Saga Sillentya: Lágrimas da Alma escrita por Sunshine girl


Capítulo 11
X - Abrindo o Jogo


Notas iniciais do capítulo

E novamente eu estou aqui mais cedo...

Ontem foi meu último dia de provas, isso significa que eu finalmente poderei postar com mais frequência, portanto fiquem atentos, pode ter caps. novos a qualquer momento, exceto por semana que vem, terei que começar a estudar pro vestibular! (alguém me salveeeeee...)

Enfim, cap. com muitas revelações e surpresas!

Boa leitura!



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Capítulo X – Abrindo o Jogo

“Oh, algo está faltando em mim,

Sinto bem fundo dentro de mim

Como amantes, deixaram-me para sangrar sozinha,

Oh, algo está faltando em mim,

Sinto bem fundo dentro de mim

Como amantes, deixaram-me para sangrar sozinha”.

(Flyleaf – Missing)

Voltei a fitar o papel bem a minha frente. O tique-taque do relógio verberava através de meus ouvidos, às vezes, eu conseguia apanhar uma resposta soprada suavemente por outro aluno.

Suspirei, não importa o quanto eu tentasse concentrar-me naquele teste de História, minha mente vagava distante dali. Era uma sexta-feira de manhã. Elevei minha face para a esquerda. Vi a forma como a água escorria através das grandes vidraças da janela, as letras miúdas em negrito embaralhando-se lentamente.

E então, eu finalmente criei coragem suficiente para fitar a figura que caminhava de forma atenta através dos corredores estreitos da sala, os braços cruzados, os olhos demovendo-se para o pulso direito a cada cinco minutos, encarando com ansiedade os ponteiros do relógio.

Semicerrei os olhos, enquanto via sua figura afastar-se de mim, progressivamente. E só então, decidi desviar minha atenção novamente para o teste que realizava.

Quando o sinal ressoou, levantei-me de minha carteira, caminhando na direção do professor. A cada aluno que lhe devolvia a folha, um sorriso era distribuído. Vi-me completamente presa ao meu nervosismo. Meu coração sofreu um forte solavanco e minhas mãos de repente tornaram-se pegajosas. Um arrepio desceu através da minha espinha, alertando-me, praticamente gritando em minha mente: Perigo. Perigo.

Aproximei-me de sua figura sorridente e estendi-lhe o papel, os olhos verdes por um momento, encararam-me, congelando-me dos pés à cabeça. Minha mão começou a tremular e a folha da prova sacudiu em minhas mãos.

Havia algo sinistro ocultado nos olhos daquele homem. Algo que me arrepiou completamente só de imaginar o que poderia ser. E então, o impostor sorriu...

- Obrigada, senhorita Bryce.

Permaneci estarrecida, completamente calada e apavorada, gritando desesperadamente por dentro: Fujam, ele é um assassino cruel e extremamente perigoso!

Mas ao invés disso, eu simplesmente me virei, deixando a sala em absoluto silêncio. Segui pelo corredor apinhado, ignorando os esbarrões e os xingamentos. Virei no corredor, dirigindo-me até o refeitório, porém, alguém gritou meu nome ao longe.

Virei-me para ver de quem se tratava, embora inconscientemente eu já soubesse quem era. Peter.

- Agatha, espere!

Vi que ele abria caminho por entre os alunos no corredor estreito, tentando chegar até mim. Ele estacou, ofegante, os olhos esperançosos até demais.

- Estou te procurando há um tempão. – murmurou ele, e pelo seu cansaço aparente, estava mesmo.

- Pode dizer.

Ele pareceu hesitar um pouco, depois pegou no meu cotovelo, levando-me para um canto mais reservado do corredor, próximo às fileiras de armários. Encostei-me à estrutura de ferro deles, observando os olhos esmeraldinos a minha frente estreitarem-se lentamente, enquanto Peter franzia o cenho.

Ele soltou um longo suspiro, parecendo procurar pelo jeito certo de iniciar aquela conversa. Eu podia sentir o ambiente tornando-se tenso e pesado, pouco a pouco.

- E então, Agatha, estou esperando.

Olhei em derredor, o corredor esvaziava-se à medida que a maioria dos alunos migrava faminta até o refeitório. Eu não tinha tanta fome, e Peter parecia disposto a perder o almoço para tomar conhecimento dos acontecimentos estranhos que estavam abalando toda a cidade de South Hooksett e tirando meu sono.

Voltei meus olhos para a figura séria de Peter e diminui meu tom de voz para um fraco sussurro.

- Você sabe que antes de chegar à cidade, três garotos que jogavam no time haviam desaparecido de forma misteriosa, e que até hoje a polícia não tem pistas do paradeiro deles, certo?

Ele assentiu, ainda tenso.

- Claro, eu me lembro muito bem, por isso consegui uma vaga no time.

Resolvi prosseguir.

- O que você não sabe é que eu estava presente, na floresta, na mesma noite em que os três garotos, e mais um amigo meu desapareceram sem deixar qualquer rastro.

Peter esbugalhou os olhos, parecendo realmente apavorado por me imaginar lá.

- Você estava presente? Você... – sua voz falhou e ele teve de pigarrear para continuar a frase – Você testemunhou o desaparecimento deles?

Assenti, muda. Aquelas lembranças ainda perturbavam meus pensamentos na calada da noite.

