Acordei naquela manhã, tremula. Toda noite o mesmo sonho, a mesma escuridão, a mesma pessoa desconhecida que ao me encontrar, rouba o pouco feixe de luz que eu tenho me deixando na escuridão.

E então, me sinto vazia, com um buraco no peito, a sensação de que falta algo, o medo do escuro cresce, me impedindo de poder viver minha vida como qualquer adolescente normal de 17 anos faria.

Desde aquela noite... Na noite em que perdi tudo, à noite em que fiquei sozinha. Ganhei um companheiro, que nunca mais irá me deixar sozinha. Embora, ficar só seja o que eu mais quero neste momento.

Parei de pensar e sai rapidamente da cama, abri as janelas, o sol adentrava meu quarto o iluminando, por pouco tempo. As cortinas grossas na cor azul marinho se fecharam, escondendo o sol que brilhava fortemente lá fora. Novamente “Ele” roubava minha luz.

Tentei inutilmente abrir as cortinas grossas e pesadas de novo, mas, sempre que eu as abria, Ele as fechava. Cansada dessa palhaçada, fui em direção ao meu banheiro, que ficava em meu quarto. Acendi a lâmpada, mas, como sempre fazia, Ele a apagou. Suspirei pesadamente, lavei o rosto no escuro.

Desci para tomar café, a casa estava escura, comi um pão com manteiga e tomei uma xícara de café, subi novamente para meu quarto e me troquei. A mesma roupa sem graça de sempre; uma calça jeans preta, botas sem salto por cima da barra da calça, uma camiseta roxa de manga curta, e meus inúteis cabelos negros que caiam em ondas em minhas costas.

Peguei minha mochila lilás, meu celular e meu mp3 preto. Coloquei os fones de ouvido, a música no máximo, e sai de casa, trancando-a. O sol que antes batia fortemente em meu rosto, agora estava escondido atrás de uma nuvem.

Eram 12h45min, eu ainda tinha quinze minutos para chegar à escola antes de fecharem os portões.

Eu não morava muito longe da escola, chegaria em dez minutos e ainda teria tempo de sobra. Caminhava lentamente, ouvindo a musica “I Hate Everything About You” de minha banda preferida “Three Days Grace”. Não reparei no grito de cuidado, muito menos na pessoa que vinha em minha direção, só me toquei depois que eu caí.

_Eu disse para sair da frente. _Ele falou.

Seus olhos castanhos me fitando com certa raiva.

_Só falta agora eu ter atropelado uma patricinha nojenta. _Ele falou saindo de cima de mim.

Foi ai que me toquei que ele tinha me “atropelado” com o skate. Levantei-me e tirei os fones de ouvido.

_Aposto que não ouviu nada do que eu disse né? _Ele perguntou me olhando atônito.

_Perdão! O que você tinha dito? _Perguntei me recompondo.

_Primeiro eu disse “Saia da frente, cuidado” depois eu disse, “Eu disse pra sair da frente” e por fim eu falei “Só falta agora eu ter atropelado uma patricinha nojenta”.

_Ok! Agora eu digo. “Aqui não é lugar pra andar de Skate” e digo também, “Ao invés de mandar alguém sair da frente, desvie” e não vou me esquecer de dizer “Patricinha nojenta é a sua mãe”. _Falei irritada me afastando.

Meu pequeno acesso de fúria acabou me fazendo chegar na escola rápido, fui para meu lugar na sala de aula, ao lado da janela, as cortinas verde-musgo que antes estavam abertas, agora se fechavam lentamente, impedindo o sol de entrar e clarear mais aquela sala. Suspirei irritada, Ele estava decidido a não deixar que nenhuma luz me iluminasse nem me aquecesse. Ele queria que eu ficasse eternamente na sombra, na escuridão, assim como Ele ficou.

Aos poucos a sala foi enchendo, os mesmos rostos de sempre, as mesmas pessoas alegres.

_Todos em seus lugares. _Ordenou a professora de Física ao entrar na sala.

