Capítulo 3- Lição 3 Autoestima

Eram nove horas da manhã de sábado e eu já estava em frente a minha casa. Casa essa que estava fechada, constatei ao girar a maçaneta. Eu estava sem minha chave e Charlie não deixava a chave extra do lado de fora, por alegar que era perigoso demais.

Como se algo acontecesse neste fim de mundo.

Bati à porta umas cinco vezes e nada deles me atenderem. Pelo visto não estavam em casa.

Só me restava uma cosia a fazer...

Peguei meu telefone e apertei o número três da discagem rápida.

"Alô?" A voz de fada atendeu do outro lado da linha.

"Ali, meus pais não estão em casa."

"Vem para cá que resolvemos isso." Ela sugeriu.

"Ok." Desliguei o aparelho e resolvi ir andando até a sua casa.

Após uma breve ligação para os meus pais, descobri que eles estavam na Flórida. E que além de esquecerem de me contar, eles esqueceram de deixar a chave extra em casa. Felizmente, a Sra. Brandon era uma pessoa muito hospitaleira e me convidou para passar o final de semana lá.

"Colegas de quarto!" Alice comemorou. Como se não dividíssemos o quarto por tempo o suficiente.

"É." Disse desanimada.

"Você não parece gostar da idéia." Ela apontou.

"Não é isso. Eu sabia que um dia meus pais me esqueceriam, mas eu pensava que seria na faculdade ou quando eu estivesse morando em outra cidade."

"Não seja dramática!" Ela disse revirando os olhos.

"Oh, esqueci que esse é o seu trabalho." Devolvi sarcástica.

"O que vamos fazer hoje à tarde?" Ela perguntou.

"O Jasper me chamou para ir a casa dele." Respondi.

"Perfeito!" Ela exclamou. "O que vamos fazer lá?" Eu abri a minha boca várias vezes sem saber o que responder.

Como eu poderia dizer a Alice que ela não tinha sido convidada? Eu deixei bem claro que o convite tinha sido feito a mim, mas parece que se tratando de amigos de infância a extensão do convite era implícita.

"Acho que vamos ver um filme." Respondi incerta.

"Vou descer e ligar para os outros" Ela saiu saltitando antes que eu pudesse impedi-la.

Eu só esperava que o Jasper não estivesse encarando isso como um encontro.

Quer dizer, não era bem um encontro, mas era o tipo de coisa que poderia levar a um, caso meu plano desse certo.

"Olá Sra. Withlock." Cumprimentei a mãe de Jasper que veio nos atender.

"Olá meninas. Ele está lá na sala." Ela disse, dando-nos passagem.

"Bella preparada para se apaixonar por..." Jasper começou a dizer ao meu ver entrando na sala. "Alice?" Ele perguntou surpreso ao ver a baixinha ao meu lado.

"Não. Nunca estarei pronta para me apaixonar por ela."

"O seu sarcasmo é comovente." Ele disse revirando os olhos, e eu sorri.

"Nem me fale." Alice murmurou.

"O que você vai fazer?" Me acomodei no sofá maior "Ler os livros até eu dormir? Leia o sumário, já é o suficiente."

"Vou começar a falar mal de um certo livro, que tem um tal de Heathcliff." Ele começou, e eu arregalei meus olhos em surpresa.

"Eu falei para você não dar ouvidos ao Edward." Ralhei com ele.

"Ele tem argumentos bem convincentes." Ele adicionou com um sorriso brincalhão.

"Certo. Eu retiro o que eu disse."

"Eu não vou ler, mas vamos ver os filmes."

"Só se for aquele que tem aquele ator lindo." Apressei-me em dizer. Se fosse para ver Harry Potter, que eu ganhasse ao menos uma recompensa visual por isso.

"Que ator?" Alice perguntou interessada, fazendo Jazz rolar os olhos.

"Aquele que faz o Cedrico." Respondi, tentando não suspirar.

"Ele é lindo." Alice disse, suspirando.

"Ok, vocês venceram." Ele rendeu-se.

Depois de pegar os DVDs, Jasper se sentou no espaço que havia entre eu e Alice. Se eu não tivesse certeza de que Alice estava se apaixonando por Emmett, eu diria que estávamos parecendo um bizarro triângulo amoroso. Principalmente, pelo silêncio constrangedor que se instalara. Parecia que tínhamos feito um acordo mútuo de não falar nada.

