Saga Sillentya: Espelho do Destino escrita por Sunshine girl


Capítulo 6
V - As Memórias de um Herói


Notas iniciais do capítulo

Olá para todos...

Eu sei que andei meio sumida (meio não né, totalmente), mas espero que compreendam meus motivos (eu tive muitos), inclusive uma crise terrível, mas deixemos o papo para as notas finais...

Cap. contendo todo o passado do pai da Agatha...

Ah sim, e quem recomendou a música foi a Juliacalasans... Obrigada!

Boa leitura!



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Capítulo V – As Memórias de um Herói

“Diga-me o que quer ouvir

Algo que agradará os seus ouvidos

Cansado de todo ato insincero

Então abrirei mão de todos os meus segredos

Agora

Não preciso de outra mentira perfeita

Não me preocupo se as críticas nunca aparecem de uma só vez

Eu estou me desfazendo de todos os meus segredos”.

(OneRepublic – Secrets)

Meus olhos prendiam-se atentamente nas linhas, lendo minuciosamente cada palavra gravada ali. Meu cérebro tentava absorver com sucesso cada palavra. Mas, a cada linha que terminava, a cada parágrafo lido, eu sentia as palavras reverberarem em meus ouvidos, ecoando em minha mente vazia, em meus pensamentos distantes.

Balancei os tornozelos no ar, o queixo apoiado em minha mão, deitada de bruços sobre o colchão macio. Revirei os olhos, eu havia lido mais da metade daquele livro, e nem mesmo me lembrava do que estava na página anterior.

Suspirei, derrotada, e fechei o livro em um rompante, virando-me sobre o colchão, erguendo meus braços para que pudesse estalar as juntas de meus dedos. Estava entediada fazia dias, desde que escapuli com Christian para dar um passeio por Roma, não fazia nada de interessante.

Meus estudos progrediam com a ajuda de Stella, Giuseppe e até mesmo Lucius algumas poucas vezes. Mas, quando não estava estudando, ficava à deriva, sem nada de interessante para fazer, para pensar, para entreter minha mente, e aquilo estava me levando à loucura...

Afundei minha cabeça no travesseiro, cerrando os olhos com força e tentando em vão conter as lembranças da conversa que tivera com Lucius hoje pela manhã. Rolei de lado na cama, enrolando-me em um novelo humano, abraçando meus joelhos.

Não queria revivê-las, mas elas eram tão nítidas, tão claras em minha mente. E ficavam vagando por meus pensamentos, arrastando-se sobre eles de forma lenta e decrépita, perturbando-me, atormentando-me de cinco em cinco minutos, como um despertador colocado para tocar incessantemente, até que aquelas lembranças sombrias dissolvessem-se na minha cabeça, o que eu precisava admitir, custaria a acontecer.

Sequei meu olho com o dedo quando uma lágrima traiçoeira ameaçou escapar. Eu não queria me dar o luxo de chorar ainda mais, mas a culpa me consumia por dentro, corroendo-me vagarosamente como um verme em meu seio, abrindo caminho através de minha carne, até meu solitário coração.

E mais uma vez, fui acometida por tais terríveis lembranças...

Christian acompanhou-me até a porta, mas recusou-se a entrar comigo no gabinete de Lucius. Eu não compreendi no começo, mas depois, fui dominada pela razão: aquele momento pertencia somente a mim e a ele.

Porque estava na hora de conhecer a origem, o passado, todas as lembranças acerca da vida de meu querido pai.

Respirei fundo antes de adentrar ao cômodo suntuoso, enxuguei as palmas de minhas mãos no jeans e passei pela porta, fechando-a antes de me virar para a figura sentada atrás da mesa, com as mãos cruzadas sobre ela, a expressão cautelosa e apreensiva.

Lucius gesticulou para que eu me sentasse na cadeira de frente para ele, e meio receosa, eu a puxei e sentei, completamente enrijecida. Os olhos azul turquesa fitaram-me, analisando atenta e minuciosamente cada emoção cuidadosamente composta em meu semblante.

Ele pigarreou, cruzou os dedos e apoiou seu queixo sobre eles, semicerrando os olhos belos e cintilantes.

