Doce Prazer Café escrita por M1Sayuri


Capítulo 2
A desastrada-parte1


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Essa é uma história feita em 2010 e já concluida, então a única demora pra postar vai ser devido a minha enorme enrolação pra digitar, então prometo que vou me esforçar. Juro que é um lindo romance.



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O lugar tinha certo charme rústico, não era tão grande, mas as mesinhas de madeira talhada tinham bom espaçamento, a cozinha era separada por uma porta “vai e vem” e havia uma pequena janela a exibir alguns dos doces e salgados a serem pedidos. Ao lado da cozinha estava uma salinha com janela grande, onde havia várias máquinas e ingredientes de preparar café e enfeitá-lo. Ao lado de fora, uma singela placa indicava o nome: “Sweet plasure café”

Ao empurrar a porta ouviu o sino de recepção tocar a cima de seu batente. Sayoko olhou para cima assustada, em seguida começou a caminhar pelo café, desajeitada.

1,73 metros de altura faziam dela uma garota desengonçada e, como era bastante magra, o apelido “vara” era comum em seu cotidiano. Caminhava com a inseparável sacola de viagem de forma cilíndrica, verde, em baixo do braço, tentando ser o mais discreta possível.

A franja lisa dos cabelos castanhos curtos ainda estava úmida por causa do banho que levara ao chegar à cidade. Teve uma sensação estranha de estar sendo observada, então sentiu algo cutucá-la no ombro.

-Posso ajudar, moça? –uma voz de tom grave perguntou-lhe.

            Sayoko soltou um berro e pulou para frente, aterrorizada. Em um ato de desespero, acabou derrubando todas as bandejas que repousavam sob uma mesa. Ainda tentou impedi-las de cair, mas sem sucesso.

-Desculpe!Desculpe!Desculpe! –repetiu abaixando-se para pegá-las.

-Tudo bem, eita! Calma ai moça!

            O rapaz que a chamara devia ser centímetros desconsideráveis maior do que Sayoko. Usava um conjunto cozinheiro branco, esbanjando muita elegância. Não devia ter mais de 20. Cabelos lisos esbranquiçados, longos até o fim do pescoço, lábio inferior grosso, olhos firmes. A pele era muito, muito branca.

            Ele abaixou-se para ajudá-la e sorriu.

-Bom dia, eu sou Hatusmoko Kouta, o dono do café. Posso ajudar em algo?

-Dono?! –indagou em espanto. –Você não é muito novo?

-Não, não sou. –riu o rapaz. –Eu tenho 38. Não é de agora que me perguntam isso.

            Sayoko recuou no chão e apontou-lhe o indicador, boquiaberta.

-Sayajin!! –exclamou.

-Hã?

            Alguns minutos depois, o rapaz ria animadamente, servindo uma xícara de café preto a jovem envergonhada à mesa.

-Já vi pessoas ficarem espantadas com a minha aparência, mas é a primeira vez que me confundem com um desenho animado.

-Desculpe. –disse Sayoko, curvando-se em um pedido de desculpas.

-Tudo bem, foi engraçado. –disse Kouta, sentando-se à frente dela. –Qual é mesmo tua graça?

-Ah! Desculpe, eu sou Mitoko Sayoko, sou da província vizinha, vim completar meus estudos aqui.

-É mesmo? –perguntou o rapaz, empurrando a xícara de café em direção a ela. –E dês de quando está ai?

-Há uma hora. Eu estou procurando um lugar pra ficar.

            Sayoko puxou a xícara de café para si e tomou um gole. Seus lábios se contorceram em uma careta de desgosto e os olhos se fecharam.

-Ah, foi mal. –riu Kouta. –Eu não sei fazer café.

-Não… -disse agoniada. –Tá muito bom…

            Kouta começou a rir da expressão que a garota fazia enquanto se forçava a tomar o café.

-Eita! Não precisa tomar não, eu sei que ta horrível, nem eu mesmo tomaria essa coisa. –disse enxugando lágrimas de riso. –Olha Sayoko, você parece uma pessoa gentil, então vou oferecer o quartinho aqui nos fundos do café, ta bom?

-Mesmo?! –perguntou a garota, sorridente. –Muito obrigada! Eu juro que vai ser só até eu arranjar um emprego…

-Ah! Você está procurando emprego?! Que bom!! Meu café precisa de uma atendente!