"O que vamos ver?" Emmett entrou na sala, e instantaneamente me senti aliviada. "Diz que é velozes e furiosos 4?"

"Claro que não." Jasper respondeu com uma careta.

"Vai dizer que vamos ver filme de mulherzinha?" Agora tinha sido a vez dele contorcer seu rosto em uma careta.

"Não. Vamos ver HP." Jazz respondeu, orgulhoso.

"Por que você me odeia?" Eu me segurei para não rir. Ao menos alguém refletia os mesmos pensamentos que eu.

Emmett se sentou ao lado de Alice, e o sofá ficou ligeiramente mais apertado do que antes. O sofá de três lugares era bastante espaçoso, e cabia quatro pessoas tranquilamente, desde que Emmett não estivesse entre elas.

Jasper passou a mão em volta dos meus ombros e se chegou mais para perto, para se acomodar melhor. Sorri brevemente para ele e eu encarei o sofá de dois lugares. Rosalie e Edward.

Eu realmente não precisava presenciar aquilo. Eu sabia que precisava me acostumar com esse possível futuro cada vez mais certo e mais presente, mas não era fácil.

A campainha soou e eu senti meu coração acelerando. A hora havia chegado.

"Cheguei atrasado?" Edward perguntou, chegando a sala.

"Ainda falta a Rose." Alice respondeu.

Como eu esperava, ele sentou no sofá vazio. O que eu não esperava era ele me chamar para sentar ao seu lado.

"Pensei que estivesse esperando a Rose." Comentei ao sentar do seu lado.

"Não estou a fim de exercícios hoje." Ele respondeu. "Por falar nisso, quando vai ser a próxima lição?"

"Você já cumpriu a passada?" Perguntei, querendo saber como estava a relação dele com Rose.

"Pode se dizer que sim" Ele respondeu vagamente.

"Pode-se dizer?" Arqueei uma sobrancelha, enquanto o encarava.

"Eu só tive ontem para praticar." Ele se defendeu.

"E por que não tenta hoje?"

"Já disse que não estou a fim" Ele respondeu, desviando o rosto. Eu sabia que quando ele não queria falar alguma coisa, não adiantava insistir.

"Certo. Então talvez na terça ou na quarta."

"Cheguei!" Rose anunciou sua presença e começamos a ver o filme.

Confesso que eu estava me esforçando a gostar do filme, mas eu não conseguia. Simplesmente não era o meu tipo. Ao menos o tal Cedrico compensava. E muito!

"Esse cara parece com o Edward." Emmett comentou durante o primeiro filme.

"Quem?" Edward perguntou, imediatamente.

"Esse aí." Emmett respondeu quando Cedrico apareceu na tela.

"Nada a ver." Ele protestou.

"Odeio concordar com ele, mas vocês se parecem sim." Rose disse. E eu tinha certeza de que ela realmente odiava ter que concordar com o Emmett em alguma coisa.

"É verdade." Alice reforçou, o que deixou o ocupante ao meu lado ainda mais irritado.

"Lembra um pouco." Eu disse e Edward me olhou atravessado."Eu disse um pouco."

"Espera, se você acha ele lindo, então você acha o Edward lindo?" Jazz perguntou, e todos os olhares se voltaram em minha direção.

"O quê?" Eu sentia meu rosto esquentar. Embora não soubesse se estava incomodada pela atenção ou pela pergunta dele.

"Só estou usando a lógica." Ele disse encolhendo os ombros. Todos os olhares persistiam em mim.

Como eu ia escapar dessa agora?

"Não, quer dizer...Eu não tinha pensado nisso...quer dizer..." Eu tropeçava nas palavras, procurando algo inteligente para dizer. Mudei de posição no sofá, ainda buscando um meio de me livrar daquela situação. Acabei esbarrando em um copo que estava na mesinha, e o mesmo caiu no chão. Se isso não fosse desastroso o bastante, resolvi olhar o estrago e instintivamente coloquei os meus dois pés no chão. "Ah droga!" Reclamei, ao sentir a dor nos meus calcanhares.

