Hidden escrita por jduarte


Capítulo 36
Superada


Notas iniciais do capítulo

cadê os leitores gatões hein? Já preparei mais uns... oito capítulos, mas não vou postar tudo de uma vez, sabe porque? Porque os leitores estão comentando muito pouco, e sim, eu sou carente! *snif*
Então, ai vai mais um.
Beijoooos,
Ju!



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- Camila? – perguntou Davil tirando-me dos meus devaneios ridículos. – Por acaso ouviu o que eu falei?

   Balancei a cabeça negando.

- O que?

- Seu amigo, o tal de Norbert, está hospitalizado em observação. – disse ele.

      Meus olhos instintivamente se arregalaram.

- Isso é impossível! Quer dizer, me disseram que o gás da “bomba” – fiz aspas com os dedos. – só afetava aos mutantes!

   Remi olhou-me significamente.

- Então ele é um mutante. – disse.

   Isso fez com que minha vontade de dar risada rasgasse o silêncio do aposento em uma engasgada legal!

- Isso é... Ridículo! Ele é um... Quer dizer, ele não é um monstro! – apesar de ter o comportamento de um, completei mentalmente.

   Davil revirou os olhos nas órbitas, muito cético para falar alguma coisa. Enquanto ele mexia em algumas papeladas que se encontravam em sua mão, e às vezes coçava o queixo com uma penugem de barba recém-crescida.

   Engasguei e por alguns segundos esqueci-me de como se respirava.

- Sério? Bem, ele desmaiou em um gás que só era para afetar os mutantes. Tenho quase certeza de que ele é sim um mutante. – disse Remi revirando juntamente com seu Davil os papéis em suas mãos.

   Andei até eles mais interessada do que nunca. O que seriam na verdade aqueles papéis que eles tanto mexiam? Tomara que não seja algo muito comprometedor em relação ao meu passado, pensei quase me desesperando.

- Se você quiser ver com seus próprios olhos, ele está em uma das salas ao norte. – Davil deu uma parada para sufocar um espirro ou algo do gênero. – Sala número 451, ala norte, classe baixa e pública. Acho que não terá problema de você lhe fazer uma pequena visitinha a ele.

   Meus olhos ficaram meio embaçados.

- Estou recebendo alta? – perguntei.

   Remi olhou para mim como se estivesse falando com algum tipo de pessoa com problemas mentais, ou uma criancinha.

- Você nunca precisou de nenhum tipo de médico. Você tem um tipo de auto-cura que faz seus ferimentos se curar mais rápidos do que de qualquer pessoa.

   Olhei para ele como se ele tivesse pés de galinha, cabelo de nuvem, e fosse azul.

- Você só pode estar me zoando. – sussurrei apertando a ponte do nariz, e andei sem paciência até a porta, abrindo-a com um pouco de brutalidade.

- Aonde você vai? – perguntou Davil fechando a pasta e jogando-a na cama recentemente arrumada, e cruzando os braços.

   Remi revirou os olhos de uma maneira dramática, pegou a pasta com os papéis, e olhou para nós dois dizendo.

- Estou indo visitar um paciente. Até.

   Quando ele saiu, Davil sentou na poltrona ao meu lado, e apoiou uma das mãos em cima do que parecia ser uma mesinha de canto, como se estivesse segurando algum tipo de garrafa, copo, eu sei lá.

- Eu quero uma água. – disse ele.

   Fiquei pasma.

- E por algum acaso tenho cara de garçonete? – perguntei colocando as mãos na cintura.

- Não. – respondeu prontamente. – Você pode materializar qualquer tipo de coisa que quiser. Desde flores, até dinossauros.

- É o que? – perguntei sem acreditar. – Duvido que eu possa materializar um dinossauro!

   Davil passou a mão no rosto como se estivesse limpando algum rastro de suor incomodativo.

- Desde que queira, pode até materializar Bernardo. – disse ele.

- Como você... – comecei a formular muito lentamente a pergunta em minha cabeça – como se eu estivesse dopada ou com sono –, porém ele foi mais rápido.

- Tá na cara. O jeito que você olha para ele incomoda muita gente, e o jeito que ele abraça você, beija sua testa, e promete coisas impossíveis atrapalha todo mundo. – disse Davil.

- Isso é mentira! – retruquei.

- Sério? Uma parte da sua mente oca diz que é verdade.

   Fiquei com um nojo extremo dele.

- Você não é um mutante leitor de mentes para saber o que eu estou pensando.

- Nisso você tem razão. – disse Davil quase me convencendo de que deveria acreditar nele. – Mas, - oh, droga, ainda tinha um mais nessa história? – você é muito fácil de ler. Quase como um livro infantil de poucas palavras e muito simbolismo.

   Aproximei-me dele.