            Sayoko relutou.

-Atendente? Tipo garçonete?

-É isso mesmo.

-Mas eu… não sou uma pessoa com muito jeito, eu iria quebrar tudo…

            Kouta bateu de leve no ombro da garota e fez-lhe sinal de positivo, com um sorriso encorajador.

-Você aprende. Eu tenho garçons que podem te ajudar. –o rapaz levantou-se e puxou-a pelo ombro. –Vou te dar o uniforme e você vai lá provar.

            Sayoko viu-se empurrada pelo rapaz até uma cabine de prova, próxima ao banheiro. A garota ainda tentou negar o emprego e justificar-se, mas ele a ignorou completamente, empurrando-a para dentro.

-As roupas estão no cabide. Dá aqui a sacola que eu levo pro seu quarto.

            Kouta tentou puxar de Sayoko a sacola, pela alça, mas ela a segurou firmemente em baixo do braço, recuando expantada.

-Não, não, não! –exclamou freneticamente. –Minha sacola não!

            Ao notar que o cozinheiro se assustara, Sayoko tentou abrir um sorriso e disse mais calmamente:

-Deixa comigo… eh… depois eu coloco lá.

            Kouta riu e afirmou.

-Não demore, ok? –fechou a porta.

            Sayoko colocou sua sacola no bico-de-papagaio e pegou o cabide com o uniforme. Ao estendê-lo  ficou boquiaberta.

-Mas é um uniforme masculino…

            A garota trocou as roupas e olhou-se no espelho. Foi impressionante como as medidas do uniforme lhe caíram como uma luva. A calça de tecido fino, a camisa social, o colete, até mesmo o laço para prender o cabelo pareciam ter sido feitos para ela. Os sapatos eram do seu número exato, mas uma vez sendo sapatos masculinos, dificultavam o seu andar.

            Sayoko dobrou suas roupas e colocou-as numa sacola de plástico tirada de dentro da sacola verde, precisaria lavá-las depois.

            Ao abrir a cabine, bateu de frente com um rapaz. Teve que olhar para cima para ver seu rosto. 1.80 ou mais, era certeza, rapaz magro que usava um uniforme como o dela. Era tão branco quanto o dono do café, os cabelos liros tinham um tom um pouco mais escuro, divididos para o lado. Ele exibia um enorme sorriso.

-Ah! Uma novata! –disse em to estridente. –Oi, eu sou Asashi.

-O que?! Uma mulher!!?

            Sayoko virou-se para um rapazinho que a encarava enojado. Era bem menor do que ela, talvez 1,64. Não conseguia especificar, pois ele não parava se mover, apontando-lhe com uma revolta extrema. Como o outro usava uniforme, tinha cabelos pretos, lisos na franja espalhada pelo rosto, ondulados na parte superior, até o fim do pescoço.

-Qual é?! Quem foi o idiota que contratou uma mulher!!? –indagou ele, estendendo os dois braços em direção a ela.

            Kouta, que estava sentado em uma mesa próxima, descruzou os braços e pigarreou de olhos fechados, levantando uma das sobrancelhas, repreendedor.

            O rapazinho calou-se receoso, em seguida levou o polegar à boca, mordendo-o com um resmungo fino:

-Mas é uma mulher… olha só pra ela… ela… é…é… uma mulher poxa!

            Sayoko encarou o rapaz intrigada. Qual era o problema em ser mulher? E porque ele a encarava com tanto desgosto?

-Bom… ela cabe no uniforme. –disse Kouta, dando de ombros.

-Pelo menos isso, né? –disse amargamente.

            Ele aproximou-se de Sayoko e apresentou-se, olhando para o lado contrário.

-Oi, eu sou Tsutsuji. O pessoal me chama de Tsu-chan, mas você não pode. Eu não gosto de você.

-Ah! –fez Sayoko recuando. –Por quê?!

-Escandalosa! Hunf! –disse Tsutsuji, dando-lhe as costas.

-Mas… espera… eu… ah!

            Uma mão gentil segurou os ombros da garota, interrompendo seu balbuciar de frases incompletas.

