Saga Sillentya: Espelho do Destino escrita por Sunshine girl


Capítulo 8
VII - Hostilidade


Notas iniciais do capítulo

Repostando esse capítulo que havia sido postado inicialmente na quinta-feira, mas que o site fez o grande e maravilhoso favor de apagar (pq isso sempre acontece comigo?)... Consequentemente, isso me deixou mais azeda que limão...

Mas enfim, novamente dizendo: Cap. com um pouco de ação...

Boa leitura para quem ainda não tinha lido!



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Capítulo VII – Hostilidade

“Eu corro para você (para longe deste inferno)

Chamo seu nome (desistindo, entregando),

Eu te vejo lá (você ainda está lá)

Cada vez mais longe, cada vez mais longe,

Cada vez mais longe...”

(Evanescence – Farther Away (Anywhere But Home))

Tudo durou cerca de segundos.

Em um instante eu estava protegida nos braços de Aidan, tendo todas as minhas forças revigoradas, todas as minhas incertezas dissolvidas. Parecia que nada no mundo seria capaz de me abalar naquele momento; estava errada.

Porque no outro, um imenso abismo negro abria-se sob meus pés, ameaçava devorar-me, ameaçava destruir o que eu apenas acabara de reaver: o amor de Aidan.

E aquele buraco negro agora ameaçava me tragar. Os olhos de Christian eram como duas armas, letais e sanguinolentas, não restara um único vestígio daquele garoto doce e meigo que eu conheci meses atrás.

E aqueles mesmos olhos, cresceram até o ponto de dominarem todo o meu mundo, encherem a minha visão, e depois... Não havia mais nada. Absolutamente nada. Apenas o olhar assassino e o meu desespero.

Os braços de Aidan, antes tão seguros e ternos ao meu redor, endureceram até que me machucassem, apertando-me tanto que eu perdi o fôlego, e depois me empurraram violentamente para trás, fazendo-me cair de costas no chão.

Senti tudo se mover lentamente ao meu redor, eu caía, eu despencava, eu observava... Eu nem mesmo piscava ou respirava, tudo era caos diante de meus olhos, tudo era desesperador e desolador.

Senti o impacto de minhas costas no chão, meus cotovelos trataram de impedir que eu batesse a cabeça também, mas tudo era irrelevante para mim, enquanto Christian avançava em direção a Aidan, os dentes trincados, o rosto retorcido em uma máscara de fúria e rancor.

Aidan não conseguia esboçar mais nada que não fosse choque ou incredulidade, mas mesmo assim, vi quando seus olhos castanhos endureceram e ele preparou-se para o impacto.

Seus braços estenderam-se na direção de Christian e o agarraram no mesmo momento que seus corpos se chocaram. A violência foi tanta, a força empregada era tamanha, que o som pareceu-me o encontro de duas rochas e não de dois corpos.

Minhas pernas pousaram no carpete macio, moles como as de uma boneca de pano, enquanto meus olhos ainda se recusavam a deixar a cena de batalha que se desenrolava bem diante de mim, mera telespectadora.

Depois do choque e do baque ensurdecedor, Christian empurrou Aidan violentamente contra a parede, e uma fenda gigante, que acompanhava os contornos do corpo de Aidan foi aberta no cimento.

Houve uma nuvem de poeira, e esta os envolveu, caindo sobre suas roupas, seus cabelos, suas faces raivosas e retorcidas pelo embate.

Aidan ainda agarrava os ombros de Christian, tentando detê-lo, mas Christian forçava-o cada vez mais contra a parede. Seus olhos azuis arregalados e ensandecidos.

Do fundo de sua garganta, Christian evocou um urro violento e furioso, intimidando Aidan, e deixando-me apavorada. Depois, suas mãos moveram-se, velozes, agarraram a camisa de Aidan, pegando-o pelos ombros, e invertendo as posições, Christian ergueu-o no ar, suspendendo seu corpo como se não fosse absolutamente nada e o atirou contra a outra parede.

Fitei, completamente chocada, enquanto Aidan chocava-se contra ela, estilhaçando-a, perdendo todo o seu fôlego quando suas costas bateram contra o cimento, expondo os tijolos avermelhados, abrindo outra fenda enorme na estrutura.

Christian não se deu por vencido, avançou, movendo-se como um fantasma, uma velocidade impressionante, e fechou os punhos, socando Aidan, não lhe dando nem mesmo a chance de se recuperar.

Contei um, dois, três, quatro, cinco angustiantes socos seguidos em suas costelas, fazendo-o arfar e cuspir sangue, antes que pudesse reagir, segurando o punho de Christian, apertando-o entre seus dedos, e novamente eles competiam pelo olhar mais assustador.

Movi-me no chão pela primeira vez, sentando-me, tentando ordenar as minhas pernas para que levantassem e impedissem aquilo, mas não conseguia! Meu desespero era uma muralha em meu caminho naquele momento, não me deixava pensar com clareza, não me permitia interferir naquela batalha, apenas me colocava ali, inerte, enquanto Aidan e Christian lutavam uma batalha de vida e morte.

Tornei meus olhos para a batalha sanguinolenta, bem a tempo de ver Christian libertar seu punho, preso entre os dedos de Aidan, e esmurrar-lhe a face.

Ele reagiu, encontrou uma brecha e o golpeou também, fazendo Christian urrar furiosamente.

