Hidden escrita por jduarte


Capítulo 75
Inabalável - Bônus: Capa!


Notas iniciais do capítulo

desculpem a demoraaa!! Ah, a capa da Strangers ficou pronta, graças às Damasdophotoshop :D
Tnx!
Espero que gostem!
Beijoooos,
Ju!



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– Você não parece do tipo de garota que acredita em um estranho.

Fechei os olhos, e inspirei. Ele estava me irritando um pouco.

– Eu... Esquece. – comecei.

Astif sussurrou.

– Desculpe. – ele disse quando comecei a me afastar.

O olhei assustada, como assim: “Desculpe”? Ele acha que sou o que? Um cachorro? Que quando ele chamar estou ali, pronta para lhe servir? Poupe-me!

Não importava.

O empurrei levemente nos ombros para poder passar, e ele gemeu de dor. Estreitei os olhos, e puxei seu colarinho, para poder ver melhor. Além de ter um braço definido que acabou me deixando sem ar por alguns segundos, havia uma quantidade imensa de cicatrizes, e uma gaze no ombro. Tracei algumas de suas cicatrizes com os dedos, e ele tremeu.

– Acho que não sou a única que tem segredos. – disse.

Astif fez uma careta de desgosto.

– É acidente de trabalho. – disse ele puxando o colarinho para cima.

Resmunguei. Aquilo estava longe de ser acidente de trabalho. E não era somente o braço que tinha cicatrizes, mas também a boca, e os punhos.

– Eu não vou contar pra ninguém que você é uma deles. Mas somente com uma condição. – disse ele.

Suspirei esperando pelo pior, como ter que me disfarçar e acabar com todos os humanos, ter que costurar a boca, sei lá! Qualquer coisa dolorosa.

– O que?

– Nunca vai me procurar.

O encarei quase como se ele tivesse me ofendido com o mais xulo dos palavrões. Um soco no nariz e um aviso me deixariam menos ofendida.

– Por quê? – retruquei.

– Eu sou a pior pessoa nesse momento. – disse ele cruzando os braços, fazendo seus músculos ficarem mais aparentes, e eu ter uma pequena crise para achar o ar.

– Não! Você não sabe o que eu estou passando nesse momento, coisas que eu não gostaria de ter vivido, esquecido. Se isso é mais uma brincadeira, sinto lhe informar, não é nada legal! – me irritei.

Ele só podia estar de brincadeira com a minha cara, pensei rolando os olhos nas órbitas.

­ Camila... – quando ele disse meu nome novamente, meus joelhos fraquejaram, e quase me entregaram.

– Já disse que não! Não posso perder mais ninguém... – sussurrei.

Astif se virou, quase querendo fugir, e isso me acertou em cheio no estômago.

– Eu ouvi. Não vou sumir, mas... Não me procure, e nem à Adam.

– Covarde! – gritei.

Ele se voltou, com os olhos quase derramando pura raiva.

– Você não sabe o que eu passei, para quase morrer na praia, Camila. Não sabe o que eu tive que enfrentar. – ele sussurrava ameaçadoramente.

Inspirei profundamente, tentando manter os olhos fixos nos seus, mas o tom de sua voz me fazia querer chorar.

– Não me chame de covarde, se não tem nenhuma prova disso. – ele terminou fungando, quase perdendo o ar.

Ri com desgraça.

– Você pode estar certo, é melhor não te procurar mesmo. Uma pessoa do seu nível deve ser solitária, deixada de lada, exumada do mundo. Parabéns, idiota, perdeu a única garota que teve vontade de conhecer você realmente.

Ouvi-o engolir seco.

– Sabe que não foi o que quis dizer...

O cortei no meio da frase. Se ele não queria ficar comigo, porque não havia falado então? Ficar criando expectativas em mim...

– Sei bem o que quis dizer. – disse rude, o empurrando para longe, e andando para longe.

Ele bufou, e o ouvi socar a parede com raiva.

Naquela situação, a última coisa que eu queria me preocupar agora, era com a mão de Astif. Se ele a tivesse quebrado, azar, teria de achar outra pessoa para ajudá-lo nas tarefas. Pessoas rudes não tem vez comigo.


As semanas passaram, sem complicações, perguntas, ou coisas idiotas. Rubens teve alta do hospital, e se comportava como um adulto. Isso me incomodava, por que em partes, ele era mais responsável do que eu. Bem mais!

