Saga Sillentya: Espelho do Destino escrita por Sunshine girl


Capítulo 11
X - Inconsequências


Notas iniciais do capítulo

E depois de muita lenga-lenga, eu retorno...

O motivo é simples: preguiça e falta de reviews...

Sério... Cadê minhas reviews? Lembrando que quanto menos reviews, mais tempo eu enrolo para terminar o capítulo (sim, sou chantagista) rsrsrsrsrsrs...

Enfim, capítulo com a fase mais sombria da Agatha!

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/125320/chapter/11

Capítulo IX – Inconseqüências

“Todo o meu ódio não pode ser medido,

Eu não serei subjugada

Por seus atos inconseqüentes,

Agora você pode tentar me puxar para baixo

Jogar-me no chão

Mas eu ainda verei você gritando”.

(Evanescence – Thoughtless)

Aos poucos, a sonolência e o torpor abandonavam meu corpo, e em seu lugar restava apenas uma coisa: a dor.

Não apenas uma dor física quase insuportável, daquelas que nem mesmo os melhores analgésicos conseguiam atenuar. Não...

Mas uma dor tão profunda, tão real, que parecia que um grande buraco havia sido cavado em minha alma. Como se eu mesma fosse um grande vazio.

Minha cabeça latejava, o fluxo de informações que agora circulava por minha mente era algo atordoante. Minha respiração e batimentos estavam estabilizados, suaves.

Remexi-me um pouco, só então me dando conta de que meu corpo não repousava no piso frio e duro no qual eu havia adormecido em meio às minhas lágrimas e a minha dor.

Na verdade meu corpo jazia em algo bem macio e quente.

Apertei meus dedos naquela superfície aconchegante, e houve o reconhecimento: eram os lençóis de seda de meu quarto. Inspirei e o cheiro doce e sutil da seda preencheu minhas narinas. Não havia a menor dúvida, eu estava em minha cama. Mas... como?

Resmunguei, crispando os olhos embaçados, esfregando-os com os dedos e só então ousei abri-los.

A principio, eles arderam pela claridade incomoda, mas depois de piscar algumas vezes, eles acostumaram-se. Remexi-me novamente, sustentando meus olhos, deixando que eles recaíssem sobre a mobília de madeira clara, mas só então, notei uma figura, despreocupadamente recostada aos pés de minha cama.

As longas pernas depositadas sobre os lençóis de seda, os braços cruzados sobre o peito, os lábios crispados e os olhos observando-me atentamente.

- Christian... – sussurrei e ele tombou sua face de lado em resposta, fitando-me com os olhos tão compadecidos, cheios de uma compreensão tão profunda, que eu não poderia ter outra reação.

Esgueirei-me pelo colchão, lançando-me em seus braços, buscando desesperadamente conforto e proteção. E os recebi, instantaneamente.

Abafei meu choro em seu peito, sentindo seu cheiro maravilhoso, deixando que ele, de alguma forma estranha e desconhecida, preenchesse aquela fenda em meu coração.

Ele afagou meus cabelos, delicadamente, roçando os lábios no alto de minha cabeça, respirando em minha pele, sussurrando docemente em meu ouvido.

- Eu já sei de tudo... Sei de tudo o que houve. Sinto muito que tenha descoberto dessa forma, Agatha.

A lembrança nítida foi como ácido em minhas veias, doeu-me como se eu estivesse sendo rasgada viva.

- Como ele pôde esconder isso... por tanto tempo... de mim? – questionei em meio aos meus soluços.

- Shhhhh... Eu sei o quanto você deve estar sofrendo. Mas não chore... Detesto vê-la triste, Agatha. Se soubesse como seu sorriso ilumina meus dias, você não choraria dessa maneira... – brincou ele, enrolando seus dedos em meu cabelo.

Acomodei-me mais em seus braços, deixando que ele me embalasse, que ele me resgatasse daquele inferno no qual agora me encontrava.

Longos segundos passaram-se antes que eu tomasse fôlego e criasse coragem suficiente para fitá-lo nos olhos, e assim que me afastei de seu corpo, Christian enxugou minhas lágrimas com a ponta de seus dedos e um meio sorriso formou-se em seus lábios.

- Viu? – suas mãos quentes envolveram minha face – Muito melhor assim.

Respirei fundo, esfregando os olhos, imaginando quão vermelhos e inchados eles deviam estar. Fitei Christian intensa e obstinadamente, recusando-me a deixar a profundeza azul de seus olhos.

Christian permaneceu afagando meu rosto, demonstrando que estava ali comigo, quando eu mais precisava de um ombro amigo, de um confidente, e então eu caí em mim...

A verdade veio como um estalo em minha mente: ele estivera todo esse tempo ao meu lado. Sempre a minha espreita, sempre ao meu redor. Ainda que suas motivações não tenha sido corretas no inicio, ele criou coragem para me contar a verdade, ele foi franco comigo.

Ao contrário de...

Não, eu não queria lembrar-me de seu nome, não queria ouvi-lo ecoar em meus pensamentos. Eu queria apagá-lo de minha mente e de meu coração. Eu queria esquecer de um dia havia confiado nele, havia partilhado tantos momentos mágicos, queria arrancar de meu coração tudo o que eu ainda podia sentir por ele.