Meus olhos ardiam, enquanto a figura de ambos distorcia-se sob meus olhos.  Apertei-os, obrigando-me a testemunhar cada desenrolar da luta, cada golpe que Aidan recebia, cada golpe que ele também revidava, a cada esquiva, a cada punho rasgando o ar e golpeando a carne, meu coração sofria um violento solavanco em meu peito.

Finalmente Aidan consegue se libertar do abraço férreo de Christian, empurrando-o para trás com violência, espalmando suas mãos em seu peito e exercendo uma força hercúlea sobre ele. Christian voou de encontro à parede contrária, chocando-se contra o mobília, estilhaçando-a.

 Conseqüentemente um pedaço de madeira da cadeira voou em minha direção, a estaca perfeita, pronta para ser cravada em meu corpo. Encarei o destroço, apavorada, sem conseguir nem ao menos respirar.

Porém, antes mesmo que ela pudesse atingir-me, Aidan moveu-se como um borrão, estacando bem em frente a mim, seu corpo funcionando como algum tipo de escudo, enquanto ele esbofeteava o pedaço de madeira com uma das mãos, atirando-a na parede onde ele desfez-se em um monte de lascas.

Seus olhos encontraram os meus, ele sussurrou um “você está bem” para mim, mas eu fui incapaz de lhe responder, pois no instante seguinte, Christian o agarrara por atrás, passando-lhe uma chave, envolvendo seu pescoço com os braços, sufocando-o.

Vislumbrei os mesmos olhos azuis e furiosos e tremi, enquanto ele sibilava através dos dentes trincados, aumentando a pressão ao redor do pescoço de Aidan.

- Desgraçado! Esperei por esse momento durante tantos anos, e agora finalmente tenho a chance de te fazer pagar! Eu vou te matar, Aidan! Eu jurei que te mataria a muitos anos atrás e finalmente o destino permitiu que eu cumprisse meu juramento!

Observei o rosto vermelho de Aidan, ele não conseguia respirar, estava sufocando pela pressão dos braços de Christian ao redor de seu pescoço. Desesperei-me, e obriguei-me a tentar impedir que Christian cometesse aquela loucura. Ele não podia matar o próprio irmão!

Com as pernas bambas e os joelhos trêmulos, levantei-me do chão, lançando-me em direção a Christian, segurei em seu braço, tentando demovê-lo de sua decisão de matar Aidan.

Encarei, assustada, os olhos azuis e letais, vasculhando minha mente a procura de algo suficientemente convincente, mas só o que consegui fazer foi implorar a ele que parasse.

- Christian, não faça isso, por favor, pare! Pelo amor de Deus, solte-o, você o está sufocando! Christian, solte-o!

Mas eram em vão todos os meus esforços. Ele não parecia disposto a ceder, ele não parecia disposto a retroceder, a recuar, ele parecia muito mais interessado na idéia de matar Aidan bem ali e agora.

Ele nem ao menos me ouvia, e quando tentei mais uma vez dissuadi-lo, ele moveu seu braço, libertando Aidan do cárcere, somente para me empurrar para trás, fazendo-me cair sentada no carpete. Um claro sinal de que ele não permitiria que eu interferisse.

Mas seu movimento foi o bastante, Aidan aproveitou-se do momento de distração, para desferir uma forte cotovelada nas costelas de Christian, fazendo-o arfar, depois ele virou-se de frente para o irmão e socou seu queixo, suspendendo-o no ar por poucos centímetros.

Aidan socou-o novamente nas costelas, fazendo-o abaixar-se, gemendo de dor. Eu pensei que tudo estaria acabado naquele momento, mas estava enganada, quando Aidan estava prestes a desferir um último golpe, um que facilmente nocautearia Christian, ele deteve seu punho, segurando-o, sustentando os olhos assassinos mais uma vez. Aidan tentou socá-lo com sua outra mão, mas ele também a deteve, e agora ambos estavam imobilizados, sem poder se mexer.

Mais uma vez eles disputavam pelo olhar mais hostil, e Christian parecia ganhar facilmente. Eu podia ver claramente que Aidan estava hesitando, ele não desejava machucar o irmão, desejo este, que infelizmente Christian não partilhava.

Ele trincou os dentes em um som audível, todo o seu semblante estava avermelhado devido à raiva e ao instinto assassino, seus músculos pareciam pedra aos meus olhos, tão rijos e tensos que eram quase indestrutíveis, como aço.

- Você pagará por tudo o que me fez! – esbravejou ele, ressentido – Você condenou Caroline, seu desgraçado!

Tudo o que tive foi um mero vislumbre, um breve relampejo, aconteceu em um piscar de olhos, em um momento, Aidan e Christian encaravam-se, no outro, tudo era caos e destruição.

Uma grande explosão de energia alastrou-se por toda a saleta, varrendo tudo o que tocava, atirando contra a parede, quebrando e estilhaçando toda a mobília. Abaixei a tempo, encolhendo-me no chão, mãos na cabeça a fim de evitar que escombros me atingissem.

A explosão de energia sacudiu a estrutura da mansão, eu podia sentir seus alicerces e paredes tremulando sob a fina, porém poderosa, camada de energia pulsante.

Levantei meus olhos, vendo o cenário desolador. Havia uma densa nuvem de poeira, uma que me fez tossir, a garganta queimar e os olhos arderem. Abanei o ar ao meu redor, depois tapei os lábios com a palma da mão, buscando por oxigênio puro.