Eu era a última da fileira, ao lado das janelas, escondida de todos, eu podia ver e ouvir atentamente a professora, já que minha sala não era bagunceira. A baixa professora de Física olhava a sala atentamente, cada rosto, um por um, até parar no meu, seus olhos grandes e castanhos escondidos pelos óculos fundo-de-garrafa me encaravam.

_Senhorita Collins! Venha até aqui, por favor. _Ela falou, suas palavras saiam como veneno sendo cuspido.

Levantei-me e caminhei lentamente até a frente da sala, os olhos de todos os alunos voltados para mim.

_Quero que vá ate a diretoria e chame o novo aluno que esta lá. _Ela dizia, seus olhos me encarando com certo nojo.

_Por que ele não veio sozinho? _Perguntei, não deixaria essa víbora me intimidar.

_Por que ele esta esperando a diretora, fique quieta e me obedeça, vá logo. _Ela falou.

Assim que sai da sala pude a ouvir mandando abrirem as cortinas. Caminhei a passos lentos pelo corredor da escola, não estava com pressa de chegar à diretoria. Mas, infelizmente acabei chegando.

_Kate! O que faz aqui? _Perguntou a Sra. Willians a assistente da diretora.

_A professora Annia me pediu para vir buscar o novo aluno. _Falei desanimada.

_Ela sempre da um jeito de te tirar da sala. _Ela falou.

_E então, cadê o novo aluno? _Perguntei olhando ao redor.

_Esta conversando com a diretora, logo ele ira aparecer. _Ela disse gentilmente.

Sentei-me numa cadeira que tinha lá, esperaria. Peguei meu mp3 do bolso e coloquei os fones, fechei os olhos apenas curtindo a musica.

_Não acredito! Está me seguindo? _Falou tirando meus fones.

Olhei quem era o idiota para constatar que era o mesmo garoto de mais cedo.

_Eu estudo aqui. _Falei calmamente.

_Allen Adams! Esta é Kate Collins, ela irá levar-lo ate sua sala. _Falou a Sra. Willians.

_Eu mereço viu! _Ele resmungou.

Eu olhei para a janela da diretoria, o sol estava forte, mas, certamente se esconderia atrás de uma nuvem quando eu saísse para fora, decidi voltar para a sala.

_Ei, não vai me esperar não? _O garoto resmungou.

_Não tenho o dia inteiro, me siga ou fique perdido na escola. _Falei sem olhar para trás.

_Custa esperar um pouco? _Ele perguntou, eu não respondi.

Logo ele me alcançou e fomos juntos para a sala. Quando chegamos a sala, a professora Annia, de física, logo parou de dar a explicação e voltou seus olhos grandes para nós. Entrei e fui logo para meu devido lugar, o garoto continuou parado na porta. Sentei em meu lugar, a cortina que estava aberta se fechou devagar sem que ninguém percebesse, dessa vez foi só onde eu estava o resto estava em seu devido lugar.

_Sente-se Sr. Adams! _Falou a professora encarando-o por baixo dos óculos fundo-de-garrafa.

_Onde? _Ele perguntou.

_Em frente a Senhorita Collins. _Ela falou e voltou a explicar a matéria.

Ele veio em minha direção e se sentou na mesa em minha frente, após copiar toda a lição da lousa, ele se virou para mim e sussurrou.

_Ela parece uma ameixa seca.

Logo depois ele sorriu, e voltou-se para frente.

Não consegui conter meu sorriso, também, ela realmente parecia uma ameixa seca, vestida com uma longa saia cinza que ia até as canelas, uma blusa social rosa, com um broxe estranho no colarinho, os cabelos castanhos num coque, o batom vermelho nos lábios tortos, e os óculos fundo-de-garrafa, a faziam parecer uma ameixa seca fantasiada.

Eu sorri com esse pensamento, e logo em seguida voltei a fazer copiar minha lição.

 Esse aluno novo, era interessante.

***My~Darkness***