– Você não cansa de ser tão chato? – perguntei tentando fazer graça.

Ele riu sem humor, pegando um pouco do sorvete que comia, passando em meu nariz.

Eu não tinha como revidar, não tinha nada nas mãos, a não ser o controle da TV, e definitivamente não descontaria minha raiva nele com isso.

– Não. Adoro te ver irritada. – sussurrou enfiando mais uma colher na boca.

Revirei os olhos nas órbitas.

Mamãe desceu as escadas, e bateu com uma colher de pau suja na cabeça de Rubens.

– Pare de atormentar sua irmã. – disse ela.

Rimos. Na verdade, mamãe não estava indo muito bem com essa coisa de mãe. Ela era mais livre, mais selvagem, mais misteriosa.

Não pudemos conversar sobre ela ter fugido de nós, mas o clima em casa estava tão bom, que eu não tinha coragem, e nem vontade de falar sobre isso.

Meu pai estava no escritório, como sempre, e já que voltamos à morar no casarão de antes, estava mais fácil para nos acostumarmos com a volta deles.

Eu e meu irmão nos olhamos, achando aquela situação muito estranha. Foi quando ouvimos um barulho alto de onde meu pai estava, e minha mãe correu para socorrê-lo. Ouvi um palavrão, e estiquei ainda mais a audição, para poder compreender o porquê do palavreado de baixo calão.

Mamãe estava mexendo em papéis, e papai andava de um lado para outro.

“Eles não vão parar de procurá-la, Lilian. Nem depois de todo esse tempo!”

Agucei ainda mais o ouvido, tentando captar algo diferente em seu tom de voz. E definitivamente tinha alguma coisa. Algo como... medo. Pavor?

Ouvi minha mãe suspirar, batendo as mãos na calça.

“Você não pode ter certeza disso, Andrew. Ela é só uma criança, e está tão mudada, eles não vão a reconhecer! Ela é a arma que nós temos contra eles. Não estrague tudo agora por causa de uma notícia de jornal.”

Eles? Quem são eles?, perguntei mentalmente.

Meu irmão não tinha uma audição tão aguçada quanto a minha, mas ainda sim conseguia ouvir parte da conversa, vagamente.

“Ela pode ser a nossa salvação, Andy. Não fique irritado com nada. Eles podem desconfiar. Quando chegar a hora contaremos à eles.”

A confusão estava de fato, desfeita. Eles iriam nos contar que eu era uma arma? Como assim uma arma? O que eles pretendiam fazer comigo? Me vender para o governo era uma boa opção, mas eles não seriam tão hipócritas à ponto de vender a própria filha, seriam? Tudo bem que eu não havia puxado os olhos azuis de meu pai, ou o cabelo loiro reluzente de minha mãe, mas minha avó – pelo que eles haviam me falado – tinha cabelos e olhos escuros.

“Sim. Mas e se eles a acharem? Vamos perder a cabeça! E Rubens? Como vai ficar sozinho?”

Um suspiro alto foi escutado de longe, e pude deduzir que vinha de meu pai.

Quando dei por mim, estava na frente da porta entreaberta, e a encarava. Era tudo muito estranho. Eles pareciam estar escondendo algo.

Mamãe foi a primeira a se recompor, e me dar um sorriso largo.

– Está tudo bem, querida? – perguntou ela.

Eu a amava mais do que tudo, mais do que minha própria vida, mas esse amor todo não deixava essa muralha que havia entre nós. Uma muralha quase intransponível, e que me ameaçava toda vez que eu chegava perto. Isso me deixava com medo.

Forcei um sorriso e um medo me afligiu.

– Sim. – tentei falar sem nenhum pingo de medo.

Ela botou uma mecha de meu cabelo atrás da orelha, e eu tremi com isso, como se sentisse repulsa.

– Está tudo bem mesmo? – perguntou novamente, como se quisesse me testar.

Ergui o queixo, e a encarei.

– Sim. – disse mais firmemente.

Ela sorriu mais largamente, e depositou um beijo em minha bochecha.

Meu pai continuava lá dentro. Tinha que inventar alguma desculpa para ele sair de lá, e poder vasculhar o que tanto lhe perturbava.



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Notas finais do capítulo

continua???