Só então me dei conta da enorme fenda que havia sido aberta na parede, uma fenda pela qual, Christian e Aidan deram procedência à batalha mortal. Estava sozinha ali.

Forcei minhas pernas – ainda bambas – a sustentarem o peso de meu corpo e saí dali em um rompante, seguindo a trilha de destruição por onde quer que a encontrasse.

Cheguei à escadaria que levava de volta ao salão principal. Estaquei ali, mãos no corrimão, os olhos arregalados, os lábios escancarados ao ver a forma como Aidan e Christian lutavam, lembrava-me dois leões impetuosos e majestosos.

Eles batalhavam com graça e ferocidade nos olhos, entre esquivas perfeitamente realizadas e golpes que rasgavam o ar aos seus redores, eles dançavam, uma dança letal, eu corrigi-me, e que terminaria muito, muito mal se eu não fizesse algo para impedi-los.

Também fui testemunha quando Christian obteve a vantagem na briga, conseguiu, em um golpe de mestre, derrubar Aidan no chão, seus olhos ainda me assustavam; mais frios do que o gelo, mais ferozes do que os de um lobo selvagem.

Ele pegou habilmente entre as mãos, um dos candelabros no canto do imenso salão, bateu com violência o seu suporte de bronze, lançando velas e mais velas no grosso carpete, criando uma ponta tão afiada quanto uma faca em uma das extremidades; e entendi.

Christian girou o bastão afiado nas mãos, empunhando-o como se fosse uma lança, e então se aproximou da figura de Aidan, os olhos azuis triunfantes e gélidos como as águas geladas do oceano ártico.

Não sei ao certo quando decidi intervir, apenas sei que meu corpo agiu por vontade própria, descendo os degraus de dois em dois, ciente de que poderia ser ferida, ciente de que poderia acabar morta, mas o que eu deveria fazer? Ficar parada e assistir enquanto Christian assassinava Aidan? Inconcebível.

Como última imagem, meus olhos captaram a aura assassina que ainda revestia Christian, a ponta de sua lança improvisada reluzindo para mim, apontada para Aidan, e depois, eu já berrava, forçando minha garganta arranhada a conseguir produzir um som alto o suficiente para que pudesse por um fim em tudo aquilo.

Cerrei meus olhos com força, postando-me bem em frente ao corpo de Aidan, as mãos espalmadas, o corpo gelado e trêmulo, pronto para receber a estocada mortal, a estocada certeira que certamente poria um fim em minha vida, o golpe final bem em meu coração...

- Não...!

Depois disso, o silêncio prevaleceu, estendendo-se como uma manta de veludo sobre todos nós. Nada foi ouvido nos segundos a seguir, nada e nem ninguém se pronunciou por um considerável intervalo de tempo.

Teria eu morrido então?

Aos poucos, senti-me voltando ao meu corpo, meus batimentos retumbavam em meu peito, acelerados, minha respiração lutava para se estabilizar, e um formigamento dominava todo o meu corpo. Mas não havia dor lancinante, não havia sangue jorrando de meu seio, não havia ferimento algum.

Abri os olhos, relutante, e a primeira coisa que vislumbrei era um par de olhos azuis; um par de olhos azuis magoados e feridos, incrédulos, chocados, perplexos por minha atitude desesperada.

Perplexos por eu estar disposta a dar minha vida pela pessoa bem atrás de mim; Aidan.

Minhas mãos ainda estavam espalmadas, como se quisesse envolver o bastão brilhante que Christian empunhava, e a centímetros de meu seio esquerdo, uma ponta afiada, uma arma letal.

Christian estava imóvel, ele nem mesmo dava a impressão de respirar adequadamente. Mas atrás de mim alguém se moveu, alguém envolveu minha cintura com seus braços fortes e puxou-me para longe da ponta da lança.

Não lutei contra aquela força pétrea, nem teria como. Apenas me permiti ser rebocada, enquanto Aidan apertava-me cada vez mais contra seu corpo forte e musculoso. Christian ainda não tinha se movido quando ele sussurrou ao pé de meu ouvido:

- Não devia ter se metido nisso... Ele poderia tê-la matado, Agatha!

Não consegui prestar atenção em sua repreensão. Não conseguia prestar atenção em mais nada. Até que Christian soltou o bastão com um golpe violento, onde ele quicou algumas vezes no carpete macio e seus olhos fuzilaram a nós dois.

- Como pode defendê-lo? – ele explodiu, engoli em seco – Depois de tudo o que contei a você que ele fez! Você ainda tem coragem de defender a vida desse maldito!? Hã? Responda-me, Agatha, por que está defendendo a vida miserável dele?

- Não faça isso... – sussurrei para ele, os olhos ardendo pela umidade traiçoeira – Pare, Christian, você sabe o que sinto...

Ele ignorou minhas lágrimas, ignorou minha dor, ignorou a figura protetora que agora me cercava com seus braços e dava um passo para trás, cada vez que Christian movia-se para frente.

- Eu sei? – ele riu com amargura – Eu realmente sei o que você sente, Agatha? – Christian sacudiu a cabeça em um misto de mágoa e fúria – Não, eu realmente não sei o que se passa pela sua cabeça, mas já deveria esperar por isso... Ele deve tê-la hipnotizado ou seduzido para prendê-la tanto assim, mas uma coisa eu posso garantir, você se arrependerá de tê-lo escolhido!