E eu estava tão desesperada para fazer aquela dor desaparecer, que cometeria qualquer loucura, qualquer sandice. Meu desejo de morte já não era tão forte naquele momento, agora que eu conseguia pensar com clareza, morrer parecia-me a pior das soluções para aquela dor.

- O que foi? – perguntou Christian, tocando com seu polegar o canto de meus olhos.

Sacudi a cabeça, e a lembrança do sonho perturbador de outrora preencheu meus pensamentos, deixando-me tão fria como um cadáver, como se não houvesse mais vida e calor dentro de mim.

Mordi o lábio inferior, contendo aquela vontade imensamente grande de chorar novamente. Não. Eu não choraria mais. Mas também não seria tão mesquinha e hipócrita a ponto de usar a única pessoa na qual posso confiar plena e inteiramente em uma vingança egoísta e sem sentido.

Não, eu encontraria outra maneira de confrontá-lo. Eu o faria sofrer com meu desprezo, com meu ódio. Mas não usaria os sentimentos que Christian nutre por mim para esse fim.

- Não foi nada... – sussurrei, baixando os olhos que ardiam de forma traiçoeira.

- Agatha... – ele me chamou com a voz suave, terna, cheia de um sentimento que eu conhecia muito bem: preocupação.

Depois levou seus dedos até meu queixo, sustentando meu olhar na mesma altura do seu. Christian ergueu as sobrancelhas, demonstrando que claramente sabia que algo estava me afetando, algo estava sendo remoído em minha mente e em meu coração.

Entreabri meus lábios, respirando lenta e suavemente, baixei meus olhos, fitando os lábios dele, lembrando-me de quando ele confessou que me amava. Lembrando da sensação daqueles lábios movendo-se nos meus, na minha pele, e meu coração acelerou.

Durante todos esses meses, todas essas semanas, ele tentara mostrar, de alguma forma, para mim, que estaria ao meu lado, sempre esperando, sempre aguardando que eu me decidisse, que eu tomasse aquela iniciativa.

Ele foi claro, prometeu que seria paciente, que esperaria que eu mesma decifrasse o que sinto por ele, que me sentisse pronta para me envolver com outra pessoa.

Eu fui tão tola. Esperei por... Esperei por ele durante todos esses meses, e olhe só o que consegui, apenas dor, lágrimas e mentiras. O oposto de tudo o que consegui com Christian nesses meses.

Ele me protegeu, ele foi franco comigo, ele me apoiou quando eu mais precisei, e me salvou de minha solidão depois de ter sido abandonada.

Engoli em seco, tentando decifrar o que sentia por Christian, classificando e enumerando cada diferença entre ele e o irmão.

Diferentemente de seu irmão, Christian nunca possuiu um passado negro. Sempre demonstrou ser uma pessoa boa e generosa. Disposto a ouvir ambas as faces da verdade antes de tirar conclusões precipitadas.

E isso o salvou, isso criou um forte laço com seu amor do passado. E embora a perda abrupta e violenta desse amor o tenha tornado numa pessoa extremamente explosiva e inconseqüente, ele ainda conseguia demonstrar um lado completamente vulnerável, uma face que necessita de compreensão e aceitação. Como uma brecha em sua armadura. Uma brecha que ele mostrou apenas para mim.

Christian nunca me machucou como o irmão dele o fez. É fato que uma vez ele me deixou na mão, mas depois retornou para me socorrer, arrependendo-se de tê-lo feito e compensando, abrindo-se comigo, salvando-me e protegendo-me.

Não havia dúvida. Se havia alguém que podia compreender a minha dor, esse alguém era Christian.

Então talvez o destino o tenha colocado em meu caminho. Talvez Christian fosse a pessoa certa para mim, eu apenas não consegui enxergar isso, porque estava cega de amor por alguém que nunca me mereceu.

Christian é bom, é corajoso, generoso... Talvez um pouco egoísta, mas... Ele nunca havia me ferido da forma como fui ferida por Ai... Por seu irmão.

Eu estava tão desesperada para me livrar daquela dor, tão disposta a esquecer o que havia acontecido no passado, que faria qualquer coisa.

Mesmo tendo a absoluta certeza de que meus sentimentos por ele – embora fortes e inegáveis – não fossem o amor que eu esperava e queria sentir, toquei sua face, afagando toda a lateral com a ponta de meus dedos.

Fitei a imensidão azul de seus olhos, lembrando-me de como aqueles mesmos olhos tornaram-se o meu refúgio nos últimos meses, apertei os olhos e crispei os lábios.

- Christian, você me ama? – perguntei a ele, sem rodeios, sem qualquer hesitação.

Por alguns segundos vi o choque atravessar seu rosto, os olhos azul-escuros arregalaram-se, mas depois tornaram a se estreitar, a mesma serenidade de sempre voltava a dominá-los, como o mar calmo e límpido.

- Por que está me perguntando isso? – ele devolveu minha pergunta com outra, embora seu rosto estivesse mais recomposto, eu podia notar a confusão ao fundo de sua voz.

- Apenas responda – pedi-lhe, sussurrando –, você ainda me ama?

Ele respirou fundo, desviou o olhar, apertando os olhos e comprimindo os lábios, mas quando tornou a me fitar, não havia dúvida alguma, não havia negação.

- Meus sentimentos por você continuam os mesmos, Agatha. Eles não mudaram.

