o crescer longe de mim, e depois ele se foi... Assim como qualquer outro mortal. Não me deixaram ir até o Mundo Inferior... Eu nunca mais pude encontrá-lo, Poseidon.

O deus se aproximou lentamente e se sentou na cama. Athena se encolheu, afastando-se e tirando os sapatos, chorando.

- Eu juro... Eu ia te contar depois de isso tudo acabar, eu...

- Me desculpe – ele a interrompeu. – Eu não deveria ter gritado com você, mas...

Poseidon entrou em pânico quando Athena chorou mais ainda depois de suas palavras.

- E ainda tem Ariana! O que ela quer Poseidon? Ela não era feminista? – a deusa mordeu o lábio enquanto soltava a flor vermelha do cabelo. – Ela não gostou da minha idéia de lutar... Mas eu juro, eu consigo... O que aconteceu com ela, hum?

- A-Ariana não te deixou lutar?

Em resposta, a deusa negou com a cabeça, baixando o olhar.

- Isso é intrigante. Ela não te deixa lutar... Anfitrite parece não ter nenhum ponto fraco... Zeus interfere na guerra depois de muito tempo e o pior é que é contra mim... A única coisa boa é Valentino ter resolvido ajudar – Poseidon suspirou. – Zeus disse que foi ela quem roubou o bebê. Aquela... coisa irritante.

- Coisa irritante?! Ela é um monstro, uma idiota, mal amada e... Deuses! – Athena parou no meio da frase, de boca aberta, parecendo ter lembrado de algo extremamente importante.

Poseidon riu.

- Poseidon! Mas é claro, como foi que eu não pensei nisso antes?! Como foi que Anfitrite sobreviveu por tantos anos?!

- Ahm, Athena... Ela se tornou imortal, sabe... Eu a tornei imortal para... – ele desviou o olhar.

- Exatamente, Poseidon! Deuses, como eu fui estúpida! É claro, ela tem sim um ponto fraco. E é você!

- Como é que é?! Não, não, não, espera aí Athena!

A deusa revirou os olhos.

- Ela é imortal e aparentemente sem pontos fracos por sua causa. Poseidon, você a tornou imortal. Pode torná-la mortal novamente.

O deus sorriu, iluminado.

- Certo. Mas como eu faço isso? – ele arqueou a sobrancelha.

Athena suspirou.

- É só você querer. Quando ela o deixou... Você não pensou muito no assunto, não foi? Estava abalado... Você deu tudo a ela... E agora, você pode tirar...

- Inclusive a imortalidade – Poseidon completou, maravilhado. Anfitrite tinha seu ponto fraco, afinal, e finalmente o deus pôde ver uma luz no fim do túnel, uma oportunidade de sair vitorioso daquele poço aparentemente sem fundo.

- Exato.

- Athena, você é um gênio, sabia?! – ele disse, eufórico demais para perceber o rubor da deusa. – Você é a minha salvação! – a frase fez com que uma pequena cena lhe voltasse à cabeça.

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-... Ariana sempre foi bastante feminista e já deixou bem claro que se eu ou o reino não estivéssemos dentro dos padrões, ela começaria a apoiar o movimento de independência. Resumindo, eu estou na mão deles.

Poseidon pôde vê-la engolindo em seco. Provavelmente, com sua inteligência, Athena tinha acabado de perceber o porquê daquilo tudo. O porquê de ele tê-la apresentado como esposa. Ninguém sabia da existência de Anfitrite e, devido aos princípios feministas de Ariana, o deus precisaria de uma mulher ao seu lado para governar.

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- Você não está sozinho, Poseidon – sussurrara ela. – Você tem a mim... Sebastian, Kate... Vocênão estásozinho. Eu lhe sou grata por tudo o que você fez e está fazendo por mim. O único jeito de retribuir é ajudando... Nessa hora de dor e... Desespero. Poseidon, eu vou te ajudar no que eu puder, até mesmo... – a deusa fechou os olhos. – Até mesmo se isso significar fingir ser sua esposa.

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Sim, ela era sua salvação. Sempre fora. Sempre seria.


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Notas finais do capítulo

Eu gostei desse capítulo, de verdade.