Fitei-o, chocada, lágrimas transbordando dos olhos e rolando pela minha face. Não suportava ver tanta mágoa, tanto ressentimento estampado na face de Christian, justo ele, a pessoa com quem eu pude contar quando não tinha mais ninguém a recorrer, e agora...

Nesse momento, Lucius adentrou ao salão, escancarando uma das portas duplas, seu semblante estava lívido, tenso pela preocupação. Bastou que seus olhos encontrassem nossos semblantes para que ele compreendesse tudo.

Com rapidez, ele postou-se ao lado de Christian, repousando uma de suas mãos em seu ombro, tentando acalmá-lo. Os olhos azuis turquesa estavam cheios de uma compaixão e uma compreensão imensas.

- Christian... – ele sussurrou o nome dele, tentando fazer com que ele raciocinasse corretamente, e não se deixasse dominar pela fúria novamente.

Mas então ele explodiu novamente, esbofeteou a mão de Lucius, atirando-a para longe, a acusação pesava em seus olhos azuis como lápis.

- Não me toque! – sibilou entredentes, depois apontou um dedo para Lucius – Você vem recebendo meu irmão aqui, e escondeu isso de mim! Diga-me, Lucius, por que ele? Sabe perfeitamente tudo o que ele já fez, todas as pessoas inocentes que ele condenou, inclusive Caroline, e mesmo assim você o recebe de braços abertos? É melhor que haja uma boa explicação para isso!

Mesmo diante da fúria ameaçadora e tangível de Christian, Lucius manteve a compostura, em nenhum momento, seus olhos recuaram ou demonstraram temor, embora eu mesma estivesse trêmula por suas palavras frias como gelo.

- Ele tem tanto direito de estar aqui quanto você, Christian. – murmurou ele, calmamente.

- O quê? – ele indagou, estreitando os olhos, parecendo-me ultrajado e ofendido.

Lucius soltou um longo suspiro, enquanto mais figura juntavam-se a nós no salão, Stella logo tratou de pegar Damien em seus braços e retirou-se, Ramon e Daisuke pareciam tensos, como se aguardassem por uma possível batalha, já Giuseppe encarava-nos sem nada esboçar ou expressar, enquanto Madelina deu de ombros, fitou com desinteresse o rosto de Christian, o meu rosto com desprezo, mas o de Aidan...

Não tive tempo para concluir meus pensamentos ou confirmar minhas suspeitas, pois Lucius ainda tentava acalmar Christian.

- Eu disse que Aidan tem tanto direito de estar aqui quanto você. Pense, Christian, eu sempre ofereço uma segunda chance, independentemente do que tenha feito no passado. Você é a mais pura prova de que o que falo é verdadeiro, afinal ao que me consta você também já foi um caçador de Ducian.

Christian sorriu com amargura novamente, sentindo-se ainda mais ofendido, como se Lucius o tivesse esbofeteado.

- Então agora você desenterrará meu passado? É esse o seu plano, Lucius? Convencer-me de que esse monstro, esse... pulha tem direito a uma segunda chance, assim como eu tive?

Lucius estreitou os olhos, decidindo que não perderia a compostura, muito menos seu argumento. Ele parecia cem por cento correto no que dizia, no que argumentava. E estava certo.

- Por favor, Christian, não se exalte desta maneira, você põem todos nós em perigo forçando uma batalha dessa magnitude.

Christian olhou para mim, ressentido e furioso. Eu o encarei, ainda com os olhos e os cílios molhados pelo choro. Por um instante, vi todo o estrago que havia feito. Mesmo que não tenha sido intencionalmente, eu alimentei as esperanças dele, eu, de certa forma, o instiguei a alimentar esses sentimentos por mim. Talvez porque me sentisse solitária demais, vazia demais, e aqueles sentimentos pareceram-me uma espécie de salvação.

E agora olhe só, eu o havia magoado...

Lutei para me desvencilhar dos braços restritivos de Aidan, eu precisava... Precisava desculpar-me com ele de alguma maneira. Lancei-me em sua direção, disposta a lhe pedir perdão, implorar se fosse necessário, mas recuei ao ver a hostilidade estampada em seus olhos; eu não seria bem recebida por ele naquele momento.

Desisti da idéia, por enquanto, e conformei-me em ter apenas o seu ressentimento. Eu merecia. Por um momento, seus olhos azuis perfuraram-me, amargurados, mas depois, ele os baixou, envergonhado, curvando sua fronte.

- Christian... – sussurrei, na esperança de fazê-lo compreender, mas era demais para ele, eu não poderia forçá-lo mais do que isso.

Meu pé hesitou no carpete, mas ele estendeu uma de suas mãos, espalmando-a, era o sinal de que eu não deveria me aproximar, não ainda. Ele sustentou seus olhos azuis novamente, e estes já não demonstravam tanta fúria ou sede de vingança, mas a frieza ainda me assustava.

- Não, Agatha – disse-me ele, calmamente, os olhos estreitando-se –, por favor, não me diga nada, pelo menos, não agora.

- Eu... – eu queria tanto lhe dizer o quanto ele era especial para mim, o quanto eu lhe era grata, o quanto afeição eu nutria por ele, mas as palavras entalaram todas em minha garganta, e ela fechou-se, não me permitindo falar-lhe.

