Not Like The Movies escrita por MsRachel22


Capítulo 29
Eco




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“Eu não quero enfrentar o mundo sozinha”

                    The Pretty Reckless

 

   O meu estômago ficou embrulhado enquanto eu mantinha as costas grudadas no encosto da cadeira e meus joelhos não paravam de tremer há uns dez minutos. Tsunade recitava num tom autoritário a decisão judicial de que a minha pena havia sido diminuída de dois anos para onze meses.

— Você ainda tem que cumprir uma pena socioeducativa assim que deixar este lugar e terá que ser monitorada praticamente o tempo todo. As consultas com um psicólogo são obrigatórias e um assistente social também vai acompanhar o seu progresso — os olhos dela se desviaram do maço de papeis que ela folheava, Tsunade franziu o cenho assim que me encarou. — Está entendendo?

— Isso não é uma piada, não é? — Foi o máximo que consegui verbalizar e minha voz mal passava de um sussurro.

— Sakura, pode ser difícil de acreditar, mas você tem que cumprir... O que? Um mês? — Ela levantou os ombros e foi a primeira vez que havia suavidade nos olhos de Tsunade. — Se você continuar na linha, vai sair daqui sem problemas.

— Eu não tenho pra onde voltar — retruquei como se a linha de raciocínio da diretora fosse absurda. Em circunstâncias normais, escutar aquilo me faria rir abertamente e eu sentiria uma pontada estranha de alívio por saber que, de algum jeito, nada daquilo era mentira.

  Mas a verdade era que eu não sabia se queria mesmo cair fora. O plano de ficar completamente sozinha já não dava mais certo há muito tempo.

— Você não vai morar no seu antigo endereço. Parte da herança da sua família vai ser desbloqueada e você pode alugar um apartamento — ela deixou o maço de papeis em cima da mesa e apoiou os cotovelos sobre a pilha de papais carimbados com selos judiciais. — Você ainda será tutelada por um advogado, de qualquer forma. As coisas não vão ser tão simples no começo, mas eu...

— Eu posso escolher não ir, certo? — Disparei desesperada e abri a boca mais uma vez, mordi o lábio inferior com força e acrescentei: — Quer dizer, ninguém está dizendo que eu tenho que cair fora e que eu tenho que...

— Sakura, escute bem. — A voz dela soou baixa e cautelosa quando Tsunade me interrompeu. — Este não é um lugar para se apegar. Não existe... Não existe nada de bom nesse lugar que valha a pena. — Os olhos dela me estudavam e o silêncio que se instalou não diminuiu o aperto na minha garganta ou a sensação de que meu estômago estava sendo retorcido por mãos invisíveis. — Eu sei que você pode ter se apegado a algumas pessoas, não estou dizendo que isso é ruim.

  Ouça a voz da razão, querida.

— O ponto é que agora você precisa ser egoísta, Sakura. Eu não vejo Ino ou Hinata conseguindo sair daqui tão cedo — o tom de voz dela era sincero e era incômodo escutá-la, porque era uma versão resumida das vozes conflitantes que berravam na minha cabeça. — Você tem tanto direito quanto qualquer um deles de tocar com a sua própria vida. Isso não é traição. É apenas a verdade.

  Me forcei a encarar meus joelhos trêmulos, porque eu não suportava mais o olhar paciente de Tsunade enquanto as palavras dela martelavam na minha mente. Não levou tanto tempo até ela retomar a leitura e o tom autoritário encheu a sala minúscula com facilidade; meus membros ainda estavam rígidos quando o silêncio voltou a imperar naquele cômodo abafado e de paredes finas.

— Você não está traindo ninguém se cumprir uma ordem de despejo, garota — ela enfatizou assim que afastei a cadeira e levantei. Não esperei que ela concluísse sua linha de raciocínio e alcancei a saída, mantive o ritmo apressado quando dobrei o corredor e cheguei até o balcão da recepção.

  O suor que brotava na minha pele não era apenas fruto da fuga apressada que eu tinha feito ou do ritmo constante que eu forçava minhas pernas a mante; a sensação de que meus joelhos falhariam a qualquer minuto não era apenas por continuar em linha reta sem respirar direito.

