No dia seguinte da ida de Sara à escola tudo prometia ser normal. Cheguei à escola um pouco atrasada e, logo que entrei, escutei os já familiares cochichos, risos e observações maldosas feitas a meu respeito pela Lívia e sua corja.

Sinceramente não me importei com isso. Logo depois deles estavam minha melhor amiga Nana, com um sorriso do tamanho do mundo por eu ter ido à escola, e Sirius, com seu costumeiro sorriso de lado e as sobrancelhas franzidas para Lívia.

Pude ver que ele se manifestaria sobre eles logo que vi o brilho da compreensão e da raiva em seus olhos. Tentei pará-lo com meu olhar, mas ele prontamente me ignorou e, virando-se para a prima, disse:

- Chega Lívia. – com um tom baixo e cortante que eu nunca ouvira antes Sirius fez com que eles se calassem e voltassem para ele – Se você ou seus colegas não tem capacidade intelectual para competir com a Isis eu não admitirei que tentem oprimi-la por estarem em maior número.

Notei a raiva e a inveja brilharem nos olhos e rosto de Lívia quando ela se voltou para mim e a perplexicidade de seus colegas, assim também como o medo de meu defensor.

Ao passar ao lado da mesa de Sirius quando ia em direção à minha, lugar onde Nana parecia me fuzilar de tantas perguntas oculta em seus olhar, ouvi-o dizer:

- Você está bem? – foi dito em um tom baixo e calmo.

- Estou sim, e obrigada! – eu disse-lhe com o olhar em minhas mãos e o rosto levemente corado.

- Nos vemos amanhã, no lago, 2 horas? – meu coração bateu acelerado enquanto eu confirmava com a cabeça e via o sorriso dele para mim.

Sentei-me ao lado de Nana e a única coisa que eu ouvi foi:

- APSIDT, hoje às 2 horas na minha casa.

Só o que pude fazer foi acenar concordando. Certa vez nos perguntaram como era a nossa amizade; eu a olhei e respondemos juntas: “– Nossa amizade é do tipo que, se ela matar um cara, eu escondo o corpo e não faço perguntas.” Rimos juntas mais tarde dessa resposta e nesse dia foi fundada a APSIDT – Amigas Para Sempre Independente De Tudo.

Como já era de se esperar quando cheguei a casa dela o brigadeiro de panela (nosso doce favorito desde os 8 anos) já estava pronto e ela sentada na sala. Só me disse uma coisa depois que eu entrei e me acomodei ao seu lado:

- Me conte tudo e não omita os detalhes, eles são importantes. – e me ofereceu uma colher enquanto colocava a panela ao nosso lado no sofá.

Acho que era disso que eu precisava, disso que eu sempre iria precisar. Quando vi já estava falando de como ele se ofereceu para me ajudar, como isso tinha mexido comigo, da mãe dele, da Lívia, de tudo.

Quando terminei ela me olhava pensativa e avaliadora. Sempre que ela tinha esse olhar ia me falar uma bomba. Dessa vez eu sabia que era sobre mim.

- Sabe Isis, somos amigas desde sempre e eu quero te contar uma coisa. Meu avô era escocês – olhei-a confusa, pois já conhecia a história de seu avô. Ela me calou com seu olhar e eu me aquietei deixando-a continuar:

 - E ele, enquanto me contava como tinha se apaixonado pela minha avó, me disse: um homem escocês carrega muito mais do que os genes dos pais. Ele carrega toda a história de luta e glória de um povo. O escocês pode odiar a mil homens, desejar a mil mulheres, lutar mil batalhas e gravar seu nome na história de mil formas diferentes, mas ele só entrega seu coração uma vez, e é para sempre.

Olhei-a confusa e surpresa com o que a ouvi dizer e senti meu coração acelerar como se fosse explodir em meu peito quando a mais remota possibilidade do que ela havia dito penetrava em minha mente.

Não podia ser verdade... Podia?