- Não pode ter a nós dois ao mesmo tempo, Agatha, enquanto você concordar em ter esse... – ele hesitou, mordendo a língua para terminar sua fala interrompida – esse canalha ao seu lado, eu não poderei estar com você. Desculpe-me, mas é demais para mim...

Ele virou-se, enquanto eu o encarava, pasmada. Christian subiu alguns degraus, parou no meio do caminho, virou-se para mim, os dentes trincados, os olhos opacos.

- Eu ia te dizer para que tomasse cuidado com as mentiras dele – começou ele, mas sacudiu a cabeça e não me olhou nos olhos mais –, mas acho que você até gosta de ser enganada...

Petrifiquei ali mesmo, tentando compreender suas palavras, vendo Christian desaparecer no alto da escadaria, os ombros tensos. Depois, a roda de telespectadores dispersava-se, cada um seguia seu próprio rumo agora que Lucius conseguira acalmar a fera. Apenas Madelina demorou a se retirar, seus olhos disparavam em direção a Aidan.

Não me prendi a esse fato naquele momento, minha cabeça parecia que ia explodir. Meus olhos ainda ardiam. Levei a mão à testa, respirando devagar, tentando pensar com clareza, e então me lembrei de que Aidan devia estar ferido.

Virei para ele, os olhos embaçados, e ele compreendeu minha dor. Lancei-me em sua direção, percorrendo o pouco espaço que nos separava, e Aidan recebeu-me de braços abertos. Mordi o lábio inferior, reprimindo aquele desejo insanamente perigoso de ceder às lágrimas.

Abafei meus gemidos em seu ombro, e quando estava um pouco mais recomposta, e em um estado um pouco menos deplorável, afastei-me para ver seu rosto. Havia vários hematomas, um corte na sobrancelha esquerda e no canto do lábio, por onde escorria um fino filete de sangue.

Mas ele estava bem e inteiro, e era isso que importava para mim.

Sem pensar duas vezes, peguei em sua mão, levando-o comigo para cima, ignorando seus protestos quando ele disse que não devíamos entrar ali. Levei-o até meu quarto, fechando a porta e o sentei no colchão.

Afaguei seu rosto, só agora minhas lágrimas dissolviam-se em uma fúria incontida. Corri até o banheiro, procurando por um tecido limpo, molhei-o um pouco na torneira e depois voltei até onde ele estava, limpando os cortes e o sangue em seu rosto.

Seus olhos castanhos sondavam-me, atentamente, analisando cada gesto, cada sentimento que eu expunha em meu semblante naquele momento. Eu sabia que uma hora ou outra teria de lhe contar toda a verdade, mas ainda preferia adiar aquela conversa pelo tempo que me fosse concedido.

Sentei-me ao lado dele no colchão, e meus dedos logo voaram aos botões de sua camisa, abrindo-a para que eu pudesse averiguar os danos em suas costelas, eu vira toda a violência dos golpes de Christian e quase não desabei em lágrimas ali mesmo, quando apalpei delicadamente as machas rochas em suas costelas e ele arfou, sentindo dores.

Não consegui conter mais aquela dor, aquele sentimento pesado que vinha me dominando desde que vi a amargura nos olhos de Christian. Crispei os lábios e funguei, limpando as lágrimas que eu não queria que ele visse.

- Eu sinto muito... – sussurrei, deixando-me levar por aquela onda de emoções negativas.

Aidan mais uma vez enxugou minhas lágrimas com as costas da mão, seus olhos ainda me sondavam, tentando decifrar o que exatamente me atormentava naquele momento.

- Sente pelo quê?

Meneei a cabeça, engolindo o choro, não era para eu estar desabando agora, justo agora, na presença dele. Mas havia tanta pressão sobre mim, havia tantas coisas pesando sobre a minha cabeça e o meu coração, que eu não conseguia conter aquela avalanche catastrófica.

- Por tudo... – murmurei, ainda chorosa – Por favor, perdoe-me, eu sei que não deveria estar descontando tudo isso em cima de você, mas é que...

Seus dedos silenciaram meus lábios, e seus olhos foram tomados de uma compaixão e uma compreensão inimagináveis, fitando-me com tanto amor e tanta ternura, que mais uma vez, não contive meus atos, repousei minha face em seu ombro, tomando cuidado para não tocar ou encostar nas suas costelas.

- Está tudo bem, agora. – murmurou ele, afagando meus cabelos, mas ainda assim, eu não me sentia bem, sentia-me culpada por tudo o que estava havendo, por somente aumentar e semear a discórdia e a desunião entre ele e Christian. Sentia-me o pior monstro que poderia imaginar.

Afastei-me dele, abruptamente, sabia que tinha que começar de algum modo, então optei por despejar toda a verdade de uma vez só. Apenas rezava para que ele me compreendesse. Sequei os olhos e fitei-o demoradamente, sentindo na alma a profundidade de seus sentimentos por mim. Suspirei, buscando forças, e então finalmente comecei:

- Aidan, quem me encontrou e me trouxe para cá não foi Lucius, foi Christian.

Por um momento vi a descrença estampada em seus olhos. Vi uma chama furiosa e possessiva, e depois vi que ele sufocou todas as suas desconfianças e assentiu.

- Acho que já esperava por isso, pela forma como ele te olhou lá embaixo. – murmurou ele, um pouco relutante, a voz tingida por um sentimento que eu conhecia muito bem: ciúme.

