Sally’s POV on.

Eu já sabia por que ele estava ali. Que outro motivo seria se não ele me buscar para ver meu pai? Agora eu só precisava dar um jeito de fazer Justin aparecer pra mim. Era isso. Eu faria Justin aparecer para me levar. E eu já sabia exatamente o que fazer. Só precisava sair de casa sem ninguém colar em mim com o papo de "você não pode sair sozinha". E só uma pessoa poderia me ajudar nisso. Voltei ao quarto para pegar o telefone. Disquei os números já tão conhecidos e me encarei no espelho. Eu estava horrível.

– Sally. Amor. Tudo bem?

– To, eu... Quero dar uma volta. Pode vir me buscar?

– Tá. Vou me trocar e já passo ai.

– Tá amor...

– Amo você, Sally.

Tomei um banho rápido, mas que me trouxe de novo ao mundo das pessoas civilizadas. Eu demorei mais tempo para escolher uma roupa e uma maquiagem que não deixassem a mostra o horror que eu estava. Mamãe estava me chamando pela terceira vez, avisando que Brian estava ali me esperando há muito tempo, quando eu finalmente saí do quarto.

Ela começou a falar coisas que passaram despercebidas por meus ouvidos, enquanto eu a ignorava, andando até a sala. Ver Brian me fez esquecer tudo. Me deixou calma e fez um sorriso fraco surgir em meu rosto.

Corri em sua direção, o abraçando e deixando que ele me girasse no ar. Seus lábios se grudaram aos meus, me fazendo repensar o plano de deixar Justin me levar com ele.

Eu podia não amar Brian da forma que ele merecia, mas ele era tudo o que eu tinha como motivo para viver. O que eu estava fazendo com ele não era justo.

– Vamos dar uma volta. Não sei quando eu volto. - Sai da casa o mais rápido que pude, puxando Brian comigo. Eu tinha que decidir o que fazer, e essa escolha tinha que ser rápida também.

– Que filme você quer ver? - Chegamos ao cinema, vendo várias pessoas e casais conversando e namorando por todos os lados.

Brian era o tipo de namorado perfeito.

Ele tinha um cabelo meio grandinho, que deixava desarrumado. Assim como eu, ele detestava o sol. Tinha os olhos azuis mais lindos que eu já tinha visto. Seu sorriso passava sempre um ar sapeca ou então sedutor. Ele não era tão alto, o que era ótimo pra mim que também não era grandes coisas. Ele não era musculoso, mas tinha tudo muito bem definido no lugar certo. Esse era o motivo pra ele ser o garoto mais desejado da escola.

Mas o que me agradava em Brian, obviamente não era nada disso. Bom, isso também. Mas seu jeito fofo, romântico e engraçado me atraía na direção dele no tempo todo.

Brian era o tipo de garoto que gostava de abraçar, andar de mãos dadas. O namorado que nunca esquecia as datas especiais e que não tinha vergonha alguma de mostrar os sentimentos. Ele não era o namorado chiclete. Ele só fazia tudo no ponto certo.

Já eu, preferia não sair me agarrando na frente de todo mundo, por isso ele não demonstrava tanto assim os sentimentos que tinha por mim em publico. Ele era um namorado e tanto.

Mas... Essa era uma noite especial. Se eu queria mesmo seguir meu plano, eu tinha de ser a namorada perfeita pra ele.

E eu comecei então segurando sua mão. Ele fingiu não notar a diferença, mas eu o conhecia o bastante pra saber que ele estava nervoso com a situação. Apenas sorri pra ele, enquanto o puxava para a fila na bilheteria.

– O que acha de Orgulho e Preconceito?

– Estão dizendo que é dramático demais. - a voz ele foi baixa. Brian obviamente queria me livrar de tudo que poderia trazer uma... Recaída.

– Vamos ver esse! - sorri de novo, enquanto ele dava alguns passos à frente à medida que a fila andava. Eu o segui, uns dois passos atrás. - Você tá tão lindo hoje! - O abracei pela cintura, ainda atrás dele. Depositei alguns beijos pela sua nuca até chegar nossa vez de comprar os ingressos.

Com a cabeça apoiada em suas costas comecei a observar as pessoas a nossa volta.

Senti olhares sobre mim, mas não dei bola. Deveriam ser as garotas morrendo de ciúmes. Continuei observando as pessoas, um por um até que um garoto - que claramente estava me olhando -, se virou rapidamente tentando não manter nossa troca de olhares.

Me separei de Brian no mesmo instante, sentindo o ar a minha volta sumir. Brian veio até minha frente, tirando a visão que eu tinha do tal garoto. Seus olhos estavam fixos nos meus e suas mãos seguraram meus ombros.

Eu voltei a olhar em volta, tentando achar alguém me olhando. Vi alguns homens, que obviamente estavam juntos. Usavam as mesmas roupas e disfarçavam o olhar, ao encontrar o meu.

Brian se virou, procurando o que havia me deixado assim, mas eu o forcei a dar atenção pra mim novamente.

– Brian, vai comprar algo pra gente comer eu... Vou ao banheiro e te encontro... Lá na... Entrada da sala. Tá? - Tentei me afastar, mas Brian me puxou. Assustado.

