Diz que Me Ama escrita por Sleepless


Capítulo 9
O9


Notas iniciais do capítulo

Novo capitulo postado! :)



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O recado de Pedro não saia da minha cabeça. Não dava para acreditar que ele pudesse sair da minha vida. Eu preferia acreditar que aquele dia não tinha acontecido. Mas não adiantava. Uma coisa boa do castigo era que minha mãe ficava com tanta raiva de mim que me deixava em paz no meu quarto, e meu pai que quase nunca estava em casa, para ele, tudo sempre estava normal.

                Sentir sono depois de uma notícia daquela era inviável, meu garoto interrogação me acompanhou a madrugada inteira até o sol bater no meu rosto exausto, avisando que eu tinha que mandar meu corpo agir e ir para a escola. Mas como ter ânimo, se o meu maior medo naquele momento era olhar pela minha janela e ver o caminhão da mudança parado em frente a casa vizinha?

                Levantei assim mesmo, antes da minha mãe bater na porta, como ela sempre fazia. Escovei os dentes, lavei o rosto e me arrumei, sempre tomando cuidado para não olhar para a janela. Minha mãe voltou para me escoltar até a porta de casa, queria ter certeza que eu não aprontaria de novo.

                - Pegou a mochila?

                - Peguei. Mãe? – perguntei indignado quando a vi arrumada, entrando no carro do meu pai.

                -Não tem essa de mãe. A partir de hoje eu vou levar você até a escola.

                - Mas e o papai?

                - Ele alugou um carro para trabalhar. Entra logo no carro.

                Eu entrei chateado com mais aquela, por um momento, um pequeno momento, imaginei que nada daquilo estaria acontecendo se eu não tivesse conhecido o Pedro, mas, como imaginar vida sem ele? Talvez ele, tivesse sido a melhor coisa que me aconteceu, em anos morando naquele bairro. As mesmas pessoas, mesmos amigos, que agora preferiam me ignorar a tentar dar uma chance para o meu garoto interrogação.

                Eu detestava falar do Pedro como se fosse no passado. Para mim ele ainda era presente, mesmo que tudo me fizesse acreditar que tudo estava acabado, eu não desistiria, não até descobrir tudo que eu pudesse sobre ele. Ao passarmos em frente a casa dele eu tive um pequeno alívio quando não vi nada que indicaria uma mudança. Pensei comigo, ainda resta um tempo, esse tempo era precioso.

                O mico do ano, chegar ao colégio escoltado por minha mãe, que ainda estacionou o carro e me levou até a sala. Depois, para meu alívio, depois de aturar piadinhas, minha mãe foi embora e estava bastante chateada para me dar um beijo, ainda bem. Encontrei minha cadeira e olhei para o lado, a cadeira dele estava vazia, quase enlouqueci quando Julio, um garoto muito chato sentou-se nela.

                - Saia daí! – gritei no meio da aula de inglês.

                - Alexandre! – o professor advertiu.

                - Coordenação? – perguntei, já sabendo a resposta.

                - O que você acha? –perguntou ele.

                Aquele sarcasmo me lembrou do meu Pedro, e até me surpreendi quando percebi que sair de sala, embora significasse mais um castigo, era uma chance de bolar alguma coisa para não perder o meu amor. Cheguei à sala da coordenação e recebi uma advertência por escrito. Eu tinha que ficar na sala, até o intervalo e depois eu poderia voltar para as ultimas aulas. Era o momento perfeito para pensar.

                Era certo que eu não estava fazendo coisas muito bem pensadas. Eu até me surpreendia cada vez que lembrava, enquanto desenhava numa mesa, com a vigilância da secretaria da coordenadora. Mas, por algum motivo eu não me importava. Cada minuto que ia passando no relógio era menos tempo para impedir que tirassem meu Pedro de mim. Eu tinha dado duro para conseguir que ele falasse comigo, que ele fosse sincero e atencioso, e eu não deixaria isso se perder.

                - Alexandre. Alexandre!

                - O que? – percebi que alguém estava falando comigo.

                - Onde você está com a cabeça? – perguntou a coordenadora.

                - Desculpe Dona Mirtes.

                - Muito bem. Eu estou bastante ocupada hoje para ter uma conversa mais séria com você. Você está liberado. E não deixe de assistir as aulas do segundo tempo.

                - Esta bem. Não deixarei.

                Saí da sala quase correndo, animado em estar livre para fazer alguma coisa que eu ainda não sabia o que seria. Foi quando no pátio, eu vi a mãe de Pedro se encaminhando para sala do diretor. E me escondi atrás da cantina.

                - O que você está fazendo aí? – perguntou Lara.

