"Ah, eu gosto da Wanda!

É o gostar de amigo que você está falando, não?"

A primeira frase surgia na mente de Wanda, como se fosse um belo arco-íris de felicidade. Mas em seguida, vinha a segunda, tão simples, mas que trazia consigo uma porção de nuvens negras.

Não que ela ficasse triste por Cosmo a considerar uma amiga, não mesmo. Mas no seu íntimo, ela teria gostado muito se, ao menos, ele tivesse esquecido de dizer a segunda frase. A primeira estava ótima, perfeita, brilhante, tão brilhante quanto uma varinha!

- Então, entendeu como se faz?

E falando em varinhas, as aulas práticas de Wanda finalmente se iniciaram, logo após a escola. Antes, eles apenas haviam revisado conceitos mais simples e teóricos de magia. Como primeira aula, foi escolhida uma magia simples: A de mudar o próprio penteado. Cosmo, que fazia o máximo para prestar atenção, ainda achava meio estranho o fato de não ter que usar um pente. Nem ao menos lhe passava pela cabeça que a cena na lanchonete havia deixado a fada de cabelos rosados com trauma de milk-shake de morango.

- Vou tentar! – Disse. Começou a concentrar-se da forma como Wanda havia lhe explicado. Nada. Os olhos cor-de-rosa encontraram alguns problemas.

- Cosmo, não fique tão tenso. Assim a magia não irá fluir. E a forma de segurar a varinha... talvez seja mais fácil se segurar de forma mais suave. – Ela se posicionou atrás dele e colocou uma das mãos por cima da mão que Cosmo usava para segurar a varinha, tentando corrigi-lo. Ela ficou um pouco sem jeito, mas talvez aquilo realmente o ajudasse. Além do mais, ele não manifestou nenhuma reação, provavelmente estava tentando se concentrar. Ou não havia com o que reagir, já que ela era só uma amiga. Milk-shake de testemunha.

Mas Wanda estava errada. Mesmo que não demonstrasse, Cosmo ficou momentaneamente nervoso, sem saber o porquê. Mas precisava fazer aquilo, precisava se concentrar. Ele fechou os olhos e respirou fundo. Se a magia nas fadas normais era como um rio que fluía lentamente e constante, Cosmo sentia como se dentro de si houvesse uma verdadeira montanha russa. Nada parecia seguir algum padrão. Decidiu forçar alguma coisa, da forma como Wanda lhe mostrara, mesmo com o enorme receio que estava sentindo.

- C-Cosmo... – Wanda murmurou, quando notou um brilho surgir na varinha do rapaz. Um brilho que se intensificou de um segundo para o outro, cuja luz engoliu os dois corpos por um breve momento. Ambos se surpreenderam...

... E depois se encararam, perplexos. O cabelo de Cosmo estava cor-de-rosa, e em contra-partida, as madeixas de Wanda estavam verdes.

- Wanda, por que seu cabelo está da cor do meu? – Ele questionou inocentemente.

- Eu que deveria perguntar isso, não acha? – Ela calou-se. Como assim o dela estava da cor do cabelo do Cosmo? Puxou uma mecha de seu cabelo e olhou pelo canto dos olhos, arregalando a boca em seguida. Verde. Muito verde. Totalmente verde. Ao olhar para Cosmo novamente, chocada, percebeu que ele finalmente também havia percebido a própria mudança.

- Wanda, será que eu estou virando você e você está virando eu? – Os olhos dele começaram a lacrimejar. – Desculpa! Desculpa! As pessoas vão rir de você se você virar eu e... quer dizer que eu teria que me chamar Wanda a partir de agora? Mamãe irá me matar! – Ele cobriu o rosto, em choque.

- A-Acalme-se, Cosmo! - Um fato muito curioso sobre Cosmo: Ele exagerava muito, às vezes. E embora Wanda tentasse acalmá-lo nesses momentos, não conseguia deixar de achá-lo fofo.

