Perspectiva escrita por mamita


Capítulo 7
Noite de núpcias




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PDV Emmet

Saímos em direção à casa de campo de Tânia, numa região inóspita e montanhosa de Denali no Alasca (país onde morávamos). Era um pouco desabitada, mas extremamente exuberante com suas cordilheiras de montes enregelados e selvagens, isso significou 4 horas de viagem por estradas “abertas a facão” como dizem. Não sei como o carro agüentou.Durante o percurso ficamos quase o tempo todo em silêncio, o nervosismo dela era quase palpável e eu me questionava se consumar o casamento não seria o oposto de provar meu amor.

Mas Carlisle tinha razão sobre o fato dela ser determinada, e a esta altura se eu não a procurasse acharia que não a desejo pela sua história, (o que não era o caso) se sentiria em falta comigo e ficaria frustrada.

Ocorreu-me que não era só ela que estava nervosa, meu próprio estado de ansiedade me deixava parcialmente fora de controle. Como toda pessoa fora de si eu comentei o clima, depois a paisagem e por fim a cerimônia, ela me respondia por monossílabos ou gesticulando sutilmente com a cabeça.

Quando enfim avistamos o chalé que mesclava o ar rústico da floresta e a feminilidade dos contos de fada, eu senti que ela arfou. Na verdade talvez a escolha do lugar tenha sido parte do plano de meus pais. Eu sou um homem das montanhas, cresci na região dos Apalaches onde a vida se organiza em torno delas. Para me defender, não somos descendentes de irlandeses incautos que correm de carros achando que são as bestas do apocalipse ou dos trens achando que são as mães das bestas do apocalipse. Sendo assim, usamos idiomas e não gritos pré-históricos para nos comunicar. Gostamos de ir à escola, valorizamos a educação e recebemos de bom grado a modernidade.

Apenas sabemos usufruir dos benefícios da floresta, como a paz e a sabedoria de falar apenas o necessário. Devo confessar que não somos amantes das filosofias, mas pelo simples fato de sermos por natureza pragmáticos.

Na montanha não se tenta teorizar o canto dos pássaros, você senta, escuta, reconhece que é lindo e pronto. Não há tempo para as teorizações, é praticando que se apreende o universo e suas relações. Ninguém nos apresenta um manual de como caçar, nos levam para carregar o peso quando pequenos, quando concluem que já estamos pronto nos entregam uma arma e dizem: Atire!

Não somos “montanhas de músculos” com um cérebro inversamente proporcional ao tamanho de nossos corpos, como os trasgos ou ogros de histórias fantásticas. Apenas reservamos nossas forças e sabedoria para o que de fato é importante. O real é importante. E a realidade imediata para mim agora é fazer com que meu amor por ela se traduza em uma sensação de segurança e respeito que a envolva e a faça sentir que ser desejada é algo bom.

Olhando para o imóvel inacreditavelmente incrustado no cenário, como se fosse também criação da natureza, eu me senti confortável e em casa.

Ela desceu do carro e andou devagar para o chalé, olhou para mim. Eu a detive antes que entrasse e como de costume a carreguei. Ela parou no primeiro degrau da escada que dava acesso ao andar superior e pediu com uma voz vacilante:

- Dê-me apenas alguns minutos para que eu me prepare, antes de subir. Eu aviso quando estiver pronta. Antes, por favor, pegue a minha mala no carro.

Eu lhe entreguei a mala e em pé mesmo, esperei. Enquanto ela não se manifestava e contrariando todos os meus pressupostos comecei a fazer uma prece. Pedi a Deus que me desse o controle de ser gentil e delicado com minha esposa. Que nosso casamento fosse um meio de superação de suas dores e não um elemento que agravasse a situação.

Então ela falou:

- Emm, pode me ajudar com o vestido?

Eu subi e ela estava de costas para mim. Quando entrei, ela completou:

- Não quero estragá-lo rasgando-o, pois Esme o fez com muito esmero. Mas não consigo abrir todos os botões.

Notei que ela não conseguia apenas pelo nervosismo e pensei: Bendita Esme. Era a minha deixa.

Eu a abracei por trás e sua cabeça pendeu tocando meu ombro, então eu falei com suavidade, mas com muita ênfase:

- Não precisa ficar nervosa, amor. Se não deu para perceber ainda, EU TE AMO.