Era o que bastava para mim. Era o que eu precisava saber. Só isso. Nada mais.

Então, sem ao menos avisá-lo de minhas intenções, ou do que pretendia, curvei meus lábios até os dele, puxando-o para um beijo tão intenso e urgente, que Christian foi pego com a guarda baixa, ele não estava preparado para o que eu queria, muito menos, o que meus lábios exigiam dos dele.

Senti no inicio a sua surpresa, o seu choque, e ele não respondeu de imediato. Passei os braços ao redor de seu pescoço, como um incentivo, invadindo seu espaço sem permissão, colando meu corpo no dele, deixando que seu cheiro se misturasse ao meu.

E então ele amoleceu, seu corpo – antes rijo – cedeu a mim, pouco a pouco, enquanto ele retribuía a pressão que eu exercia em seus lábios, enlaçando-me pela cintura, e finalmente entrando no meu jogo.

Ele fora claro no passado. Eu deveria procurá-lo. Eu deveria tomar essa iniciativa. Era nosso acordo secreto. E ele também havia deixado bem claro, que uma vez que eu aceitasse seu amor, ele não permitiria que eu o deixasse.

E era exatamente isso que eu desejava que acontecesse. Se a única maneira de esquecer meu amor do passado, é me apaixonando por outra pessoa, então eu faria de tudo para que meu coração permitisse a entrada de Christian.

Porque a única forma de me curar daquelas feridas, é amando outra pessoa, esquecendo tudo o que eu vivi no passado, apagando de meu coração seus vestígios que sangravam e me machucavam.

De agora em diante, não haveria mais qualquer resquício daquela antiga Agatha em mim. Eu seria uma pessoa completamente diferente, uma pessoa completamente inconseqüente. Eu não mediria mais as conseqüências de meus atos, eu não me importaria mais com elas.

E começaria naquele momento. Por que eu deveria me importar com meu futuro? Por que eu deveria me importar com a guerra? Eu seguiria meu coração rebelde. Eu seria rancorosa. Viveria cada dia sem pensar no amanhã.

Desse momento em diante, eu não estava mais nas mãos do destino. Não seria mais o seu fantoche. Eu não fugiria mais de mim mesma, não fugiria de quem eu sou. Eu aceitaria minha sina, aceitaria meu fardo.

Mas o mais importante, faria questão que Aidan visse o estrago que havia feito em mim. Queria que ele testemunhasse no que havia me transformado.

Eu recomeçaria tudo de novo. Mais uma vez. Eu enfrentaria o que quer que se atreva a cruzar meu caminho. Não me esconderia mais. Não fugiria mais como uma covarde. Se meu pai, meu avô, meu bisavô enfrentaram seus respectivos destinos, aceitaram de bom grado as conseqüências de seus atos, comigo não seria diferente.

 Não, não seria.

Tudo seria diferente a partir de agora.

E começaria nesse exato momento.

Eu farei de tudo o que estiver ao meu alcance para arrancar aqueles sentimentos repugnantes de dentro de meu coração. E para isso, encontraria uma maneira de aprender a amar Christian.

As pessoas costumam dizer, apenas um novo amor pode fechar as feridas deixadas por outro. E era exatamente isso o que faria.

Abruptamente, senti Christian enrijecer novamente, e então se afastar de mim, embora em seus olhos o desejo de continuar estivesse estampado.

Sua respiração encontrava-se entrecortada, dificultosa, e havia um brilho lascivo nos olhos.

- Agatha... – ele chamou-me, depois sacudiu a cabeça, cerrando os olhos com força, tentando reordenar seus pensamentos – muito mais caóticos e confusos que os meus, pelo visto – Não... – ele sussurrou, mas parecia querer convencer a si mesmo, e não a mim – Não posso me aproveitar de você agora, você está frágil, magoada, entendo que queira esquecer o que houve de qualquer maneira, mas... Não é certo.

- Quem disse que eu estou frágil? – retruquei, perfurando seus olhos com os meus, observando cada traço de seu rosto, o desejo presente em todo o seu ser, e mesmo assim, ele relutava.

Ele franziu o cenho, observando-me mais atentamente, tentando me pegar na mentira, mas não era uma verdade, era um fato, eu precisava esquecer Aidan, precisava arrancá-lo de meu coração de qualquer maneira.

- Eu entendo a sua dor, Agatha, acredite em mim, eu sei o que está passando. Ser decepcionada por alguém que você ama realmente machuca, dói muito. Mas, entenda, eu não quero que você se machuque mais...

- Você disse que ainda me ama. – o interrompi, invadindo seu espaço novamente, esperando que ele concordasse comigo, que ele desejasse desesperadamente fechar aquelas feridas em seu coração tanto quanto eu.

Ele suspirou, baixando os olhos azuis e brilhantes. E eu fiquei suspensa, no ar, em silêncio.

- Agatha, quando disse que esperaria por você, quando disse que aguardaria que você tomasse a decisão de vir até mim, era porque queria que você viesse pelos motivos certos. Porque me amava também. Mas agora é diferente. Entendo que você esteja magoada e ferida, que sinta essa necessidade de ferir meu irmão tanto quanto ele feriu você, mas não é certo... Isso só acabará machucando nós dois.

- Não é por vingança. – murmurei, envolvendo seu rosto, trazendo seus olhos para os meus novamente – Por favor, acredite em mim, não se trata de querer me vingar.

