Diz que Me Ama escrita por Sleepless


Capítulo 10
1O


Notas iniciais do capítulo

Postei o capitulo. Vou tentar demorar menos.
bjos



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Eu nunca imaginei que um castigo fosse me fazer tão bem. O resto dos dias da semana eu surpreendi minha mãe muitas vezes, acordando cedo e mantendo um sorriso no rosto. Meu pai também estranhava, eu ia para escola com muita vontade, vontade até demais. É que ja que o Pedro não ia mais embora, ele tinha voltado a frequentar as aulas. Se eu estava gostando? Eu estava amando! Mas claro que nem tudo era simples. Pedro ainda era... O pedro.

    Nesse dia eu cheguei cedo no colégio, como de costume. Isso depois de virar a noite no computador com o meu garoto interrogação. Era inacreditável, mas pelo menos uma vez por semana ele me tratava bem. Eu sabia que não podia pedir mais. Afinal, ele não era um garoto comun.

    Entrei na sala e o encontrei conversando com uma colega, ela era daquele tipo de garota que quanto mais era esnobada, mais ela gostava. Tentei manter a calma, pois senti um calor enorme subir a cabeça, e eu sabia que não era nada bom. Mesmo me segurando ao máximo acabei me metendo no meio dos dois, vinte segundos antes de o professor de Geografia entrar.

    - Do que vocês estão conversando. - Sorri, tentando me infiltrar.

    - Não te interessa. - falou Pedro.

    Fingi não ter ouvido o que ele disse.

    - Vem Pedro, senta aqui do meu lado, a Géssica faltou. - disse Raquel, me deixando nervoso.

    Ele não respondeu, olhou para mim com uma cara séria e pouco amigável, depois sentou-se ao lado dela, na mesa vazia. Não sei explicar o que me ocorreu, mesmo com o professor ja em sala e no meio das capitais com maior índice de desemprego, eu literalmente, soltei a voz.

    - Merda! - levantei, interrompendo a aula, percebendo instantaneamente a besteira que tinha feito.

    - Alexandre! De novo? Acho que nem preciso ensinar o caminho.

    Todos da sala riram, e quando eu olhei diretamente para o Pedro, ele estava com uma expressão triste, mas ao mesmo tempo, parecia querer dar uma gargalhada. Imaginei que ele não quisesse largar seu jeito sério. Ele tinha sorrido apenas para uma pessoa, eu.

    Peguei minha mochila sem nem ter aberto e fui direto para a sala da coordenadora. Eu estava ferrado. Organizar feiras de livro com certeza seria o menor do castigo gigante que minha mãe e meu pai me daria. Mas quando entrei na sala, a mãe dele estava lá. Ela olhou para mim e depois voltou a olhar para o coordenador.

    - Então estamos acertados. - disse ela, saindo sem falar nada comigo.

    O coordenador esperou ela fechar a porta e pediu que eu sentasse, naquele momento comecei a temer que ela tivesse convencido ele a levar meu garoto interrogação embora. Eu viraria um rebelde, rasgaria as roupas, até pulava da ponte; pensei coisas como essas em pouquíssimo tempo e quando sai dos meus pensamentos:

    - Alexandre. O que está acontecendo com você? É a quarta vez em duas semanas que você apronta alguma.

    - Não sei. - olhei para o chão, tentando passar uma imagem de alguem arrependido.

    - Você conhece essa mulher não é?

    - Sim. Ela é a mãe do Pedro.

     - E qual sua relação com ele? - perguntou o coordenador.

    Era uma pergunta difícil de responder. Eu sabia que não poderia dizer o que eu sentia. Mas também era nítido no meu rosto a resposta.

    - Nós somos amigos. - eu disse.

    - Entendo. Eu liguei para sua mãe. Ela ja deve estar chegando, e quero adiantar que você está suspenso por duas semanas.

    - Suspenso?

    - Sim. Agora pode aguardar sua mãe lá fora.

    Era mesmo oficial, eu estava mais do que ferrado. E mais uma vez teria que aguentar a revolta dos meus pais. Eu não estava sendo um bom aluno, eu sabia disso, mas, com meus amigos afastados e me olhando torto todo santo dia, eu só tinha apenas uma pessoa do meu lado, ele, embora fosse algo mais idealizado do que verdadeiro.