Apertei sua mão grande e quente entre as minhas, fitando sua palma, enquanto contornava-a com a ponta dos dedos. Sem olhar em seus olhos, prossegui:

- Ele chegou a South Hooksett há pouco mais de dois meses e meio.

Aidan puxou sua mão de meus dedos, usando-a para sustentar meu queixo com seu polegar e seu indicador, fazendo-me encará-lo, olho no olho.

- Ele foi atrás de você para machucá-la e me atingir, não foi?

Mesmo com sua voz controlada, abafada, a fúria queimava com furor em suas íris, uma chama que me deixava alarmada. Mesmo assim, assenti, desviando meus olhos dos seus, fogosos e inquietos.

- Eu já esperava por isso também. Talvez sempre soubesse que algum dia ele descobriria sobre você, e tentaria fazer vingança te usando. – murmurou ele, ressentido.

Esbugalhei os olhos, tornando a fitá-lo no mesmo instante, o coração martelando no peito.

- Mas ele não me machucou... Christian é uma boa pessoa, é um pouco explosivo e inconseqüente, mas tem um bom coração. Aidan...

Aidan sorriu sem humor algum, e lá estava, a culpa, a vergonha, consumindo-o novamente, afastando-o de mim.

- Você acha que eu não sei disso, Agatha? Meu irmão sempre foi uma boa pessoa, inocente, benevolente, empática, mas eu o transformei em um monstro como eu. Ele provavelmente já deve ter lhe contado o ato repugnante e vergonhoso que cometi, a dor a que o submeti ao traí-lo e entregá-lo a meu mentor, junto da mulher que ele amava.

Levei minhas mãos até seu rosto, segurando-o firme, não permitindo que ele fugisse de mim, muito menos que se fechasse para mim. Seu rosto estava retorcido em uma máscara de arrependimento e amargura.

- Aidan, eu nunca te julguei, eu lhe disse que seu passado não me importava, porque eu não conheci esse Aidan, eu conheço apenas você... – sussurrei em seus lábios, recostando minha testa a sua, olhando-o nos olhos – Só existe um Aidan para mim, e eu sei que ele é nobre, corajoso, carinhoso, protetor e que se culpa todos os dias por seus erros cometidos. Mas o que verdadeiramente importa para mim, é que você mudou...

Rocei meus lábios nos seus, delicadamente e vi que isso o fez relaxar sua postura, ele envolveu-me com seus braços, trazendo-o para mais perto de seu corpo. Moldei-me ao seu torso, sem desgrudar meus olhos dos dele.

Ele traçou um delicado percurso de minhas costas até meu pescoço, enroscando seus dedos em meu cabelo.

- Eu sempre soube que não era digno de alguém como você, Agatha... Não te mereço e mesmo assim, sou egoísta o suficiente para tomá-la dessa forma.

- Não se culpe pelo que já passou... O que você deve fazer agora é mostrar a Christian que mudou, que está arrependido, que é digno do seu perdão.

Ele riu sem humor algum, arqueando uma de suas sobrancelhas, enquanto ainda brincava com meus cabelos.

- Acha mesmo que uma criatura como eu merece a dádiva do perdão? Não, Agatha, eu não mereço nem ao menos ser perdoado pelas atrocidades que fiz.

- Todos têm direito a uma segunda chance, e com você não é diferente. – retruquei, tocando de leve em seus lábios.

Ele apertou seus olhos, seus dedos agora se enroscavam na gola de minha blusa, tocando diretamente em minha pele.

- Naquela época eu ainda não sabia o que era amar alguém verdadeiramente. Era mesquinho e egoísta, considerava-me o rei do meu mundo, e olhe só, acabei por sentenciá-lo a viver no mesmo inferno que eu. Pelo menos, até que eu te encontrei.

- Eu prometi a mim mesma que lhe daria o benefício da dúvida, antes que fizesse qualquer tipo de julgamento. – sussurrei, afagando seu rosto. Ele girou sua face, de modo a capturar a palma de minha mão e depositou um beijo casto, seguindo para meus dedos, os nós de meus dedos e então desceu até a face interna de meu pulso.

- Acha mesmo que eu sou digno de receber esse benefício? – ele indagou, ainda respirando na pele de meu pulso.

- Diga-me você. – rebati, e ele finalmente tornou a me fitar, seus olhos estavam brilhantes e insondáveis novamente, exatamente como eu lembrava – Por quê, Aidan? – perguntei, franzindo o cenho.

Sua resposta foi curta e objetiva, não me dando tempo de rebater ou sequer tornar a lhe perguntar.

- Porque tive inveja.

Arfei, sentindo que nada fazia sentindo para mim. Inveja? Mas como...

- Não é o que você está pensando – retrucou, estreitando os olhos. – Eu não tinha interesse algum em Caroline, mas entenda, Agatha, naquela época eu levava uma vida repleta de luxúria e violência, não... sentia amor por nada e nem ninguém, não me apegava ou me afeiçoava a nada, e quando vi que meu irmão havia encontrado, quando vi que ele conquistado algo que eu ainda não possuía... Isso me revoltou. Porque ele havia alcançado a felicidade, e eu era vazio, oco e incompleto.

- Então você o traiu... – sussurrei, surpresa pela naturalidade com que disse isso.

- E não sabe o quanto me arrependo por essa decisão.