  Aquilo tudo era medo.  

  A diferença era que, ao invés de me paralisar, dessa vez ele fazia meu corpo produzir e bombear adrenalina. Só percebi que estava tateando os bolsos à procura de Profaxim quando um arrepio escalou minha coluna assim que os meus dedos se fecharam ao redor da cartela enfiada no bolso do moletom.

  Você não tem muito tempo a perder, não é querida? É melhor usar o tempo com um pouco mais de inteligência. Tentei me convencer de que ainda tinha algum controle próprio quando mordi metade de um comprimido e senti o gosto amargo na boca se espalhando.

  Parei de andar e me forcei a controlar a minha respiração até um nível normal; eu não sabia se devia atribuir a sensação de autocontrole ao Profaxim ou à algum resto de esforço meu. Mas eu sabia que aquilo não duraria muito tempo, era apenas uma camada fina e superficial de autocontrole assim que meus pés fizeram o caminho até o meu quarto.

  Empurrei para o fundo da mente a vontade estranha de culpa e nostalgia quando reconheci a porta de madeira do quarto 130, tentei manter os ombros retos e ignorar o cálculo mental de quanto tempo ainda me restava dentro daqueles muros.

  O barulho das dobradiças rangendo assim que eu abri a porta parecia maior já que o cômodo estava vazio. Aquele bolo amargo de decepção e tristeza pesou mais no meu estômago do que a conversa com Tsunade ou do que a confirmação de Naruto de que o papel com a redução de pena era autêntico.

  Há cerca de dois meses, eu fingia que aquele papel não existia e que, se eu me esforçasse, a minha existência seria esquecida pelos juízes, assistentes sociais e quem mais fizesse parte do sistema legal.

  Fazia muito tempo desde que eu havia engolido Profaxim para amortecer meus próprios medos e fantasmas, e geralmente costumava funcionar bem o suficiente para me fazer esquecer das cicatrizes nas costas e nos antebraços. Mas chegava a ser deprimente e cínico que eu não conseguisse mais fugir da realidade.

  Você está presa há dez meses e ainda não aprendeu alguns truques, querida?

  Numa análise mais realista, eu não sabia o que fazer assim que atravessasse os portões. Eu não conseguia imaginar que tipo de vida eu tocaria sem trocar farpas com Ino, ter a companhia de Hinata ou bater apostas com Naruto. Eu não sabia o que poderia fazer caso não pudesse ver Sasuke ou tocá-lo ou me arriscar a baixar a guarda ao lado dele – eu não tinha a mínima ideia, até aquele ponto, do quanto eu precisava deles e do quanto doeria caso o improvável acontecesse.

  Uma risada amarga rompeu dos meus lábios assim que a constatação pareceu suprimir todo o resto. Eu havia alcançado um objetivo, pelo menos: eu cairia fora em menos de quatro semanas.

  Não senti alívio ou conforto, só a sensação de que eu estava perdendo mais do que eu podia perceber pela segunda vez. Olhei a janela e acompanhei a faixa de luz quadriculada que se estendia no chão e mordi o lábio inferior com força, escutando os soluços escapando da minha garganta e os olhos ardendo com as lágrimas.

— Tudo bem, Sakura? — Minhas bochechas arderam quando escutei a voz de Hinata e esfreguei os olhos com mais força do que necessário, mas os meus lábios ainda tremiam um pouco quando me forcei a expressar casualidade.

— É só... Eu só pensei que essas grades são uma droga — a minha garganta continuava apertada e Hinata parou ao meu lado. Ela desviou os olhos para a janela e mexeu a cabeça, numa concordância rápida e acrescentou:

— Quanto tempo você acha que levaria pra arrancar essas coisas daí?

— Uma eternidade.

— Aposto que a Ino é a pessoa mais indicada pra fazer isso — Hinata ergueu uma sobrancelha assim que a encarei e o riso estranho e um pouco estrangulado que escapou da minha boca encheu o cômodo. — Já que ela é um vampiro ancestral e tudo mais... Ela pode, sei lá, descongelar a gente assim que terminar.