    O sinal para o intervalo tocou. E eu ainda estava esperando minha mãe, até achando que era uma sorte ela ainda não ter chegado. Os meus colegas se espalharam no pátio e eu fiquei encostado na parede de sempre. Eu não percebi logo, mas depois de olhar bem, vi que o meu garoto interrogação não estava em lugar nenhum. Será que a mãe dele tinha levado ele para casa, será que eles estavam arrumando a mala, ja estavam indo embora? Pensei. E quando percebi estava correndo para não sei onde. Acabei esbarrando em uma pessoa que ja estava virando mania na minha vida.

    - Aonde vai com tanta pressa? - perguntou Lara, admirada com a minha queda livre ao chão.

    - Desculpa. Eu não te vi. - eu disse, catando a minha mochila.

    - Tudo bem. Não é de hoje que você anda estranho.

    - Hehe. É verdade. - eu disse, querendo esganar aquela garota.

    - Então. Você anda causando problemas. Tem visto muitos filmes de rebeldia?

    Dobrei o joelho esquerdo, disfarçando a dor. Provavelmente tinha ralado, mas a calça jeans cobria perfeitamente. Eu não queria conversar com ela, mas ela insistia em tomar meu tempo. Eu era educado demais para enxota-la, infelizmente, e os mais velhos dizem que educação é tudo. Diz isso para quem está correndo risco de perder a pessoa mais importante da sua vida!

    - Alexandre?

    - Oi.

    - Você parecia estar em outro lugar. Já sei. Você quer ficar sozinho.

    Ainda bem que você sabe. Sai do meu pé chulé. Pensei.

    - É quase isso. Eu estava de saída. Olha a minha mãe chegou, tchau. - eu disse.

    - Não esquece o trabalho de Geografia. Sobrou nós dois para dupla.

    - Sério? Está bem. Eu te ligo.

    - Até amanhã. - disse ela, virando as costas e voltando para a sala.

    Foi realmente um alívio saber que ela nem desconfiava que eu não veria a linda carinha dela por duas semanas inteiras. Era ela linda. Cabelos castanhos, olhos claros, tinha um sorriso lindo, mas, não era ele, o único defeito dela era esse, era o defeito de muita gente, ninguem era o Pedro. E conforme eu pensava cada vez mais, mais eu me encontrava confuso com aquele sentimento. Amar era mesmo complicado.

    Minha alegria durou pouco quando minha mãe desceu do carro e me segurou forte pelo braço, meio despenteada. Ela praticamente me jogou no banco de trás e bateu a porta com tudo, acelerando como se tivesse atrasada para alguma coisa. E quando eu achava que escaparia do discurso moralista, ela começou:

    - Alexandre Júlio Pereira Filho! Você está na minha mira garoto! - gritava ela, enquanto eu rezava baixinho para chegar em casa vivo.

    - Devagar mãe! E não me chama assim!

    - Não em venha com essa mocinho! Vai implicar com o nome que seus pais deram para você agora?

    - Desculpa.

    - Não, não! Eu não vou cair nessa sua falsa culpa. Duas semanas! Duas semanas de suspensão! Eu não sei o que está acontecendo com você.

    - Também não foi nada demais. Exagero desse colégio idiota.

    - Como é? - ela freiou o carro de uma vez no acostamento.

    Percebi que eu tinha complicado minha situação, ainda mais.

    - Você pare com essa grosseria. Quando chegarmos em casa você vai ter uma conversa muito séria com seu pai.

    - Eu ja sei.

    - É bom que saiba mesmo. E não pense que vai ficar em casa sem fazer nada não.

    Quando chegamos em casa, saí do carro rapidamente e subi para o meu quarto. Não deu nem tempo de eu olhar direito se ele estava no quarto, a janela estava fechada, mas o carro estava estacionado em frente a casa. Escutei passos pesados e em poucos segundos meu pai abriu a porta furioso.

    - Sem TV, sem computador, sem telefone, sem caderno!

    - Mas pai...