– Sally! Meu Deus, o que tá acontecendo? Sou o seu namorado, você não acha que deveria confiar em mim?

– Eu confio... - voltei a procurar os homens a nossa volta. -... Mas... Eu. Não tem nada acontecendo aqui, amor.

Brian rolou os olhos, ainda me segurando.

– Sally eu agradeceria se você-

– Tudo bem. Depois eu conto... Tá? Depois. Agora vai la, Brian.

Eu praticamente o joguei na direção do bar. Brian dava dois passos e voltava a olhar pra mim, então eu só distribuía sorrisos forçados enquanto procurava por ele. Justin. Ele estava ali. Tinha que estar.

Eu estava andando em direção ao banheiro feminino. Lentamente. Bem lentamente. De repente dois homens se aproximaram, indicando com o olhar que eu devia segui-los. Decidi seguir, já que não tinha nada a perder.

Nós estávamos perto das escadas que levariam ao segundo piso do cinema, quando o garoto loiro - o mesmo que tinha me visto, na noite do grande acontecimento - se aproximou de mim, ficando alguns passos atrás, esperando que eu tentasse fugir, deduzi.

Enquanto subia as escadas, vi o olhar de Brian encontrar o meu lá do bar. Sorri pra ele, tentando disfarçar meu nervosismo. Ao chegar ao segundo piso - que não tinha ninguém além de nós quatro, - esperei que alguém estalasse os dedos. Batesse palmas. Falasse algo sério. Algo que trouxesse Justin até a grande sala cheia de poltronas onde nós estávamos.

Mas não foi isso que aconteceu. Eu, por mais que tentasse evitar, estava ficando muito confusa sobre meus pensamentos. Coisas estranhas acontecendo, pessoas do passado retornando...

Como tudo acontecia sem um por quê?

– Você sempre causando problemas.

O homem mais velho parou em minha frente, cruzando os braços. Os outros dois pararam atrás de mim. Estava parecendo uma cena de filme.

– Desculpe. Mas o que eu fiz?

– Você não consegue se livrar dele nunca! Não sei o que existe entre vocês. Mas já está passando dos limites! Todos esses anos! Todas essas vidas! Pra vocês sempre arrumarem um jeito de se encontrar.

– Desculpe. Não sei o que o senhor está falando... - Olhei para os garotos atrás de mim, ainda mais confusa.

– Julius, ela não se lembra de nada.

– O que? Do que eu não lembro? - Me virei para o garoto loiro, que estavas prestes a falar.

– Não é obvio? Se não queremos que isso volte a acontecer, também não queremos que você se lembre!

– Julius! Não grite com a garota!

Tentei me afastar dos três, levantando as mãos no ar, balançando a cabeça negativamente.

– É sério. Vocês são malucos...

Apressei-me em sair da sala, quase caindo nas escadas enquanto voltava ao andar de baixo.

Brian estava me esperando, sentado no fim da escada. Com a cabeça baixa.

Mais uma vez me senti um lixo. E eu nem havia tentado fazer com que Justin aparecesse!

Sentei ao lado de Brian, escondendo o rosto entre as mãos.

– Me conte na hora certa. - ele se levantou, estendendo a mão. - Ainda quer ver o filme?

– Quero! Hm, o que você comprou? - Me levantei, o abraçando pela cintura enquanto seguíamos para dentro da sala. Estava me forçando a esquecer Justin pelo menos durante o filme. E era fácil, pois Brian já estava começando suas palhaçadas enquanto mostrava o que tinha comprado, me fazendo rir de uma forma escandalosa. Atraindo mais olhares. Mas eu não ia ligar. Não podia ligar.

O filme já estava na metade, quando olhei para o lado vendo um Brian apagado, escondido na poltrona, com aspecto de quem não dormia bem há dias. Me perguntei se eu era a culpada. Mas resolvi esquecer e voltar minha atenção para o filme.

Estava tudo bem, muitas pessoas já estavam chorando, e eu estava quase lá.

Até que alguém sentou no meu outro lado, me olhando fixamente. O ar não parecia ser o bastante para me manter viva. Eu não queria me virar para o lado e ver ele sentado ao meu lado. Eu ia ficar tonta de vez, se encontrasse aqueles olhos.

– Não devemos conversar. - minha voz falhou.

– Realmente. Aqui não é um bom lugar, eu sei. Você sempre grita... E não é uma boa idéia você atrapalhar todas essas pessoas durante esse filme... Dramaticamente dramático.

Me controlei para rir baixinho, em meio nossos sussurros. Olhei para Brian e ele continuava apagado. Acho até que ele só iria acordar caso eu o chamasse.

Ainda sem olhar Justin, indiquei com a cabeça que devíamos sair dali. Ele se levantou, mas ficou parado. Eu podia sentir seu olhar fixo em mim. Em duvida.

– Que foi? - Sussurrei mais uma vez. Ele estendeu o braço, esperando eu me levantar.

– Você está tremendo, Sally. Se levantar sem minha ajuda vai cair.

Eu queria reclamar da situação, mas achei melhor sair daquele lugar primeiro.

