O jantar foi normal, fora Harry chegar atrasado e coberto de sangue, mas parece que ninguém prestou muita atenção nisso. Após todos terminarem de comer Dumbledore levantou-se para fazer o discurso de boas-vindas. Ao olharem para as mãos do diretor os sussurros tomaram conta do salão, a mão direita dele estava escura e sem vida, parecia morta. Dumbledore disse para não se preocuparem e começou a dar os avisos de sempre. Ao contar que Horácio Slughorn iria ensinar poções e Snape Defesa Contra as Artes das Trevas o salão explodira em murmúrios, protestos vindos principalmente da mesa da Grifinória, e as mais variadas hipóteses surgiram na tentativa de entender como Snape havia, finalmente, conseguido o tão cobiçado cargo. O diretor esperou os alunos ficarem em silêncio para retomar o discurso. Ele falou sobre como Voldemort estava ganhando forças, a proteção que o castelo recebia e alertou a todos sobre os riscos de desobedecerem qualquer regra e serem descuidados, finalizou dizendo que todos deviam se unir e manter a esperança viva nesses tempos sombrios, e disse que todos tinham escolhas, e que deveriam ouvir sempre seus corações.

Hermione ouvia o que o diretor falava mas seu olhar estava fixo em Draco, que parecia distante e indiferente às palavras do bruxo. Ela não podia culpá-lo, embora Dumbledore fosse um bruxo muito poderoso aquela conversa já estava cansando. Pessoas estavam morrendo, famílias eram destruídas, o medo dominava a população bruxa, e tudo que ele dizia era para ficarem juntos e que o amor salvaria a todos. Será que ele não percebia que isso estava ficando irritante? Como eles venceriam uma guerra se o discurso do maior líder da luz fazia com que os inimigos zombassem?

Ela não subestimava a importância do amor, não, mas ela sabia que provavelmente grande parte da população gostaria de ter algo mais sólido para depositar suas esperanças. Essa guerra mal havia começado e já estava assustadoramente desequilibrada. E descobrir que seu melhor amigo, cujas habilidades mágicas estavam dentro dos padrões normais para um aluno do sexto ano, era a melhor aposta e talvez a única chance que tinham de acabar com a guerra não era muito animador.

Draco, percebendo que estava sendo observado, levantou o olhar para o salão, e quando seus olhos percorreram a mesa da Grifinória encontraram-se com um par de olhos castanhos que o fitava intensamente. Olhou diretamente para a garota, que não desviou o olhar. Ele notou que enquanto o velhote falava a garota tinha um pequeno sorriso irônico, que demonstrava claramente que ela discordava das palavras do diretor e achava tudo aquilo patético. O garoto sorriu divertido com o pensamento, a santinha da Grifinória aparentemente não tinha tanta fé no discurso de Dumbledore. Porém ele tinha que admitir, mesmo a contragosto, que ela era inteligente demais para engolir toda aquela baboseira. Mas ele nunca pensou que ela daria qualquer tipo de demonstração aberta que pudesse colocar dúvidas sobre a capacidade de liderança de Dumbledore.

Quando os olhos acinzentados viraram em sua direção Hermione sustentou o olhar com firmeza. Notou que o garoto tentava avaliar suas expressões para descobrir o que ela estava pensando mas não viu sentido em tentar ocultar o desagrado que sentia pelas palavras do diretor, isso com certeza iria intrigar o sonserino. A expressão incrédula no rosto dele divertia e irritava a castanha. Era ótimo ver as mudanças nas feições do loiro, agora a dúvida era refletida no rosto dele, ela adorou tirar o sorriso arrogante da cara dele, sem falar que conseguira chamar a atenção dele e isso seria útil futuramente. Mas ela ficou muito irritada pois o olhar do garoto confirmara algo que ela suspeitava há algum tempo, mesmo que soubessem de sua inteligência, todos esperavam que ela confiasse cegamente em Dumbledore, aceitando tudo de cabeça baixa e sem questionar. Por que será que ninguém entendia que mesmo que Dumbledore fosse poderoso e o único que Voldemort temia, segundo diziam, ele não era perfeito e também podia errar. Ela escondeu essa irritação, mudaria esse pensamento sobre ela em breve, e perder a calma não seria bom para seus planos. Com um sorriso divertido a garota levantou-se para guiar os alunos novos até os dormitórios, ignorando o sonserino que ainda olhava para o local onde ela estava sentada, tentando entender o que se passava na mente da garota, sem notar que todos já estavam indo para os dormitórios.