Tornei a curvar meus lábios até o dele, não permitindo que aquela culpa o corroesse e o afastasse de mim.

- Isso está no passado agora, concentre-se no presente...

Ele deslizou sua mão pelas minhas costas, mas eu sabia que ele mesmo não estava convencido disso. Seus olhos tornaram até os meus, calorosos e abrasadores, e eu sabia que era agora ou nunca. Porém, sua voz interrompeu-me, enquanto ele tocava algo em meu pescoço. Baixei meus olhos e me dei conta de que era o colar de Caroline, eu não o tirara, e agora Aidan parecia-me extremamente irritado.

- Acho que sei por que ele não conseguiu levar adiante o seu plano de vingança, e vejo também o quão íntimos vocês se tornaram...

Toquei o pingente com a ponta dos dedos, envergonhada por ele ver-me usando aquele colar, quando, para Christian, isso era tudo o que sobrava de sua amada Caroline. Aidan apanhou o pingente redondo e dourado entre seus dedos, fuzilando-o, e eu tive medo de que ele, com sua força, esmagasse a jóia delicada. Mas para a minha surpresa, ele o soltou, decidindo que ignoraria a jóia em torno do meu pescoço.

Suspirei, buscando forças para despejar aquilo de uma vez por todas. Encarei-o, decidida, e finalmente as palavras saltaram da ponta de minha língua.

- Aidan, você não pode voltar a Sillentya.

Ele juntou as sobrancelhas, não compreendendo aonde exatamente eu queria chegar com isso.

- Agatha, preciso retornar quando receber o chamado de meu mentor, é a única maneira de continuar espionando-os e trazendo essas informações até Lucius. Não precisa se preocupar, eu estou tomando o cuidado para não ser descoberto.

- Não... – eu arfei, segurando seu rosto mais próximo do meu – Você não me entendeu... Eu quis dizer que Ducian já sabe sobre tudo, e provavelmente já deve saber sobre suas visitas a Ephemera também. Aidan, escute-me, por favor, ele já sabe sobre nós dois, sabe de seus sentimentos por mim, e acredite em mim ele dará um jeito de jogar isso contra nós dois.

- Agatha, do que você está falando? – indagou, apertando-me mais contra o seu corpo, sentindo toda a minha tensão, todo o meu nervosismo por tocar naquele assunto. Eu não queria que ele se culpasse ainda mais, mas pelo bem dele, pelo meu bem, eu devia lhe contar tudo de uma vez só.

- Aidan, Stevan Blake estava em seu encalço, desde que você chegou a South Hooksett, e acredito que há muito mais tempo ele vinha te espionando e contando tudo a Ducian.

Aidan escancarou seus lábios, incapaz de digerir aquele fato de que vinha sendo seguido. Ele baixou os olhos, franziu o cenho, depois cerrou os punhos e trincou os dentes, seus olhos eram apenas fúria naquele momento.

- Aquele... desgraçado estava me... seguindo?

Assenti, e ele enrijeceu ainda mais, seus músculos endureceram todos. Aidan respirava dificultosamente, como se não quisesse engolir essa história. Ignorei sua tensão e prossegui, ainda tinha tanto a lhe contar.

- Mas ele não era o único, Aidan, Laura foi uma distração, o verdadeiro desertor continuou em South Hooksett e tentou iniciar o Wayeb. Se não fosse por Christian... Bom, quero dizer, se não fosse por ele, provavelmente eu...

- Você estaria morta – ele completou minha frase, a voz seca, os olhos duros e opacos. – Parece que estou devendo muito mais do que um simples pedido de perdão a ele. Christian foi suficientemente capaz de te proteger, quando eu mesmo falhei tantas vezes com você...

- Não se culpe, não tinha como você saber...

- Agatha, era o meu dever! E mesmo assim, eu consigo falhar em cumpri-lo, e consigo falhar com você, a pessoa mais importante... Não, a coisa mais importante no mundo para mim.

Toquei sua face, acariciando-a cuidadosamente, beijei suas pálpebras, ternamente, permitindo que ele repousasse sua face em meu peito, ouvindo cada batimento de meu coração, cada batimento que pertencia, inegavelmente, a ele e somente a ele.

- Stevan mandou cartas a Ducian, contando sobre nós dois, mas não sei por que seu mentor ainda não fez nada a respeito disso. A idéia de que ele esteja, talvez, planejando algo para você, assusta-me. Prometa-me que não voltará lá, prometa que ficará aqui, comigo...

No inicio senti-o hesitar, e por alguns instantes temi por sua decisão, temi por sua rejeição, mas ele suspirou profundamente e finalmente me respondeu, aliviando-me:

- Eu prometo... – sussurrou ele, tranqüilamente – Já falhei tantas vezes com você antes, não posso deixá-la mais desprotegida. Então, sim, eu ficarei aqui com você, pelo tempo que você me quiser, estarei aqui...

Sorri, em um estado tão grande de júbilo, que não devia haver mais esquiva, não devia haver mais hesitação. E não poderia haver outro desfecho que não fosse aquele.

Aidan puxou-me para o cerco de seus braços, seus lábios buscando, ávidos e vorazes, pelos meus. Entreguei-me sem o menor pudor, enroscando-me em seu corpo quente, matando cada saudade ali, em seus braços.

Os meses atribulados que passei sem a sua companhia reduziam-se ao pó, ao nada. E em nada atrapalhavam nosso momento perfeito e inigualável. Eu sabia, no fundo, que os empecilhos estavam a caminho, mas não me importava.

