Hora do almoço...
- e aí, o que ela disse? Ela te demitiu? – Jessy, que trabalhava comigo, roia as unhas de tão nervosa.
- não, dessa vez não. – ela soltou um suspiro aliviado. – mas foi por pouco.
- o que houve? Seu pai ainda está mal? – ela dizia enquanto escovava os dentes.
- sim, mas não foi por causa dele que me atrasei. Foi por isso. – tirei o jornal da bolsa e entreguei a ela, que quase deu um grito.
- ahhhh me dá?? Por favor, me dá esse jornal Anny? Diz que sim, vai.
- por quê? Vai me dizer que você é fã dele?? – a cara dela não tinha como negar o que eu já imaginava. – não acredito!
- menina, esse cara é um deus! Olha só como ele é lindo! Meu Deus, esses olhos... ai ai... – ela suspirava agarrada ao jornal.
- quem é ele? Eu ainda nem tive tempo de ler o jornal.
- o nome dele é Gerard. Ele é vocalista da uma banda de rock e é um dos caras mais ricos de New York.
- ah tá... – fiz uma cara de “ok, entendi” e ela me olhava incrédula.
- em que mundo você vive, Anny? Nunca ouviu falar na banda My Chemical Romance ou nos hotéis Way’s Palace?
- nunca. – ela me olhou espantada. – ah, Jessy, você sabe que eu não tenho dinheiro pra ficar comprando essas revistas que você adora. Eu gasto meu salário inteiro comprando coisas pra dentro de casa. Nunca nem tenho tempo de verdade pra mim. – deixei uma lágrima triste cair e a sequei antes que Jessy me visse chorando. Ela sempre tentava me consolar e isso, por mais que parecesse bom, fazia eu me sentir péssima. – temos que voltar ao trabalho, nosso horário de almoço acabou.

Gerard entrou e todos os olhares se voltaram pra ele. Ele até que tentou disfarçar com seus óculos escuros, mas era quase impossível. Poucas pessoas não sabiam quem ele era, já que era comum ver sua foto ou algo relacionado à sua família em jornais, revistas e festas pelo mundo. Algumas garçonetes correram alvoroçadas até ele pedindo autógrafos e foram logo espantadas pelos olhares furiosos da senhora Brigfield.
Depois de muito sacrifício, ele enfim conseguiu se sentar em uma mesa e fazer seu pedido. Uma garçonete ruiva, metida à gostosa, foi até a mesa atendê-lo. Ela tentava de todas as formas se insinuar para ele, que não dava a mínima para o que ela dizia ou fazia. Pelo contrário, ele estava até achando engraçado daquele alvoroço todo.

Anny e Jessy saíram do banheiro e não perceberam “quem” estava ali, na mesma lanchonete que elas. Anny colocou seu avental e ouviu seu nome vindo da cozinha.
- hey, Anny. Leva esse pedido ali na mesa 7. O “senhor muito importante” deve estar com fome e não pode esperar. – Jack colocou a bandeja na minha frente.
- mas de quem você está... – ele já tinha voltado pra cozinha e me deixou falando sozinha.
Peguei a bandeja com muito cuidado. Tentava equilibrar um copo de Coca-Cola, um enorme sanduíche e muita, mas muita batata-frita.
- eca! Quem consegue comer uma coisa dessas??
Andei em direção à mesa e, distraída, não me dei conta do que aconteceria após vê-lo ali, bem na minha frente.
- senhor, o seu pedido. – falei para ele, que olhava distraído para o nada.
Ele tirou os óculos e olhou pra mim. No mesmo instante, a porta da lanchonete abriu e quem eu menos esperava ver, entrou. Julian, meu ex-namorado problemático.
Me atrapalhei com a bandeja e adivinhem o que aconteceu?? Isso mesmo. Uma catástrofe.
O refrigerante caiu em Gerard, molhando sua blusa (extremamente cara, por sinal) e um pedaço da sua calça. Ele se levantou assustado e eu estava a ponto de chorar.
- me... me desculpe, senhor. Eu não... eu não tive a intenção. – eu dizia com as mãos levadas à boca e voz de choro.
- tudo bem, tudo bem. – ele pegou um pouco de guardanapo e tentava se secar em vão. – não se preocupe, eu estou bem.
Todos os que estavam na lanchonete, clientes e funcionários, pararam para olhar aquela confusão. Julian veio em minha direção e eu o empurrei.
- Julian, eu já disse que não quero mais ver você aqui! – gritei.
- mas Anny, eu sou seu namorado e...
- você não é mais meu namorado! Será que isso é tão difícil de entender?? – eu já chorava, sem saber o que fazer. Só esperando que ela aparecesse...
- acho que ela quer que você vá embora, amigo. – Gerard se intrometeu na conversa.
- e quem é você pra dizer o que eu tenho que fazer, hein? – Julian disse nervoso. – é o novo namorado dessa vagabunda??
- nunca chame uma garota de vagabunda.
Gerard segurou Julian pela jaqueta e o levou pra fora da lanchonete. Eu fiquei no mesmo lugar, imóvel e chorando. Ninguém tentou me ajudar, ninguém. Jessy também estava em choque, acho que mais por ver ninguém menos do que seu ídolo tão de perto do que pelo que estava acontecendo.
Logo senti uma mão pousar em meu ombro e me virei já imaginando o pior.
- você está despedida. Eu não imaginei que diria isso tão rápido... – Sra. Brigfield dizia com um pouco de alegria na voz. – Que vergonha, meu Deus. Que vergonha...
Ela se retirou e eu vi Gerard voltar pra dentro da lanchonete, sem nenhum sinal de Julian.
- não se preocupe. Ele não vai mais voltar. – ele deu um sorriso sem graça.
- e nem eu. Me desculpe.
Corri pra parte de empregados e juntei minhas coisas. Tirei o avental enquanto chorava desesperada. Estava com vergonha, me senti humilhada na frente de todos. Estava sem chão.
- oh minha amiga, não fique assim. Não foi sua culpa. – Jessy apareceu pra me consolar, como sempre fazia.
- pior que foi, Jessy. Foi minha culpa. – ela me abraçou.
- eu vou sentir sua falta.
- eu também.
- vem me visitar, ok? Aparece pra comer um lanche. De graça, que tal? – ela tentava me animar de qualquer jeito.
- pode deixar.
Peguei minha bolsa e dei um último abraço nela.
- ele é mais lindo do que eu pensava. – ela disse me fazendo rir.