Quando Felipe Conheceu Johnnie escrita por Zoombie_Misora


Capítulo 15
Esperando


Notas iniciais do capítulo

Chappie fofinho...
Meio triste...



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“Felipe,

Tem certas coisas que eu gostaria de esclarecer para você compreender melhor a forma com que o seu pai reagiu ao nos ver juntos.

Eu sou o quarto filho de Johns Balthazar. Sou o único que tem mais de dezoito anos e que ainda mora junto com ele. Minha fama é praticamente igualada à de meu pai.

Posso dizer que teu pai tem razão em me manter longe, afinal eu não deixo pedra sobre pedra por onde passo. Nem meninas virgens.

Não sei como comecei a agir assim. Só segui meu pai uma vez e acabei nunca mais saindo dessa vida de mulheres regada à puro álcool e ressaca. Nunca reclamei desse tipo de vida.

Isso pesa em minha consciência agora.

Pois tenho dois lados, duas vidas nas mesmas vinte quatro horas.

Uma vida, você acabou de ler... A outra, foi a que conheceu. O Johnnie que faz faculdade, vai em eventos e... que se apaixonou por um homem.

Sabe, faz muita escuridão desde de que tu foi.

Não tenho coragem para confessar à ele que te amo. Sei que me mataria, colono do jeito que ele é...

É por isso que quero esse jantar. Para virar uma página e acabar com o ‘Johnnie destruidor de lares’ e somente a pessoa que eu tanto quero que você ame, fique.

Espere por mim, já estou quase melhor, me dê apenas mais duas semanas.

Seque essas lágrimas, pois quero ver esses orbes verdes claros brilhando como o sol.

Eu te amo Lipe, isso não vai mudar. Eu tenho certeza.

Resolverei tudo e se for preciso, enfrentarei teu pai em um duelo.

Te salvarei dessa repressão boba em que foi colocado.

Do seu amado,

Johnnie”

O telefone em Charqueadas tocou. Fritz resolveu atendê-lo, afinal estava sozinho em casa com Hans, ainda um pouco imóvel.

-Alô? –Perguntou ao atender.

-Fritz? É o Balthazar. –Disse o moreno. –Vamos marcar uma janta?

-Quando?

-Semana que vem.

-Onde?

-Onde ficar melhor pra trazer o Hans... E o resto da família.

-Quer que todo mundo vá?

-Sim! Quanto mais, melhor...

-Marcamos aqui então? –Disse Fritz. –A Audrey pode cozinhar.

-Ela não vai se cansar?

-Não, já tá acostumada. Então nos vemos na sexta?

-Claro. Tchau.

-Tchau.

O alemão não quis dizer nada sobre Johnnie e Felipe. Sabia que o moreno iria castrar o filho se soubesse que ele estava saindo com um menino. O pior era pensar que seu sangue estava querendo se misturar aos daquela família.

Não demorou muito para que Felipe acordasse. O menino encarou o pai e nenhuma palavra foi trocada. Nenhum tentava puxar assunto, nada. Aquele silêncio já estava entalado na garganta do loiro menor.

Mas como voltar a conversar com ele?

Dar o braço a torcer? Com certeza, a primeira coisa que ele perguntaria era se Lipe desistia da idéia de ficar com o moreno. Isso nunca. Com grande pesar no coração e lágrimas nos cantos dos olhos, o menor se retirou do cômodo.

A semana passava. Lipe estava ficando mais magrinho, abatido. O pai também  apresentava sinais fraqueza, seus cabelos perdendo o brilho natural e a pele ficando pálida.

Nenhum dos dois dizia qual o problema para os outros. Eram orgulhosos demais para tal ato. Tinham mais em comum do que imaginavam.

-Vai esquecer esse menino Lipe. –Disse Fritz entrando no quarto. –Eu vou fazer de tudo pra isso! Tu pode ter um futuro! Tu tem perspectiva! Pode ser o que quiser na vida! Não acaba com o teu caminho assim! Com um menino que não vale a pena.

-E com quem você acha que eu devo acabar? –Perguntou o loirinho.

-O Rodrigo...

-Ele me engano pai. Ele fico comigo e me largou no outro dia e adivinha? Porque ele tava afim de botar uns chifres na namorada dele! Tu não conhece o Johnnie do jeito que eu conheço!

-Tu enlouqueceu! NUNCA FELIPE, NUNCA!

-Então saí daqui. Pois tu não pode mudar o que eu quero!

-Se continuar assim, eu te expulso daqui!

-ÓTIMO!

-ÓTIMO!

A porta se fechou com grande violência. Hans perguntou o que havia acontecido, mas nada foi respondido.

No mesmo dia de noite, a mãe de Felipe, Audrey havia chegado da viagem à Rússia. Ela já estava falando praticamente fluente a língua tão complicada. Abraçou o filho mais velho com muito amor. Beijou o seu marido com fervor.

Mas sentiu falta do seu caçula, aquele que escolheu dar o nome do seu primeiro beijo. O que mudou a sua vida quase que completamente.

