Palavras de Heagle escrita por Heagle


Capítulo 14
A promessa.




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Recapitulando cena anterior:

Eu, Matt, numa sala, ele contando sobre fim, eu enfartando e morrendo. Dúvidas? Leiam preguiçosos.

- Para de brincadeira, cara. – sorri, tentando acreditar que aquela era uma brincadeira muito, mas muito chucra. Tinha que ser!

- Não estou brincando, Marietta. – continuou Matthew, ainda sério. Seus olhos – não sei se era por ter acabado de acordar ou porque estava chorando - estavam vermelhos, inchados... e nada, nada remetia que tudo aquilo fosse mentira. – Você sentiria isso se convivesse por tanto tempo com uma pessoa... e do nada, sem ao menos se despedir... vai embora. Não tem sentido continuar, nossa banda é amaldiçoada, só pode.

- Não, você NÃO PODE FAZER ISSO! – gritei, levantando-me. – VOCÊ SABE QUANTOS FÃS ESTÃO LÁ FORA, CHORANDO? SABE O QUANTO EXISTEM FÃS QUE DARIAM A VIDA SÓ PRA VEREM VOCÊS, UMA VEZ NA VIDA, QUE FOSSE? Tem fã que daria a vida pra trazer Jimmy e Johnny de volta. Você, Zacky, Syn, nenhum de vocês podem fazer isso... com eles. Sabe o sentido da vida sem Avenged? Pra mim, ela vai se tornar...

- Imagina pra mim, porra? Jimmy e Johnny estão MORTOS! NOSSO BATERISTA E NOSSO BAIXISTA ESTÃO MOOORTOS! NOSSOS MELHORES AMIGOS ESTÃO MORTOS! COMO PODEMOS SEGUIR EM FRENTE ?

- Podem seguir até o último cair. – murmurei, voltando me sentar. Havia perdido o controle, tudo bem... mas cara, Avenged significa tanto pra mim que... não me imagino sem eles.

Matt não respondeu, inicialmente. Deu duas voltas, olhou para um porta-retrato, deu um chute sutil em uma bolinha (não quero nem imaginar porque aquela bolinha estava lá) e voltou a me encarar:

- Não será pra sempre.

- Do modo que você disse... parecia ser.

- Voltaremos quando estivermos prontos.

- E quando isso vai acontecer?

- Não sabemos.

- E que farão nesse tempo de hiato? Onde os fãs poderão encontrar vocês...

Matt exibiu um sorriso doentio, tão parecido com os meus, na hora dos negócios. Ele se sentou ao meu lado, ajeitou os cabelos e olhou-me, com aquele par de olhos verdes que... ai, deixa quieto.

- Eles, não sei. Mas eu sei onde eles podem me encontrar. Se eu passar na porra daquele teste... eu serei Jonathan Harrington, oras.

Tá, calma, momento tenso, derramático (existe essa palavra? A, foda-se, saibam que ela deriva do DERRAME, isso mesmo, aquele que eu estava prestes a ter) e propício. WHAT THE HELL?

- O que... você disse? – pedi para que repetisse, porque, numa situação daquelas, eu nem sabia se devia confiar em meus ouvidos. Se bobear, eu estava bêbada e não sabia.

- Você me convidou para fazer o teste... para eu interpretar seu personagem. Nesse hiato, não terei muita coisa a se fazer... além de gastar dinheiro que ganhei com a música. Então... por que não conhecer novos horizontes e tentar?

- Olha... – murmurei, ainda desacreditada. – Eu sei que a morte do Johnny foi dura, tanto pra você quanto pra banda toda, e por mais que eu adore a ideia... não posso aceitar uma coisa dessas.

- Por que não?

- Porque você não está com seu psicológico nos eixos pra decidir algo tão sério!

- Não tem que decidir. É aceitar ou não.

- E se... quando você tiver filmando... você decidir que não é isso e...

- Não vou te dar cano. Se eu quiser voltar com Avenged, volto depois do lançamento do filme. Cara, eu não sou irresponsável, okay?

Momento tenso, parte três.

- Não estou dizendo isso.

- É o que aparenta dizer.

Silêncio. Realmente, preferi ao silêncio a iniciar uma discussão bobinha. Agora, somando os pós e os contras...

Matthew tinha 29 anos na época, sabia muito bem o que queria, e duvido muito que a morte de alguém fosse desestruturá-lo tanto, se nem a do Jimmy fez isso. Outra, parecia que muito antes de surgir esse convite do filme, ele e Syn já tinham conversado sobre fim do Avenged. Como se... a todo momento, estivessem em corda bamba, desde dezembro de 2009.

Eu sinceramente não sabia se ele ia se arrepender... mas resolvi deixar meu sonho falar mais alto.

- Okay. – murmurei, levantando-me.

- Okaay? – repetiu Matt, levantando também.

- Yeah... avisarei ao meu produtor e à Mel que... você fará o teste. Acredito que você fará com a escolhida para a Sophia.

- Legal... – sorriu, coçando a nuca.

- Só... que... você vai me prometer algo muito sério, antes de embarcar nesse mundo cheio de criaturas estranhas, magos, Murphy...

Ele assentiu, aparentando estar curioso. Aproximei-me dele... peguei as suas mãos (que eram pesadas e enormes, então, por pouco consegui envolvê-las) e murmurei, com os olhos um pouco lacrimejantes:

- Você está realizando meu maior sonho... mas por favor, Matt, não destrua o sonho de não sei quantos milhares, milhões, de fãs que... precisam do Avenged pra seguir. Prometa-me, por favor, que isso é apenas uma longa temporada de férias... e que vocês vão voltar, quando a poeira abaixar.

- Marietta...

- Por... favor.

Matt deu um sorriso, esse que não durou por muito tempo. Olhou-me de uma forma terna, meiga... uma forma que eu nunca imaginaria que viria de M. Shadows, aquele cara sinistro nos palcos, que berrava, gritava, parecia... mau.

Foi naquela ocasião que encarei a outra face de Matt, e fiquei muito feliz, muito mesmo, quando ele sorriu, dando-me um abraço não muito forte (porque se ele depositasse um pouquinho de força... com certeza, eu nem estaria aqui viva).

- Prometo, cara. E valeu por tudo, Marietta.

E ficamos lá, por um bom tempo, abraçados, no meio da sala. Teve horas que cheguei a perguntar, pra mim mesma, se eu queria que aquele momento tivesse um fim. Até hoje não sei a resposta.


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