Eu podia sentir o sangue escorrendo, e a única coisa que eu conseguia pensar era que estava sujando o tapete perfeito da Sra. Withlock.

"Vamos precisar levá-la ao médico." Edward avisou.

Todos se levantaram prontamente e ele me carregou até o carro, onde Jasper já estava nos esperando. Emmett seguiu no carro conosco, enquanto Rosalie e Alice foram em outro carro.

Edward entrou comigo na enfermaria, enquanto o restante ficou na sala de espera.

"Bella, o que foi dessa vez?" Betty perguntou. Ela era enfermeira no hospital, e como dava para perceber, me conhecia das inúmeras vezes que visitei o pronto-socorro.

"Cortei o meu pé." Respondi, sem-graça.

"Você não toma jeito, não é?" A enfermeira lamentou. "Edward, eu vou chamar o seu pai."

"Obrigado." Ele agradeceu antes dela sair da sala.

"Bella!" O Dr. Cullen me cumprimentou com um sorriso. "Vidros nos pés? Como isso aconteceu?" Ele perguntou com um olhar divertido. Suspirei pesadamente antes de responder a sua pergunta.

"Eu quebrei um copo e acabei pisando no vidro." Carlisle balançou a cabeça e revirou meus olhos ao ouvir minha resposta. Eu sabia que assim como meus pais, ele estava cansado e ciente de todas as vezes que parei na emergência daquele hospital. E convenhamos, eu havia começado bem cedo.

"Cadê os seus pais?" Ele perguntou.

"Viajando. Eles esqueceram que eu existo." Eu sabia que estava sendo dramática, mas eu não conseguia evitar; afinal eles tinham esquecido de mim. Literalmente.

"E o Oscar vai para Bella Swan." Edward ironizou.

"Fique aí que eu já volto para te costurar." Carlisle ordenou. Como seu eu pensasse em ir a outro lugar.

"O seu pai é tão gentil. Me costurar. Estou me sentindo o Frankstein." Comentei sarcástica.

"Ao menos ele tem um parafuso na cabeça." Ele devolveu ácido.

"Qual o seu problema?" Perguntei, com uma sobrancelha arqueada.

"Nenhum." Ele respondeu secamente, desviando o olhar.

"A sala de espera está cheia." Carlisle comentou quando voltou a sala. "Onde vocês estavam?"

"Na casa do Jazz." Respondi.

"Bella, você tomou antitetânica recentemente?"

"Não sei."

"Eu vou te passar uma injeção. E você vai a farmácia pegar esse remédio. É um antibiótico para prevenir infecção." Ele me entregou a receita.

"Ok."

"Eu vou chamar e enfermeira para aplicar a injeção." Ele disse, saindo da sala, mas parou antes de alcançar porta. "Espera, você disse que seus pais estão fora?"

"Sim, eu vou dormir na Alice."

"Eu acho que você deveria dormir lá em casa." Edward disse.

"Eu acho que não." Discordei. Além do fato deles estar me tratando mal nos últimos minutos, eu não gostava da idéia de passar o restante do meu fim de semana na casa dele.

"Alice não vai poder te carregar até o banheiro."

"E você acha que eu vou deixar você me carregar até o banheiro?" Perguntei, desafiante.

"Você precisa repousar os seus pés. E eu concordo com o Edward, você deveria ficar lá em casa." O Dr. Cullen interveio. Lógico que ele iria que concordar com o filho.

"É claro que você concorda." Disse revirando os olhos.

Depois de ter tomado a injeção e de ter meus pés devidamente saturados, Jasper nos levou até a casa do Edward.

"Onde você vai dormir?" Perguntei a ele.

"No sofá." Ele respondeu com se fosse a resposta mais óbvia do mundo.

"Não Edward. Eu posso dormir no sofá." Mesmo ele tendo sido um idiota nas últimas horas, eu não gostava de saber que estava incomodando de alguma forma.

"Nada disso." Ele recusou. "Toma. Acho que é mais confortável do que a roupa que você está." Edward me entregou uma blusa sua junto com um short.

"Obrigada." Agradeci.

Edward saiu do quarto para que eu pudesse me trocar. Cerca de quinze minutos depois ele voltou trazendo chocolate quente e um sanduíche- que rapidamente foi devorado por mim. Deixei o copo e o prato na mesinha de cabeceira e me ajeitei para dormir.