—É mais provável que ela deixasse a gente congelada — Hinata ergueu os ombros e colocou uma mão sobre o meu ombro, e estreitei um pouco os olhos assim que ela me usou como apoio.

— Talvez. Mas ela não fugiria sem a gente, já que ela não ia aguentar ficar longe da gente — um sorriso tímido e sincero tomou conta do rosto dela quando sustentei um meio sorriso convencido. Boa parte da postura confiante e alegre de Hinata continuava ali, mas sua voz parecia tão trêmula quanto a minha. — Eu vou sentir a sua falta, Sakura.

  A calmaria reconfortante que sempre estava nos olhos de Hinata na maior parte do tempo não conseguiu me deixar mais tranquila, apenas intensificou o fiapo de angústia que me consumia há quase dois meses.

— Eu também — admiti e pisquei com força, tentando ignorar a sensação de ardor que se espalhava pelos meus olhos. Eu não queria desabar na frente de Hinata, não de novo. — Eu só...

— Eu sei que talvez você não me escute, mas não se sinta mal ou coisa do tipo. — O tom de voz controlado e calmo dela ainda era um pouco trêmulo, mas era mais firme do que a minha voz sussurrada. — Não importa que você more em outro lugar ou que leve dias ou meses pra gente conseguir se falar, pode contar comigo. Combinado?

  Mexi a cabeça várias vezes, numa concordância muda, porque eu não conseguiria expressar o que eu realmente sentia naquele instante. Assim que Hinata passou os braços pelas minhas costas e me apertou com força, eu a abracei de volta e torci para que ela conseguisse adivinhar o quanto machucava ter que ir.

* * *

— Eu tô falando com você, garota do capuz.

— Não precisa jogar comida nas pessoas, Ino — as vozes irritadiças de Sasuke e Ino encheram os meus ouvidos, mas eu pisquei confusa para o pedaço de pão que havia quicado na minha blusa.

— Garota do capuz!

— Ela tem nome.

— Por que vocês dois não calam logo a boca? — A voz sonolenta de Naruto interveio na discussão por poucos segundos, o loiro passou um copo de isopor para Hinata assim que ela se aproximou e puxou uma cadeira.

— Quem deu convite formal pro idiota aqui? — Ino apontou o polegar para Naruto enquanto estreitava os olhos na minha direção.

— Foi você, chefe — Hinata respondeu e ergueu as mãos quando a Yamanaka girou o pescoço na sua direção.

  Nós estávamos numa mesa mais ao fundo do refeitório, Sasuke ocupava a cadeira à minha direita e havia outra vazia à esquerda dele. Depois dessa, estavam Naruto com Hinata à sua direita e Ino à esquerda dela. Ainda haviam duas cadeiras vazias que me separavam de Ino e havia copos amassados e pedaços de sanduíche largados em cima da mesa.

  Supostamente, deveríamos estar cumprindo o cronograma do dia e acrescentar pontos positivos em nossas fichas para construir um argumento a favor da liberação do cumprimento de pena em regime fechado. Mas eu não ligava para frequência ou anotações positivas e meu esforço tosco e desesperado para conseguir atrasar minha saída não havia dado muito resultado.

  Parecia que Tsunade havia escolhido fechar os olhos para o que quer que eu fizesse. Eu não sabia mais determinar se isso era irritante ou desesperador.

— Na verdade, foi quando ele te trouxe a sua cerveja favorita — atalhei e os olhos azuis de Ino pareciam ser capazes de me fuzilar. A expressão levemente ofendida dela me divertiu e arrancou um sorriso convencido do Uzumaki assim que a loira alternou seu olhar irritado entre Hinata e eu. — E, se eu não me engano, vocês dois — apontei para Ino e Sasuke — estavam dormindo de conchinha.

— Não brinca! — Hinata arregalou os olhos e Sasuke parecia ter engasgado com um pedaço de comida enquanto Ino parecia ter congelado por um ou dois segundos.

— Você estava tão bêbada quanto eu! — A acusação de Ino me fez erguer os ombros com indiferença.

