So What escrita por Mahriana


Capítulo 27
Capítulo 27


Notas iniciais do capítulo

Hi! Eu sei, muita vontade de me assassinar não é?! Mas nos vemos lá embaixo se você conseguir ler? Ótimo. :3
~~ Apreciem sem moderação ~~



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Capítulo 25

PDV Jason:

As coisas pareciam se encaminhar como uma grande bola de neve descendo uma montanha, ou uma bola de esterco. O material que formava a bola não interessava, mas a minha vida parecia que estava rolando e rolando e rolando e uma hora ou outra se chocaria em alguma coisa e um grande desastre aconteceria. Minha mente simplesmente não pensava em outra coisa a não ser a maior merda que eu havia feito em toda a minha vida.

– Bom dia. – Sahra me cumprimentou, sua voz parecia meio rouca. Meus olhos se arregalaram e me engasguei com o copo de água que estava bebendo. – Você está bem?

– Sim, sim. Quer dizer, totalmente bem e você? – Minhas palavras saíram apressadas.

– Também. – Ela respondeu e saiu.

O meu relacionamento com Sahra havia se estabelecido em cumprimentos rápidos por onde nos encontrávamos. Por mim estava tudo bem, se eu não estivesse prestes a ser pai. Gemi de frustração quando me lembrei disso novamente.

Sahra parecia estar passando por um momento ruim nos últimos dias. Tinha enjoos e comia muito, então ela foi ao médico e começou a comer coisas mais saudáveis. Ela estava com uma aparência mais feliz, era estranho olhar para ela sem que estivesse com uma carranca no rosto ou distribuindo sarcasmo. Na verdade era quase como se ela não fosse a mesma Sahra que nós havíamos conhecido logo que chegou aqui.

Flash back:

Drew saiu da cozinha rindo.

– O que houve? – Perguntei.

– Cara, a Sahra pode colocar um time de football americano inteiro no bolso se ela participar de um concurso de quem come mais.

– Sério? – Perguntei incrédulo, afinal comparar o apetite de uma garota com o de um time de football americano não era comum. Quer dizer, os caras eram enormes.

– Você está duvidando de mim? Por favor, venha comigo e confira com seus próprios olhos. – Ele fez uma reverência para que eu passasse por ele.

Caminhei com ele logo atrás de mim e entreabri a porta da cozinha. Sahra estava com fones no ouvido e balançava o corpo seguindo algum ritmo. Ainda era cedo, provavelmente eu chegaria mais cedo do que o previsto na escola, o que me surpreendeu foi o fato de Sahra estar colocando dois ovos fritos em um prato que já continha: bacon, feijão com um molho vermelho (acho que era tomate), fatias de tomate e cogumelos grelhados, algumas torradas, batatas e um copo com alguma bebida. Sahra sentou e começou a comer aquilo como se fosse a última coisa que ela fosse fazer em sua vida. Ninguém come algo daquele porte calórico de manhã cedo, aquilo realmente me assustou.

– Ainda acha que eu estou mentindo? – Drew perguntou baixinho para mim.

– Onde ela guarda isso tudo? – Eu ainda estava incrédulo.

Ela comia aquilo como se fosse a coisa mais normal do mundo. Meu estômago estava dando voltas só de observá-la comendo aquilo. De repente Sahra levantou e correu para a pia e vomitou tudo o que ela havia acabado de comer. Fechei a porta, Drew e eu nos afastamos de lá.

– Acho que ela não aguentou colocar aquilo tudo pra dentro, afinal quem aguentaria? – Perguntei, um leve tremor passou por meu corpo quando lembrei o que ela estava comendo.

– Isso é muito estranho, você não acha? – Drew me perguntou.

– Com toda certeza, comer tudo aquilo pela manhã não é normal.

– Não, não é isso o que eu quero dizer – Drew negou com um aceno de cabeça e um sorriso malicioso enfeitou seu rosto. – Você não acha que ela está... – Ele fez uma circunferência em frente a sua barriga e levantou suas sobrancelhas em minha direção.

– Não entendi o que você quis dizer.

– Você já foi mais esperto, Jason. – Ele rolou os olhos. – Eu acho que Sahra pode estar grávida.

Ele disse aquilo como se fosse óbvio. Para mim não era.

– Como assim?