"Posso te perguntar uma coisa?" Ele perguntou já deitado no sofá.

"Claro."

"Quando o Jazz te convidou para ir a casa dele, eu pensei que fosse apenas você."

"E era. Quer dizer, eu acho. Mas, a Alice pensou que o convite também era para ela, e eu não tive coragem de dizer não."

"Você e o Jazz, estão saindo?" Pensei um segundo antes de responder aquela pergunta.

"Não."

No domingo um pouco após o almoço Jasper apareceu na casa dos Cullens com dois DVDs nas mãos.

"Que tal nos torturarmos mutuamente?" Ele sugeriu. Sorri ao ver os títulos dos filmes:Harry Potter e a Ordem da Phoenix e O Morro dos Ventos Uivantes, na versão com a Julliete Binoche.

Como ambos os filmes estavam na lista negra de Edward, ele decidiu não se juntar a nós para ver os filmes. O que de um certo modo foi bom. Edward ainda estava agindo um pouco diferente.

"Olha só o que eu tenho aqui." Rosalie falou enquanto entrava no meu quarto, balançando umas folhas na mão.

"O que é isso?" Perguntei curiosa.

"Inscrições para a faculdade!" Ela respondeu animada.

"Já?" Perguntei surpresa. Eu não esperava me preocupar com isso até o próximo semestre.

"Para onde vamos?" Ela perguntou enquanto olhava os papéis.

"NYU?" Minha resposta saiu mais como uma pergunta.

"Achei que iríamos para Yale. Esse era o nosso plano desde o início." Ela disse com um biquinho que lembrava o da Alice.

"Eu sei, mas..." Tentei me explicar, mas ela não deixou.

"Você tem que analisar as possibilidades. Eu entendo." Ela disse compreensiva e eu apenas assenti. A verdade é que nos últimos meses a idéia de estudar em Nova York me parecia cada vez mais atraente. "Como você está?"

"Bem, o problema é só quando preciso ir ao banheiro." Tirando aquele fator constrangedor, tudo estava bem. Eu quase não sentia dores nos pés.

"Precisa de alguma coisa?"

"Não obrigada."

"Olá pezinhos enfaixados" Emmett me cumprimentou ao entrar no quarto. Encarei-o séria e ele franziu o cenho. "Prefere ensanguentados?"

"Emmett!" Rose o repreendeu.

"Deixa, Rose." De nada adiantaria brigar com ele.

"Vou indo." Rose anunciou. "Cuida dela, hein?" Ela disse virando-se para ele.

"Sim senhora!" Ele bateu continência. Rose bufou e saiu do quarto. "Hoje tem aula?" Ele perguntou sentando-se a beira da minha cama.

"Você nem perguntou como eu estou." Apontei.

"Mas eu vejo que você está bem." Ele atestou.

"Mesmo assim. Perguntar mostra educação e interesse." Expliquei.

"Certo."

"Quer ter sua próxima lição agora?" Perguntei.

"Com certeza. O assunto deve ser muito interessante." Ele respondeu com um sorriso malicioso no rosto.

"É autoestima."

"Autoestima? Eu pensei que você fosse falar sobre..." Ele disse confuso.

"Eu sei muito bem o que você pensou, e não é isso." Senti meu rosto ficando vermelho ao lembrar do que ele tinha falado.

"A autoestima é..." Assim que comecei a falar alguém abriu a porta.

"Interrompo alguma coisa?" Jake perguntou culpado.

"Não."

"Eu só fiquei sabendo agora." Ele se desculpou. "Como você está?"

"Bem."

"Eu acho que vou indo. Tenho treino de futebol logo mais." Emmett disse, percebendo que seria melhor nos deixar a sós.

"Amanhã você não escapa, Emm." Avisei e ele sorriu

"Pode deixar."

"Alice falou que você pisou em um caco de vidro." Jake retornou a conversa quando Matt saiu do quarto.

"Em dois, na verdade." Levantei meus pés amostrando o curativo.

"Deve ser um saco ficar presa nesse quarto." Eu ainda não tinha completado nem um dia ali dentro, mas já estava enjoada daquelas paredes amarelas.