- Você não me conhece. – disse entredentes.

- Não mesmo. Que tal usar esse tipo de raiva para materializar uma água? Ainda a quero.

   Assenti não sabendo a real razão pela qual fiz esse gesto, mas foquei toda a minha atenção em materializar a droga da água. Imaginei o copo de vidro reluzente e cristalino, com a água fresca dentro. Apertei os olhos ainda mais quando outra imagem veio em minha mente.

   A imagem era tão realista, que doía até a alma.

- Eu não queria saber isso.

- E eu também não queria saber que não tenho chance alguma com você. – disse Adam.

- Eu não disse que você não tem chances.

- Mas também não disse que eu tinha. – rebateu saindo pela porta sem nem dar adeus.

   A lembrança foi como uma lâmina afiada corroendo meu ser, e deixando rastros de gelo por onde passou, foi como a morte passando seu dedo longo, torto e pálido por meu rosto, delineando cada pedaço de meu rosto, e depois perfurando meu coração com uma adaga de ferro queimado.

- Se concentre na água, Camila. – exigiu a voz de Davil muito perto de meu ouvido esquerdo, e ao mesmo tempo tão distante.

   Foi difícil voltar a me concentrar na água gelada, fresca e que tinha pequenas e grandes gotículas que escapavam para fora do copo de vidro.

   Imaginei, por um breve estante, somente o copo pairando ao vazio, flutuando no vácuo, e depois tive de me concentrar em despejar a água vinda do nada dentro daquele copo. Com um movimento suave e em câmera lenta, pude ver a água sendo colocada gentilmente no copo. Suas “ondas” mínimas batendo na lateral do vidro, e voltando como se nada houvesse acontecido... Foi mágico e estranho.

- Eu a quero em minha mão. – ordenou Davil.

- Não me pressione se não, não consigo.

   Ele riu.

- E como será se em uma guerra te pedirem uma arma e estiver barulho? Eles não vão sentar para comer uma torrada e esperar você materializar a droga da arma! – exclamou.

   Foquei em manter a voz de Davil longe, e materializar sua preciosa água em sua mão aberta na mesinha de canto.

- Muito bom. Com mais um pouco de prática, e irá materializar móveis, automóveis, casas e o que você quiser.

   Abri os olhos doloridos por causa do – literalmente – aperto, e constatei que a água estava intacta na mão de Davil, e este sorria satisfeito.

- Vai dizer que eu não sou um ótimo professor? – perguntou ele todo convencido.

- Como eu consegui fazer isso? – perguntei afundando no chão, cansada demais para continuar.

- Lembra que eu estudei sua espécie em Michigan?

   Assenti colocando a cabeça entre os joelhos.

- Este é só um dos poderes que você pode aprender e dominar. – disse ele tomando um belo e lento gole da água. – Uh, geladinha! – surpreendeu-se.

- Cale a boca. Posso sair? – perguntei já irritada.

- Claro. Ah, mais uma coisa: treine isso duas vezes por dia, e em algumas semanas estará materializando clones. – disse ele.

   Levantei do chão, e saí sem dar nenhum tipo de satisfação para onde eu iria.

- Para onde eu vou mesmo? – perguntei a mim mesma.

   Coloquei as mãos na cabeça, e tentei lembrar as conversas há pouco. Ele disse algo em relação a ir até a geladeira? Não, acho que foi algo como ala norte, número 451, classe baixa e pública... Algo desse tipo, pensei.

   Ala norte, 451. Ala norte, 451. Não posso esquecer!

   Depois de alguns minutos, excruciantes devo acrescentar, cheguei à porta branca com os números colados – grudados, perfurados, lambidos, ou seja, lá como foi que eles o colocaram lá – na porta. O número 451 estava desgastado e quase sem sua tintura prata, que deixava aparente a ferrugem marrom e meio alaranjada por baixo, e também deixava aquele lugar perto da porta com o cheiro de ferrugem e algo mais. Algo indescritível.

   Bati na porta algumas vezes, mas como ninguém a abriu, eu entrei logo. Já estava na lama mesmo, que mal faz afundar um pouco mais?

   Minha visão ficou embaçada quando eu entrei. O quarto era muito mais puído e escuro do que o que eu estava. Os lençóis que envolviam o corpo de Norbert eram velhos. Enfim, o corpo de Norbert estava praticamente descoberto, mas nada muito horripilante e nem gélido como a morte, então, cheguei mais perto dele, e puxei as cobertas até que elas cobrissem seus ombros, e antes de cobri-los, percebi que havia algo como uma agulha em seu braço, e por ela passava um soro espesso de cor prateada e com algumas coisas azuis em seu conteúdo.

- O que é isso? – perguntei para mim mesma.


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Notas finais do capítulo

continua?