    - Eu não vou discutir com você. Eu e sua mãe estamos cansados disso. E para se manter ocupado, ja que não vai para escola, quero quarenta redações sobre ser um garoto irresponsável e desobediente! - disse ele, batendo a porta, sem me dar direito de responder.

    - Droga! - gritei, tapando a minha boca com a mão logo em seguida.

    Fiquei muito irritado quando meu computador não funcionou. O pior não era ele tirar os aparelhos tecnológicos, o pior é que eu não podia sair do quarto e não podia escrever no meu, eu não conseguia pronunciar em voz alta, no meu diário. Eu tinha um, e meu pai sabia, embora ele não dissesse a palavra "diário" e em vez disso disesse "Caderno", ele sabia que eu gostava de escrever. Me perguntava se ele alguma vez ja tinha lido o que eu escrevia sobre o Pedro.

    Não sei porque, mas me senti muito sozinho naquele quarto, e comecei a chorar. Eu queria ver ele, queria conversar com ele, mas não podia. Se eu arriscasse sair pela janela de novo, além de correr o risco de quebrar a perna, eu poderia tornar minha situação muito pior.

    Mais tarde, enquanto eu olhava para o teto, deitado na minha cama, pensando em o que escrever na primeira redação - meu pai ja tinha trazido quarenta folhas - Escutei a campainha tocando. Abri um pouco a porta e tentei ouvir alguma coisa para descobrir quem era. Quando ouvi a voz da mãe dele, gelei.

    - Olá. Eu estava fazendo um bolo. Não tivemos tempo de conversar. Entre. - disse minha mãe, pedindo para ela entrar.

    - Obrigada. Eu posso me sentar?

    - Claro. Espera que eu vou cortar um pedaço e trazer com um café.

    - Não precisa se incomodar. - disse ela.

    - Imagina. É rapidinho. - disse minha mãe.

    De repente eu escutei um barulho de algum objeto quebrando e fechei a porta, correndo para a janela. Não consegui pensar, quando eu percebi eu ja tinha descido pela janela e estava na porta da casa dele. A porta estava entreaberta eu entrei sem pedir licença. Escutei alguns gritos e depois, rapidamente alguem passou correndo por mim, sem me ver.

    - Pedro!  gritei, quando o vi pegar o carro da mãe e ligar.

    Mas ja era tarde, quando cheguei perto da carro ele ja tinha acelerado e batido numa árvore. Por sorte apenas cortou um pouco a testa. Foi tudo muito rápido, a minha mãe e a mãe dele sairam correndo e viram o carro amassado.

    - Meu filho! Meu Deus! Saia daí. - disse a mãe dele.

    Mas ele saiu do carro ainda tonto, sangrando e foi andando pela rua, se distanciando da gente.

    - O que você fez? - perguntou ela,me acusando.

    - Eu... não fiz nada.

    - Alexandre entra para casa.

    - Mãe eu...

    - Entra agora! - disse minha mãe furiosa.

    Eu sai e entrei em casa, bem a tempo de ver o pai dele sair pela porta de trás, parecendo bem embriagado. Entrei em casa chutando os móveis, meu pai estava no trabalho e não precisei segurar minha raiva. Eu só pensava em ir atrás dele, mas minha mãe entrou nervosa e trancou a porta.

    - Eu não quero saber de você com esse garoto. Está ouvindo? - disse ela, olhando bem firme para mim, que estava prestes a subir para o meu quarto.

    - Mãe... Você está machucando meu braço. - eu disse, percebendo que era mais preocupação que raiva.

    - Alexandre. Eu não quero você metido com essa gente.

    - Essa gente? Mãe, eles são...

    - São doidos. Você não viu o que aconteceu hoje? E o diretor do seu colégio falou que era mera coincidência você ter mudado, justo quando esse garoto entrou no colégio.

    Eu não conseguia mais discutir com minha mãe. Fiquei tão triste que subi,antes que ela percebesse que era mais do que ela imaginava. Tranquei a porta do meu quarto e me joguei na cama, de bruços, chorando.

    Estava me sentindo muito ruim. Naquele momento eu senti falta dos meus amigos, talvez se eles estivessem falando comigo, entenderiam o que eu estava passando. Queria muito poder sair dali e conversar com meu analista. Mas de tudo que eu pensava eu não deixava de sentir um aperto no coração. E as palavras da minha mãe não saiam da minha cabeça. Será mesmo que eu estava mudando? Será que o meu Pedro, me fazia ser uma pessoa diferente?