- Sim, e eu fui a única a sobreviver a aquele episódio.

Peter apoiou uma de suas mãos no armário, parecendo ter suas forças drenadas por um misto de pavor e surpresa.

- Desculpe, Agatha, eu... só preciso de tempo para absorver isso.

- Claro.

Ele recompôs a sua expressão, mas uma fina camada de suor impregnava na pele de seu rosto. Ele suava frio.

- Prossiga. – pediu-me ele.

- Desde aquele dia, eu nunca mais fui a mesma pessoa. E tudo isso foi porque eu...

Peter encarou-me, a sobrancelha arqueada. Engoli em seco, como entraria com aquele assunto agora?

- Porque você... – ele instigou-me.

Fechei meus olhos, baixando minha face e tentando encontrar forças para lhe contar aquele fato. Quando abri meus olhos, Peter ainda aguardava por minha resposta.

- Porque alguém me salvou, alguém interveio a meu favor, antes que fosse tarde demais.

Peter pareceu-me confuso e surpreso novamente, mas ocultou todas aquelas emoções, focando-se apenas em assentir para que eu prosseguisse.

- E quem te salvou, Agatha?

Minha resposta foi objetiva e categórica.

- Aidan Satoya.

Se antes Peter encontrava-se confuso e surpreso, agora ele apenas demonstrava incredulidade. Ele soltou uma risada nervosa, como se encontrasse dificuldade para digerir a idéia. Depois, sua face assumiu uma expressão de escárnio.

- Isso é algum tipo de brincadeira? – perguntou-me ele, ainda com dificuldade para aceitar a verdade.

- Não.

- Agatha, você não pode estar falando sério. Aidan? – ele repetiu o nome com esgar – Aidan salvou você naquela noite?

Assenti, calada. E pouco a pouco, sua expressão, de incredulidade passou para extremamente confusa.

- Agora você sabe o segredo dele. – murmurei de forma rude.

- Aidan Satoya estava envolvido nisso? Eu... Não consigo acreditar, desculpe-me, mas realmente é demais para absorver.

- Aidan veio para South Hooksett justamente para deter essa... pessoa, quem estava por trás de tudo isso. Esse era o papel dele, o embuste de estudante de intercâmbio serviu apenas para que não desconfiassem de sua estada na cidade. Quando ele descobriu quem era e a deteve...

- Ele partiu. – completou Peter, interrompendo-me.

- Exatamente.

- E quem era essa pessoa? – perguntou-me ele.

- Laura Cornner.

Agora ele parecia realmente assustado. Seus olhos quase saltaram para fora das órbitas.

- O quê? Laura? A veterana que desapareceu algumas semanas antes da formatura?

Assenti com um gesto, sem nada dizer.

- Mas, se Aidan deteve quem estava por trás disso, então...

- Há mais alguém agindo. – interrompi sua lógica, complementando o que eu mesma já havia deduzido por mim mesma e com a ajuda de Christian. – Sim, alguém estava agindo junto de Laura.

- Mas quem? – perguntou Peter, parecendo refletir, ou buscar algum perfil que se encaixasse no padrão psicótico e psicopata.

- É isso o que estou tentando descobrir. Mas, Peter, tem algo que precisa saber...

Ele voltou sua atenção para mim, notando o temor em minha voz.

- Pode dizer.

Mordi o lábio inferior e meus dedos agarraram a alça da mochila em meu ombro.

- Talvez eu saiba quem estava agindo junto a Laura Cornner.

Peter apoiou ambas as mãos no armário, cercando-me com seus braços. Seus olhos recaíram sobre minha face e eu tive que ignorar o constrangimento que aquela sua aproximação repentina causou em mim.

- Então me diga, Agatha, quem é.

Engoli em seco novamente. E quando tentei falar-lhe, minha voz falhou, perdendo-se em um turbilhão de pavor.

- Ele é... – pigarreei, tentando mais uma vez – Peter, ele é Ste...

Uma voz masculina cortou-me, fazendo-me gelar no mesmo instante. É claro que eu o havia reconhecido.

- Ora, o que estão fazendo no corredor a essa hora? Deviam estar no refeitório.

Era Stevan Blake. O professor de História. Ou melhor, o impostor que estava enganando a todos, menos a mim. Peter afastou-se de mim, disfarçando imediatamente. Eu estava petrificada de medo e mal respirava.

Peter passou a mão no cabelo de forma natural. Eu ainda não conseguia esboçar qualquer outra reação que não fosse a de ser congelada pelo medo. Stevan sorriu, os olhos verdes como a mata estreitaram-se levemente e ele soltou uma baixa gargalhada.

- Não me digam que estão de namorico? Se estiverem, sorte a de vocês que não sou o inspetor.

Peter sorriu diante daquilo, mas eu queria sair correndo e nunca mais voltar ali. Eu sabia que estava diante de um assassino por natureza, um ser sádico e cruel, mas eu não conseguia reagir da forma correta, como certamente teria agido.

Senti o bolo acumular-se na minha garganta, estava sufocando? Talvez.

- Não é nada disso, professor. – respondeu Peter da forma mais natural possível.

- Então por que estão aqui? – tornou o professor a perguntar, parecendo-me realmente curioso.