            Ao virar-se os olhos de Sayoko brilharam e um enorme calor veio-lhe as bochechas, fazendo-a corar. Um rapaz muito bonito e alto sorria-lhe afetuosamente. Seus olhos eram azuis-claros, a pele de porcelana e os cabeços lisos pretos, compridos até o inicio dos ombros.

-Oi, eu sou Haruki. Pode deixar que eu cuido de você. –disse em tom suave que quase a fez derreter.

-Ah… sempaai.. –delirou encantada.

-Sempai? Veterano? –perguntou o rapaz intrigado. –Eu me sinto velho assim, mas se faz tanta questão, pode ser.

            Sayoko afirmou com a cabeça, ainda dopada pela belesa do rapaz que, até então lhe fora a pessoa mais gentil desde que chegara à cidade.

-Cuida dela pra mim Haruki? –perguntou Kouta.

-Eu?!

-Valeu! Xau!

            O chefe não esperou por uma resposta, correu para a cozinha o mais rápido que pôde, deixando o rapaz sem ter como reagir.

-Boa sorte com a novata. –disse Tsutsuji, esnobando a garota.

            Haruki voltou-se à Sayoko sem jeito, os olhos dela ainda brilhavam ao olhá-lo. O rapaz coçou a nuca, pensativo, então estalou o dedo.

-Uma bandeja! –disse apontando-lhe o indicador. –Você precisa de uma bandeja!

            Sayoko continuou a admirá-lo sem responder, o que o deixou ainda mais sem graça.

            O rapaz virou-se para a mesa onde estavam empilhadas as bandejas e puxou a superior, entregando-a a Sayoko.

-Obrigada… -disse a garota pegando o objeto, sem tirar os olhos de seu veterano.

            “Como ele é bonito…” pensou Sayoko. A imagem que se formava do rapaz em sua mente tinha flores e até mesmo música de fundo. Já ele estava começando a corar com aquela admiração toda emanada pela garota.

-Ok… eu sou o cliente, me atenda. –disse sorrindo.

-Em que posso ajudar…? –perguntou ela hipnotizada.

-Na… 

            Haruki recuou alguns passos e puxou Asashi para sua frente, escondendo-se atrás da altura do rapaz, enquanto apontava-o para Sayoko.

-Ele é o cliente, atende ele. –disse.

            Sayoko voltou a realidade ao ver Asashi à sua frente, resplandecendo um enorme sorriso e acenando com a mão.

-Ooooi! –disse o rapaz.

-Hã?! Em que posso ajuda?! –indagou impulsivamente.

-Não! Não! Não! –disse Haruki saindo de traz de Asashi para o lado de Sayoko. –Tente ser mais… galante?

-Mas eu não sei falar em público! –disse ela aterrorizada. –Eu começo a gague…jar…e…e… meus…me-meus joelhos tremem…

            Haruki olhou para Asashi que continuava com o mesmo sorriso bobo na cara, sem se importar com o ataque de pânico que a nova garçonete tinha. Conseguiu ver uma placa escrita “publico” surgir apontando para a cabeça do rapaz.

-Calma. –disse dando tapinhas leves na cabeça da garota. –Tenta de novo. Se quiser pode esconder um pouco o rosto com a bandeja.

            Sayoko afirmou com a cabeça e deu um passo à frente, colocando a bandeja sobre o nariz. Levantou os olhos a Asashi e perguntou:

-Em que posso ajudar?

-Eu quero um café de canela e menta e uns bolinhos de papaya com cassis, ah! E um croassant de queijo com um pouquinho de pimenta do reino… -disse o rapaz, ainda sorrindo.

            Sayoko congelou na mesma hora. Por algum instante Haruki e Asashi analisaram-na confusos, então o rapaz mais alto riu e disse:

-Só brincando, me trás um café.

-Café? –perguntou Sayoko virando-se para seu veterano.

-Aqui.

            O rapaz passou o braço por cima de seus ombros e apontou para a janela de uma sala em cuja batente, um balcão, haviam várias xícaras de porcelana com desenhos em padrões diferentes. Atrás delas, de costas, um rapaz loiro com os cabelos um pouco espetados, parecia preparar mais um café.

            Sayoko parou para olhá-lo por um instante, esperando que se virasse para ela, mas ele apenas virou um pouco o rosto, de forma que ainda não pôde vê-lo, mas notou que ele usava óculos com correntes.