Porquanto Aidan estivesse ao meu lado, todas as minhas incertezas seriam esmigalhadas, moídas. Porquanto ele me amasse, eu poderia encarar o futuro sem o menor temor. Eu poderia fixar meus olhos no horizonte e peitá-lo de frente, assim como em meu sonho mais cedo.

Surpreendi-me quando seus dedos subiram até meu pescoço, enroscando-se no fecho da corrente, em minha nuca, e muito delicadamente, abriram-na, retirando-a e depositando-a no criado-mudo ao lado da cabeceira da cama.

Passei os braços ao redor de seu pescoço, enlaçando-o, trazendo-o para mais perto de mim.

Aidan logo me empurrou para uma pilha de travesseiros de pena de ganso, capturando meus lábios nos seus, não me permitindo nem ao menos respirar corretamente. Ele depositou-se, suavemente, sobre o meu corpo, suas mãos agarravam-se a minha cintura, prendendo-me a ele.

Eu certamente mentiria, se dissesse que nosso momento poderia se tornar mais perfeito. Porque com ele, sentia-me única, sentia-me especial. Como se eu fosse o centro de seu universo, a lua no seu céu sem estrelas, o sol em seu sistema solar, o oásis no seu deserto.

Aidan afastou-se de mim, relutantemente, seus lábios demorando a deixarem os meus, e então me fitou com aqueles mesmos olhos profundos e misteriosos. Afaguei seu rosto, delicadamente, enquanto seus lábios roçavam na pele de meu pescoço uma vez ou outra.

Até que ele finalmente cessou suas carícias, seus olhos ainda me perfuravam, olhando para dentro de mim, para minha alma. Eu sorri e ele finalmente se pronunciou:

- Agatha, se lhe pedir algo, você promete pensar?

Suspirei lentamente, afagando seus cabelos negros como a meia-noite. Como poderia negar algo a ele? Assenti, sem demover meus olhos de seu semblante, tão cuidadosamente composto.

- Quando tudo isso terminar, venha comigo para Nápoles.

Surpreendi-me com seu pedido. Admito que fui pega com a guarda baixa. Não esperava por uma proposta como aquela. Mas somente de me imaginar com ele em uma cidade tão bela e charmosa quanto Nápoles...

- Como posso dizer não a uma proposta dessa? – sorri novamente, quando ele capturou meus lábios.

- Isso é um sim? – indagou, um tanto receoso.

Assenti com a cabeça, e um lindo e singelo sorriso emoldurou os lábios dele. Algo tão belo... Aquele era o mesmo Aidan que valsara comigo na noite do Baile de Primavera, e somente em tê-lo de volta, meu coração enchia-se de felicidade e exultação transbordante.

- Tenho certeza que você adorará conhecer a Costa Amalfitana, ela possui umas das mais belas praias de toda o litoral da Itália.

Sorri, regozijando-me, gostando da cena que se projetava em minha mente: eu e Aidan em uma praia belíssima, com um mar infinito e de um azul anil tão intenso que chegava a doer os olhos. O sol dourado e brilhante acima de nós dois, a areia branquinha e fofa, a brisa salgada vergastando meus cabelos, o cheiro da maresia, gaivotas no céu azul e límpido e nuvens tão macias quanto algodão, transitando preguiçosamente por ele, ao sabor do vento...

Seus olhos de repente tornaram-se sérios, enquanto ele contornava meu maxilar com os dedos.

- Os últimos meses foram um tormento para mim, mas se serviram para me mostrar algo, é que não sei mais viver sem você. Preciso de você na minha vida, Agatha...

- Eu sei... - sussurrei - Também não sei mais viver com você...

Ele tornou a curvar os seus lábios até os meus, sufocando qualquer tentativa minha de dizer algo mais. Mas que sentido havia em dizer palavras naquele momento, quando nossos corpos entregavam nossos sentimentos mais profundos e ocultados?

Nenhum.

Absolutamente nenhum.


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Notas finais do capítulo

E novamente eu digo aqui nas notas finais: Esse momento da Agatha e do Aidan no fim arrancou suspiros meus enquanto eu digitava! *mas não sejam maliciosos, foi apenas uns amassos!* rsrsrsrsrsrs...

Novamente eu digo que esse Christian me deu medo, muito medo!

Novamente eu agradeço a Sassatenshi por recomendar a fic, e fiquem à vontade se quiserem aumentar minha autoestima também!

Novamente eu acrescento as informações desncessárias, mas que eu achei legal de vocês saberem:

Tava pesquisando o nome do trio na net e achei seus significados:

Agatha=bondosa

Aidan, Aedan e Aiden=fogo

Christian=cristão

E a Costa Amalfitana que o Aidan menciona é linda mesmo, quem tem planos de viajar para a Itália, tenta dar uma conferida, está apenas a 53 km de Nápoles...

Novamente eu anuncio que no próximo capítulo, Agatha tentará fazer com que os irmãos Satoya se renconciliem, será que ela consegue?

E próximo capítulo também, uma GRANDE REVIRAVOLTA! Preparem-se pq eu vou aprontar das minhas por aqui! HAHAHAHAHA!!!!

Beijinhos!

PS: Se o site decidir apagar esse capítulo de novo, eu vou dar um chilique!!!!!! :@