Não sei ao certo quando decidi sair de meu transe, só me dei conta de agarrar o pulso de Peter e puxá-lo dali imediatamente. Peter ainda acenou para a figura que nós deixávamos para trás.

Puxei-o para o refeitório, ignorando os olhares que estava recebendo, possivelmente por estar rebocando Peter comigo. Olhei para trás uma única vez, confirmando que o senhor Blake já não estava mais próximo a nós dois. Soltei o pulso de Peter, diminuindo o ritmo de minha caminhada.

- O que houve lá atrás, Agatha?

Respondi sem ao menos olhar em seus olhos, da forma mais discreta que encontrei.

- Não posso contar mais nada a você. Pelo menos, não agora.

Ele pareceu-me confuso.

- Por quê?

Tornei meus olhos para trás, vendo o corredor vazio e silencioso. Uma centelha de desconfiança ameaçou crescer dentro de mim, havia algo de muito errado ali.

- As paredes têm ouvidos. – murmurei, pondo fim ao diálogo.

A chuva havia cessado, mas as temperaturas não haviam subido nem sequer um grau. Ainda estava frio naquela noite de sexta-feira. Era comum que no inicio de dezembro as temperaturas despencassem tanto. Mas nesse ano, havia... Havia algo de estranho pairando sobre a cidade. Uma atmosférica maléfica e sombria que só parecia atenuar todo aquele frio.

Lá fora, a lua cintilava, um mero arco fino e tênue no céu negro e sem estrelas. Nuvens cinzas e densas deslizavam por ele, ameaçando escondê-la. A umidade no ar podia facilmente ser detectada. A má notícia é que com tanto frio, a chuva podia solidificar-se, e eu odiava aquela época do ano. Tudo parecia mais morto, com menos cor, com menos vida.

Podia ouvir claramente o vento assobiando lá fora, ainda bem que eu encontrava-me no abrigo e aconchego do automóvel. Não queria nem pensar no frio que fazia no centro da cidade àquela hora. Vi as lojas ganhando novas cores pouco a pouco, luzes coloridas chamavam atenção para as vitrines que ofereciam de tudo.

Pessoas muito bem agasalhadas e encolhidas em seus enormes casacos desfilavam pela calçada, a respiração uma fumaça branca densa.

Vi quando Peter estacionou o grande e monstruoso Ford Explorer Sport V6 negro no meio fio, em frente a uma loja de departamentos que já ameaçava fechar.

Ele colocou o carro em ponto-morto, e virou-se completamente para mim. Ajeitei-me no assento do carona, eu tinha que prosseguir. De alguma forma, eu tinha que fazer isso.

Sem pensar duas vezes, abri o zíper de meu casaco, livrando-me dele. Peter estranhou minha atitude, mas não me questionou também, muito menos tentou me deter. Tentei não pensar no motivo disso.

Com um pouco de dificuldade, passei as mangas pelos meus braços e permaneci apenas com uma blusa de algodão de cor clara e mangas compridas, com alguns botões na frente que usava por baixo.

Agarrei o tecido e o puxei, revelando a pele quase translúcida de meu ombro esquerdo. Sob a fraca iluminação da lua, minha pele ganhou um tom meio azulado, meio prateado, a não ser pelo desenho cravado em minha pele, vários tons mais escuros que o resto de meu corpo.

Peter esbugalhou os olhos no mesmo instante, parecia não acreditar no que via. Ele aproximou-se um pouco hesitante, medindo cada ato seu, pretendendo não me assustar. E então, muito que deliberadamente, seus dedos encontraram minha pele, circulando o estranho desenho em forma de ave.

- O que é isso? – perguntou-me ele, parecendo fascinado.

- Uma marca de nascença. Eu sei, é estranho.

Ele soltou uma risada nervosa, enquanto as pontas de seus dedos ainda afagavam a pele de meu ombro.

- Não, é diferente e... Lindo.

- Eu a herdei do meu pai. É algo que é transmitido na minha família de geração em geração.

- Mas, por quê? – perguntou-me ele, parecendo confuso novamente. E então, elevou seus olhos até a minha face.

- Esse é o problema, eu não faço a mínima idéia. Herança genética, ou mutação, tudo o que eu sei, é o que minha mãe contou-me. Essa é uma singularidade que nem todas as pessoas possuem, e ao que parece, ela está conectada, de alguma forma, com tudo o que está havendo em South Hooksett.

Peter deixou que a confusão tingisse todo o seu semblante, seus olhos pareciam-me chocados e incrédulos.

- Está me dizendo que você está ligada a tudo o que está havendo?

Assenti, muda, devolvendo minha marca de nascença ao seu esconderijo, enquanto vestia meu casaco novamente.

- Ás vezes, eu sinto uma dor terrível, quase insuportável irradiando dela. E... – hesitei, lembrando-me da última vez em que isso acontecera – ás vezes, eu sinto que há algo de errado comigo, como se uma outra parte minha estivesse tentando se libertar, como se houvesse algo estranho dentro de mim, algo que está desesperado para sair.

- Seu mal-estar... – ele conjeturou.

- Sim, naquela manhã, eu estava sendo consumida por uma dor horrível, estava sufocando e tudo por causa dela. – minha mão envolveu meu ombro esquerdo instintivamente. Enquanto me perdia em um turbilhão de sensações.