-Vai lá, você consegue. –apresou Haruki.

-Ah!  Café! –disse Sayoko, voltando a si.

“E agora?” pensou olhando todas aquelas xícaras magnificamente enfeitadas. “Qual eu pego?”

            Haviam vários tipos de café, cada um de cor e cheiro diferente, mas o que mais chamava atenção eram aqueles enfeites, desenhos perfeitos em chantily, cacau, creme doce e outros ingredientes mais consistentes que o café.

-Que bonitinho…

-Leve o panda. –disse o rapaz, ainda de costas.

            Tinha voz grave, mas de um tom que transparecia calma e suavidade. Sayoko concordou com a cabeça e puxou a xícara na qual o café tinha o desenho bem feito de um panda, dirigindo-se para Asashi. Como estava tremendo, a xícara fazia barulho contra o pires.

-Se-seu café. –disse estendendo-o ao rapaz.

            Mesmo parada a xícara tremia, o que deixou Haruki e Asashi temerosos de que ou ela cairia, ou Sayoko teria um pirque-paque.

-Pega logo a xícara antes que ela tenha um troço! –disse Haruki assustado.

-Tá bom! –respondeu Asashi puxando a xícara.

            O rapaz virou-a nos lábios, sem se importar se o café estava quente. Tomou-o todo um único gole, depois lambeu os lábios.

-Parabéns! Você atendeu seu primeiro cliente! –disse Haruki, abraçando-a de lado. –Olha, você até que é uma boa Kohai(novata).

-Ahhh… obrigada…

            Sayoko corou admirada, seu veterano além de ser um rapaz muito bonito era também gentil com ela. Talvez não fosse  tão difícil trabalhar tendo a ajuda dele.

-Agora leva a xícara de volta. –disse piscando para ela.

-Tá bom. –respondeu virando-se para a salinha,

            A garota notou que o rapaz que fazia o café a estava olhando por cima dos ombros, mas não pôde vê-lo mais uma vez, pois ele virou-se rápido.

            Sayoko deixou a xícara sob o balcão e pegou sua bandeja. Ele então se virou para pegá-la. A garota travou de olhos arregalados.

            A franja do rapaz era lisa e os olhos azuis, mas eles estavam contornados de preto, um deles de tal forma, que parecia estar fundo. Nos lábios vultosos a maquiagem parecia fazer-lhe parecer um boneco de boca costurada. Até mesmo os braços de pele branca suave estava em algumas partes pintados de preto, dando a impressão de queimaduras.

-AAAAAAAAAAAH! UM MARGINAL! –gritou, recuando.

-Marginal… -perguntou o rapaz, arqueando as sobrancelhas, intrigado.

            Ela virou-se e apontou para ele.

-Entrou um marginal aqui na loja!! Tem um delinqüente aqui dentro!

-Delinqüente? –sussurrou.

            Todos os rapazes viraram-se para ela, analisando a cena. Asashi começou a rir e Tsutsuji soltou um resmungo de desgosto. Haruki sorriu, cruzando os braços e balançando a cabeça negativamente. Nesse momento, alguns clientes entravam.

-É um mendigo! Um mendigo! –gritou Sayoko. –Ele vai roubar a loja!!

            O rapaz olhou para cima, juntando as sobrancelhas. Era como se houvessem papéis escritos “marginal”, “delinqüente” e “mendigo”, grudados em sua testa. Estava prestes a se apresentar para a garota quando a viu voar por cima do balcão para cima de si com a bandeja.

-Eu peguei ele! Eu peguei ele! –grito enquanto o acertava com o objeto.-Chamem a polícia!

-Sayoko, não! –gritou Haruki, correndo para a salinha.

-Ai meu Deus! Essa mulher é louca! –exclamou Tsutsuji, seguindo-o.

-Espera… ai… -disse o rapaz, tentando esquivar-se das bandejadas.

-AAAAAAH!

            Sayoko acertou-o com força, derrubando-o de bruços no chão e montando sobre ele.

-Eu peguei ele! Chamem a polícia! Chamem a…

            Haruki e Asashi entraram correndo e puxaram-na pela cintura para longe do rapaz caído, enquanto Tsutsuji correu direto para ele, tentando reanimá-lo.