"Muito."

"Quer dar um passeio?" Olhei para ele como se ele tivesse criado uma segunda cabeça em seu corpo.

"Jake, eu não posso." Apontei para o óbvio.

"Claro que pode." Ele disse me pegando no colo.

Jake passou comigo por quase toda a escola. Eu esperava que ninguém nos notasse. Ele continuou o percurso até chegarmos a uma estufa que era mantida pelo pessoal de botânica.

"Parece anos desde a última vez que estive aqui." Comentei olhando ao redor.

"É lindo, não é?"

"É sim." Concordei. "Como foi em Montana?"

"Legal. Não é um lugar onde eu escolheria morar, mas é interessante."

"Como Rachel está?" Perguntei. A última vez que a vira fora no ano passado quando ela estava visitando a família.

"Bem. Ela vai casar com o Paul."

"Sério?" Me surpreendi. Rachel sempre foi do tipo independente, que nunca dependeria de um homem para nada. "Nunca achei que ela se casaria."

"Para falar a verdade, nem o Paul achava." Jacob confidenciou, rindo. "Você vai ao baile?"

"Que baile?" Perguntei confusa. Jacob ficou me encarando até que finalmente lembrei de que baile ele estava falando. "Ah, sim o baile. Não sei se vou."

"Não foi convidada?"

"Pensei que fosse escolha das garotas." Disse sem saber ao certo.

"Verdade." Ele confirmou. "Vai com o Cullen?"

"Não." Respondi tentando não transparecer o quanto aquilo me desapontava.

"Ele não sabe o que está perdendo." Jake comentou irritado.

"Como?" Eu não conseguia entender sua súbita reação.

"Mesmo com aqueles óculos ele não consegue enxergar o que está bem na frente dele." Ele suspirou irritado. Mais do que nunca, agora eu não tinha nenhuma esperança de que ele pudesse me enxergar.

"Eu sou invisível Jake."

"Não deveria ser." Jake olhou em meus olhos por um momento. "Já sei! E se eu te ajudasse a conquistar o Cullen?"

"O quê?" Eu estava mais do que surpresa com aquela sugestão.

"É. Com direito a cenas de ciúmes e tudo o mais." Ele adicionou com um sorriso.

"Não acho uma boa idéia."

"Por que?"

"Eu estou ajudando ele a conquistar Rosalie Hale." Confidenciei, sem conseguir encará-lo.

"Bella, mas por que?" Jacob questionou, mas eu não tinha forças para responder a sua pergunta.

"Será que podemos voltar para o quarto? Eu tenho coisas a fazer." Eu precisava sair dali o mais rápido possível antes que ele me perguntasse mais alguma coisa.

"Claro, claro." Ele murmurou contrariado.

Pouco tempo depois do Jake ter me deixado no dormitório Alice chegou do seu treino das líderes de torcida.

"Gostou do passeio?" Ela perguntou quando entrou no quarto.

"Como você sabe disso? Você nos viu?" Perguntei surpresa. Eu não tinha percebido nenhum olhar em minha direção.

"A escola toda viu. Também, como não ver um cara de quase dois metros de altura?"

"Você só acha isso porque você só tem um metro e meio." Provoquei.

"Mas eu garanto que é muito mais prático carregar a um metro e meio aqui do que carregar você."

"Touché."

"Bella, eu posso te fazer uma pergunta?" Alice perguntou, aparentando um certo desconforto.

"Você vai fazer de qualquer jeito."

"Você alguma vez já se apaixonou?" Eu a encarei por um momento. Será que o meu plano insano já estaria surtindo algum resultado?

"O quê? Por que você está me fazendo essa pergunta?" Questionei, descartando a possibilidade de dar uma real resposta àquela pergunta.

"Só curiosidade"

"Sei." Murmurei baixinho. Alice nunca perguntava só por curiosidade

"Sabe, você falar que eu preciso melhorar minha autoestima, não faz nada bem para a minha autoestima." Jasper contestou. Porque os garotos insistiam em questionar tudo o que eu dizia?

"Jazz..." Tentei falar, mas ele me interrompeu.

"Você me acha tão para baixo assim? Quer dizer, eu sei que geralmente eu sou calado, mas isso não quer dizer que eu tenha problemas." Ele se defendeu. Isso definitivamente não estava tomando o rumo que eu havia imaginado.