– Você deve saber todo o processo, então não me faça explicar. – Ele rolou os olhos novamente, aquilo estava começando a me irritar. – Ela nunca foi de contar coisas da vida dela, você sabe, ela prefere ouvir. Então é difícil de saber o que acontece, mas ela não é mais virgem e quem é sexualmente ativo é... Bom, quem é sexualmente ativo é sexualmente ativo.

Minha respiração ficou presa e eu tenho certeza de que todo o sangue fugiu do meu rosto. Sahra e eu havíamos transado e eu não lembrava se tínhamos usado camisinha em todas as vezes, ela também não falou se tomava anticoncepcionais em algum momento. Então eu poderia ser pai.

Eu tinha 17 anos e iria ser pai. Eu vou ter um bebê.

– Jason? – Drew me chamou. – Vamos pra escola?

Flash Back off.

– Jason? Jason!

Respirei fundo e balancei minha cabeça para espantar os pensamentos que não me abandonavam nem por um segundo.

– Jason, você pode me ouvir, ou isso é pedir muito? – Alexia me olhava impaciente.

– O que foi?

– Você não me ouve mais, nos últimos dias parece que você está em outra dimensão. O que está acontecendo? – Ela estava com as mãos na cintura e bufava de raiva.

– Não está acontecendo nada, só ando um pouco distraído. Vamos? Vou deixar você na sua próxima aula.

Minha cabeça parecia que explodiria a qualquer momento.

Eu não sabia o que fazer, eu era um adolescente inconsequente e que gostava de aproveitar a vida. Ser pai nesse momento foderia tudo. Eu não tinha responsabilidade o suficiente para cuidar de uma criança e eu gostaria de me formar primeiro. Eu nem ao menos tinha coragem de pedir Alexia oficialmente em namoro, quem dirá ter um filho com Sahra.

Jonh. Ele me mataria. Quando descobrisse que eu havia engravidado a sua filha ele me castraria.

– Jason! – Alexia me olhava raivosamente.

– Sim?

– Esqueça. Vejo você no almoço.

– Ok.

Alexia me daria um fora se eu continuasse do jeito que estava, mas é impossível desviar sua mente de algo tão problemático.

O que Sahra e eu faríamos?

Será que ela conseguiria ir para a faculdade e cuidar de uma criança? Ou ela gostaria que eu fosse e ela ficasse em casa? Ou pior, ela iria querer que eu arrumasse um emprego para que nos mudássemos e fossemos viver juntos?

Eu não a conhecia o suficiente para dizer o que ela iria querer, mas a maioria das garotas querem uma casa e um marido.

E se ela não quisesse que eu assumisse a criança e encontrasse outro pai. Eu deixaria que ela cuidasse de um filho meu com outro cara? Eu não queria um filho nesse momento, mas não quer dizer que eu o abandonaria.

Estava tão distraído que não percebi que alguém vinha em minha direção, acabei me chocando em alguém e livros e papeis se espalharam pelo corredor quase vazio. Olhei assustado e vi Sahra caída no chão. Rapidamente me agachei ao seu lado.

– Você está bem? – Perguntei assustado. Ela não poderia cair na situação em que se encontrava.

– Argh! Sim. – Ela respondeu furiosa. – Só me ajude a recolher esses livros.

– Claro. Você tem certeza que está bem?

– Sim, eu estou bem – ela rolou os olhos.

Depois disso que percebi que ela estava usando óculos, eram delicados, uma armação simples e prateada que adornava o seu rosto. Seu cabelo estava enfiado em uma touca.

– Você está usando óculos agora?

– Bem, sim. O médico disse que eu deveria e no meu caso eles são melhores que as lentes.

No caso dela? Ele quis dizer que grávidas tinham que usar óculos ao invés de lentes?

– E você está bem? Você foi ao médico?

– Sim, eu estou bem. Jonh me levou – ela não dirigiu o olhar a mim.

– Jonh?

– Sim, eu estava me sentindo mal por algum tempo, você sabe, enjoos, tonturas e essas coisas. Então eu pedi para que ele marcasse uma consulta para mim.

Oh meu fodido Cristo! Jonh sabia!

Eu estava tão ferrado que eu não sabia por onde começar. Ele me mataria e depois me castraria, ou talvez ele me castrasse e depois me matasse, ou talvez ele me torturasse até a morte.