- Então é o que? – ele indagou, envolvendo meus pulsos com as suas mãos fortes e quentes.

Fitei a imensidão azul de seus olhos, aproximando minha face da dele, sentindo a respiração entrecortada dele chocar-se contra a pele de meu rosto.

- Eu quero o mesmo que você, Christian... – sussurrei – Apenas isso.

Ele devolveu meu olhar com a mesma intensidade, com o mesmo calor abrasador e cálido.

- E o que exatamente você acha que eu quero?

Ele estava cedendo novamente, cedendo a mim. O gosto da vitória era doce e inebriante em minha língua.

- Uma segunda chance para ser feliz. – murmurei, completamente convicta, completamente segura do que dizia.

Christian suspirou, baixando os olhos novamente. Ele sacudiu a cabeça novamente, reordenando seus pensamentos, pensando com clareza e racionalidade.

- Agatha, quero que você tenha absoluta certeza de que é isso que deseja.

- Eu já possuo essa certeza. – murmurei, desejando que ele cortasse aquela conversa fiada, ele achava que eu podia me machucar mais? Estava enganado.

- Não – ele disse-me, os olhos encarando-me decididamente –, você não tem. Você acha que tem certeza.

- Então, está voltando atrás no que disse? – indaguei, esgotando minha paciência, já curta.

Ele meneou a cabeça para os lados, os olhos encheram-se de uma compaixão e compreensão imensos novamente, e um meio sorriso brotou em seus lábios.

- Eu só quero o melhor para você. Quero que você seja feliz. E se você me escolher para fazer parte da sua vida, para partilhar esses momentos de felicidade, Agatha, eu tenho certeza de que não hesitaria dessa maneira. Mas nesse momento, você está frágil, vulnerável, confusa, magoada. E não seria justo se nos aproximássemos justo agora.

Apertei os olhos, duvidando de que ele realmente estivesse falando sério. Não o Christian que eu conhecia. Ele notou meu aborrecimento, pegou em minhas mãos, apertando-as gentilmente entre as suas e sorriu mais uma vez:

- Agatha, não existe nada que eu deseje mais do que vê-la feliz. Então, façamos o seguinte, darei alguns dias a você, para que pense com clareza, para que tenha certeza de que é isso que você quer, então quando você estiver plenamente convicta...

Christian interrompeu seu discurso, mas eu não precisava que ele o terminasse para saber seu desfecho. Quando eu tivesse essa certeza, nós podíamos ficar juntos.

- Quantos dias exatamente? – perguntei, não deixando de sorrir também, era incrível como ele sempre me tinha na palma de sua mão.

- De quanto tempo você precisar, eu lhe disse antes, sou paciente e sei esperar. Mas, por favor, pense muito bem antes de tomar qualquer decisão, Agatha, ações inconseqüentes e impensadas não a levarão a lugar algum nesse momento.

Não registrei a parte do sermão, mas me recusei a deixá-lo ir embora naquele momento. Tornei a abraçá-lo, deixando que minhas feridas fossem – ainda que temporariamente – fechadas e cicatrizadas.

Christian me dera um prazo, para que eu tivesse certeza de realmente o queria. Ainda que achasse desnecessário, afinal eu não tinha mais nada a perder, e se pudesse curar minhas dores nele, então eu não tinha dúvida alguma do que queria.

Mas jogaria pelas suas regras. Além do mais, havia descoberto outra maneira de ferir Aidan, uma que não envolvesse usar as pessoas, muito menos magoá-las.

Eu seria uma nova pessoa a partir de hoje, e definitivamente, não estava blefando.

Recusei-me a deixar meu quarto a tarde inteira, mesmo que Christian e Damien tenham me feito companhia na maior parte do tempo, ainda era difícil e doloroso aceitar aquela verdade.

O motivo de ter me enclausurado em meu quarto era porque não queria correr o risco – mesmo que ele fosse mínimo – de me encontrar com Aidan. Se o fizesse, na verdade, não sabia se seria capaz de controlar minha fúria.

Minhas feridas ainda ardiam, expostas e sangrando, e eu esperava que as dele também estivessem tão doloridas quanto as minhas.

Porém, conforme a noite caía, e o sol se punha no horizonte – soube disso porque observava o jardim ganhar novas cores, e o céu tingir-se se um alaranjado profundo com riscos rosados da imensa vidraça da janela – minha recusa diminuiu, até o ponto d’eu quase enlouquecer entre aquelas quatro paredes.

De qualquer forma, eu possuía algo importante para comunicar a Lucius, e para tal, teria de deixar a segurança de meus aposentos uma hora ou outra.

Então, abri a porta e deixei o cômodo silencioso em um rompante. Meu corpo foi dominado pelo medo naquele momento, mas não me dei por vencida, continuei caminhando, cruzando o corredor como um fantasma, descendo as escadas e depois me encaminhando até o escritório de Lucius.

Dei três leves e tímidas batidas na porta, criando coragem para levar a mão gelada e trêmula até a maçaneta e girá-la até tê-la aberto por inteiro.

A primeira coisa que meus olhos puderam visualizar foram os olhos, assustados e temerosos, de Lucius, cintilando como um letreiro em néon: perigo.