- Sabe por que a chamei aqui, Agatha? – sua voz baixa e serena ecoou por todo o cômodo, reverberando em meus ouvidos, fazendo-me engolir em seco, e uma estranha ardência surgir em meus olhos.

Meneei a cabeça para os lados, embora no fundo eu soubesse, não gostaria de admitir, não desejaria tratar diretamente sobre esse assunto tão delicado para mim: o passado Henry Bryce, meu próprio pai, aquele a quem eu jamais tive a chance de, ao menos, conhecer.

Lucius baixou os olhos até a madeira de pau-rosa da mesa, observei os mesmos entalhes que ele, perdendo-me em meus próprios pensamentos, divagando a respeito do que seria de tão grave, que o fizesse até mesmo hesitar em me contar a verdade.

- Agatha – sua voz trouxe-me de volta a mim –, saiba que isso é tão difícil para mim quanto para você. Gostaria de ter uma maneira mais sutil de despejar toda essa verdade sobre você, mas o fato é que não há, então você terá que ser forte.

Uma onda de pânico e desespero golpeou-me violentamente, e eu vacilei, minha garganta fechou-se no mesmo instante, meus olhos arderam com uma intensidade ainda maior, e eu mordi meu lábio inferior até que sentisse o gosto do sangue, para evitar cair no choro ali mesmo, naquele exato momento.

Assenti com a cabeça, ainda abalada e praticamente queimando por dentro. Lucius suspirou, buscando um meio mais sutil de me contar aquilo e então começou:

- Agatha, não lhe contei nada a respeito disso no outro dia porque queria lhe dar algum tempo para se acostumar com tudo. Mas, creio que seja melhor não ocultar mais nada de você. Você acha que está pronta para saber toda a verdade? - questionou-me ele, ainda cauteloso.

Obriguei-me a concordar, embora o desejo de conhecer o passado, a vida de meu pai fosse algo desesperador e avassalador dentro de mim, eu sabia que também causaria uma ferida dolorosa e profunda, uma que, talvez, jamais viesse a cicatrizar.

- A verdade é que eu e meu falecido irmão, Frederich, éramos os últimos descendentes vivos de Angeonoro Vallatori. Tem noção do quanto essa informação é crucial para que você compreenda todo o passado de seu pai?

Assenti, engolindo em seco. Isso significa que eu também era uma descendente de Angeonoro Vallatori, e conseqüentemente já me tornava um alvo prioritário na listinha negra de Ducian.

- Nós descendemos de seu filho primogênito, Daliel, o primeiro Elemental a recorrer à ajuda dos Devoradores de Alma para romper o selo da fênix. Isso significa que nossos poderes e habilidades ligados aos quatro elementos da natureza estão muito acima da média comum. O que também justifica o fato de você ter conseguido acessar e convocar uma pequena parcela de seus poderes durante o Wayeb, quando a maioria do Elementais tem dificuldades para controlá-los sem qualquer tipo de supervisão ou treinamento anterior.

“Como já lhe contei, meu irmão e eu vivíamos secretamente na Alemanha, mas Ducian tem um talento nato para nos encontrar, e logo tínhamos um verdadeiro esquadrão de caçadores em nosso encalço. Chegamos à Itália como refugiados a pouco mais de dois séculos e meio. Logo fomos acolhidos por Ephemera, e por seu líder que naquela época era Vittore Cosine. Não demorou muito para que, sob o treinamento dele, nós descobríssemos nossos talentos natos. Meu irmão sempre demonstrou um poder muito maior que o meu, e isso logo o tornou o líder de Ephemera. Até mesmo Ducian tremia ao escutar seu nome, e muitas vezes, meu irmão equiparou-se ao maior Elemental de toda a história, Angeonoro”.

“Nós dois havíamos rompido nosso selo, aceitando passar pelo doloroso ritual dos Devoradores de Alma, quando mais jovens, e na fase adulta, éramos muito temidos. Mas também não demorou muito para que meu irmão apaixonasse-se pela filha de Vittore, Amélia, a quem ele amou verdadeiramente. Ambos casaram-se aqui mesmo, em uma cerimônia realizada pelo próprio Vittore, que abençoou a união de ambos.”