– Você está bem? – Ela me olhava preocupada.

– Eu estou bem.

Terminei de juntar as coisas e percebi que aquilo era muito peso para ela carregar sozinha.

– Por que você está carregando tudo isso sozinha?

– Fiz uma aposta com Nick e perdi então eu tenho que levar o material dele até a nossa próxima aula – ela rolou os olhos. Sua voz estava rouca e baixa.

– Ele deveria se envergonhar de fazer você carregar todo esse peso nessas condições. Eu levo isso até a sua próxima aula.

Aquilo me deixou com raiva, o idiota não deveria deixar que ela carregasse tanto peso por aí. Ela estava grávida, aquilo prejudicaria o bebê. Talvez ele não soubesse.

Isso! Ele provavelmente não sabia.

Aposto que Sahra não contou a ninguém. Provavelmente estava com medo de não ser ajudada. Ela precisava saber que eu estava do lado dela não importando o que acontecesse. Eu estaria lá por ela e pelo nosso filho.

Eu ia ser pai.

– Sahra?

– O que foi?

Nós caminhávamos até a sua próxima sala calmamente.

– Eu vou estar sempre com você – nós estávamos perto da sua sala. – Quero que você saiba que não precisa passar por tudo sozinha.

Ela estacou no meio do corredor e me encarou um tanto surpresa, talvez confusa.

– Jason você está...

– Me deixa continuar – eu a interrompi. – Eu sei que a parte mais difícil com certeza é a sua, eu provavelmente não vou sentir nada comparado ao que você vai sentir, mas eu quero que você me diga tudo pelo que estiver passando. Não quero que hesite em me contar nada. Eu pareço irresponsável, mas eu vou tentar ao máximo me tornar um cara melhor e nós dois vamos passar por isso, juntos. Vamos ser como uma equipe, por favor, não recuse a minha ajuda ou vá pedir para outra pessoa. Nós vamos conseguir fazer isso.

– Olha, eu não quero que vo...

– Shiu! – Coloquei um dedo em cima de seus lábios. – Você não precisa me falar nada agora, vamos esperar até que estejamos a sós e eu não quero pressioná-la, então me conte quando você estiver pronta.

Empurrei de leve o seu ombro para que continuássemos a caminhar, deixei suas coisas na sala e sai.

Eu teria que dar um jeito na nossa situação. Eu não a amava, ou estava apaixonado por ela. Sahra era mais como uma garota gostosa que apareceu na minha porta e ofereceu um bom sexo. Um ótimo sexo, na verdade foi maravilhoso e se essa criança depender do nosso bom desempenho, ela com certeza nascerá perfeita.

Eu passei em frente a minha sala, fui até a enfermaria e pedi uma dispensa, inventado uma dor no estômago e saí da escola. Peguei meu carro e fui até o shopping.

Passei por algumas lojas até que enfim encontrei a que eu queria.

Uma loja colorida, desenhos de brinquedos e fotos de bebês em sua fachada. Entrei e passei por entre as prateleiras. O que eu poderia dar de presente para uma criança que eu não fazia ideia se era um menino ou uma menina?

Tinha que ser algo que também tivesse algum valor para Sahra. Olhei alguns brinquedos, mas nada parecia ser bom o suficiente.

– Posso ajudá-lo? – Uma mulher que parecia ter por volta dos trinta anos perguntou.

– Claro, é... – procurei por um crachá e achei um localizado bem no lado direito do seu peito. – Beth.

– O que você gostaria?

– Eu gostaria de presentear alguém.

– Certo. Esse alguém tem que idade? – Ela estava sendo paciente comigo.

– Bom – passei a mão pelos cabelos. – Havia essa garota e nós não éramos realmente amigos, mas as coisas aconteceram.

– O presente é para essa garota? Por que se for, eu acho que você veio a loja errada – ela deu um sorriso simpático, e logo em seguida completou: – a menos que ela seja uma criança. – Seu sorriso desapareceu nesse momento.

– Não! – Quase gritei. – Claro que uma criança vai estar envolvida, mas não é isso que você pensa. Eu vou ser pai e gostaria de dar um presente para a minha futura... Quer dizer a minha... Bom, a mãe do meu filho.