Ele levantou-se de sua cadeira, vindo em minha direção, e reconheci o motivo de sua cautela: Aidan estava com ele. Seus olhos castanhos dispararam para meu rosto, arregalados, depois ele já se levantava, o corpo parecendo querer vir desesperadamente em minha direção para poder se explicar.

E embora o meu desejo insano de estapeá-lo já tivesse baixado, minha fúria ainda queimava, no auge de todo o seu furor. Estreitei os olhos, fingindo indiferença, como se ele não existisse.

Tornei a fitar o semblante alarmado de Lucius, que vinha me receber. Quando ele me convidou para entrar, eu não hesitei, estaquei diante de sua escrivaninha, limitando meu olhar ao que estivesse a minha frente, ignorando todo o resto, como se fosse insignificante, indigno de minha atenção.

- A que devo sua visita, Agatha? – ele indagou, espalmando as mãos na mesa e não deixando de transparecer o seu alarde por nenhum momento.

Inspirei fundo, demorando demais para pensar nas corretas palavras, mas também ciente do impacto que elas teriam sobre Aidan. O que era, definitivamente, o meu objetivo.

- Lucius, eu já tomei minha decisão.

Vi que Aidan enrijeceu no canto do escritório, os músculos tensos, rijos, e a expressão de pânico emoldurou suas feições, ele nem mesmo respirava.

- Agatha, tem certeza? – Lucius me questionou, todo o seu ser relutava em aceitar a idéia de que eu já havia me decidido a respeito de sua proposta.

Assenti, e abri um largo sorriso, sentindo o gosto amargo da vingança, o mesmo gosto que me envenenava e sarava minhas feridas.

- Eu quero remover meu selo. – murmurei, completamente segura do que lhe comunicava. Essa era a minha decisão. E o meu modo de pagá-lo na mesma moeda.

Aidan não suportava o fato d’eu me envolver nessa guerra, mas era exatamente isso o que eu faria. Eu despertaria meus poderes, me tornaria um alvo para Ducian e sua corja, e principalmente, enfureceria Aidan.

- Não... – eu o ouvi sussurrar, e depois ele já estava ao meu lado, agarrando meu braço, virando-me para ele com um pouco de brutalidade.

E mesmo que por alguns segundos o medo tenha fluído por minhas veias, no instante que encontrei os olhos furiosos dele, os mesmos olhos que ocultavam tantas mentiras, minha coragem retornou, e eu o fitei, de igual para igual. Dois olhares furiosos e homicidas.

- Eu sei o que está pretendendo, você quer me atingir, não é mesmo? Quer me afrontar! E está disposta a tudo para isso, até mesmo morrer se for necessário! – ele acusou-me, os olhos fuzilando-me, raivosos, intimidadores, mas no fundo eu podia ver, embora não quisesse, que ele estava preocupado com o meu bem-estar, com a minha segurança.

Recusei-me a me comover com esse fato. Franzi o cenho e dei inicio a um perigoso jogo.

- Acha mesmo que me importo com o que você pensa? Sinto muito desapontá-lo, mas o mundo não gira ao seu redor! Se eu tomo essa decisão, é porque ela se deve exclusivamente a interesses meus!

Aidan aumentou a força que seus dedos exerciam em meus braços, trazendo-me para mais perto dele. Fiquei imóvel, dura em seus braços, como uma estátua de mármore, recusando-me a ceder.

Então, seus olhos amoleceram, a fúria desapareceu com a mesma velocidade que surgiu, e ele baixou seu tom de voz para um ininteligível sussurro:

- Não faça isso, Agatha, não dê esse passo. Não haverá volta se fizer isso...

Mantive-me ereta, inflexível, fria e impassível. Uma chama gelada queimava em meu coração ferido.

- Eu sei disso. – sussurrei, e ele soltou-me abruptamente, cerrou um dos punhos e socou a estrutura da mesa, partindo-a ao meio no mesmo instante, deixando-me completamente sem fôlego e assustada.

Mas seus olhos não tornaram a procurar pelos meus. Lucius que se mostrara alheio a nossa pequena discussão, pigarreou, exigindo minha atenção novamente. Eu o fitei, olhos arregalados, coração na boca.

- Bom, nesse caso, acho melhor começar os preparativos.

- Preparativos...? – repeti, um pouco aturdida.

Seus olhos amoleceram, e um sorriso singelo emoldurou seus lábios, enquanto ele fitava Aidan pelo canto dos olhos.

- Sim, quando não sabia de sua decisão, mandei uma carta a Solomon, contando tudo sobre você e pedindo a ele que retornasse, em todo caso, mas infelizmente ele está sendo espionado por caçadores a mando de Ducian e não pode deixar Florença sem alguma proteção a mais. Então, terei que ir buscá-lo.

Lucius fitou a figura silenciosa e soturna de Aidan, que estava com a fronte curvada, os olhos cerrados, sua voz era extremamente amistosa e gentil.

- O que acha de ir comigo, Aidan? Florença é uma belíssima cidade! E bom, devido a sua experiência e exímias habilidades, você seria um bom acompanhante.

Aidan o fitou apenas por alguns segundos, mas seu olhar era tão hostil, tão irritadiço, que o sorriso nos lábios de Lucius desapareceu no mesmo instante, e ele pigarreou, curvando sua fronte, claramente desistindo da idéia.