"Agora seria uma ótima hora para você ficar calado." Disse um pouco exaltada.

"O que deu em você?" Jasper me olhou surpreso.

"Desculpa." Pedi. "Vamos voltar a aula?"

"Claro." Embora tenha concordado, o seu olhar desconfiado não me escapou.

"Como eu estava falando, você precisa evidenciar que sua autoestima não é baixa"

"Como assim?"

"Por falar sobre você." Respondi.

"Eu pensei que as garotas não gostassem quando os caras falam demais sobre eles mesmos."

"E não gostamos. Mas, a questão é ter equilíbrio. Como você pode mostrar a alguém que está de bem consigo mesmo se você nem consegue conversar sobre você ou seus interesses?"

"Você tem razão."

Já era quarta-feira e eu já estava me sentindo bem melhor. O pé já estava cicatrizando, e praticamente não doía; o que me possibilitava pequenas aventuras, como ir ao banheiro sozinha. Você só aprende o valor das pequenas coisas, quando fica impossibilitada de fazê-las

"Mais um pouco e você vira uma bailarina." A voz de Emmett me assustou, quando estava saindo do banheiro na ponta dos pés.

"Emm!"

"Como você está?" Sorri ao ver, que ele estava colocando meu conselho em prática.

"Bem melhor."

"Então..."

"Senta logo aí." Ordenei e nos sentamos na minha cama

"Ontem como eu estava com um tempo livre eu entrei na internet e pesquisei o assunto." Ele disse.

"Sério?"

"Na psicologia autoestima inclui a avaliação subjetiva que uma pessoa faz de si mesma como sendo intrinsecamente positiva ou negativa em algum grau." Algo me dizia que Emmett havia passado a noite memorizando aquelas palavras. "Como isso se aplica a mim?"

"Emmett como você se descreveria?"

"Como eu me descreveria?" Ele pensou por um momento. "Para começar eu diria que sou o melhor jogador de futebol que esse colégio já teve, e que graças a mim, nós..."

"Para um pouquinho aí." Interrompi antes que ele iniciasse mais um capítulo da novela 'Eu sou máximo'. Se ele fosse loiro, eu juraria que ele era o Johnny Bravo. "É exatamente essa a questão."

"Como?" Ele franziu o cenho confuso.

"O grande perigo de ter uma autoestima elevada, é que, às vezes, ela pode gerar um egocentrismo."

"Bella, eu não sou tão superficial assim." Ele disse, ofendido.

"Eu sei que não." Disse sincera. Só quem conhecia Emmett de verdade podia ver por de trás daquela fachada presunçosa que ele tentava manter. "Mas eu só sei disso porque eu conheço você. Aposto que em um primeiro encontro com uma garota você não faz outra coisa senão falar de vocês mesmo."

"E o que eu tenho que fazer? Ficar de boca fechada deixando ela falar?" Ele arqueou uma sobrancelha, enquanto aguardava a minha resposta.

"Claro que não. Não é errado você falar sobre você. Ao contrário, é saudável e recomendável. O problema é quando você se perde demais em você e esquece a outra pessoa."

"Entendi. Falar demais sobre mim é mau. Falar um pouco é bom e mostra que eu gosto de mim, certo?"

"Isso mesmo."

"Você deveria fazer isso."

"O quê?"

"Falar mais sobre si mesma. Você pode achar que não, mas existem pessoas que gostam muito de quem você é." Ele disse com um sorriso.

"Obrigada, Emm." E não tive como resistir e sorri de volta. "Você poderia me fazer um favor?"

Assim que Emmett assentiu, pedi que ele me levasse até um mini café que ficava no pátio da escola. Ele me deixou em uma das mesas que ficavam ao ar livre, e ainda pediu o meu café antes de sair.

Sinceramente, eu não cheguei a pensar em como eu voltaria para o meu quarto. Mas estava tão agradável sentir aquela suave brisa nos meus cabelos que não me incomodaria ficar ali o dia todo.

"O que aconteceu?" Jacob perguntou ao me ver ali.

"Nada, só queria me distrair." Encolhi os ombros.