– Vocês não planejaram a criança, certo?

– Não. – Respondi suspirando.

– Você sabe o sexo bebê? – Ela perguntou e fez um sinal com a mão para que eu a seguisse.

– Bom, não. Eu acabei de descobrir e ela não me contou ainda, acho que está esperando uma oportunidade, ou está com medo, eu não sei – eu estava desabafando com a vendedora da loja.

– Então esse presente seria algo para dizer que você está com ela, estou certa?

– Sim.

Nós caminhamos mais um pouco e ela foi até um balcão e pediu para que eu esperasse enquanto ela iria buscar algo no depósito. A loja não estava tão movimentada, mas algumas crianças passeavam com seus pais por ela. Eu era jovem demais para fazer algo do tipo.

Suspirei mais uma vez, aquilo estava se tornando um hábito nos últimos dias.

A vendedora da loja apareceu com uma caixinha nas mãos.

– Eu achei algo – ela sorriu e continuou: – veja, são pulseiras para a mãe, para o bebê e para o pai. Você pode gravar os nomes nelas, quando vocês decidirem. Nós fazemos isso aqui mesmo, o que você achou? Muitos pais compram.

Peguei as três pulseiras, duas eram finas correntinhas de prata e tinham pequenas chapas para gravar os nomes. A que deveria ser minha era um pouco mais grossa que as outras.

– Vou levá-las – decidi.

Aquela seria a primeira decisão entre as milhares que vinham por aí.

PDV Sahra:

E mais uma vez eu estava sentada na sala do psicólogo da escola. Ele não perguntava mais nada, simplesmente esperava que eu falasse algo, o que não acontecia. Dei um longo suspiro e me concentrei em desenhar uma borboleta no caderno de desenho a minha frente. Ele havia se tornado parte essencial das consultas.

Todas as sessões se resumiam a isso, desenhos e alguns suspiros de ambas as partes.

Os desenhos nem sempre ficavam completos, dependiam deles mesmos e do tempo que eu levaria para fazê-los. Eu nunca os recebia de volta para completar, mas era bom começar algo novo a cada novo encontro.

Mellany entrava antes de mim e ela parecia estar se saindo melhor do que eu. Aquilo era tão chato e eu só dependia do doutor neurose, que estava sentado a minha frente, para me liberar. Talvez se eu falasse alguma coisa ele simplesmente visse que eu estava bem e me mandasse ir.

– Hoje é meu aniversário – falei.

Percebi o sobressalto do homem, mas logo em seguida se recompôs.

– Sério? – Ele perguntou.

– Sim.

– E você gosta dessa data?

– Bom, sim. Não é como se eu simplesmente tenha o meu aniversário como a minha data preferida, mas eu gosto – dei de ombros e me joguei no divã em que estava sentada.

– Por que não é a sua data preferida? As pessoas tendem a ter seus aniversários como datas preferidas. – Ele estava anotando algumas coisas em seu caderno.

– Ele me traz recordações boas demais – respondi nostálgica.

– Boas recordações não são sinônimas de felicidade?

– Nem sempre.

– Por quê?

– Porque algumas vezes elas não podem se repetir, nunca mais. – Eu olhava o vazio, enquanto minha mente era assolada de recordações.

– Você pode tentar reproduzi-las novamente. – Ele sugeriu. Sua voz era monocórdia e apesar de estar anotando algumas coisas e prestar atenção, ele parecia desinteressado.

– Em todos os meus aniversários a minha mãe me acordava e trazia um bolo com velinhas até a minha cama – rolei os olhos. – Não era algo como um pequeno bolo, ou um cupcake, era um bolo grande e normalmente cheio de confeitos e doces. – Sorri ao lembrar. – Ela sempre foi exagerada, nossa como ela era. Nós guardávamos o bolo, porque ninguém consegue comer algo tão doce tão cedo. Então ela o guardava e eu ia pra escola e quando chegava ela tinha uma festa montada. Nunca consegui saber como ela conseguia arrumar as coisas tão rápidas.

– Sente saudades da sua mãe?

– Acho que “saudades” é um grande eufemismo comparado ao sentimento verdadeiro.

Eu nunca tinha falado sobre isso com ninguém, estava sendo bom falar com alguém que apesar de não se importar de verdade, não me julgaria.