Me levantei devagar, e enquanto me segurava em um braço, com o outro Justin envolveu minha cintura.

Ele tinha razão afinal.

Certamente eu não conseguiria dar um passo sem cair.

Chegamos ao salão principal, vendo uma única atendente no bar. Justin andava atrás de mim, ainda cuidando para que eu estivesse a salvo de qualquer coisa. O que foi bem útil quando ele aproximou o rosto em meu pescoço, deixando sua respiração bater em minha nuca.

– Sorria para ela e vá para o banheiro.

Seguindo suas ordens - e tremendo mais do que bambu, sorri meio tímida para a mulher ruiva atendendo e segui para o banheiro, me segurando na porta para tentar me acalmar.

Eu ainda não queria olhar em seus olhos, apesar de Justin ficar parado em frente ao grande espelho, me olhando através dele, parado com as mãos na cintura, decidindo o que fazer.

– Tá bom. Eu não vou mais fingir. Não dá. Você me conhece. Eu estou nervosa sim. Mas eu amo você... Ver você aqui, na minha frente depois de todos os anos é muito confuso. Não sei se fico feliz por te ver aqui de novo ou se dou um jeito de fazer você sentir toda a dor que eu senti quando perdi você. Eu to confusa.

Me aproximei da bancada em frente ao espelho, me apoiando nela. Virei para Justin, procurando seus olhos, que agora fitavam o chão.

– Pedir desculpas vai diminuir algum centímetro da raiva que você tem por mim? - Justin tinha o tom de voz baixo, triste.

– Não estou com raiva.

Ele levantou a cabeça, surpreso. Deu alguns passos até estar bem em minha frente, olhando o fundo de meus olhos.

– Como não? Depois de tudo... Eu pensei que-

– Você foi obrigado a me deixar. Não foi? - O interrompi, sorrindo fraquinho.

– Mas é claro. Eu nunca deixaria você por vontade própria.

– Pois eu entendi isso. Você me explicou que tinha de ir. Eu não sei direito porque, mas, eu entendo. Eu acho. Justin... Eu era só uma criança! Eu estava mal pelo... - Respirei fundo, desviando o olhar. Ele segurou meu queixo, me obrigando a olhar pra ele.

– Você sempre tão encantadora... Desculpe Sally. Por fazer você sofrer. Por voltar assim do nada para bagunçar sua vida.

Ficamos algum tempo, nos olhando em silêncio. Seus pedidos de desculpas, nossas declarações e a demonstração de que ainda tínhamos um ao outro eram visíveis em nossa conexão. Seus olhos mais lindos do que eu me lembrava, em alguns minutos ficaram confusos, cheios d'água. Justin sorriu pra mim, tentando não chorar.

– Melhor você voltar.

– O que? Por quê?

– Calma. Não vou a lugar algum... Bom, na verdade vou sim. - Respirei fundo, esperando sua explicação.

– Daqui seis minutos seu... - Justin parou, com um olhar desconfiado. - Daqui a seis minutos Brian vai acordar. Você ainda está tremendo, por isso é bom voltar lá rápido.

Ele estendeu o braço pra mim de novo, com um sorriso sapeca.

– Aonde você vai?

Deixei que ele me ajudasse a voltar pra sala, com medo do que ele fizesse.

– Vou sumir por algumas horas. Acho que você quer ficar sozinha com Brian, não é?

Fiquei em silêncio, sabendo que caso respondesse, eu diria "quero ficar com você". Justin parou confuso. Nós estávamos do lado de fora da sala de vídeo, e a mulher do bar não estava mais ali. Ele ficou uns dois ou três segundos me olhando, até entender porque eu tinha ficado nervosa com sua frase.

– Ahh.. Bom... Eu... Nossa. É bom saber disso. - Ele sorriu, sem esconder a felicidade de saber que eu o preferia ao meu namorado.

– Você vai continuar por perto, né? - Segurei sua mão, desejando não soltar ela nunca mais.

– Eu prometo que estarei sempre de olho em você.

Ri fraco, dando um leve tapa em seu braço. Me aproximei, depositando um beijo em sua bochecha. Justin segurou meu rosto perto do seu, devolvendo dois beijos em minha bochecha. Me afastei, entrando na sala. Quase corri pra meu lugar, ao ver Brian se mexendo, um pouco.

Cheguei, rindo ao tentar imaginar como ele ainda dormia, sendo que uma menina sentada na fileira da frente chorava de uma forma muito escandalosa. E, obvio, rindo de tão feliz. Há muito tempo eu não me sentia assim, tão completa.

Perguntei-me se Justin estaria em meu quarto, quando eu voltasse. E isso só aumentou minha agitação, me fazendo tremer as pernas, rezando para que o filme terminasse logo.

Brian acordou no susto, quando a garota da frente se engasgou com o próprio choro. Tapei minha boca, tentando parar a risada escandalosa, com pouco sucesso.

Outras pessoas também riram do acontecido, mas a risada dele, que deveria estar em algum lugar nas fileiras atrás de mim, fez um sorriso aparecer em meu rosto, me deixando nas nuvens.

Sally's POV of.