— Então você admite? — A minha pergunta causou um acesso de risadinhas abafadas por parte de Naruto quando Ino começou a gaguejar e Sasuke tentava cuspir desculpas. Fingi que roubar o que havia sobrado do lanche de Sasuke era mais importante do que escutar a voz furiosa de Ino ou as perguntas chocadas de Hinata ou a risada de Naruto ou a voz envergonhada de Sasuke.

  Mastiguei com vontade o que restava do sanduíche enquanto Hinata tentava apaziguar a nova discussão entre Ino e Sasuke sobre quem havia cruzado os limites primeiro. Em algum momento entre dedos apontados e apelidos estranhos, Hinata perdeu a paciência e praticamente rosnou:

— Será que vocês dois não conseguem controlar toda essa frustração sexual por dois minutos e agirem como pessoas normais? — O olhar dela suavizou um pouco quando o silêncio se instalou e todos nós a encaramos quando ela voltou a beber seu chá. — Algum problema?

  As negativas atrapalhadas e receosas praticamente sumiram assim que Hinata franziu um pouco o cenho; não demorou muito tempo para Ino levantar e puxar a cadeira à minha esquerda, a loira desabou ao meu lado e apoiou um braço em cima da mesa.

— E então? O que rolou com a Tsunade hoje? — Eu sabia que não conseguiria fugir daquela pergunta outra vez e mexi a mandíbula um pouco mais devagar, mastigando a comida da forma mais lenta que pude. — Eu não me importo se você falar de boca cheia, garota do capuz.

— Não é educado — soltei a desculpa.

— Eu também não sou muito educada — ela atalhou e um sorriso convencido moldou sua expressão enquanto seus olhos brilhavam de empolgação. — Sem comentários engraçadinhos, Sakura.

— Eu não ia dizer nada — engoli a comida e xinguei quando percebi que não restava mais nada para comer. Vasculhei a mesa, ignorando o olhar sério e exigente de Ino e soltei o ar quando percebi que não havia mais nada comestível ali.

— Desembucha. — A ordem dela me fez revirar os olhos e cruzar os braços com impaciência. — Ah, qual é! A gente já passou dessa fase de joguinhos de ego.

— Você é um pé no saco, Ino — resmunguei.

— E você não vive sem mim — suspirei de forma exagerada e estiquei um pouco mais as pernas.

  Respirei fundo antes de começar a contar, da forma mais direta possível, que havia um novo prazo e que eu atendia todos os requisitos impostos pelo juiz para a revisão da pena. Tentei ignorar a sensação de culpa que praticamente fechava a minha garganta sempre que esse assunto vinha à tona e me agarrei na postura que eu imaginava que tinha de manter.

  Virei um pouco o pescoço para o lado quando senti os dedos de Sasuke sobre a minha mão e um pouco daquele sentimento sufocante foi diminuído assim que nossos dedos se entrelaçaram debaixo da mesa.

  Você não pode fugir da realidade, querida, não por mais tempo.

— De qualquer forma, eu só tenho mais um mês antes de ser chutada pra fora daqui e ter que arrumar um apartamento — pigarrei e tentei me agarrar ao calor que vinha da palma da mão de Sasuke e não ao aperto constante na minha garganta e à vontade gritante de sair correndo e chorar até sentir meus olhos pesados. — Eu não prestei atenção na maior parte, já que ela estava falando sobre questões judiciais e pedaços da lei.

— Então é pra valer mesmo — o murmúrio de Ino me deixou sem qualquer tipo de resposta. O olhar dela parecia pertencer a uma pessoa vinte anos mais velha, não parecia correto que Ino carregasse tanta dor e conformismo nos olhos. — Não faça essa cara, Sakura. Faz você parecer um figurante de filme ruim.

— Exatamente como você, Ino — tentei devolver a provocação, mas eu sabia que a minha voz estava falhando de novo.

— Certo, garota do capuz. Não pense que eu vou pegar leve com você, só porque você está com despejo marcado — a loira retomou a postura de sempre com mais naturalidade do que eu conseguiria. — Agora que eu tenho a sua atenção, eu posso te atualizar sobre alguns assuntos.

— E do que você está falando exatamente? — Perguntei sem disfarçar a curiosidade pela pausa da loira. Ela sabia que o silêncio exagerado e longo apenas aumentava a curiosidade que ela mesma havia despertado na maioria das pessoas naquela mesa.