– Todos os meus aniversários depois que ela se foi foram um inferno. Eu não a tinha pra me dar um abraço e me desejar coisas boas, na verdade, todos os dias depois que ela morreu foram um inferno – passei as mãos pelo meu rosto. – Os dias das mães morreram e todos os feriados que nós comemorávamos também. Essas coisas não fazem sentido faz algum tempo.

– Você sabe que ela gostaria de vê-la comemorando mesmo sem tê-la por perto não é?

– Claro, se ela visse o que eu faço em todas as datas em que nós passávamos juntas provavelmente me daria uma surra – ri sem humor. – Ela foi tudo o que eu tive, como é que se pode viver sem que uma parte vital do seu corpo?

– Todas as partes do corpo são necessárias, com algumas exceções, que não fazem falta quando retiradas como o apêndice ou as amidalas.

– Não me...

– Por favor, deixe-me continuar – ele levantou a mão para que eu me calasse. – Além dessas partes há outras em que você pode fazer pequenas mudanças e se adaptar a perda delas, você consegue viver sem um dos rins, ou um pulmão. O que eu quero dizer é que você perdeu uma parte importante como um dos seus rins, entretanto, você possui outro e pode continuar vivendo.

– O fato é que meu outro rim foi machucado e a cicatriz deixada pelo antigo e as novas não conseguem se curar. – Confessei.

– Você deve enfrentar seus problemas, pequenos confrontos para que gradativamente você melhore, não acredito que as coisas se curem de uma hora para a outra, isso é uma melhoria gradual.

– E se eu não puder melhorar?

Aquele era o meu medo, como eu poderia viver se eu ficasse quebrada para sempre?

– Todos podem melhorar, basta querer. O passo mais importante você já deu, agora precisamos que você saia desse luto.

– Eu realmente estou falando com um psicólogo? – Rolei os olhos.

– Onde fica a lápide da sua mãe? – Ele me ignorou totalmente

– Não fica. Ela não foi enterrada e não há uma lápide em sua memória – dei de ombros.

– Não? Eu li na sua ficha que você viveu sozinha por um tempo, então você não tinha dinheiro para fazer algo?

– Como eu posso explicar isso? – sentei no divã e suspirei. – Túmulos, lápides, catacumbas... Você não percebe o quanto isso é mórbido? Por que devemos visitar um local onde com o passar dos anos não vai haver nada a não ser a terra que será adubada com o seu corpo. Uma lápide para quem foi cremado? Qual o motivo de colocar um pedaço de concreto com um nome em um local e ir vê-lo?

– As pessoas fazem isso em busca de conforto, tentam sentir a presença do ente querido através de gestos como a visita, as flores e conversas – ele falou enquanto me analisava.

– Essas não seriam falsas sensações de conforto? Não seria algo como ainda estar de luto? Se for ter que conversar sozinha não é melhor que eu faça isso em um ambiente em que eu me sinta confortável ao invés de um cemitério? Volto a repetir, isso é mórbido.

– Você é bastante racional, isso é bom em alguns momentos. No entanto, você deve deixar essa racionalidade de lado em alguns momentos. Responda-me o que faz com que você seja assim tão racional com as suas decisões.

Um pequeno alarme soou, isso indicava que a nossa conversa havia chegado ao fim.

– Isso significa que vamos ter que nos despedir – sorri. – Foi bom conversar com você Dr.

– Igualmente, espero vê-la na próxima sessão e que você esteja tão disposta a falar quanto esteve hoje.

Sai da sala e encontrei Mellany me esperando.

– Como foi? – Ela perguntou, ela sempre perguntava e eu sempre respondia:

– Muito bem, obrigada – então eu perguntava: – E a sua?

– Acho que eu estou melhorando, eu não sei, mas as coisas parecem estar deixando de ficarem confusas na minha cabeça. – Mellany estava se saindo bem de verdade.

A meu pedido Jonh havia marcado algumas consultas médicas para nós duas. Eu estava passando por uma gripe que havia levado minha voz embora e precisava ver como eu estava. Mellany tinha outros motivos, mas havia se saído bem no geral.