Wanda analisou o amigo de cima para baixo, enquanto ele perguntava se teria que usar brincos e maquiagem. Nada havia mudado além da cor do cabelo. O mesmo deve ter acontecido consigo mesma. Em vez de mudar o penteado, ele deve ter usado a magia para mudar a cor dos cabelos, misturado com algo relacionado a inversão, o que explicaria como eles ficaram com as cores invertidas.

E ela sentiu uma enorme vontade de rir. Não só por Cosmo estar engraçado de cabelo rosa, mas também porque estava feliz. Ele havia conseguido usar magia, mesmo que o resultado tivesse sido diferente.

Ele ergueu o rosto, confuso, ao ouvir sons de risada. E foi surpreendido pelo toque de uma das mãos de Wanda sobre seus novos fios rosados. A garota sorria animadamente.

- Você só inverteu a cor dos nossos cabelos, não fique tão desesperado! Você conseguiu usar alguma magia, isso é o que importa! – A vontade que ele tinha de chorar desapareceu. – Além do mais, seu cabelo não ficou ruim dessa cor. Mas nem pense em pedir meu batom emprestado. – Ele sentiu-se um pouco envergonhado. Não sabia se era por causa do afago gentil em seus cabelos, se era pela sensação alegre de ter finalmente feito uma magia que prestasse, ou se era por causa do elogio de Wanda.

- E-Eu consegui, né? – Ele riu, ainda um pouco incrédulo, passando as costas das mãos sobre os olhos. – Mas é estranho, nunca consegui fazer nada direito, mesmo quando tentavam me ensinar... você deve ter talento para ser professora, Wanda!

Ela sorriu, enquanto trazia os cabelos de volta à normalidade. Era provável que o problema sempre estivesse na baixa autoestima de Cosmo e no fato dele mesmo negar-se à magia. Mas não tinha motivos para dizer isso a ele, não quando ele já estava obtendo resultados.

- Pensarei a respeito disso, nunca parei para pensar muito no que eu farei quando terminar o colégio. – O olhar dela ficou momentaneamente curioso. – E você, Cosmo? – Ele abriu outro daqueles sorrisos tímidos e inocentes que eram capazes de deixar as asas dela imóveis.

- Um Padrinho. – Ele levou uma das mãos até os cabelos, bagunçando-os, um pouco envergonhado. – Sei que provavelmente nunca serei bom o bastante em magia, mas deve ser muito bom estar ao lado de uma criança e fazê-la feliz. – Ela percebeu pelo brilho nos olhos dele o quanto ele desejava aquilo. E nem ao menos notou o sorriso bobo que formara em seus próprios lábios. O quão incrível Cosmo poderia ser?

- A magia não é tudo, Cosmo. É importante, mas nada se compara ao coração. E tenho certeza que o seu tornará uma criança muito feliz. – Ela disse, tocando-o de leve no peito. Ele sentiu a região formigar, mesmo que o tecido de sua camisa separasse a pele dele dos dedos de Wanda.

O sorriso nos lábios dele era largo. O fato de Wanda acreditar nele o deixava sem palavras. Cruzaram seus olhares por um curto tempo, já que a fada de lábios rosados ficou sem jeito e afastou-se.

– Como treino, poderia tentar mudar a cor dos pêlos da Robin. – Ele estranhou um pouco a forma brusca dela se afastar, mas concentrou-se no que ela havia lhe dito, com uma ideia ocupando sua mente.

- Vou agora mesmo deixá-la amarela com listras pretas. Será uma gata-abelha! Será que consigo acrescentar um ferrão? – Ele voou até os jardins da escola, à procura da felina. Seus olhos verdes estavam brilhando de excitação. Wanda achou engraçada a combinação que Cosmo escolheu, até que pensou que corria o risco dele transformá-la numa abelha propriamente dita, ou algo pior, se ele realmente tivesse gostado da ideia do ferrão. E se a gata-abelha ou abelha-gata saísse voando, seria um grande problema.

- Não, Cosmo, não! – Quase gritou. Mas pelo miado-zumbido que ouviu do lado de fora, provavelmente já era tarde demais para qualquer aviso.