                - Eu? Eu...Eu estou brincando de esconde-esconde.

                - Sério? Não parece.

                - Não é? Bem...

                - Você está bem estranho Alex. Parece até outra pessoa. Mas ainda é um gatinho. – disse ela, me deixando sem graça.

                - Er... Obrigado.

                - Eu acho que você ainda não está a fim de conversar não é? – perguntou ela, com aquele jeito de menina meiga.

                - Não. Desculpa.

                - Tudo bem. Boa sorte. – disse ela, virando as costas e se juntando as amigas.

                Eu detestava partir o coração de uma pessoa que parecia tão legal, mas afinal das contas o meu analista estava certo, não era bem desse tipo que eu gostava. O meu era lindo, misterioso, complicado e era a razão do meu sorriso.

                Eu me sentia um bobo toda vez que eu pensava nele. Já o chamava de meu, as vezes até suspirava. O intervalo estava perto de acabar e depois de comprar um suco rapidamente na cantina e me desviar das caras feias dos meus ex amigos, eu fiquei bem perto da porta do diretor, tentando escutar alguma coisa. E senti um cheiro familiar.

                - Escutando a conversa dos outros?  - perguntou aquela voz inconfundível.

                Eu virei rapidamente com uma animação inevitável e o abracei, sem pensar mais em nada.

                - Que diabo é isso! Me larga lunático! – disse ele me empurrando.

                - Não adianta. Hoje eu não quero brigar.

                - Você caiu com a cabeça foi?

                - Pedro. O que sua mãe está fazendo na sala do diretor?

                Ele me olhou com um olhar de quem estava indignado com aquela pergunta e depois respondeu friamente.

                - Eu vou sair dessa escola. Aliás, eu vou embora da cidade. Daqui a três dias. – disse ele, parecendo sentir um prazer dizendo aquilo.

                - Não. – eu disse em voz baixa.

                Quando eu achava que não podia acontecer nada para me animar de repente ele pegou meu braço e me puxou, andando bem rápido, como se quisesse me dizer alguma coisa. Eu fui conforme os passos dele. Ele me levou para fora do colégio, dizendo para o porteiro que só íamos pegar uma coisa no carro, onde nós paramos e eu sentindo uma leve raiva olhe para ele, exigindo que ele falasse alguma coisa.

                - Porque você me trouxe até aqui? – perguntei, vendo a expressão fechada dele.

                - Lu... Alexandre, eu não posso...

                - Como assim? Não pode o que?

                - Eu não posso ser seu amigo... Não posso ficar aqui. – ele falou, mas com uma voz mais aquecida.

                - Pedro... Você não pode ir embora, você me disse que eu poderia ser seu amigo,que eu poderia ir as consultas com você e...

                - Não fala mais nada! Que droga! – disse ele chutando o pneu do carro e virando as costas.

                Um grande silêncio tomou conta da gente. Até que ele virou para mim, surpreendentemente com os olhos molhados. Aquilo me matou, eu não sabia se pulava nos braços dele e tentava ser gentil, ou se me jogava nos seus pés e implorava para ele não me deixar. Mas não aconteceu nenhuma das duas coisas, ele, num tom mais rouco, só que mais duro quebrou o silêncio.

                - Não a nada que você possa fazer. Isso não devia ter acontecido. Você deveria ter ficado longe.

                - E se eu não quiser? Se eu disser que faria tudo, tudo mesmo para lhe convencer que eu preciso de você, tanto quanto você precisa de mim?

                Ele virou as costas de novo, eu entendia que era uma forma de defesa, de não mostrar a fragilidade e sensibilidade que eu sempre acreditei que ele tinha. Eu estava pronto para continuar meu argumento, mas de repente ele me puxou e pediu para que eu me abaixasse.

                - O que foi? – perguntei, sem entender.

                - Minha mãe está vindo. Eu vou distrair ela, enquanto você entra no colégio.

                - Eu não quero...

                - Faz o que eu mandei! – disse ele, sem mais delongas.

                Mesmo triste e irritado com a mania de autoridade dele eu esperei minha deixa, enquanto ele inventava uma conversa com a mãe dele, para ela não me ver. Assim que os dois entraram no carro e foram embora eu sentei em um canto e não agüentei, eu comecei a chorar. Eu parecia um bebê, era vergonhoso, mas o intervalo já tinha acabado e quem mais podia ver minha cena patética, mas muito autêntica, eram os funcionários.

                Eu já estava sem esperanças, indo para a sala de aula para pegar minha mochila e sumir dali, sem me preocupar com mais nada, quando no caminho eu encontrei o diretor saindo do banheiro e falando no celular. Eu pude ouvir um pouco da conversa e de um jeito que eu não consegui explicar para mim mesmo, eu tive uma luz na escuridão. Não pensei duas vezes ao me colocar na frente dele e fazê-lo me dar atenção.