Não se sinta na obrigação de ter relações comigo, não precisamos disso para saber que nos amamos.

Senti seu corpo relaxar em minhas mãos e então eu a virei para que pudéssemos nos olhar diretamente. Ela fechou os olhos e me deu um beijo suave, mas cheio de afeto. E eu pedi:

- Abra os olhos Rose, por favor. Vamos fazer assim, eu vou desabotoar o vestido e depois sair. Você se troca e nos encontramos na sala, de lá vamos para a floresta nos sentar ao pé de alguma árvore e conversar sobre nosso casamento, ou qualquer outra coisa que você quiser.

Ela sorriu e me deu outro beijo. Estava difícil manter o plano, talvez ela não saiba as sensações que isto desperta em mim. Beijar a mulher mais linda e perfeita do mundo mortal e imortal tira qualquer um do sério. Desta vez não me pareceu que passou muito tempo até ela descer as escadas.

Ela trajava um vestido branco que destacava a silhueta de seu colo e depois da cintura se abria em pregas e usava uma sapatilha. E inesperadamente um enorme sorriso no rosto. Ela veio em minha direção, beijou minha bochecha, segurou meu braço e perguntou:

- Podemos ir, marido?

Claro que eu assenti. Saímos para a noite enluarada das montanhas e andamos de mãos dadas até um lago próximo que conhecíamos devido à recente visita em família à região. Nos juntamos aos Denali para a comemoração do aniversário de casamento de Eleazar e Carmem.

Ela se sentou sobre um tronco de árvore tombado próximo ao lago e me chamou para acompanhá-la. Quando me juntei a ela o velho tronco se quebrou me fazendo cair e ela cair por cima de mim. Eu notei neste momento que, pela primeira vez desde que a conheci, ela estava verdadeiramente feliz. Seu corpo quase convulsionava devido às gargalhadas que brotavam naturalmente em seu momento de total descontração. O movimento dela sobre mim despertou o desejo que tentava conter e seguindo meu instinto eu rolei sobre ela e a beijei sem pudor. Não percebi sua reação, no momento eu não queria perceber, apenas obedecia à enorme paixão que me consumia. Mas ainda assim meus ouvidos captaram seu arfar.

Eu parei e olhei para seu rosto, era um misto de choque e pavor. Minha primeira reação era me afastar, eu me sentia um monstro por ter prometido respeitá-la e logo depois atacá-la. Ela obviamente pensaria que eu lhe levei para uma armadilha.

Mas me lembrei do conselho de Carlisle:

- Nunca se afaste completamente.

Rolei novamente, ficando assim ao seu lado, depois segurei sua mão e disse envergonhado:

- Por favor, amor, me perdoe. Eu reagi à situação e me deixei levar pelos instintos. Não queria machucá-la, nem forçá-la a nada.

Eu imploro seu perdão Rose. Não agirei assim, isso não irá se repetir. Eu prometo.

Senti aos poucos a respiração dela se acalmar, então ela disse:

- Desculpe a mim. Todo marido tem direito a uma noite de núpcias e mesmo depois de todo o amor que me deu, eu ainda não sou capaz de te oferecer isso.

Estou me esforçando Emm, eu juro que estou. È só que... (Ela gaguejou e envergonhada terminou)

Não consigo, me perdoe.

Então ela chorou (um pranto amargo e sentido) e eu me senti a pior pessoa do mundo. Me virei de lado para ficar de frente para ela sem soltar nossas mãos e pedi que ela fizesse o mesmo. Ela o fez, mas ainda assim não conseguiu para de chorar.

Depois de um tempo o pranto cessou e eu disse:

- Olhe para mim. Não é culpada de nada, Rose.

Quando lhe propus casamento eu tinha absoluto conhecimento de seu passado e sabia que este aspecto não seria fácil. (Eu disse nervoso tentando não lembrá-la de meu rompante)

Eu prometi a você respeitar seu momento e dadas às circunstâncias, eu fraquejei. Quem deve desculpas sou eu.

Ter uma noite de núpcias para mim não é um direito implícito pelo casamento. Me casei com você por que te amo e não para que fosse impossível para você negar-se a mim.

Não é obrigada a nada, nenhuma mulher é.

Ela sorriu e disse:

- Eu não te mereço, não mesmo. Espero que te amar desta forma seja o suficiente para compensá-lo.