- E você realmente não tem idéia do porquê de tudo isso? – perguntou-me ele, tentando compreender. Inspirei, tentando encontrar forças para tocar naquele assunto e reabrir aquela antiga ferida.

- Aidan e minha mãe conhecem esse segredo.

- O quê? Aidan?

- Sim. – inspirei novamente, buscando mais forças – Algo no modo como eles se olharam quando se viram pela primeira vez, deu-me a certeza de que eles já se conheciam no passado, mesmo antes de... eu ter nascido.

Peter soltou uma risada, e seu rosto foi vincado pela incredulidade novamente.

- Aidan conheceu sua mãe? Agatha, isso é impossível, quer dizer, quantos anos ele têm?

Minha resposta foi bem objetiva, e acho que isso acabou por assustá-lo.

- Cento e cinqüenta.

Peter pareceu ter engasgado, teve que pigarrear várias vezes a fim de recuperar a voz.

- Isso é alguma piada?

- Não. – respondi-lhe, séria. – Escute-me, Peter, é melhor que você só saiba o essencial.

Ele voltou os olhos para a viela completamente desabitada, observando fixamente as sombras que dançavam nos becos mais escuros e lançavam-se sobre as calçadas, sendo ofuscadas somente pelas vitrines coloridas do centro.

- Também acho isso.

- Olhe, - comecei de novo – tudo o que eu sei é que a possessão de William está relacionada ao calendário Maia, ao fenômeno dos cinco dias sem nome, chamado Wayeb, e que para isso, cinco sacrifícios devem ser feitos.

- Cinco sacrifícios?

- Sim, Becki ao que parece, foi a primeira. E um andarilho foi a segunda vítima, o que nos leva a crer que faltam três.

- Então, os sacrifícios são pessoas suicidas?

- Ao que me consta sim. Mas... Existe mais uma coisa da qual você não sabe.

- E o que é? Pode me contar, Agatha. – pediu-me Peter. Hesitei um pouco, mas eu precisava alertá-lo da verdadeira identidade do Senhor Blake.

- Stevan Blake.

Peter pareceu-me confuso.

- O que nosso professor de história tem a ver com tudo isso?

- É simples. Ele está envolvido nisso.

- O quê? – Peter repetiu, completamente incrédulo e apavorado – Está dizendo que nosso professor está ligado a tudo isso?

- É o que eu tentei te contar hoje pela manhã, mas parece que ele já desconfia de mim. Ele parece uma sombra, perseguindo-me dessa forma.

- Agora eu te entendo.

Soltei um longo suspiro, não escondendo minha insatisfação com tudo aquilo.

- Eu sei que é muito para absorver.

- É, é mesmo, mas eu ainda quero ajudá-la, Agatha. – disse-me ele, surpreendendo-me, voltando seus olhos verdes para os meus novamente.

Ele sorriu-me, parecendo fascinado com o que via. Ajeitei uma mecha de meu cabelo, sendo dominada pelo constrangimento no mesmo instante.

- O que foi? – perguntei a ele, não deixando de transparecer o quanto seu olhar deixava-me desconfortável.

Ele ergueu sua mão até meu rosto, envolvendo-o. E eu sabia perfeitamente o que viria a seguir. Peter ignorou meu constrangimento e meu desconforto. Talvez, eu não devesse tê-lo envolvido nisso. Era tarde demais para voltar atrás?

Ainda mais quando havia divergências quanto ao que sentíamos um pelo outro.

- Seus olhos refletem a luz da lua, quase como se fossem espelhos. Isso é tão lindo.

- Peter, por favor, de novo não... – pedi-lhe, minha voz mal passava de um sussurro.

- Ei, eu sei que você ainda o ama, não sou tolo por achar o contrário. Mas, Agatha, dê a si mesma uma segunda chance. Você não pode esperar por ele a sua vida inteira, está claro que ele não pretende voltar.

Senti uma pontada no peito, ter aquela ferida reaberta sempre ameaçava a minha capacidade de raciocinar perfeitamente. Sempre abalava as minhas estruturas, sempre arrancava todo o meu fôlego e deixava-me sem absolutamente nada. Deixava-me... vulnerável novamente. E quando dei por mim, eu já me perdia em uma espiral de tristeza e mágoa.

- Eu sempre soube que quando partisse, Aidan jamais voltaria. Eu... Aceitei isso, eu escolhi isso.

- Então, deixei-o para trás, Agatha. Eu sei o quanto ele deve ter significado para você. O quanto você o amou, e ainda o ama. Mas, você precisa esquecê-lo, precisa seguir em frente.

Abruptamente, Peter pegou em minhas mãos, apertando-as contra as suas, e levou-as até o seu peito, colocando-as sobre o suéter que usava. Sob minha palma, eu podia sentir os seus batimentos fortes e acelerados. Ele encarava-me sério, os olhos verdes esperançosos.

- Peter, eu não quero iludi-lo, não quero alimentá-lo com falsas esperanças, para depois simplesmente magoá-lo. Eu... não sei se algum dia serei capaz de seguir em frente.

- Você jamais saberá se não tentar. Deixe que eu mesmo lide com o resto, mas o que eu quero, Agatha, é que você apenas tente, dê-me uma chance, nada mais do que isso. É só o que peço.

Pisquei, confusa, tentando reordenar meus pensamentos. Mas não fui muito eficiente, eu ainda encontrava-me perdida entre um misto de incredulidade e admiração.