“O fruto de tal amor foi concebido alguns anos depois, um menino, a quem meu irmão chamou Stefano. Mas nossa felicidade não durou muito tempo, pois em uma noite fria e em que nevava muito em Roma, Ducian nos atacou, mandando muitos de seus experientes caçadores para dar cabo de todos nós”.

Lucius interrompeu seu discurso, buscando fôlego e forças para remexer aquela ferida. Eu percebi, emocionada, que aquela era a história do nascimento de meu pai, meu querido e amado pai. Stefano, este era o seu nome original, o seu nome italiano. Voltei a terra quando Lucius pigarreou, exigindo minha atenção novamente e prosseguiu com sua história triste e verídica.

- Lembro-me com nitidez daquela noite, da batalha árdua e dificultosa que travamos. Meu irmão cuidava dos caçadores mais poderosos, e eu estava incubido de proteger o restante de nós, inclusive minha cunhada e meu sobrinho, com apenas dias de vida.

“Lembro-me quando Vittore caiu, seu corpo desabando em meio a tanta neve, completamente sem vida. Lembro-me de meu irmão, berrando contra a forte ventania que nos fustigava, ordenando que eu fugisse o mais rápido possível dali, que levasse comigo sua família e os protegesse”.

“E foi assim que percebi o sacrifício que ele estava fazendo para nos salvar. Quando olhei pela última vez para a mansão, pude vê-la em chamas, um clarão alaranjado contra o fundo escuro da noite. Meu irmão não tentou escapar, permaneceu lá dentro, certificando-se de que nenhum caçador escaparia de sua fúria. E aquela foi a última vez em que o vi com vida”.

Senti o bolo em minha garganta engrossar cada vez mais, quase me levando a sufocar. Aquela era a história por trás do sacrifício de meu avô, Frederich.

- Eu fugi, levando comigo Amélia e meu sobrinho que chorava em seus braços. Tínhamos caçadores em nossos encalços, e não poderíamos nos dar ao luxo de sermos apanhados. Sabíamos que se fôssemos pegos, provavelmente seríamos arrastados até Sillentya e submetidos ao segundo ritual de selamento.

“Corremos pelas ruas frias e repletas de neve até que o ar faltasse em nossos pulmões, e até que caímos em uma emboscada. Havíamos sido encurralados em um beco escuro e pútrido por vários caçadores”.

“Eu usei meus poderes para tentar proteger Amélia e Stefano, e travei uma difícil batalha de vida e morte. Foi muito duro para mim, eu era muito mais jovem e inexperiente em comparação ao meu irmão, mas consegui ganhar tempo para dar fuga a Amélia. Depois que tudo tinha terminado, eu corri para alcançá-la, procurei-a por várias horas, mas jamais a encontrei. Nem ela nem meu sobrinho. E só então percebi que havia falhado com meu irmão, que havia quebrado a promessa que fiz a ele antes dele se sacrificar por todos nós”.

“Mesmo que os dias tenham avançado, eu jamais deixei de procurar por ela e pelo filho de meu irmão. Mas nunca os encontrei, e só fui descobrir, anos mais tarde, seguindo as pistas que um informante me dera de que Amélia não conseguira ir muito longe, ela tentou proteger o filho a qualquer custo, e não encontrou outra solução a não ser esconder a criança, deixando-o nos portões de um orfanato. Depois disso, soube que ela se deixou ser capturada, levando o paradeiro de seu filho consigo para o túmulo. Ducian não a poupou, e não foi misericordioso com ela”.

“Procurei por meu sobrinho durante treze longos anos, só depois descobrindo que ele fora adotado por um diplomata americano que residia na Itália, Harrison Bryce e sua esposa, Corina Byrce”.

- Estes foram os pais adotivos de meu pai então? - interrompi sua história, curiosa.

Lucius reclinou-se sobre a cadeira, entrelaçando seus dedos sobre o tampo da mesa de pau-rosa.

- Sim, eles criaram seu pai e cuidaram dele, escondendo-o de Ducian por muitos anos. Eu observava, furtivo, toda a educação que ele tivera, e por um momento pensei que realmente pudesse deixá-lo sob os cuidados dos pais humanos. Mas, precisei intervir quando um desertor descobriu sobre a verdadeira origem dele e tentou utilizá-lo no ritual do Wayeb.