Depois ela ponderou muito e tentando disfarçar uma expressão torturada disse:

- Amor, eu não sei se um dia vai ser fácil, não posso te garantir que um dia estarei pronta. Eu tenho este defeito (e dito isto ela colocou a mão direita sobre seu peito) e não sei se tenho forças o suficiente para consertá-lo.

Edward diz que eu não fiz esforço para esquecer. Na verdade, que me obriguei a lembrar e ele tem razão. Agora sou escrava dessa memória, meu corpo é escravo da lembrança e sem que eu autorize, ele reapresenta tudo ou reage.

No meu coração eu quero ser sua, sou como qualquer noiva. Temerosa da intimidade física, mas desejosa de se entregar ao amor de sua vida e ser uma com ele.

Eu quero te amar com meu corpo Emm. Só que é meu coração que quer, meu corpo continua com medo.

Isso é tão frustrante.

Ela tomou fôlego e prosseguiu em sussuros:

- Se quiser podemos anular. Existem outras vampiras no mundo que podem te oferecer muito mais do que eu. Eu não vou me zangar, eu posso entender.

Só me perdoe por ter nos levado a isso.

Eu não consegui sequer reagir. Edward estava errado, ela conseguia sim retribuir meu amor, ela até me amava mais. Ela conseguia abrir mão de mim por minha felicidade, eu jamais consideraria a possibilidade dela ser de outro, nunca.

Então eu fiz minha razão reagir e disse:

- Rose, não existe mais nenhuma mulher no mundo. Meus olhos só enxergam você.

Não tem defeito nenhum e mesmo que nunca compartilhemos de intimidade eu ainda assim desejo ser seu marido, dividir com você minha eternidade.

Vamos voltar para o chalé, podemos conversar lá.

- Ainda não. Ela pediu

 - Creio que estou sendo injusta com você. Só há uma forma de entender o que quero dizer sobre não conseguir e isso envolve contar uma história triste e indecorosa. Não queria fazer isso, me envergonha muito, mas é necessário.

Tem certeza que quer ouvir?

- Não essa noite. Não quero que associe nosso casamento a um momento de tristezas. Esse é um dia para celebrar nosso amor.

Então contra todas as expectativas ela rolou para perto de mim e se aninhou. Colocou a cabeça em meu peito, me envolveu com um de seus barcos e disse:

- Eu me casei com você por que tem sorisso de covinhas...

Ela me disse todas as coisas que amava em mim, o que achava engraçado. Narrou todos os nossos momentos, até os mais bobos. Como o dia em que fomos a um parque colorido e eu acertei uns tiros em uns patinhos (realmente difícil para um vampiro) e ganhei um ursinho de pelúcia para ela.

Depois de ressaltar como a memória pode ser boa eu me senti na obrigação de fazer minhas confissões também e quando nos demos conta o dia amanheceu.

Dissemos ao mesmo tempo:

- Vancouver, balsa, Edward esperando. E rimos de nosso pensamento desconexo, mas sincronizado.

Quando chegamos lá o telepata nos esperava. Ele reclamou que teria de lavar o carro e que nos atrasamos um pouco. Sua cara era de: “Como foi a noite?”, mas ele não teve coragem de perguntar. No entanto eu imaginava a angustia que devia estar assolando nossos pais e disse em pensamento:

- As preocupações foram desnecessárias, tivemos uma noite muito agradável.

Relembrei a expressão exultante dela enquanto caminhávamos de volta ao chalé. Sabia que ele conseguiria descrevê-la melhor do que eu.

Ele se despediu de nós e disse:

- Nos vemos em breve, como combinamos.

Quando a balsa havia se afastado o suficiente para que ele não ouvisse meus pensamentos eu pedi desculpa a Esme e Carlisle, mesmo sem eles não estarem presentes. Mas não era preciso que eles se angustiassem por este assunto, já que decidi não tocá-la mais. Quando minha mente havia achado paz suficiente para vivermos um casamento assim e ter a certeza que eu era imensamente feliz em minha relação. Que o simples fato de estarmos destinados a compartilhar a eternidade juntos e nos amando com esta intensidade me fazia o homem mais feliz do mundo.

Eu a abracei e fomos assim quase todo o percurso, desfrutando a companhia um do outro.


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Notas finais do capítulo

Bom, espero que não esteja, frustrados. Prometo que mais alguns capítulos e teremos um vulcão.