  Os olhos azuis dela pairaram sobre o Uzumaki desinteressado e sobre Hinata, que parecia verdadeiramente entretida em tomar seu chá em paz.

— Tá, tudo bem. — Hinata suspirou quando Ino arqueou a sobrancelha, numa exigência muda por atenção. A Hyuuga depositou o copo de isopor sobre a mesa e apoiou os cotovelos na mesa, inclinando um pouco o corpo para frente. — O que aconteceu? Conta! — A empolgação falsa de Hinata arrancou um sorriso reto da loira.

— Houve uma atualização no status de gangue intocável desse sofisticado estabelecimento — o sorriso arrogante dela era quase empolgante e Ino levantou um pouco o queixo. — Tirando esses dois aí, nós somos A Gangue. Muito bem, podem me agradecer com algumas cervejas e limpando o quarto no meu lugar.

  Analisei os rostos de Naruto e Sasuke imediatamente, mas eles pareciam indiferentes e desinteressados sobre o assunto. Hinata franziu um pouco o cenho e me encarou, como se eu soubesse exatamente como essa mudança havia ocorrido.

— Sei tanto quanto você, Hinata — respondi e ergui os ombros em seguida.

— Como foi que isso aconteceu? — A desconfiança na voz de Hinata era praticamente palpável e Ino olhou as unhas por alguns segundos e balançou a mão, como se a pergunta não tivesse importância.

— De forma diplomática, é claro — ela gesticulou outra vez e o sorriso dela aumentou um pouco quando estudou as nossas reações. — Karin não vai mais causar problemas para nós, nem as sombras dela ou qualquer outro idiota sádico.

— E por que ela não faria isso? — Perguntei e Ino pareceu analisar que tipo de resposta seria a mais convincente.

— A Hina estava certa sobre uma coisa: Karin é realmente a pessoa mais instável daqui. Parece que perceberam que ela estava presa no lugar errado, alguma coisa sobre ela ser perigosa demais para ficar sozinha. — Ino cutucou uma embalagem vazia de comida antes de dizer: — De qualquer forma, nós somos subimos no ranking e estamos no topo agora.

— É por isso que as pessoas estão saindo do nosso caminho nos corredores? — Hinata ainda estava desconfiada quando fez aquela pergunta e não parecia muito convencida com a explicação da loira.

— Vocês começaram o novo reinado. Faz parte do processo que as pessoas saibam que é idiota se meter no caminho de vocês — Naruto disse com calma, mas os olhos brilhavam com divertimento.

— O melhor que vocês podem fazer é chutar a Ino e dividir a coroa, e aí sim vocês vão ter um reinado normal — o comentário sarcástico de Sasuke arrancou uma risadinha irônica de Naruto e um muxoxo de reclamação de Hinata.

— Lá vamos nós de novo — ela murmurou e, logo em seguida, a voz irritadiça de Ino foi a mais alta do grupo.

— Ou melhor ainda: eu posso pegar o meu novo cetro e enfiar bem no seu...

— Espera aí! Você sabe mesmo o que é um cetro?

— Você vai ficar bem familiarizado com ele, cara. Pode apostar que...

  As frases de Ino ficavam cada vez mais elaboradas – isso eu tinha que admitir. Ela era mesmo criativa. Tentei me concentrar em quais frases eu poderia passar a usar com mais frequência quando percebi que aquele era outro momento categorizado como nostálgico.

  Suspirei um pouco cansada. Esse tipo de coisa estava ficando mais recorrente.

* * *

  Arrastei as pernas para fora do colchão quando ficou insuportável encarar o teto e tentar sufocar cada uma das vozes na minha cabeça que ditavam regras, ordens e o que fazer com as quatro semanas que ainda me restavam ali dentro. O silêncio da madrugada parecia intensificar o peso daquela ordem judicial e eu não conseguia mais manter o verniz de normalidade nos últimos dias.

  Era mais cansativo e mais trabalhoso do que antes, já que meus sentimentos andavam confusos e intensos demais para serem massacrados no processo.

