Mais três dias confinado nesta porcaria. Não, não suporto mais ficar aqui, trancafiado, com sede e com fome. Só não estávamos com mais sede por que conseguimos pegar a água limpa que deixaram para o cachorro antes de ele beber. Meus lábios estavam ressecados, meu estomago doía de fome e eu estava quase desmaiando.

Não sei Jay e Lúcia, mas eu não estava sem comer apenas há três dias e sim muito mais. Me alimentaram muito mal enquanto eu estava preso na Cadeira de Prata.

-Não aguento mais ficar aqui... - eu estava resmungando isso a mais ou menos duas horas. Lúcia suspirou.

-Nós também não, Ed, mas não há muito a ser feito. - argumentou cansada de minha ladainha. Um silêncio instalou-se no ambiente e o silêncio de Jay levou nossa atenção até ela.

-O que você está fazendo? - perguntei. Ela estava cutucando a fechadura de sua cela com alguma coisa pontuda.

-Estou tentando fazer uma coisa... - ela parou de falar quando o grampo de cabelo quebrou. - Droga! Era meu ultimo!

Ouvi Lúcia suspirar.

-Vou ficar louca se não sair daqui logo. - resmungou Jay.

-Eles não vão nos manter aqui para sempre, uma hora ou outra algué... - o som da porta pesada interrompeu Lúcia. Com os saltos fazendo barulho contra os degraus de pedra, descendo com uma lentidão exagerada, surgiu duas mulheres, muito, muito parecidas. Uma eu conhecia de longa data.

Ela lançou um olhar superior e humilhante acompanhado de um sorrisinho esnobe. Ao lado dela parou a perua loira de vestido verde, cruzando os braços e nos encarando. Elas permaneceram assim durante um tempo e um silêncio de tensão prevaleceu naquela masmorra. De relance vi Jay e Lúcia trocarem um olhar, mas o meu permaneceu encarando o de Jadis. Aquele silêncio já estava durando muito, quando ela finalmente o quebrou.

-GUARDAS! - gritou. - GUARDAS! - logo eles surgiram, três deles.

-Chamou, majestade? - eles se posicionaram ao lado dela.

-Traga os prisioneiros, temos pressa. - disse Jadis antes de se dirigir às escadas sendo seguida pela perua. Os guardas se encaminharam, um para cada uma das três celas; eles a destrancaram e nos algemaram, empurrando-nos para as escadas, em seguida pelos corredores até chegarmos a uma sala escurecida, cheia de tochas e um altar onde havia uma fogueira apagada; um cenário sinistro onde haviam ossos, círculos, velas e símbolos estranhos, o chão era de terra e em alguns pontos havia manchas escurecidas o que deduzi como sendo sangue. Meu coração começou a palpitar, pela primeira vez, eu estava com medo.

-O que vai fazer conosco? - perguntou Lúcia, transmitindo toda nossa angústia.

-Vocês serão muito úteis a nós. - disse a Perua. Nesse momento, uma outra porta abriu e por ela entraram Aller, Miraz, um macaco e Rabadash; todos vestindo roupas negras, ao contrário do macaco que não usava roupa nenhuma além de uma capa preta. Eles se aproximaram.

-Úteis em quê? - perguntei, olhando para os recém-chegados e depois para Jadis.

-Uma vez, Edmundo, eu tinha o direito sobre a vida de um traidor... Mas, por um motivo, não pude usufruir desse direito. Felizmente, esse episódio contribuiu para causar outro ainda maior. Este! - sorriu como se acabasse de me fazer uma surpresa, gesticulando para o ambiente ao nosso redor. - Como sabe, Edmundo, estou colecionando aliados. Comecei com meu querido Aller, depois, assim como os Amigos de Narnia, tanto os Antigos, os Atuais e os que Ainda Não Se Conhecia retornaram a Narnia e se aliaram inutilmente a você seus irmãos e cia. Os Inimigos de Narnia também vieram para se unir a mim... Já devia ter percebido, bobinho. A primeira pista foi a visita surpresa que Rabadash fez a sua irmã...

-Quem sabe não vou visitá-la de novo? - falou Rabadash com naturalidade.

-Vá e Caspian fará você em pedacinhos. - falei. Rabadash iria rebater, mas foi interrompido.

-Caspian será meu. - disse Miraz. - Ele me deve muito.

-Sim, sim, já sabemos, mas isso não vem ao caso agora. - resmungou a Dama, rolando os olhos.

-Mantive você vivo até agora para este momento, Edmundo, sinta-se honrado. - continuou Jadis, ignorando os comentários. - Você será extremamente necessário para que eu consiga meu último aliado. - cochichou, inclinando-se para mim.

-Como?- não pude deixar de perguntar, a apreensão fazia meu coração disparar.

-Ele exigiu um certo preço para se juntar a mim... E vocês se encaixam perfeitamente...

-Não estou entendendo. - resmunguei com pressa para saber logo do que se tratava.

-Você, Edmundo, assim como sua irmã e sua namoradinha serão o pagamento. - disse a Dama.

-Vocês são um... Sacrifício.