-Onde está o meu pequeno? –Perguntou ela para o marido que cozinhava.

-Audrey... Ele apronto. –Respondeu Fritz secando as mãos e sentando na frente da mulher.

-O que ele fez?

-Dormiu com... um homem.

-SÉRIO?! –Ela pareceu em choque. –Meu Lipe gosta de homens? Que coisa mais fofa!

-Não Audrey. Ele dormiu com um Balthazar. Com o Johnnie.

-Johnnie?

-É... O nosso filho enlouqueceu! Como pode fazer isso com nós?

-Lembra que... quando vimos que o Lipe começou a ficar afeminado, tivemos uma conversa e tu concordou em deixar ele ser o que quissesse?

-É diferente agora! É um Balthazar! Vai transar com ele e largá-lo.

-O fruto pode cair longe do pé sabia? –Ela levantou e começou a massagear os ombros do loiro. –Vamos dar uma chance Fritz... Do mesmo jeito que nós estávamos precisando...

-Nós somos diferentes.

-E eles também! Um é loiro e o outro é moreno. Já é diferença o suficiente... Sei que quer protegê-lo, mas nesse caso não há nada mais o que fazer... Eu vou falar com ele.

-Não quero que ele sofra.

-Não se preocupe meu amor... No fundo eu sei que tu quer ver ele sorrir ao lado desse menino.

A mãe saiu da cozinha. Estava chocada com a revelação, mas ao mesmo tempo, tão orgulhosa! Podia sentir a felicidade do loirinho em finalmente descobrir o que queria e o que gostava!

Finalmente havia se encontrado... Isso era bom e ruim. Bom, pois o filho havia encontrado o seu caminho. Ruim, pois estava envelhecendo mais rápido do que pensava.

Abriu a porta do cômodo e viu o filho deitado na cama. Ele dormia, parecia tão magrinho e abalado. Deitou-se ao lado dele a acariciou os cabelos loiros cevada com paixão.

Adorava o cheiro do seu caçula e a maneira sempre tão carinhosa que lhe tratava. O menino abriu os olhos e sorriu ao ver a mãe ali, ao seu lado. A abraçou forte e deixou mais algumas lágrimas rolarem.

Ela o embalava com amor. Ele chorava, não falava nada e aproveitava o calor tão quente que a mãe lhe passava. Lipe sabia que poderia contar tudo para ela. Quando ameaçou abrir os lábios, ela os bloqueou com o dedo e sorriu.

-Eu sei... –Ela disse. –Gosta dele?

-Me apaixonei mãe... –Respondeu Lipe.

-Então vamos fazer o teu pai mudar de idéia... Eu prometo.

-Brigada mãe...

Felipe voltara a ganhar peso. A comunicação com o pai não foi estabelecida, mas pelo menos, não estava tão tenso o simples fato de estarem dividindo a mesa. Aqueles dias estavam passando como o vento.

Porto Alegre – Sexta-feira

-Pai, tu ainda não te arrumou? –Perguntou Johnnie entrando na sala. –Temos que ir pra rodoviária.

-Quem disse que eu vou? –Perguntou Balthazar. -Tu quis que eu marcasse o jantar, não que eu fosse.

-Mas eu preciso de alguém pra me ajudar! Vou estar sozinho.

-Te vira Johnnie, quando tiver o próprio bar vai ser assim.

-Espera... Quem te contou?

-Não so tão burro assim, sabia? Pra um filho meu, que trabalho a vida inteira comigo fazer administração... Só podia pra abrir o próprio negócio.

-Quando o alemão voltar de Minas, ele vai abrir o bar comigo. –O moreno sentou no sofá. –Não vai ficar triste? Eu vou abrir algo meu... Não continuarei o da família.

-E quem disse que eu vou deixar pra família aquele lugar? Não criei filho pra ficar na minha asa! Vai ter que voar sozinho. É por isso que eu quero que vá lá!

-Pai... Eu achei que ia ficar muito... Brabo comigo.

-É normal pedir empréstimo pros meus amigos, o seu outro irmão também fez isso.

-Empréstimo?

-É... O que mais você faria lá? Francamente garoto, acha que consegue esconder algo de mim... Se cuida. –Falou o moreno maior saindo do cômodo.

-Desculpa pai... –Sussurrou Johnnie fechando a porta do lugar. –Desculpa por te decepcionar...

O moreno estava caminhando bem, o braço já estava bem melhor e respirava sem grandes dificuldades. Estava se recuperando de uma maneira rápido e muito eficaz. O Médico chegou a duvidar um pouco do remédio que estava receitando, nunca um paciente havia estava tão bem em pouco tempo.

Pegava o ônibus direto para Charqueadas. Olhava para o sol que estava indo embora e suspirava.

-Só mais um pouco Lipe... –Sussurrou o moreno colocando a mão no vidro. –Só mais um pouco... Me espere mais um pouco.


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Notas finais do capítulo

Gente, num credo que o próximo é o penúltimo...
e promete bastante,vou escrevê-lo com calma, ok?