-Reika! Reikazinho, meu amor, fala comigo. –chamou-o, abanando seu rosto com a mão.

-Mas… mas… -disse Sayoko abaixando a bandeja, confusa. –Não… é… um… bandido?

            Haruki virou-se para Reika caído no chão. Viu uma última indicação escrita “bandido” acertar-lhe como uma bandejada. Bateu a mão na testa e balançou a cabeça.

 -Não Sayoko, aquele ali é o Reika. –disse dando uma leve risada. –Ele…

            Antes que completasse a frase, Tsutsuji acertou Sayoko com um tapa, em um pulo direto. A garota ficou parada, confusa e sem jeito. Não que tivesse realmente doído, o rapazinho era um fracote, mas ficara abalada.

-Sua imprestável!! Aquele ali é o Reika! Ele é “o cara” do café!! –exclamou revoltado. –Todos os clientes vem aqui pra experimentar o café que ele faz! Sua maluca! Você nocauteou meu Reikazinho!!

-O cara… do café…? –balbuciou flácidamente.

            Sayoko voltou-se aos  clientes que haviam chegado no café. Estavam todos a olhando horrorizados, comentando à respeito.

   -Mas eu, achei… que… a maquiagem, quer dizer… eu…ah, desculpaaaa!

            Sayoko se jogou as pés de Haruki e encostou a cabeça no chão, pedindo desculpas insistentemente. O rapaz coçou a cabeça, envergonhado, e apontou para Reika caído, nos braços de Tsutsuji.

-An… você não devia pedir desculpas pra ele?

-Eu só acho que ela tem medo dele. –riu Kouta surgindo atrás de Haruki.

-Mas o Reika é a criatura mais inocente desse mundo… -disse o rapaz.

            Sayoko levantou uma das sobrancelhas, tentando imaginar aquele rapaz, que mais parecia um defunto recém acordado, fazendo coisas inocentes, como atravessar um campo de flores com um cãozinho ou ajudar uma velinha a atravessar a rua. Esta segunda provavelmente teria a mesma reação que ela. Mas isso não mudava o fato de ter agredido “o cara” do café.

-Ah! Desculpe sempai! É meu primeiro dia de trabalho e eu já te decepcionei! Sinto muito!

“Me decepcionou?” pensou Haruki. “Coitadinha, é meio louca” riu.

-Tudo bem, sorte a sua que o Reika é que nem vaso ruim, não quebra. –disse rindo.

-HARUKI!, Não fala isso, ou te dou uns tabefes! –exclamou Tsutsuji, exasperado.

            O rapaz recuou e afirmou com a cabeça. Nesse meio tempo Reika voltou a si, levantando-se de cabeça baixa, com as mãos no ponto dolorido.

-O que vocês estão fazendo na minha sala? –perguntou baixo.

-Já estamos saindo. –disse Haruki, levantando Sayoko do chão.

-Fui. –disse Kouta saindo da sala. –Vou voltar pra minha cozinha e vocês, ao trabalho! Não bata mais no Reika, ta Sayoko?

-Desculpe. –pediu a garota, abaixando a cabeça derrotada. Era como se o peso do arrependimento literalmente caísse sobre ela.

-Como assim, você não vai demitir ela?!! –gritou Tsutsuji.

-Bom, não vamos achar outro que caiba no uniforme, Tsu-chan. –disse Kouta, dando de ombros. –Então conforme-se, ta?

-Mas ela deu o maior pau no meu Reikazinho!

            Kouta riu e bateu de leve sob a cabeça do rapazinho.

-Depois ela vai pedir desculpas pro nosso “Reikazinho” , agora bote um “sorrizinho” nessa sua “carinha” e vá atender os clientes.

-Tá… -disse amargo, então voltou-se para Sayoko. –Tô de olho em vocêm sua… sua… grrrr… mulher!

            Dito isso, virou a cara, pegou sua bandeja e dirigiu-se as mesas com clientes aguardando.

-Depois você pede desculpas pro Reika, senão o Tsutsuji não vai te deixar em paz. –disse Haruki para Sayoko. –Vou lá atender.

-Desculpa?! Mas eu… quer dizer, ele… mas… é que…

            Ao notar que todos haviam se dispersado e ninguém a ouvia, Sayoko deu um suspiro trágico e deixou pender os braços.

