Quinze.

“Devo estar delirando. Sinto seu cheiro, sinto seus braços gélidos em torno de mim, sua grave voz a cantar uma canção que não conheço. – Aidan? Você está aqui ou estou sonhando? Não vá, não me deixe sozinha no escuro, preciso de você, eu preciso... Em seus braços eu encontro a paz, me sinto em casa, seu acetinado toque gélido me liberta... Não me deixe.”

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O sol já surgia por detrás do mar verde da floresta que circundava a comunidade Quileute, Aidan percebia que a loba se mexia cada vez com mais freqüência em seus braços marmóreos, ela logo despertaria.

Usando toda a força de vontade que tinha, ele tirou o braço que estava debaixo da cabeça de Leah lhe servindo de travesseiro, ela tornou a se mexer como se estranhasse à ausência.

-- Não quero ir. – sussurrou ele contra os lábios de sua loba adormecida. – Não quero.

Porem, o vampiro sabia que logo todos começariam a despertar, ela despertaria. Não podia ficar ali, se Leah abrisse os olhos e o visse ali e a acabar mal, os lobos se voltariam contra ele, haveriam lutas, haveriam mortes e isso o afastaria ainda mais dela, além de prejudicar Myridan. Não podia ficar e a consciência disso era incomensuravelmente dolorosa. “Por que o preconceito que durante anos alimentei, que por muito tempo me guiou, que no gelo eu destruí, ainda se mostra vivo e me barra o caminha da felicidade, afastando-me da mulher que amo?” –  pensava ele, acariciando o rosto da loba.

-- Se ao menos eu pudesse chorar. – falava ele, seu adocicado hálito acariciando o rosto da adormecida. – Sinto-me o próprio Romeu que se vê impedido de desfrutar de sua Julieta por causa de um simples nome, mas o que é um nome para nós? O que nos separa são muros de preconceito e barreiras de ignorância. Não quero ir. – Aidan a abraça mais uma vez, a apertando contra si. 

Sentindo seu frio coração se despedaçar, o vampiro se ergueu da cama, pegou sua blusa e a vestiu, o sol já se erguera acima da copa da floresta úmida, iluminando tudo, sinalizando para Aidan que a deveria partir o quanto antes. “Se eu pudesse chorar eu choraria.” – pensou ele, se ajoelhando junto à cama de Leah, lhe olhando os ferimentos completamente curados, a febre também se fora. Ela estava bem.

Tocou-lhe os lábios mais uma vez, beijou-lhes carinhosamente, acariciou-lhe os cabelos, não havia garantias de quando poderia estar assim com ele novamente, Aidan só esperava que da próxima vez Leah estivesse consciente de sua presença ali, do amor que ele sentia por ela e também de seus próprios sentimentos por ele.

-- My love, look what you can do. I am mending. I'll be with you... – cantou ele mais uma vez, contra os lábios dela, deixando a ultima silaba morrer em mais um beijo. – Me amor.

Os sons de passos no quarto de Seth ecoaram nos ouvidos do vampiro o expulsando dali.

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-- Aidan? – chamou Leah aos poucos abrindo os olhos, se acostumando a claridade. Seus olhos ainda um pouco cegados pela luminosidade vasculharam o quarto em busca da figura do vampiro, em busca do dono daqueles olhos que mais pareciam céus abundantes. Tivera a forte impressão que lê estava ali, lhe abraçando, cantando para ela, seus lábios conservavam a gelidez dos dele, o cheiro dele estava impregnado nos lençóis. “Devo ter sonhado.” – pensou ela, passando a mão pelos cabelos bagunçados, percebendo as ataduras que logo ela removeu, sentia-se confusa tinha certeza que fora real, que ele estivera ali, lhe vigiando o sono.

-- Foi um sonho. – repetia para se mesma enquanto grossas lagrimas escapavam-lhe dos olhos. – O que vou fazer? – se perguntava cobrindo o rosto com as mãos. – Não posso estar apaixonada por ele. – a loba chorava afundando a face no travesseiro impregnado com o cheiro dele que lhe inundavam as narinas, dando-lhe uma confusa sensação de paz e plenitude até então desconhecida.

Por fim, Leah se acalmou retomando o controle de si mesma. Levantou da cama e foi até o banheiro, à casa de madeira estava quieta como se ninguém tivesse acordado, tomou um banho demorado, aproveitando para lavar a calcinha ensangüentada.

Enrolada na tolha voltou ao seu quarto, vestiu uma calça jeans, uma camiseta caqui, calçou seus all stars surrados, colocou uma jaqueta de sarja. Olhou as horas no despertador eram oito e meia da manhã, pegou as chaves e saiu. 

Leah sentia uma necessidade imensa de cortar os cabelos.