- Exatamente como aconteceu comigo... - sussurrei, imaginando a cena: meu pai, um garoto apenas, sendo vítima de uma perseguição doentia e desenfreada, evitando ser sacrificado para trazer o apocalipse ao mundo.

- Sim, Agatha, exatamente como você. Infelizmente quando os alcancei, o estrago já estava feito, Devoradores de Alma atacaram seu pai enquanto ele fugia com os pais até Florença. O carro capotou e eu não pude fazer nada pelos humanos, porém, seu pai, Agatha, era um sobrevivente, sempre foi, e mesmo tendo sofrido diversas contusões, uma concussão e uma hemorragia interna, ele sobreviveu, mas estava órfão e sozinho no mundo, além do mais, a experiência de quase morte do acidente foi o suficiente para romper seu selo, e seus poderes já se encontravam despertos. Então, aproximei-me dele e lhe contei a verdade, oferecendo-me para cuidar dele a partir daquele momento. Com alguma ajuda, entrei com a papelada e dei inicio ao processo para adquirir a tutela de seu pai.

- Você... – eu o interrompi, minha voz saindo um sussurro quase inaudível, mas a razão dominava-me, Lucius fora o tutor de meu pai, aquele de quem minha avó me falara naquele dia fatídico no hospital – Você era o tutor de meu pai, cuidou dele e da herança que ele recebeu dos pais adotivos até que completasse a maioridade.

Lucius sorriu-me, singelamente, e assentiu.

- Sim, Agatha, eu cuidei de seu pai, ofereci-lhe abrigo, proteção, treinamento para os seus poderes...

- Então, meu pai havia rompido o selo da fênix?

- Aos treze anos, no acidente que matou seus pais adotivos. – respondeu-me ele, tranqüilamente.

Levei uma das mãos à testa, desabando de encontro ao encosto da cadeira. Sentia-me um pouco zonza, talvez fosse informação demais para digerir em pouco tempo. Mas não poderia parar ali, eu precisava continuar, precisava descobrir mais a respeito do meu pai, não era um capricho, era uma necessidade, eu tinha que conhecer aquele que jamais pude chamar de pai...

- Continue, por favor... – pedi-lhe, humildemente, pigarreando e inclinando-me em sua direção novamente.

- Bom, depois disso, o resto é fácil deduzir, Henry passou muitos anos aqui, para ser mais específico, quinze anos, pelo menos até conhecer sua mãe, Agatha, e apaixonar-se por ela.

“A partir de então, seu pai viu-se em um impasse, ele sabia que se continuasse aqui, conosco, jamais encontraria a verdadeira felicidade, e podia deixar Eva ir embora de sua vida para sempre, ou ele poderia ir atrás dela, arriscar-se no mundo lá fora, sabendo a todo o momento que Ducian poderia encontrá-lo e matá-lo, e que cada segundo de felicidade poderia ser o último”.

“E a decisão que ele tomou naquela noite mudou sua vida para todo o sempre...”

- Meu pai fugiu para a América. – constatei, arriando os ombros e fungando, o resto da história desenrolava-se em minha mente: meu pai jurando amor eterno a minha mãe, ambos casando-se, e meses depois, uma saliência sutil em seu ventre, mas o resto eu não sabia, e era um total mistério para mim.

- Seu pai garantiu-me que assumiria todas as conseqüências por seus atos. Ele estava disposto a morrer, inclusive, mas preferia isso a passar o resto de sua vida enclausurado e ocultado nas sombras, sempre fugindo das forças de Ducian.

“Quase um ano e meio depois eu soube o que houve. Ducian o havia encontrado e mandado seus caçadores para persegui-lo. Eu viajei imediatamente para San Diego quando soube o que estava havendo, depois é claro, de um informante entregar todos os planos de Ducian para mim”.

“Eu temia não apenas por seu pai, mas também por sua mãe, Agatha, pois eu sabia que ela estava grávida, e se Ducian a encontrasse, bom, teria acontecido o mesmo que aconteceu a minha Helena”.

