Eu havia acabado de aparatar num beco qualquer de Wiltshire e senti-me aliviada ao ver que o lugar estava completamente deserto. Comecei a caminhar em busca da mansão de n° 457 e a única coisa que quebrava o silêncio entre aquelas ruas e esquinas que abrigavam apenas casas e casarões luxuosos era o som do meu sapato batendo contra o asfalto.

Maldita sorte a minha. Porque, dentre todas as infinitas opções, eu tinha que ser sorteada para fazer o acompanhamento do elfo deles, logo do deles, uma das famílias de sangue-puro mais renomadas, respeitadas e preconceituosas de toda a Grã-Bretanha? E obvio que eu não podia reclamar, afinal, só havia um mês que eu estava nesse trabalho e não pegaria bem para mim no Ministério se eu ficasse reclamando a toa.

E pensando bem, não há porque reclamar. Isso aqui é o meu trabalho, não estou fazendo nada de errado ou vergonhoso. De fato, pode até ser divertido ver suas caras ao verem uma Sangue-Ruim como eu dando instruções a eles e ao elfo de como agirem. É, até que isso pode ser bastante divertido.

Mas eu sabia o motivo desse nervosismo, aquele que faiscava timidamente sobre mim. Era porque, após três anos, eu o veria novamente. O garoto que me odiava e me desprezava pelo fato de ser filha de trouxas. O garoto que por sete anos viveu me xingando e renegando tudo que dizia respeito a mim e meus laços sanguíneos. O garoto que por sete anos não saía da minha cabeça, ainda que eu tentasse com todas as forças e de todas as maneiras, negar o sentimento que me apossou desde a primeira vez que o vi na Plataforma nove e três quartos, recebendo contra a vontade um beijo da mãe e embarcando no Expresso de Hogwarts.

Enfim, cheguei. A enorme mansão negra se encontrava majestosamente à minha frente. Agora entendi o motivo de aquele local só poder ser visto por pessoas dotadas de magia. Um monumento como aquele chamaria muita atenção de trouxas, é claro.

O nervosismo que antes era pequeno se alastrou sobre mim e agora podia até ser confundindo com ansiedade. Lá estava eu, prestes a revê-lo. Prestes a constatar se ele havia mudado ou se continuava o mesmo Draco Malfoy de sempre.