-…tenho medo dele…

            Pegou sua bandeja e seguiu para o seu primeiro expediente.

-Em que posso ajudar? –perguntou a moça da mesa mais próxima.

            A mulher a encarou assustada, em seguida, pegou sua bolsa e fugiu correndo. Sayoko resolveu ignorar aquele acontecido, talvez ela fosse muito tímida. Mas nas duas vezes seguintes, o mesmo aconteceu.

-Mas… mas… -disse desesperada. –Se eu soubesse não teria batido nele, pensei que fosse um marginal.

            Mais dois clientes que estavam próximos levantaram-se e fugiram. Logo em seguida Sayoko teve o ombro cutucado. Ao virar-se viu Tsutsuji estender-lhe um balde e um esfregão.

-Vá limpar o banheiro!! Você ta espantando os clientes!!!

-Tá…

***

            Sayoko acabou tendo que limpar todo o café, pois bastava chegar perto de alguém e a pessoa fugia. Agora estava, sozinha, lavando toda a louça do dia.

-Eu não sabia que ele era “o cara”. –disse negativa. –Foi sem querer…

            Ao terminar tirou as luvas e saiu da cozinha para o salão principal, onde os garçons e Kouta estavam reunidos. Foi recebida por um olhar fuzilante de Tsutsuji.

-Lavou tudo direitinho? –perguntou Haruki, levantando-se com um sorriso.

“Na verdade eu quebrei um prato. Sou uma perdedora” pensou Sayoko, retribuindo com um sorriso amarelo.

            Haruki entregou-lhe uma chave.

-É tradição o novato fechar a loja. Limpe o salão direitinho, ta bom? Se cuida, até amanhã. –disse afastando-se para junto dos outros que se preparavam para ir.

-O quarto fica depois da portinha dos fundos. Durma bem. –disse Kouta, acenando.

-Xaaau! –disse Asashi.

-Reikaa! Vamos embora. –chamou Tsutsuji.

-Ainda não terminei de lavar as xócaras. –disse o rapaz, voltando-se a ele.

-A vara ali lava. –disse o rapazinho puxando o braço de Reika por cima do balcão. –Vamoos.

-Mas…

-Pooor favoor! Eu quero te levar pra comer “lamen”.

-Tsu…

            O rapazinho lhe fez beiço e juntou as sobrancelhas, mostrando que não aceitaria uma resposta negativa. Reika suspirou e afirmou com a cabeça, deixando de lado as luvas e o avental. Assim que saiu da salinha, Tsutsuji agarrou seu braço, sorridente.

 -Pode deixar que eu pago! –disse apertando-o.

-Oba Lamen! –disse Aasashi. –posso ir também?

-Não! –exclamou o rapazinho irritado. –Eu vou sozinho com o Reika!

-Então eu vou também. –disse Haruki, ignorando a sentença de Tsutsuji.

-Eba! –disse Asashi.

-Não é pra ninugém vir!! Eu vou sozinho com o Reika!

            Saíram do café daquela forma, deixando Sayoko para trás, olhando para toda bagunça que teria que arrumar. Seuspirou e baixou a cabeça.

            Após limpar tudo e trancar a loja, foi para o quartinho, esgotada. Ficou feliz ao ver que havia um pequeno banheiro com chuveiro para que se banhasse. Assim que o fez, colocou um pijama comprido com motivos em corações cor-de-rosa, que tirara da sacola verde, e pendurou as roupas recém lavadas na janela para que secassem. Então sentou na cama.

-Meus pés vão ficar pra fora. –disse inclinando a cabeça para o lado, cansada. –Porque eu tinha que ser tão alta?

            Abriu a bolsa e tirou dela um porta-retrato com a foto de um homem e uma mulher em roupas de inverno, fazendo sinas de vitória com os dedos e sorrindo.

-Boa noite papai e mamãe. Tomara que aqui as pessoas sejam mais legais comigo do que lá em casa.

            Dito isso, deitou-se, encolhida para caber na cama, e dormiu.


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Notas finais do capítulo

Eu acho a Sayoko um sarro, vocês não acham.Duvido que vocês acertem qual é meu personagem favorito. As aparências enganam viu?! E vocês de quem mais gostaram?Reviews?Um beijo pra todo mundo!;D



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