“Aimée era filha de uma grande amiga minha. Era um doce de pessoa, gentil e bonita. Ela conseguia atrair as pessoas para si, sempre alegre, radiante, com um brilho quase insuperável. Era impossível não se apaixonar por ela.

Já Draco sempre foi arrogante, bonito, mas terrível. Era um poço de orgulho e impaciência, sempre pronto a passar por cima de tudo e de todos para alcançar seu objetivo. Implacavel, mulherengo, dado a beber demais e fazer escândalo. Eram tão diferentes quando se conheceram, ninguém podia imaginar o que estava para acontecer.

Eu estava preocupada demais com o Draco, só queria farra e mais farra. Precisava tomar uma atitude na vida, isso era certo. Pensei que talvez uma mulher meiga e doce pudesse dar jeito nisso e, quem melhor do que Aimée, que também estava num momento difícil de sua vida, tinha acabado de perder a mãe e estava voltando para a cidade após terminar a faculdade na Califórnia. Pensei que os dois formariam um belo casal e não me enganei.

Organizei uma festa na minha casa e convidei os dois. Fui eu que os apresentei, sabe? Nesse dia ela estava simples, mas linda. Pude ver nos olhos do Draco que não havia outra mulher como ela, ao menos não para ele. Ele chegou a gaguejar quando conversou com ela pela primeira vez.  Ela que demorou um pouco para se encantar por ele e depois eu soube o porquê.

Desde o dia em que se conheceram, Draco começou a mudar. Parou de beber tanto, não ia mais para farras, começou a trabalhar direito. Então ele me pediu para convencê-la a aceitar um convite seu para jantar. Falei com ela, contei tudo o que sabia sobre ele e meio relutante ela aceitou. Ah, deve ter sido o jantar mais lindo do mundo. Ela me ligou no outro dia, estava radiante, falando sobre o quanto ele era encantador, comunicativo.

Logo depois ele começaram a sair mais, iam a museus, teatros, passavam fins de semanas viajando. Ele a pediu em namoro em pouco tempo e ela aceitou. Eram tão diferentes um do outro, ela calma e ele agitado, e tinham outras diferenças também, mas eram um casal que se completava. Foi mais ou menos nessa época que descobriram ter uma amiga em comum: Elle.

Nunca vi uma pessoa ficar tão surpresa quanto Elle ao descobrir que Aimée e Draco estavam juntos. Ela sempre havia sido apaixonada por ele, só que também gostava muito de Aimée, e entre perder um amor e perder uma amiga, preferiu perder o amor. Tornou-se então a melhor amiga deles, quase inseparáveis.

Acho que 1 ano depois que se conheceram, eles se casaram. Foi o dia mais feliz da vida de ambos. Os olhares apaixonados no altar, a cumplicidade deles durante a festa. Ali ninguém duvidava de que seriam felizes para sempre. Uma pena que as aparências enganam, sim.

Meses depois do casamento, Draco começou a trabalhar mais, estava perto de conseguir a editoria da revista. E foi nesse momento em que ele apareceu: Harry Potter. Foi ele surgir em nossas vidas que Aimée se transformou. Não era mais a mesma, começou a ficar reclusa e triste. Ele foi uma praga na vida deles!

Ele a ficava cercando, contando mentiras, fazendo-a ver coisas que não existiam. Ela começou a imaginar que Draco estivesse com outra mulher. Eles começaram a brigar quase diariamente e, Aimée ia ficando cada vez pior com isso. Draco estava se afastando cada vez, não suportava as brigas, as desconfianças, tudo o que ele fazia era trabalhar e trabalhar, enquanto ela cobrava mais e mais atenção e o acusava de ter outra mulher quando ele não podia dar o que queria.

 Até que um dia, aconteceu. O Potter a cercava de todas as maneiras e, a paixão que eles tiveram um dia reacendeu. Eles tiveram um caso curto e até bem discreto. Só fiquei sabendo quando estava terminando. Ela me procurou sentindo-se culpada e confessou tudo, disse ainda que naquela mesma noite terminaria tudo com o Potter. Só que não sei como, Draco descobriu. Ele os viu juntos e nessa noite brigaram feio.

Draco resolveu sair de casa, já estava cansado da situação toda e precisava de um tempo para si. Aimeé se desesperou com isso, claro. Implorou para que ele voltasse, que seria diferente. Mas ele não deu ouvido. Nunca vi uma pessoa ficar tão deprimida quanto ela, a culpa parecia consumi-la diariamente, foi definhando aos poucos e as únicas pessoas que ficaram do lado dela foram eu e Elle.