Eu havia apelado para o fato de eu não precisar vomitar tudo o que comia e ainda assim ter vários garotos atrás de mim e não ser feia. Ela parecia estar aceitando isso, mas algumas recaídas aconteceram, eu estava montado uma vigília sobre ela para que ficassem menos frequentes. Isso fez com que nós virássemos amigas e as outras garotas acabaram indo junto.

– Isso é bom, em breve você vai ficar totalmente bem. Isso não vai ser nada com o que você não consiga lidar. Eu vou pegar uma carona com o Nick, então não precisa se preocupar em me levar pra casa.

–Ah! Claro! Então eu vejo você depois – ela acenou e saiu rumo ao seu carro no estacionamento.

Ninguém fazia ideia de que era meu aniversário.

Ótimo!

– Ei estranha! – Nick me chamou.

– Acho que você também se encontra nessa categoria não? – O provoquei de volta.

– Talvez – ele deu de ombros. – A propósito – ele chegou perto do meu ouvido e sussurrou: – Feliz aniversário.

– O quê? – Aquilo havia me pego de surpresa. Como ele sabia?

– Você sabe, quando trabalha em algum lugar seus dados ficam salvos – ele sorriu. – Tenho algumas coisas pra você.

– Algumas coisas? – o olhei desconfiada.

– Sim, isso aqui a Olivia mandou, ela mandou felicitações e espera que você goste do presente.

Ele me entregou uma sacola de presente com estampa de ursinhos. Abri-a e tirei uma camiseta preta com grandes letras brancas estampadas na frente que dizia: “Eu sou uma garota má”. Rolei os olhos e sorri. Virei a camiseta e nas costas estava escrito: “Mas você pode tentar me domar.”

– Acho que ela ainda está impressionada com o meu número com o paparazzo não é?

–É. Eu acho que sim. Esse é meu – Ele me entregou outro saco com estampa de uma versão fofa de leopardos. – Eu sei, eu sei, eu mesmo escolhi os embrulhos.

– Com certeza foi você.

Abri o saco e tirei uma camiseta que era duas vezes maior que o meu tamanho, ela era azul e tinha um grande par de números nas costas, o escudo de algum time estava bordado na frente da camisa. A julgar pelo número nas costas e o fato de eu nunca ter visto o time em lugar algum das ligas de futebol, aquele deveria ser um time de futebol americano. Um boné também estava dentro do embrulho.

– Você está na terra de americanos, então torça por algum time de um dos esportes mais conhecido aqui. – Ele deu de ombros e sorriu.

– Nós estamos em Tacoma certo? – Ele assentiu. – Washington? – Ele assentiu novamente. – Claro que eu não sou uma especialista e eu estou aprendendo sobre o esporte e conhecendo os times a pouco tempo, mas... O time de Washington não é o Redskins? Ou deveria ser o Seattle Seahawks já que estamos a uns 50km de Seattle.

– Blér! – Ele colocou a língua para fora e desdenhou. – Quem se importa com eles? Estou apresentando a você um dos melhores times da liga, o New England Patriots. Você será uma torcedora feliz, acredite em mim. Além do mais o time é a sua cara.

– Posso saber por quê?

– Eles são arrogantes, assim como você.

Dei um soco no seu ombro, ele riu em resposta.

– Ok. Muito obrigada pelos presentes, vou assistir aos próximos jogos. Agora me leve até o trabalho ou eu estou ferrada.

– Você com certeza não vai conseguir mais do que isso – azarei Nick.

– Cala a boca. Não preciso de você se metendo nos meus assuntos. – Ele falou irritado, olhando brevemente por cima do ombro.

– Desde quando jogar pinball é uma espécie de negócio? – Rolei os olhos.

Nick apertou os botões mais algumas vezes, a bolinha bateu em alguns dos objetos que valiam pontos e então ele deixou a bola passar.

– Eu disse não foi? – Dei de ombros e estendi a mão para ele.

– Que tal uma melhor de três? – Ele pediu.

– Eu aprendi uma coisa nessa vida e essa coisa foi que você deve saber quando parar. – Continuei com a mão estendida enquanto ele colocava uma nota de vinte dólares nela. – E eu só paro quando estou ganhando. Você tem moedas aí?

– Não. – Ele grunhiu. – Essa porcaria de máquina não aceita cédulas. Que espécie de máquina não aceita cédulas?

– Droga – praguejei.