A minha parte racional mandava que eu permitisse tal loucura, que eu desse uma segunda chance a mim mesma. Há tanto tempo que eu estava tão só, sucumbindo lentamente nesse vale desértico e inóspito no qual eu mesma me bani. No qual eu mesma me lancei, após a partida de Aidan.

Mas, uma outra parte minha, uma parte completamente desconhecida, impedia-me de deixar que aquilo acontecesse. Uma parte que ainda alimentava vãs esperanças de que algum dia, o meu caminho e o de Aidan voltariam a se cruzar. Uma parte que ainda o amava, e que daria absolutamente tudo para tê-lo de volta, para voltar para os seus braços.

E essa parte, no fim, prevaleceu.

Apertei meus olhos, vendo a forma como as lágrimas já se acumulavam neles, minha vista estava embaçada. Abruptamente, puxei minhas mãos, libertando-as das de Peter.

Desesperada para sair logo dali, abri a porta do carro e lancei-me para a noite fria e escura, não me importando com mais nada.

- Desculpe-me, Peter, eu realmente não posso lidar com isso.

Saltei do carro, caminhando em passos apressados pela calçada. Tratei de limpar os vestígios das lágrimas. O que há de errado comigo?

Ouvi claramente quando Peter saiu do carro também, batendo a porta com violência e correu até mim, segurando em meu pulso e virando-me para ele. Seus olhos estavam suplicantes e desculpavam-se por tudo.

- Eu sinto muito, Agatha, não queria magoá-la. Mas você não precisa sair correndo dessa forma.

Tentei libertar meu pulso das mãos dele, dando leves puxões, mas ele não permitiria que eu partisse, e eu tinha necessidade de afastar-me de tudo e de todos naquele momento.

- A culpa não é sua, Peter, é minha. Não há nada de errado com você, eu realmente... – fechei os olhos, fungando – Eu realmente queria que as coisas pudessem ser de outra forma entre nós, mas eu não posso. Por favor, deixei-me ir, eu preciso... Preciso... – e minha voz falhou, enquanto eu caía em prantos e derramava-me em lágrimas.

Peter soltou meu pulso, mas segurou em meus ombros, detendo-me.

- Não posso deixar você sozinha nesse estado, venha comigo, eu a levarei para casa.

Meneei a cabeça para os lados, desaprovando sua decisão, eu precisava ficar sozinha agora. Eu estava expondo naquele momento, o meu lado mais frágil, o meu lado menos irracional e que se deixava levar pelas emoções do momento, o que não era nada bom na maioria das vezes.

- Deixe-me ir, por favor... – supliquei-lhe uma última vez, mas não havia sinal de qualquer mudança de decisão nos olhos dele.

Sobressaltei-me quando uma voz séria e tensa ressoou atrás de mim. Esbugalhei meus olhos no mesmo instante, vendo Peter enrijecer imediatamente. E a fúria dominou as suas esmeraldas.

- Agatha, algum problema?

Virei-me para trás, ainda chocada, vendo que se tratava de Christian. Então meus ouvidos não haviam me enganado. Vi uma tensão instaurar-se ali, entre nós três.

Seus olhos azuis brilhavam ainda mais sob a escuridão noturna, enquanto a lua banhava os fios negros de seu cabelo sedoso e dava a sua pele alva um tom quase prateado. Os lábios de Christian estreitavam-se em uma linha rígida, e os olhos estreitavam-se nas pontas. Mesmo àquela distância eu podia notar a tensão que emanava de seu corpo, enrijecendo cada músculo seu. E ao vê-lo assim, um arrepio desceu através da minha espinha, enquanto uma certeza dominou-me no mesmo instante: ele podia iniciar uma briga com Peter a qualquer momento.

Virei-me, assustada e apavorada para Peter, que se mostrava igualmente disposto a brigar ali mesmo.

- Peter, vá embora... – sussurrei-lhe, mas ele apenas me ignorou, continuou vidrado na figura de Christian bem a sua frente.

- Perguntei-lhe, Agatha, se tem algo a incomodando. – repetiu Christian, estralando os ossos, parecendo alongar-se para uma possível e provável briga.

Espalmei minhas mãos, chocando-as contra o peito de Peter, tratando de empurrá-lo na direção de seu carro e aumentei meu tom de voz.

- Peter, vá embora, agora!

Ele lutou contra a força que eu estava empregando para demovê-lo dali, franziu o cenho e cerrou os punhos com tanta força que eu pude ouvir seus ossos reclamando.

- Não se meta no quê não lhe diz respeito! – exigiu Peter, cuspindo cada palavra através dos dentes trincados.

Christian sorriu de canto, mas eu pude sentir o deboche remodelando as suas feições. Dando-lhe um ar sarcástico.

- Tudo o que diz respeito a ela, - disse ele, apontando para mim – é da minha conta sim.

Peter tentou avançar na direção de Christian, mas eu o contive, gritando seu nome, tentando dissuadi-lo daquela decisão de reagir às provocações de Christian.

- Parem com isso! – berrei – Peter, - voltei-me pare ele novamente – vá embora agora!

- Qual o problema, Peter, está com medo de mim? – provocou Christian – Tem medo de levar uma surra de mim?