Fiz o que pude, mas não foi o suficiente. Não podia imaginar que ela faria algo assim, que fosse esse tipo de pessoa. Draco pensou um pouco mais e resolveu tentar mais uma vez com ela. Pensei que tudo estaria bem, até receber o telefonema dele 1 semana depois que voltaram: Aimée se suicidou. Deixou uma carta para Draco, o culpando de tudo e se enforcou. Ele chegou em casa a noite com rosas e uma reserva num dos melhores restaurantes da cidade. Ele me disse que pela manhã, Aimée tinha ido ao escritório dele e contado que compraria um vestido novo para este jantar. Ela usava o vestido quando se enforcou. Foi um choque para ele. Acho que foi para todos.

Depois disso, Draco se tornou irreconhecível. Vivia para o trabalho, parecia que era a única coisa que ainda o mantinha vivo. Voltou a beber e beber. Tornou-se um bêbado mesmo. Me doeu vê-lo daquele jeito, fiz tudo o que era possível para ajudar, mas não deu certo. Foi Elle quem conseguiu tira-lo do fundo do poço, ela foi paciente e esteve do lado dele em todas as vezes. Com o tempo ele conseguiu enxergar o verdadeiro culpado de tudo: Harry Potter.

Foi ele que destruiu Aimée, a seduziu, a fez se suicidar. Foi só assim que ele se recuperou. Começou a procurar um grupo de apoio a alcoólatras, só que continuou fechado e focado somente no trabalho. Este foi o Draco que você conheceu.”

O rosto e os pensamentos de Hermione mudaram durante a narrativa de Molly. Um silêncio aterrador baixou sobre as duas no final. Havia algo mais a ser dito? Ela poderia dizer alguma coisa depois de descobrir tudo isso? Não sabia. Após um tempo que pareceu ser bem longo, ela suspirou e olhando para Molly, disse:

_Como posso competir com um fantasma?

Molly parecia esperar esta pergunta, pois já tinha uma resposta quase ensaiada:

_Não está competindo com um fantasma. Eu vi nos olhos do Draco, ele te ama.

_Mas não me parece que seja tanto quanto amou a esposa.

“Esposa” essa palavra quase engasgou em sua garganta. Draco havia sido casado com uma mulher incrível e que ele amou profundamente. Porque isso a incomodava tanto? Não sabia. Claro que imaginou que ele tivesse outras mulheres, afinal, ele não parecia ser nenhum celibatário. Mas uma “esposa”? Não imaginava o Draco que conhecia casado.

_Molly, eu preciso ir agora. Tenho muita coisa para digerir. – e dizendo isso, foi embora.

Molly ficou sem saber o que fazer ou o que aconteceria depois. Será que seu plano daria errado logo agora?

Hermione caminhou no vento frio, a garoa fina que caia se confundia com as poucas lágrimas que escorriam por seu rosto. De alguma forma aquilo a machucava. “Esposa”. Por que?

Chegou em casa e foi direto ao computador pesquisar sobre Aimée. Não sabia seu nome de solteira, mas imaginava qual seria o de casada: Malfoy.  As primeiras páginas continham a noticia de sua morte, pelo visto, Draco (ou teria sido Molly) conseguiu ocultar que ela havia se suicidado. Nas páginas seguintes, algumas fofocas sobre o casamento dos dois e, então, as fotos. Provavelmente eram dos primeiros tempos de casados, ali estava Aimée Malfoy.

Seus olhos ficaram vidrados na imagem. Tirando talvez as roupas, era ela ali, sorrindo naquelas fotos. Não, não, aquela na tela do computador era Aimée Malfoy e não Hermione Granger. Só agora ela começava a entender as coisas... Draco havia se apaixonado por ela por ser parecida com sua falecida esposa, só isso. Não era ela, Hermione Granger quem havia conquistado Draco Malfoy, mas sim a sombra de Aimée que estava estampada em seu rosto.

Sentiu-se um fantasma, alguém invisível. Abaixou a cabeça e seu olhar recaiu sobre o cartão que Harry Potter havia entregado ao se despedir.  Ele também havia visto a Aimée nela e ninguém mais. Olhou o relógio e viu que eram quase 2h da manhã, respirou um pouco, pegou sua bolsa e saiu novamente.

Iria tirar essa história a limpo com Draco Malfoy ainda esta noite.