- Bom, acho que Christian pode ir comigo a Florença...

- Não faça isso, Lucius... – Aidan pronunciou-se pela segunda vez, os olhos coléricos, amargos – Não a envolva nessa guerra. – ele praticamente suplicava a Lucius.

Lucius franziu o cenho em resposta, ciente dos riscos, mas também ciente do que a aquisição de minhas habilidades poderia fazer.

- Aidan, entendo que para você é difícil, mas é uma defesa a mais que não posso me dar ao luxo de negar. Além do mais, se aprender a se defender sozinha, Agatha pode muito bem resistir à opressão de Ducian.

- Não, você não entende! – ele murmurou, cerrando os olhos novamente e trincando os dentes – Não entende o que ele fará a ela!

Depois sacudiu a cabeça e retirou-se tão rápido da sala que eu nem mesmo tive tempo de registrar.

- Agatha, você tem certeza de que é isso o que quer? – perguntou-me Lucius, os olhos crispados, os lábios comprimidos.

Assenti com a cabeça, muda, abalada. Era exatamente isso o que eu queria? Para ser franca, eu não tinha a resposta. Na verdade, eu não tinha nenhuma resposta. Nenhuma certeza. Mas era exatamente isso o que eu jurei a mim mesma, não me importar mais com as conseqüências.

- Bom, só espero que não se arrependa dessa decisão depois, afinal, não haverá volta.

- Eu sei... – sussurrei.

Retirei-me da sala alguns segundos depois, entorpecida, desconectada de mim mesma. Mas não arrependida.

Não queria voltar ao meu quarto. Precisava de ar fresco, precisava ficar ao ar livre, pensar com clareza, reordenar meus pensamentos.

Então fui até o verdejante e vigoroso jardim. Estava uma noite tão bela, tão fresca e agradável que realmente não havia motivo para eu retornar ao meu quarto tão cedo.

Decidi deitar-me sobre o capô de um dos carros estacionados ali, e observar os infinitos pontinhos cintilantes que agora brilhavam no céu escuro.

E ali fiquei, imóvel, os olhos perdendo-se na imensidão obscurecida, tentando encontrar algum sentido, alguma razão, para o que estava fazendo, como estava agindo.

A ferida em meu coração protestou, lembrou-me de como eu havia sido magoada, enganada.

E foi ali, olhando fixamente para o céu negro, observando as estrelas tão brilhantes e tão distantes, que eu recordei de minha pequena cidade natal.

O motivo de minha mãe ter se enfiado naquele fim de mundo fora unicamente para me proteger. Uma promessa que ela fez ao meu pai, pouco antes dele ser arrastado para a morte.

Agora que descobrira tudo, meu desejo de conhecê-lo somente aumentou. Meu pai foi um herói. E amava-me tanto que não hesitou em sacrificar a própria vida para que eu viesse a esse mundo.

E se fosse assim, bom, então eu não poderia permitir que seu sacrifício fosse em vão. Isso significava que, de alguma forma, eu precisava encontrar o meu próprio caminho.

Estava certa de que despertando meus poderes, eu poderia proteger aqueles que são importantes para mim. E essa possibilidade talvez fosse a única coisa nesse momento a fazer algum sentido em mim.

Não queria mais lutar contra a minha própria natureza. Queria ser apenas... eu.

Não uma garota indefesa e problemática. Mas uma guerreira destemida, disposta a se sacrificar a qualquer momento, uma que não poupasse esforços para salvar aqueles que lhe são importantes. Assim como meu pai foi um dia.

Talvez, esse fosse o meu caminho a partir de agora. Talvez fosse o único que restava para mim...

Mas antes, eu precisava me libertar de meu passado. Precisava apagá-lo de uma vez por todas. Eu escreveria meu próprio destino desta vez e me levantaria quantas vezes fosse necessário.

Porque talvez, este fosse o legado deixado por meu pai para mim. Um legado que eu farei muita questão de honrar. E fazer valer seu sacrifício.

Toquei meu ombro esquerdo, o local exato de meu selo, o selo, que nesse momento, era o único empecilho que me separava de meu novo caminho.

Instintivamente, uma lembrança, antiga e amarga, preencheu meus pensamentos, uma que, definitivamente, eu gostaria de apagar. Uma lembrança que eu não gostaria de recordar, não, não agora...

- Por que você sempre olha para ela? – perguntei, um pouco confusa diante de seu olhar obstinado e intenso.

Ele sorriu, abafou o riso e tocou meu ombro, o local de sua total atenção, embora eu não entendesse porque ele gostava tanto de admirar minha estranheza. Tudo bem, eu sabia que era estranho, afinal quantas pessoas no mundo possuem uma marca de nascença com formato próprio? E uma com formato de uma famosa lenda grega ainda por cima? Uma fênix? Não muitas...

- Não entendo por que você gosta tanto de olhá-la... – murmurei, baixando o olhar e encontrando o mesmo que ele: uma pele pálida, quase translúcida, e o desenho estranho e anormal.

- É porque ela é linda, assim como você... – respondeu-me ele, os olhos cintilando no mais belo e profundo brilho que eu já vi.

Revirei os olhos. A noite já havia caído, eu teria aula na manhã seguinte, mas mesmo assim, algo me impedia de adormecer, pelo menos por enquanto.