                - Alexandre? Você não está na aula? – disse ele, guardando o celular.

                - Na verdade. Eu preciso muito falar com você.

                - Mas não precisa perder aula por isso. Eu posso atendê-lo no final...

                - Não! Não. Eu preciso agora, é caso de vida ou morte. – eu disse, percebendo o quanto eu tinha que ser convincente.

                A conversa foi longa, eu tive que chorar que apresentar argumentos convincentes, eu nem sentia que tinha tanta pouca idade. Será que o amor nos fazia crescer? Era muito novo aquilo para mim. Mas eu contava que desse certo. Minha mãe chegou e eu estava esperando no banco, ela estava irada.

                - Entra no carro mocinho. Em casa nós vamos ter uma conversa. – disse ela, buzinando.

                Eu a aturei o caminho todo berrando ao volante e enlouquecendo o trânsito. Era “Menino levado” daqui “ Irresponsável ‘’ dali e eu não conseguia absorver quase nada, eu só queria chegar em casa, ir para o meu quarto e chorar.

                Quando entramos em casa dessa vez meu pai estava presente, e não estava com uma cara boa. Eu percebi logo que ia ser diferente, meu pai era bem menos piedoso.

                - Pai.

                - Eu estou desapontado com você. Como pode uma coisa dessas. Eu trabalho muito, perco momentos com a minha família para lhe dar uma vida segura, confortável e é assim que você retribui?

                Minha mãe estava tão cansada de gritar e brigar comigo que foi fazer o almoço e nos deixou sozinhos.

                - Pai. Eu sinto muito...

                - Um mês de castigo. Sem TV, sem computador, sem celular. E você ainda vai ajudar sua mãe com os preparativos da feira de livros.

                - Mas pai...

                - E não me faça bater em você. Suba para o seu quarto e não saia de lá. Sua mãe vai levar o almoço.  – disse ele, curto e grosso.

                Eu subi. Não chorei na frente do meu pai, mas assim que joguei minha mochila no chão e fechei a porta, me joguei na cama, de bruços e chorei muito em cima do travesseiro. Eu estava odiando minha vida. E o pior que eu nunca tinha sentido aquilo antes. Ajudar minha mãe na feira de livros que ela organizava todo mês era uma coisa muito chata, mas poderia ser bom, para distrair a mente, já que com tudo acontecendo de uma vez era praticamente impossível o Pedro não ir embora.

                Mais tarde, depois de dormir um pouco, olhei no relógio e eram onze horas da noite. Levantei para tirar a farda, tinha adormecido com ela. Depois de me trocar liguei o computador e vi que estava sem sinal de internet, um saco, meu pai tinha mesmo falado sério. Sem nada para fazer deitei de novo, esperando dormir novamente, assim que fechei os olhos senti uma claridade e quando abri uma luza estava na minha parede. Levantei rapidamente e fui até a minha janela. Era ele. Estava escuro no quarto dele, só um abajur estava ligado, mas dava para ver que ele estava sem blusa, apenas com a parte de baixo do pijama.

                Senti as lágrimas descerem dos meus olhos quando o vi com um papel branco na mão direita, enquanto segurava a lanterna com a mão esquerda ele levantou o papel com as pontas dos dedos, com uma cara séria. Quando ele virou para o lado onde tinha algo escrito, rapidamente eu fechei os olhos com força, buscando coragem para ler. Eu abri os olhos e li tudo que estava escrito. Quando terminei de ler, minhas lágrimas aumentaram.

Eu não vou mais embora. O Diretor conversou com a minha mãe. Como você conseguiu isso?

                Eu fiquei olhando para ele, segurando aquele papel, era maravilhoso ler palavras como aquelas. Eu, em um instinto mandei um beijo para ele, ainda em choque, minhas mãos tremiam, meu coração pulava depressa. Fiquei com medo da reação do meu beijo, mas lentamente os lábios dele se mexeram e ele sorriu, depois apagou a lanterna e saiu da janela, mas não fechou a cortina. Eu fiquei parado, só imaginando ele deitado na cama. Eu tinha conseguido, ele não ia mais embora, mas mesmo assim, achei melhor não contar vitória antes do tempo, ainda tinha muito, a saber, muito a enfrentar, minha cabeça sabia disso, mas aquela noite, mesmo depois de ter decepcionado meus pais, meu coração tinha prioridade, e aquela noite era meu momento feliz, eu ia aproveitá-la o máximo.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem. :)



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