  Enfiei os pés nos meus tênis surrados e passei os braços pelo moletom largo que estava jogado no chão, atravessei o espaço estreito até a porta pisando com cuidado sobre o carpete. A temperatura do lado de fora do quarto era um pouco menor do que eu havia considerado, mas não era incômoda quando comecei a caminhar pelo corredor.

  Quando atravessei o corredor largo e reconheci uma das portas que davam acesso ao pátio, a nova mudança de temperatura me fez tremer um pouco. Empurrei a porta e a rajada de vento que me atingiu parecia cortar o meu rosto; andei mais um pouco e sentei num dos bancos de cimento enquanto a minha cabeça girava sobre tempo, pessoas e regras.

— Eu acho que nós dois não estamos passando tanto tempo juntos. — A voz de Sasuke chamou a minha atenção e girei a cabeça e o tronco para trás, ele estava escorado contra a parede e um meio sorriso se instalou no meu rosto quando notei o capuz que cobria a cabeça dele.

— Na verdade, acho que você tem razão — comentei assim que ele se aproximou e sentou na minha frente. Enfiei as mãos no bolso do moletom e não me incomodei em ajustar o capuz quando ele escorregou do topo da minha cabeça.

— Eu conheço algumas formas pra corrigir isso, se você estiver disposta a escutar — ele se aproximou e, mesmo que eu já estivesse um pouco mais acostumada, ficar perto dele ainda fazia meu coração bater mais rápido e desenfreado. — Seu rosto corado combina com o seu cabelo, Sakura.

— O seu rosto vermelho também combina com os meus tênis.

— Você é terrível flertando — a risada dele me fez sorrir abertamente, de forma boba e sincera. Estiquei a mão e segurei os dedos gelados dele, tentando decorar a forma como aquele toque simples me fazia sentir leve, aquecida e hesitante.

— Eu sei. E já que você é horrível fazendo isso, eu tenho que te dar apoio moral de alguma forma — ele segurou minha mão e me puxou para perto; cada músculo meu parecia reagir automaticamente assim que ele me beijou, aquela mistura de calor, leveza e calma abrandou a minha cabeça e manteve o ritmo errático do meu coração.

— Nada contra esse tipo de apoio moral, sério.

— Não estraga o momento — pedi assim que nos separamos e voltei a beijá-lo.

  Assim que Sasuke se afastou um pouco, eu queria ser capaz de decorar o formato dos olhos dele e o brilho que eles carregavam quando nós estávamos juntos. E eu queria ser capaz de expressar o que eu realmente sentia, eu queria ser capaz de dominar as palavras e fazê-las significar o que elas realmente precisavam significar quando fossem ditas.

  Apertei um pouco mais forte a mão dele e mordi o lábio inferior, me forçando a reunir a coragem e falar que eu estava apaixonada.

— Tem uma coisa que eu preciso te contar — fechei os olhos rapidamente, sentindo o receio aumentando. Tentei reorganizar os meus pensamentos e me agarrar à necessidade de dizer o que eu sentia naquele momento, mas as palavras fugiam. — Droga, porcaria! Eu... O que eu quero dizer é...

  A apreensão que me dominou era sufocante e o máximo que eu conseguia fazer era repetir e gaguejar o que já havia dito anteriormente.

— Ei — encarei o rosto de Sasuke e o brilho calmo nos olhos pretos dele fez meu coração retomar o ritmo apressado de antes. Os dedos dele alisaram minha bochecha e meu maxilar com calma e eu queria dizer que ele não precisava querer gravar em sua mente a minha aparência, mas eu sabia que não podia dizer isso. E aquilo doeu mais do que pensei. — Não precisa se forçar a dizer nada, Sakura.

  Você não tem todo o tempo do mundo, querida.

— Eu sei — a resposta atravessou os meus lábios e eu esperava que calasse a voz na minha cabeça.

— Mas eu também quero te dizer uma coisa.

  Segurei a mão dele com mais suavidade dessa vez e fechei os olhos quando Sasuke me puxou para perto outra vez. A voz dele soou abafada, mas eu escutei perfeitamente:

— Amo você.


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Notas finais do capítulo

Penúltimo.



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