Já havia se passado quase uma semana do Baile de Primavera, e embora eu deva admitir que jamais me diverti tanto quanto naquela noite, as lembranças ainda me assombravam um pouco.

Quer dizer, eu já havia tomado minha decisão, eu estava ciente das conseqüências. Uma hora ou outra eu teria que me despedir dele... Mas ainda assim, saber que esse momento estava a nossa espreita e poderia vir à tona a qualquer segundo, deixava-me alarmada e inquieta.

Aidan tocou meu queixo, trazendo meus olhos até os dele, captando o meu estado de espírito melancólico. Ele apertou os olhos, ciente de minha tristeza.

- O que foi? – perguntou-me ele com sua voz abafada e suave.

Recusei a compartilhar com ele o motivo de minha inquietação repentina. Sacudi a cabeça, aconchegando-me mais em seu corpo quente e forte, fazendo dele a minha fortaleza.

- Não é nada... – sussurrei e sorri, esperando convencê-lo.

Mas quando se tratava de ler minhas atitudes, meus olhos, minha alma... Aidan era extraordinário, ele sempre sabia quando havia algo me incomodando, quando eu não estava... bem.

- Está pensando em quando terei que ir embora e deixá-la, não é mesmo?

Baixei os olhos, envergonhada. Eu havia prometido a ele... Havia lhe garantido que aceitara os riscos, aceitara as conseqüências, aceitara a dor a que seria submetida quando me separasse dele... Mas ainda assim, aquilo conseguia me perturbar.

- Não... Aidan, não é isso, é que... – fechei os olhos e suspirei, derrotada. A quem estava enganando?

Ele deslizou seus dedos de meu ombro até meu cotovelo, deixando uma trilha de calor no trajeto lento e suave. Depois, envolveu minha cintura, apertando-me contra si.

- Se eu pudesse lhe oferecer algo mais do que isso, acredite em mim, Agatha, eu faria de tudo para torná-la feliz. Mas... eu não tenho mais nada a lhe oferecer e é isso que me entristece, saber que nunca poderemos de fato ficarmos juntos.

- Eu não estou cobrando nada de você... – sussurrei, o rosto enterrado em seu pescoço, sorvendo seu cheiro – Nunca cobraria...

Ele afastou-se para me fitar nos olhos, seu rosto estava cauteloso, suas feições muito bem compostas, como o Aidan que eu conheci desde o primeiro dia de aula.

- Mas não deixa de ser uma verdade, não é mesmo? – ele questionou, os dedos brincando com a bainha de minha blusa.

Fiquei muda, calada, absorvendo suas palavras, que não deixavam de transmitir a verdade e somente a verdade. Jamais ficaríamos juntos de verdade. Uma hora ou outra o destino nos separaria.

- Eu jamais tiraria algo de você, Agatha. Como posso? – ele perguntou, fitando o nada, pensativo – Ainda assim, o que eu não daria para tê-la em minha vida para sempre? – ele voltou seus olhos para os meus, capturando meu rosto com sua mão quente, o olhar cálido, o rosto sereno, e eu sorri – Daria minha vida por isso...

- Eu não me importo com o amanhã, Aidan, só com o hoje, e se você está presente nele, bom, então não posso temer mais nada... – confessei, sentindo o calor de seu olhar em meu rosto intensificar-se.

- É exatamente por isso que jamais poderei tomá-la para mim, Agatha, hoje estamos juntos, mas e amanhã? Quem garante que eu não terei que ir embora amanhã, ou depois de amanhã? Mesmo que a idéia me machuque, eu sei que algum dia você encontrará alguém melhor do que eu, e essa outra pessoa poderá lhe oferecer o futuro que eu jamais poderei.

Silenciei seus lábios com meus dedos, impedindo-o de continuar falando aquela baboseira.

- Não importa quanto tempo se passe, jamais poderei amar outra pessoa... – confessei a ele, sentindo meu coração acelerar meu peito – Jamais abrirei meu coração para outro. Depois que você se for... – tomei fôlego, inspirando – Eu não deixarei que outra pessoa se aproxime de mim dessa forma.

Ele capturou minha mão que o silenciava, beijando as pontas de meus dedos delicadamente.

- Não faça isso, eu não tenho direito a isso, uma vida feliz e plena, mas você tem, pode casar, ter uma família, ver os filhos e netos crescerem, e talvez até os bisnetos... Tudo o que quero é que você tenha uma vida normal e segura até o último dia de sua vida.

Dei de ombros, libertando minha mão e levando-a até o seu rosto, sentindo a maciez de sua pele.

- Não importa, não mudará nada, Aidan. Eu sempre serei sua, e de mais ninguém. E eu prometo a você, que sempre estarei ao seu lado, independentemente do que aconteça, eu ficarei com você. Sempre.

Minhas palavras despertaram algo nele, um novo sentimento, talvez fosse contentamento, meu juramento de fidelidade, minha promessa de companheirismo o haviam atingido, muito mais do que eu sequer poderia imaginar.

E quando ele curvou seus lábios até os meus, eu me entreguei sem o menor pudor, sem a menor hesitação. Enquanto todo o meu fôlego era roubado, meu coração encheu-se de alegria.

Porque a verdade estava bem diante de mim, e não havia como negá-la: pertenceríamos um ao outro, por toda a eternidade. Até o dia de nossas respectivas mortes, e talvez, até mais...