“Quando desembarquei em San Diego, já era tarde demais, não encontrei seu pai, não encontrei sua mãe, simplesmente não encontrei mais nada. Vaguei por todo o estado da Califórnia, mas jamais encontrei uma pista sequer que pudesse me levar ao paradeiro de algum deles”.

“Sem esperança alguma, retornei para a Itália, e foi então que recebi a notícia de Stella...”

Estendi minha mão para ele, gesticulando para que ele detivesse-se em sua história. Aquela altura eu já me encontrava em um estado deplorável, lágrimas rolando pela minha face, enquanto eu me debulhava, soluçando, meu coração espremendo-se apenas de imaginar o que tinham feito ao meu pai.

- Não! – sussurrei, completamente desolada – Não me conte mais nada, por favor.

Lucius assentiu, respeitando minha vontade e eu o agradeci mentalmente. Já era difícil e doloroso demais para eu saber o que poderiam ter feito ao meu pai, o que diria aceitar a verdade então?

- Bom, o fato é que jamais encontrei uma pista concreta e de fonte confiável que pudesse me levar até sua mãe, eu ainda tinha esperanças de que ela não caíra nas garras de Ducian, mas não podia deixar Ephemera desprotegida, então tudo o que podia fazer era rezar para que você crescesse sã e protegida, longe de toda essa opressão.

“Quando a carta de Stevan foi interceptada por um de meus espiões, eu já desconfiava de que pudesse ser você, a neta de meu irmão, Frederich, mas não quis causar nenhum alarde, muito menos disse a Christian o que você era. Acho que ele acabou por descobrir isso sozinho, com o passar do tempo”.

“Eu jamais duvidei de que o coração dele fosse bom e puro, só queria que ele enxergasse isso por ele mesmo, então deixei que ele partisse rumo a essa sandice”.

Enxuguei as lágrimas com as costas da mão e dei-lhe um fraco meio sorriso.

- Christian já me contou tudo.

Lucius ergueu as sobrancelhas e algo cintilou em seus olhos azul turquesa... Seria temor?

- Se você já conhece a história que há por trás da rivalidade de Christian com seu irmão, então provavelmente sabe que ele está disposto a tudo para obter vingança. Não posso culpá-lo por isso, Agatha, Aidan errou muito no passado.

- Eu sei disso... – sussurrei, baixando os olhos para minhas mãos cruzadas educadamente em meu colo.

- Como eu lhe disse anteriormente, cada um aqui possui uma história diferente, uma tragédia, ou uma perda que o trouxe até Ephemera. Bom, você sabia, por exemplo, que os pais biológicos de Madelina e Ramon morreram quando eles eram muito pequenos? Nada intencional, o trem no qual eles viajavam descarrilou e eles só sobreviveram porque estavam com a avó no dia. Infelizmente, ela era muito idosa e logo faleceu, deixando-os na mão. Madelina e Ramon foram mandados a um orfanato, e separados tragicamente anos depois por um incêndio. Infelizmente Ramon não conseguiu escapar das chamas e acabou inconsciente por inalar tanta fumaça, a experiência de quase morte foi forte o bastante para romper seu selo, mas Madelina mantém seus poderes selados até hoje. Já tentei convencê-la a aceitar submeter-se ao ritual, mas ela não quer se envolver nessa guerra e só permanece aqui conosco devido ao irmão.

“Com Daisuke a história não foi muito diferente, um terremoto atingiu Tokyo há muitos anos, e ele não teve tempo de abrigar-se em um lugar seguro, como conseqüência um bloco de pedra desprendeu-se da estrutura do prédio e o atingiu em cheio na cabeça. Foram meses no hospital antes que ele descobrisse o que de fato aconteceu, e o que de fato havia mudado nele. Dias depois, eu embarcava para o Japão para buscá-lo”.

- E quanto a Stella? – perguntei, curiosa, por seu passado.

- Acidente de carro, ela ficou em coma durante meses e, bem, quando despertou...

Assenti, enquanto Lucius passava para o próximo tópico de nossa despreocupada conversa.