- Ora seu... – gritou Peter, lançando-se na direção de Christian, e eu não tive mais como contê-lo.

Cambaleei até os dois, vendo Peter tentar acertar um golpe, mas errando, seus punhos rasgando o ar. Christian ainda sorria, debochado, ao agarrar o punho de Peter e desferir-lhe um forte soco em seu estômago.

- Christian, pare! – ordenei, e ele voltou sua atenção para mim, distraindo-se.

Peter aproveitou da brecha aberta, tentou acertar-lhe com o outro punho que estava livre, mas, Christian, mais ágil e rápido, desviou a tempo e acertou-lhe outro golpe. Um soco em sua face, que derrubou Peter no chão.

Corri até sua figura, completamente desnorteada e caída na calçada. Observei seus ferimentos, um filete de sangue escorria pelo canto de seus lábios. Fui tomada pelo desespero no mesmo instante, Peter parecia querer se levantar e investir contra Christian novamente.

Usei toda a minha força para contê-lo, segurando-o no chão. Com as pontas dos dedos, limpei o filete de sangue, usando do bom-senso para convencê-lo.

- Peter, já chega!

Voltei meus olhos para a figura impassível a minha frente, Christian parecia divertir-se com aquela situação.

- O que há com você? – perguntei, incrédula e furiosa.

Ele pareceu-me ofendido com minha pergunta.

- O que há comigo? – repetiu ele – Eu tento defendê-la de aproveitadores e é assim que me agradece?

- Peter é meu amigo. – defendi-o com veemência, mas Christian não pareceu vacilar em seu conceito em relação a ele.

- Não vejo diferença alguma. – contra-atacou ele. Bufei, acudindo Peter, ajudando-o a se levantar.

Peter cambaleou um pouco até recuperar completamente o seu equilíbrio. Quando percebi que ele podia ficar em pé sem vacilar e sem a minha ajuda, soltei-o, vendo que ele ainda se encontrava furioso pela surra que tomou. Eu não podia culpá-lo.

- Peter, vá para a casa agora. – pedi-lhe uma última vez, não conseguindo conter a minha insatisfação com aquilo tudo. Eu era a única madura ali?

- Mas e você? – ele perguntou-me, parecendo preocupado com meu bem-estar. Baixei meus olhos, fitando o chão da calçada.

- Não se preocupe comigo, eu posso voltar para minha casa sozinha.

- Não! – ele teimou comigo – Nem pensar que eu a deixarei sozinha a essa hora da noite.

Christian interveio, pondo-se ao meu lado, colocando a mão em meu ombro e sorrindo novamente.

- Eu a levo para casa.

Fitei-o, desconfiada, erguendo minhas sobrancelhas, mas ele estava falando sério.

- Pode voltar para a sua casa agora. – provocou Christian novamente.

Dei-lhe uma leve cotovelada e tornei a fitar a figura incrédula de Peter.

- Faça o que ele diz. – sussurrei.

Vi Peter hesitar um pouco, mas depois, ele simplesmente se virou para trás, caminhando em direção a imensa caminhonete negra estacionada no meio fio, alguns metros à frente.

- Te vejo na segunda. – murmurou ele, antes de partir completamente e dirigiu um olhar furioso para Christian, que continuava mantendo a expressão debochada.

- Tudo bem. – respondi-lhe, vendo sua figura adentrar ao carro, ligá-lo, fazer a volta e desaparecer no fim da rua iluminada.

Christian bocejou, mantendo a mão em meu ombro. Desvencilhei-me dele, dando-lhe as costas, a fim de voltar para minha casa. Mas ele foi mais rápido, agarrou meu pulso, trazendo-me para mais perto dele.

Nossos corpos chocaram-se e eu adentrei debaixo de seu olhar intenso e penetrante.

- O que está fazendo? – perguntei-lhe, um pouco sem jeito por nosso contato. Ele não pôde deixar de sorrir antes de responder-me.

- O que acha que vou fazer? Levá-la para casa.

Ergui as sobrancelhas, deixando transparecer quais eram as chances disso acontecer.

- Acha mesmo que eu vou embora com você?

- Você não tem muitas escolhas. – rebateu ele.

Eu ri sem humor, uma risada nervosa.

- Você nem mesmo sabe onde eu moro.

Christian deu um sorrisinho que me desarmou completamente.

- Você sabe onde eu moro? – repeti, nervosa e incrédula.

Ele não me respondeu, mas seus olhos já me diziam: parece que Christian andou espionando-me. Não sabia se ficava irritada por esse fato, ou se devia corar.

Ele tombou a cabeça para trás, claramente era um sinal de que eu devia segui-lo.

- Venha comigo.

Christian deu meia-volta e começou a caminhar pela calçada, as mãos nos bolsos, a postura relaxada. Obriguei meus pés a seguirem-no, ainda estava com um pé atrás com aquela sua atitude.

Segui-o até um pequeno cedro, onde, estacionado no meio fio, de pé somente devido ao pequeno apoio de metal reluzente, encontrava-se uma moto negra. Seu modelo sugeria-me algo: velocidade.

Devia ser uma máquina feita para correr, e eu estremeci no mesmo instante.

Christian subiu na moto, depois tornou seus olhos azuis e intensos para o meu rosto. Dei um passo para trás, receosa.

- Vamos, suba, eu a levarei de volta.