A lembrança era dolorosa demais, perfeita demais, e isso me machucava como se uma navalha afiada deslizasse por minha carne, abrindo mais e mais feridas ao longo de meu corpo.

Eu não queria lembrar, não queria me recordar do que prometemos um ao outro, do que juramos solenemente. Não...

Eu precisava esquecê-lo, acima de tudo. Não havia outra maneira de me livrar daquela dor. Não havia... outro caminho para mim.

Eu já havia me convencido. Estava convicta, o perdão já era algo mui distante de mim. Fora de cogitação. O vazio e a tristeza agora eram meus companheiros.

E o que me restava... Bom, nada. Absolutamente nada. Nem mesmo nossos dias de felicidade poderiam ser preservados. Desesperadamente eu sentia a necessidade de arrancá-los de dentro de mim.

Porque minha tristeza seria infindável e insuportável se eu as continuasse remoendo. Essas lembranças felizes e plenas.

Por isso precisava curar meu coração. Precisava de um novo motivo para viver. Precisava de um novo amor.

Ainda que fosse impossível destruir aqueles sentimentos, eu faria de tudo, eu os sepultaria no fundo de meu coração, e jamais os ressuscitaria.

Esse era, de agora em diante, o meu objetivo, o meu caminho... O único que me restava.

Abruptamente, senti alguém se aproximar de mim. Tombei a face de lado a tempo de ver Christian subir no capô do carro e deitar-se ao meu lado, voltando seus olhos para as estrelas. Permaneci em absoluto silêncio, aguardando que ele se pronunciasse.

- Lucius acabou de me contar sobre a sua decisão. Estou muito feliz, Agatha. Mas, parece que... meu irmão não está aceitando muito bem.

Dei de ombros, sem desviar os olhos dos pontinhos brilhantes e intermináveis.

- Ele não tem que aceitar nada. Essa decisão só cabe a mim. – retruquei, um pouco zangada, mas já esperava por isso, de qualquer forma.

- Só espero que você esteja certa sobre isso.

Virei a face, vendo-o observar as estrelas despreocupadamente, até que seus olhos voltaram-se para os meus, preocupados.

- Você tem certeza, não é mesmo? – questionou-me ele, o rosto cauteloso.

Assenti, muda, e tornei a fitar o céu negro acima de nós dois. Christian soltou um longo suspiro, cruzando as mãos atrás da cabeça.

- Lucius e eu viajaremos para Florença.

- Quando? – perguntei, mecanicamente.

- Amanhã à noite. Não se preocupe, serão no máximo cinco dias. E você estará muito bem protegida.

- Não estou preocupada com isso... – sussurrei, embora não fosse em todo uma verdade.

Christian abriu um largo sorriso, um que chegava aos seus olhos, sinceros e despreocupados.

- Tudo dará certo. – sussurrou ele e estendeu uma de suas mãos para ajeitar uma mecha de meu cabelo, colocando-a atrás de minha orelha.

- Eu sei que sim. – respondi-lhe, e estranhamente meu coração acelerou, como se eu mesma não acreditasse nisso, baixei os olhos, sentindo aquela sensação esmagadora apoderar-se de mim – Christian... – eu o chamei novamente, e ele fitou-me, curioso, suspirei, cerrando lentamente os olhos – Eu só queria que você soubesse que sempre te considerei um confidente, um amigo. Você esteve comigo em tantos momentos difíceis e nebulosos para mim, bom, eu só quero que você saiba que...

Ele interrompeu-me, silenciando meus lábios com seu dedo indicador, um sorriso brincalhão nos lábios.

- Por que está me dizendo isso? Até parece que nós nunca mais nos veremos. Será por poucos dias, Agatha. Relaxe.

Engoli em seco, absorvendo suas palavras, uma de cada vez. E assenti, mesmo com aquela estranha sensação me consumindo por dentro. Como se nós dois estivéssemos prestes a nos... despedir...

Tudo dará certo, disse-me ele. Quiçá eu também pudesse ter essa certeza.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bom, é isso... Agatha está disposta a tudo para esquecer seu amor do passado, e para isso conta com a ajuda do Christian. Mas será que é isso realmente que ela quer?


Christian agiu certo, deu um tempo para que ela pensasse muito bem nesse assunto. Afinal, ele não quer que ela se magoe.


Agatha decidiu pegar pesado com o Aidan, aceitou a proposta do Lucius e agora quer remover seu selo. Mas será que dará tempo?


Grandes mudanças estão vindo! Sim, teremos mais uma grande reviravolta e eu já começo adiantando um pequenino spoiler: tem um traidor em Ephemera! Quem será ele?


E a Agatha já está sentindo que em breve se despedirá do Christian...


Próximo capítulo, uma surpresa em relação ao Aidan, teremos a Stella dando uma dura na Agatha e a viagem do Christian e do Lucius!


Só espero que minhas reviews retornem, senão eu demoro de novo para trazer o próximo! Sim, eu serei má a esse ponto e justo quando as coisas estão prestes a pegar fogo por aqui!


Quanto às atitudes(burradas)da Agatha, não se preocupem, pq ela consertará tudo! Fora que ela vai comer o pão que o diabo amassou em breve!


Até a próxima...


REVIEWS??? SIM OU NÃO???


Beijinhos!!!!