- Giuseppe despertou seus poderes na mesma época que Madame Mabelle. Ambos eram famosos e viviam dando muitos problemas a Ducian. Mas, Mabelle cansou-se da guerra, tantos séculos, sempre fugindo e lutando a sobrecarregaram e ela afastou-se de nós, exilando-se na França. Apenas Giuseppe permanece até hoje conosco.

- Entendo. – murmurei, e Lucius suspirou profundamente, dando a entender de que nossa longa conversa já havia se encerrado.

Levantei-me, um pouco zonza e aos tropeços da cadeira, sentindo-me entorpecida, quase anestesiada.

- Obrigada, Lucius – agradeci-lhe a gentileza, fitando seus olhos cintilantes –, obrigada por dividir a vida de me pai comigo. A minha vida inteira eu tentei imaginar a pessoa que ele foi, os seus feitos, as suas memórias, e graças a você eu agora tenho um novo conceito sobre a pessoa maravilhosa que ele foi.

Lucius assentiu, abrindo um belo e largo sorriso.

- Tenha apenas uma coisa em mente, Agatha, seu pai foi um verdadeiro herói...

As lembranças nítidas encerraram-se em minha mente como um filme que chega ao seu fim. Eu levei a ponta de um dedo até o canto do olho, pegando uma lágrima quente e traiçoeira, impedindo-a de deslizar pela minha face.

Não queria chorar, não mais. Queria, de alguma forma, ser forte, manter-me incólume, não importa o que acontecesse. Por meu pai, por suas memórias imaculadas eu o faria, encontraria forças para não me deixar abalar.

Girei no colchão, tapando meus olhos com meus punhos e suspirei alto demais. Vagamente tinha consciência de que devia passar das onze da noite, mas não tinha sono algum. Meus pensamentos divagaram, rastejantes, até assuntos banais, lembranças indistintas de uma outra época de minha vida quando eu sempre questionava minha mãe sobre o passado de meu pai, e ela sempre se mostrava evasiva, esquivando-se de minhas perguntas.

Só despertei de meus devaneios ao ouvir uma voz inocente e infantil, como a voz de um anjinho, ecoou em meus ouvidos, e no segundo seguinte eu já me sentava ereta na cama.

- Oi, moça bonita.

Encontrei o semblante de feições miúdas e angelicais de Damien, parado bem diante de mim, nas mãos pequeninas seguravam um livro grosso e de capa dura com o título escrito em dourado e alto relevo; dizia Rei Artur e os Cavaleiros da Távola Redonda por Marcie Williams.

- Oi, Damien. – respondi-lhe com um sorriso e ele soltou uma curta risada. Depois, seus olhos azul turquesa pousaram em meu semblante, analisando-me minuciosamente, e um biquinho formou-se em seus lábios.

- Estava chorando?

Esfreguei os olhos só por precaução, mas esqueci-me do fato de que deviam estar avermelhados. Dei de ombros, tombando minha face para trás.

- Não, acho que é uma irritação passageira.

Damien empoleirou em minha cama, jogando-se sobre o colchão de molas. Largou o livro que seus dedinhos lutavam para não deixar escorregar e eu tombei minha face, pegando-o para folhear as páginas.

- Gosta do Rei Artur? – perguntei, despreocupadamente e ele assentiu, os olhinhos cintilando ainda maiores e mais brilhantes, mas então sua face desmoronou e ele retorceu os lábios em uma carranca rabugenta.

- Não encontro ninguém com tempo para ler para mim. – explicou-se ele, cruzando os braços.

Recostei nos travesseiros de pena de ganso, dando leves tapinhas no colchão, indicando para que ele se esgueirasse e viesse até mim.

- Se quiser, posso lê-lo para você.

O rostinho de Damien iluminou-se no mesmo instante e ele engatinhou e recostou seu corpinho no meu, a cabeça apoiada em meu peito, os olhos cheios de expectativa.

Abri o livro, observando as gravuras na capa, dois guerreiros medievais travando uma batalha. Ergui as sobrancelhas e abri o livro.

- Por que gosta do Rei Artur? – perguntei a ele, era um tanto incomum, afinal garotos da idade dele gostavam mais de super-heróis modernos, com olhos laser e visão raio X.