    Escutei um barulho rápido, parecia vim bem debaixo da minha janela. Eu estava disposto a esquecer, a fechar os olhos e fingir que era apenas delírio, mas não resisti, olhei para baixo, mas não consegui ver. Vi apenas o carro amassado. Quando virei as costas, escutei:

    - Lunático. Sou eu! - disse ele, mesmo ainda eu não conseguindo ve-lo.

    - Pedro? Onde você está? - perguntei susurrando.

    E quando olhei para trás ele estava saindo debaixo da minha cama. Meu coração acelerou quando ele se aproximou, suado e com o corte ainda sujo de sangue.

    - Pedro! Você... Você precisa de um curativo. Eu vou...Espera eu...

    - Não. Não precisa. - disse ele sério, enquanto eu bancava o desesperado no meio do quarto.

    - Como você entrou aqui? - perguntei quase sem poder respirar.

    - Isso não importa. O que você viu?

    Não entendi a pergunta, mas arrisquei uma resposta.

    - Eu vi seu pai. Você, coisas quebradas...

    - Você não pode! Não pode contar isso para ninguém! Ouviu? - disse ele, firme e grosso, se alterando.

    Eu fiquei com medo e dei um passo para trás. Ele estava na minah frente, bem próximo ao meu rosto, e eu,mesmo assustado só conseguia pensar em cuidar daquele ferimento.

    - Eu... Não vou contar.

    - Nós... Nós não podemos ser amigos. - disse ele, parecendo ter dificuldade em dizer aquilo.

    - Pedro... Você sabe que isso não me importa, sua doença...

    - Importa. Importa porque nós não vamos mais se falar.

    - O que? Como assim? Você vai embora?

    - Não. - ele disse, virando as costas.

    Eu não o conhecia muito bem ainda, mas sabia que quando ele virava as costas era sinal que alguma coisa ele sentia por mim. Ele não queria mostrar fraqueza e nem chorar na minha frente. Mas eu não, não tinha vergonha, as lágrimas desceram dos meus olhos automaticamente, pareciam rios. E eu não aceitava aquelas palavras. Não aceitava ficar sem ele.

    - Eu vou ficar com você! Você não pode me tirar isso.

    Ainda de costas ele disse:

    - Lunático. Eu não preciso de você. Não preciso da sua pena. Eu fico muito bem sozinho...

    - Mas... Mas eu...

    - Não diga!

    - Eu te amo! - eu disse, desabando.

    - Você nem me conhece! Eu não entendo essa sua fixação em mim. Você tem os seus amigos. Eu gostei de conversar com você. Mas foi um erro. Eu não devia te dar esperanças. - disse ele, virando para mim e se agachando para falar comigo, ja que eu estava sentado encostado na perna da cama, tentando entender porque doia tanto.

    - Pedro. Não me pede para deixar de falar com você. Por favor. Eu juro que não forço mais nada. Eu fico calado, mas por favor, fica por perto.

    - Minha mãe não deixaria. E quando ela coloca uma coisa na cabeça, ninguém muda isso. Logo nós vamos nos mudar de novo e de novo e eu vou voltar a me conformar com minha vida. Você é muito criança para entender isso. - disse ele se apoiando na janela para descer.

    - Pedro!

    Não adiantou. Ele desceu e entrou em casa, sua mãe estava na porta esperando. Parece que ela estava a par da minha amizade com ele. Ela olhou para mim com uma cara satisfeita, sem demonstrar nenhuma compaixão. Fechei a janela e chorei tudo que podia no travesseiro. Depois tomei uma decisão. Eu ia esquece-lo. Ia atrás dos meus amigos. Se era isso que ele queria, era o que eu ia fazer. Mas eu sabia, no fundo eu sabia, que era mais fácil desobrir a fórmula da vida eterna do que apagar ele de mim.

    Acabei fazendo uma redação extremamente sentimental e a rasguei depois, jogando os pedacinhos no lixo perto da mesa do computador. Depois, ainda com a janela fechada, consegui dormi.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem XD



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