- Er, eu não sei não. Não quero assinar minha sentença de morte ainda.

Ele apenas me ignorou.

- Deixe de ser boba, eu protejo você.

Seus olhos calorosos fizeram-me arrepiar novamente, eriçando os pêlos de meus braços. Decidi trazer à tona o meu lado sarcástico, sua presença deixava-me estranhamente nervosa, e algo se agitava no meu estômago.

- E posso saber aonde exatamente você arrumou uma máquina da morte como essa?

- Por que não sobe e eu te conto. – desafiou-me ele.

Ainda desconfiada e hesitante, eu caminhei até a moto, subindo na garupa. Odiei a mim mesma por permitir que aquela recente proximidade minha e dele mexesse comigo. Minhas pernas estranhamente ficaram bambas. E uma sensação de adrenalina preencheu minhas veias.

Christian acelerou a moto veloz, os pneus cantaram no asfalto, produzindo uma imensa quantidade de fumaça, porém, antes de disparar pelas ruas desertas e escurecidas, ele tombou sua face para trás, um sorriso zombeteiro brotou em seus lábios.

- Melhor se segurar. – advertiu-me ele.

Sem pensar duas vezes, lancei meus braços ao redor de sua cintura, segurando nele com todas as minhas forças e então a máquina veloz e mortal disparou para frente a toda a velocidade.

O vento gélido vergastou de forma violenta meus cabelos, queimou em minha pele e eu tive de lembrar a mim mesma como respirar. Vi os prédios do comércio do centro da cidade passarem por mim como meros borrões distorcidos e manchados de cores e luzes.

Agarrei-me ainda mais a Christian, temendo cair da moto, e isso causou um sorriso de satisfação nos lábios dele. Eu pude ouvi-lo claramente rindo de minha figura atordoada e apavorada.

Vi a forma como os cabelos dele voavam ao sabor do vento rude. Ele devia estar adorando aquilo. Mas, aos poucos, eu fui relaxando minha postura, desfrutando do passeio noturno a toda velocidade, e eu devo confessar, que mesmo a contragosto, diverti-me com aquela sensação de adrenalina e perigo fluindo livremente por minhas veias. Então, recostei minha face em sua jaqueta e simplesmente me esqueci do resto.

Christian parecia ser exatamente o tipo de garoto que vive nos limites do perigo e do proibido. Não se importando com os riscos, não se importando com as conseqüências. E eu adorava aquela sensação.

Depois de alguns minutos, reconheci as casas de madeira, os carvalhos margeando a rua deserta de meu bairro. Eu já estava em casa. Christian manobrou a moto, parando bem em frente a minha casa.

Desgrudei-me dele, descendo da moto, ainda com aquela sensação escaldante queimando em minha corrente sanguínea. Ele também desceu da moto, colocou-a no apoio e esboçou um enorme sorriso. Senti-me constrangida imediatamente.

Cruzei meus braços e caminhei em direção ao hall de minha casa. Quando estava preste a entrar, virei-me pare ele, decidida a agradecer-lhe pela carona – ainda que arriscada.

Mas, algo me deteve, algo que eu pude detectar nos olhos azuis como lápis dele. Algo terrivelmente doloroso. Então eu soube, que aquela lembrança misteriosa e enigmática para mim, estava dominando seus pensamentos naquele exato momento.

- Christian, você está bem?

Ele não me respondeu, somente caminhou na minha direção, os olhos estreitavam-se levemente, e ele estacou a apenas alguns centímetros de minha figura confusa. E seus olhos recaíram sobre a minha face, ainda mais dolorosos, ainda mais melancólicos.

Sua face foi tomada por uma dor imensa, e eu não consegui mais refrear os meus atos, lancei-me sobre seu corpo, abraçando-o, repousei minha face em seu ombro, tomada por sensações que eu jamais pensei poder sentir por outra pessoa. Era compaixão, e um carinho extremamente forte.

- Ei, o que houve? – perguntei a ele, minha voz sendo abafada por sua jaqueta negra – Por que não me conta nada sobre seu passado?

Christian permaneceu em silêncio, aquilo era incomum para ele. Então, a tristeza havia roubado-lhe até mesmo a sua voz. Christian moveu seus braços, suas mãos agarraram meus ombros e, muito que vagarosamente, afastaram-me de si, onde seus olhos procuraram pelos meus, com uma necessidade que jamais vira antes. Como se ao olhar para os meus olhos, ele encontrasse motivos para permanecer vivo, para continuar respirando.

Não lhe cobrei mais nada, apenas aguardei que ele mesmo tomasse a iniciativa de se abrir comigo. Ele apertou os lábios em uma linha reta, seus olhos azuis brilharam, como se estivessem prestes a verterem lágrimas, mas elas não vieram, e sua voz rouca permeou meus ouvidos, deixando-me ainda mais confusa.

- Você é tão parecida com ela. – murmurou ele, parecendo triste, mas de certa forma, emocionado também.

- Com quem? –perguntei-lhe, meu rosto tomado pela confusão. Eu não acreditava que ele estava revelando segredos de seu passado misterioso para mim.

Christian foi objetivo ao responder-me.

- Caroline.

Em sua voz havia um misto de fúria e tristeza imensuráveis. Como fardos que ele carregava há muitos e muitos anos e já não suportava mais conviver com eles, estava desprovido de forças para continuar carregando-os.