Damien estreitou os olhinhos, pensando em algo convincente e longos segundos passaram-se antes que ele pudesse responder-me:

- Meu papai é como o Rei Artur, um graaaaaaande líder e os outros, como o Christian e o Ramon, e o Daisuke, são seus fiéis cavaleiros.

Eu ri um pouco, e então comecei a ler o livro para Damien, a cada cinco minutos ele me interrompia, perguntando sobre isso ou aquilo, fazendo indagações cujas respostas eu nem mesmo imaginava, reflexões e observações muito complexas para um garotinho de cinco anos, até que cinco páginas viradas depois, ele adormeceu, caindo em um sono profundo e tranqüilo.

Fechei o livro e o acomodei mais em meus braços, olhando seu rosto de anjo enquanto dormia. Bocejei, então, exausta pelo dia atribulado que tivera, com tantas revelações a respeito do passado do meu pai. Joguei o livro de forma desleixada no chão, seu som provocou um baque surdo, absorvido pelo grosso carpete, e eu mesma caí no sono, ainda ciente de que Damien enroscava-se em meu corpo, buscando talvez, pela proteção materna que um dia lhe fora roubada.

Uma carência que eu podia compreender muito bem, ainda que a minha fosse oriunda do outro lado, de meu pai, da figura que eu jamais tive a chance de conhecer, e que, infelizmente e inegavelmente também, jamais poderei.


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Notas finais do capítulo

Bom... Agora preciso desabafar com todos vocês... Como alguns puderam ver, através do meu recado no meu perfil, eu estive muito, muito, mas muito desanimada mesmo na semana passada.


O motivo era que, bom, além da minha autoestima estar lá embaixo, minha net estava oscilando muito, e eu formatei meu PC na sexta-feira, embora esses não sejam os únicos motivos de meu sumiço, eu também estive ocupada com outro projeto, que eu arquivei, por enquanto, para futuramente...


Eu sou uma pessoa de lua, muitos sabem disso, tenho muitas oscilações de humor, e junto dele, muda a minha motivação também, e bem, semana passada ela passou do zero negativo... rsrsrsrsrsrsrs...


E bom, eu estava achando que, sei lá, não estava sendo... motivada a continuar por aqui. Durantes essas 3 fases da Saga Sillentya eu já passei por muitos maus bocados, perdi muitos leitores mesmo, e isso acaba com a minha motivação, pq eu paro e penso: "poxa, se fulano abandonou o barco é pq a história não está tão boa quanto eu imaginei... E agora? Será que eu devo parar com tudo?" Enfim, é isso que se passa pela minha cabeça nesse momento...


Podem me chamar de exagerada, sensível, a verdade é que eu sou mesmo, muito exagerada e muito sensível, eu sou uma pessoa muito insegura. Esse é um dos meus piores defeitos.Mas enfim, a pergunta que não quer calar na minha mente: Será que eu devo continuar?


Eu odiaria largar a Saga, e largar aqueles que estão comigo até hoje, e eu quero muito mesmo chegar a 5ª fase, que é onde tudo termina, mas isso não depende, infelizmente, só de mim. Outra coisa que acaba comigo são os leitores fantasmas, poxa, em toda a fic que eu leio eu comento, tudo bem se não quiser aparecer, mas poxa, eu fico tão desanimada com tudo isso, estou sempre ajudando, elogiando, motivando... Mas será que eu não posso ser elogiada e motivada também? Nem que seja uma mensagem privada dizendo: "puxa, eu sigo sua história!", isso já me ajuda muito, já me motiva um pouco a querer continuar escrevendo...


Bom, era isso o que eu tinha para desabafar com todos vocês, perdoem-me se pareci meio grossa ou estúpida, mas eu realmente estou desanimada com tudo...


Agora, mudando de assunto, não sei bem quando trarei o próximo capítulo, muito menos se trarei ele, também não sei o que fazer quanto a Nopti Furtunoasa, pois ela não está atingindo o resultado que eu queria. E embora eu já esteja um pouquinho melhor, minha autoestima ainda está no negativo...


Bom, em todo caso, se eu aparecer novamente por aqui, já teremos uma surpresa e finalmente as coisas começam a esquentar.


Até a próxima (se houver próxima)...


Beijinhos!!! E obrigada por me ouvirem nesse pequeno desabafo!