"Bella, sobre aquele dia..." Jake olhava para os lados e massageava o pescoço. Sinal que ele estava desconfortável com aquilo.

"Esquece."

"Eu só queria me desculpar. Eu tentei opinar no que era da minha conta."

"Talvez eu queira que isso seja da sua conta." Eu já estava cansada de ter que guardar tudo aquilo dentro de mim.

Resolvi contar tudo ao Jacob, desde o pedido do Edward até a última aula que eu acabara de ter com o Emmett.

"Bella, por que você aceitou isso?" Jacob perguntou enquanto ainda assimilava tudo o que eu tinha dito.

"Eu não consegui dizer não."

"Você nunca consegue." Eu assenti, me lembrando de diversas vezes que Rosalie me disse essas mesmas palavras. "Às vezes eu acho que o seu altruísmo é seu maior defeito."

"Você pode estar certo."

"Eu acho que você precisa parar antes que as coisas piorem." Ele aconselhou.

"Vai dar tudo certo." Disse convicta. Tudo estava caminhando perfeitamente bem.

"Você não pode brincar com os corações alheios. Muitos podem se machucar, inclusive o seu."

"Você não entende, eu estou fazendo a coisa certa. O Edward está se dando bem com a Rose, o Emmett e a Alice vivem conversando pelos cantos, e o Jasper está quase me chamando para sair."

"Mesmo que isso dê certo, e você o faça se apaixonar. Você pode fazer você se apaixonar por ele?" Abri a boca repetidas vezes para responder, mas nenhuma palavra saiu. Eu simplesmente não sabia aquela resposta. Eu seria realmente capaz de me desapaixonar pelo Edward e me apaixonar pelo Jasper?

Eventualmente, Jacob me levou de volta para aquela prisão que eu chamava de quarto. Eu estava começando a ler uma das matérias que Alice havia deixado ali para mim quando Edward apareceu a minha porta.

"Oi, pensei que não veria você essa semana." O meu cumprimento saíra um pouco mais ácido do que eu intencionava.

"Eu ando um pouco ocupado." Ele respondeu sem me encarar. Eu sabia que ele estava mentindo.

"Veio para a sua lição?"

"Não sei." Ele exalou pesadamente se jogando na minha cama.

"Como você não sabe?"

"Eu estou confuso."

"Sorte sua que a sua melhor amiga está aqui para te ajudar."

"Acho que eu não quero falar sobre isso." Ele disse mudando de posição na cama. "Que tal você me falar sobre a lição, professorinha?" Ele realmente estava confuso. Ora ele diz que não quer aula, ora diz que quer. Como vou entender?

"É sobre autoestima." Respondi. Achei melhor não contrariá-lo.

"Você tem certeza que não andou lendo livros de auto-ajuda?" Ele perguntou, zombeteiro,

"Se eu achasse um livro que falasse sobre isso. Eu não ensinava nada, dava o livro de presente." O que me pouparia tempo e sanidade.

"Mas aí perde a graça." Ele disse com seu sorriso torto.

"É bom saber que você acha graça disso tudo."

"Então, você acha que minha autoestima é baixa?"

"Não, necessariamente."

"Esclareça." Ele gesticulou para que eu prosseguisse a falar.

"Você é inseguro, mas não se menospreza." Expliquei. "Eu diria que você está quase lá, só precisa de mais segurança."

"E como eu vou chegar lá?"

"Conversando. Fale mais sobre você. As pessoas poderiam se surpreender se conhecessem o verdadeiro Edward." Ele correria o risco de ter todo o corpo estudantil feminino apaixonado por ele.

"Você acha que eu deveria conversar mais sobre mim com a Rose?"

"É." Respondi sem conseguir encará-lo. Olhei de soslaio para ele e percebi que ele estava me olhando.

"Agora vamos trocar esses curativos." Ele disse subitamente como se estivesse despertado de um transe. Edward estava agindo de uma maneira não muito convencional desde o sábado. Eu cogitei em conversar com ele sobre isso, mas eu conhecia o Edward. Ele era parecido comigo e nunca falaria algo que ele não quisesse revelar. "Alice?" Ele perguntou, apontando para os meus pés que estavam envoltos por uma atadura rosa.

O que posso dizer? Alice adora tingir tecidos.