- Quem é Caroline?

Ele disfarçou a tristeza com um sorriso duro, mas mesmo assim, eu pude detectar a dor que havia sido desperta ao tocar naquele nome, como uma velha ferida reaberta. Ele elevou suas mãos de meu ombro até meu rosto, afagando minha pele. Permaneci completamente imóvel sob seus toques.

- Ela... foi uma pessoa muito importante para mim.

- Ela foi? – repeti, a voz sufocada por uma onda de pânico e compaixão por ele – Isso quer dizer que ela está...

- Sim. – disse-me ele, interrompendo-me – Ela morreu há muitos anos.

- Sinto muito. – foi tudo o que eu consegui sussurrar.

Ele deu de ombros, como se agora tentasse de qualquer maneira fechar aquela ferida, soterrar toda aquela dor.

- Você lembra tanto ela, - ele riu baixo, interrompendo-se – toda vez que olho em seus olhos e vejo essa chama queimando neles, lembro-me dela. Ela era tão decidida, corajosa e forte quanto você. Mas, isso não impediu que tirassem-na de mim.

Ele encerrou seu discurso, cerrando os olhos com força e trincando os dentes. Seus dedos enroscaram-se em uma mecha de meu cabelo. Ele tocava-me de uma forma tão dolorosa, quase insuportável, como se estivessem serrando-o ao meio. E naquele momento, eu vi um outro lado seu, um lado marcado pela dor, um lado atormentado pela perda de sua amada, um lado que gritava desesperadamente, buscando conforto e apoio, mas não encontrando absolutamente nada.

Depois, ele voltou seus olhos até os meus, não deixando transparecer a dor que estava cravada neles naquele momento.

- Agatha... – chamou-me ele, a voz embargada pela dor e por um sofrimento que parecia não ter fim – Sinto que é uma necessidade para mim estar perto de você. Eu... – ele lutou contra as próprias palavras, tentando encaixá-las – Eu preciso estar perto de você, preciso da sua companhia. É a única forma que encontro para me livrar dessa dor e desse fardo que venho carregando.

- Christian... – chamei-o, mas ele prosseguiu em seu discurso, não permitindo que eu o interrompesse.

- Agatha, eu juro que a protegerei de tudo e de todos. Eu farei por você o que jamais pude fazer por Caroline. Sinto que salvando você, estou salvando ela, sinto que essa é a minha única chance de me redimir com ela e comigo mesmo. Essa será a minha salvação.

Novamente, senti-me compadecida dele, presa a ele por um elo muito mais poderoso do que eu podia resistir. Porque naquele instante, Christian precisava de mim, e essa era a minha única chance de ajudá-lo, de libertá-lo de tanta dor.

- Claro. – assenti, ainda presa e incapaz de demover meus olhos dos seus.

Parecia que nós dois tínhamos muito mais em comum do que eu pensara. Nós dois havíamos perdido nossos motivos de viver, nós dois havíamos perdido os grandes amores de nossas vidas. Ainda que de formas completamente diferentes.

Christian não me disse mais nada, apenas semicerrou seus olhos azuis e suas mãos deixaram minha face e seus dedos deixaram as mechas de meu cabelo. Ele afastou-se de mim, caminhando de costas, os olhos ainda vidrados na minha figura.

E então, ele deu-me as costas, subiu na moto, acelerou-a para depois partir, desaparecendo nas sombras que dominavam aquele trecho da rua deserta.

Abracei-me, um vento frio viera despertar-me para a realidade. Virei-me, minhas mãos tateando os bolsos de minha calça à procura das chaves. Abri a porta da frente, porém, antes de entrar, olhei uma última vez para o fim da rua, onde Christian havia mergulhado em direção às sombras densas.

- Eu entendo a sua dor, Christian, eu entendo. – sussurrei para mim mesma e depois adentrei ao conforto e aconchego de minha casa, despendido-me daquele dia atribulado, repleto de descobertas, mas ao mesmo tempo, marcado pelo surgimento de novos enigmas para mim, principalmente em relação ao segredo doloroso que reside no passado de Christian.

E para descobrir esse segredo há muito enterrado, eu seria capaz de qualquer coisa, até mesmo aceitar a sua proteção e a sua amizade. Se é que era isso mesmo que havia entre nós dois. E ter essa dúvida, corroia-me lentamente. O que realmente havia entre mim e Christian? Eu não tinha resposta para aquela pergunta e isso me desesperou.


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Notas finais do capítulo

Oinnn que triste o passado do Christian! Eu sinto que vou chorar muito com ele ainda!

A história de amor entre Christian e Caroline terminou de forma muito trágica, e quando souberem o que realmente houve... Pobrezinho!

Mas já deu para entender porque ele tem essa fixação pela Agatha, ela lembra ele do único amor de sua vida... Oinnn que fofo!

kkkkkkkk' E o Peter tomou alguns sopapos do Christian! Eu ri com isso...

Próximo cap., preparem-se, mais um sacrificio do Wayeb será revelado. Alguém chuta quem pode ser??
Dica: esse personagem anda bem sumido por aqui, e na 1ª fase flagrou um momento muito cute-cute entre Aidan e Agatha... E então, alguém arrisca???

Até a próxima, meus queridos!

Beijocas!!!!