– Antes que eu me esqueça, – ele começou a falar enquanto vasculhava os bolsos – De onde vieram todas essas pulseiras?

– Isso? – Apontei para o meu braço que tinha cinco pulseiras diferentes amarradas nele. –As crianças me deram hoje, também ganhei alguns cordões – puxei-os de dentro da minha camiseta.

– Acho que eles gostam de você. – Ele continuava a vasculhar os bolsos.

– Não, eles gostam de dar presente, só isso.

– Claro – ele rolou os olhos. – Eles se lembraram do seu aniversário e você tem purpurina no seu cabelo e, por favor, são crianças, eles gostam de todo mundo.

– A data estava pendurada em um mural – foi a minha vez de rolar os olhos. – E crianças adoram brincar com coisas brilhantes, purpurina é uma delas e elas não gostam de todo mundo.

– Se elas nãos gostam de todo mundo então elas devem gostar de você – ele deu de ombros. – Você disse que tinha ido ao médico?

– Sim, quando eu faltei há alguns dias. Eu estava totalmente quebrada sabe? Cansaço, enjoos e toda a droga que uma gripe traz junto.

– Era só uma gripe?

– Eu fiz vários exames e o médico disse que eu estava com baixa resistência, precisava tratar a minha visão por conta das dores de cabeça. Tive problemas com a minha alimentação, tive uma espécie de infecção estomacal, não posso nem ao mesmo tomar um English Breakfast como uma tradicional inglesa – rolei os olhos e senti minha boca salivar com a lembrança do café da manhã saboroso que eu costumava comer algumas vezes por semana em Londres.

– Eu lembro daquilo, confesso que comi poucas vezes, somente quando eu ficava o dia inteiro fora de casa. Não é algo muito saudável.

– De todo o modo, da última vez que tentei comer, acabei colocando toda pra fora. Não foi nada agradável, foi aí que eu decidi ir ao médico.

Ele riu.

– Agora eu só como coisas verdes e saudáveis – rolei os olhos. – Tive que ir a um ginecologista também, precisava fazer um exame de rotina e acabei...

– Não preciso saber dessa parte, acredite. Me contento com os detalhes brutos da conversa. – Ele levantou as mãos em frente ao peito em sinal de rendição.

– Certo, eu também fui a um traumatologista, eu estava sentindo dores e eu estou usando uma cinta terapêutica na coluna e uma no pé. – Respondi dando de ombros.

– Isso deve ser terrível – ele fez uma careta. – Foi só isso?

– Bom, o meu novo ginecologista disse que...

– Por favor, eu pedi pra você parar com isso. Eu realmente não me interesso pelo seu ginecologista – ele me interrompeu novamente e continuava a vasculhar os bolsos. – Por que os homens querem tanto ser ginecologistas?

– Eles querem ver vaginas? – Sugeri.

– Claro que você vai ver algumas, mas nem todas são saudáveis e além do mais você não vai poder tocar nelas – ele fez uma careta de reprovação e deu de ombros. – É uma profissão totalmente sem graça.

– Eu não tinha visto por esse ângulo.

Olhei para o chão e longe de onde nós dois estávamos, um pequeno círculo reluziu no chão. Parecia ser uma moeda de cinquenta centavos. Com ela eu poderia jogar mais três vezes na máquina sugadora de mentes, ou pinball.

Dei alguns passos cautelosos, tentando não chamar a atenção de Nick, entretanto ele parecia ter visto. Nós trocamos um olhar e antes que eu me desse conta estávamos correndo em direção a moeda. Nick estava na minha frente, então puxei a sua camiseta, o que fez ele se desequilibrar e ficar para trás. Estava chegando perto da moeda, mas uma mão puxou meu pé e mais rápido do que eu poderia imaginar meu corpo de chocou contra o chão, meu queixo pareceu ter dado um belo cumprimento a ele. Ignorei a dor e continuei me arrastando até a moeda.

Nick se jogou sobre mim, segurou uma das minhas mãos com a sua e se empurrou. Envolvi minhas pernas em seus quadris, acotovelei seu estômago e estiquei minha mão livre até a moeda. Eu estava tão perto.

– O que diabos é isso?

Mais rápido do que eu pensei que fossemos capazes, nós estávamos de pé. Massageei meu maxilar, aquilo doeria mais ainda quando acordasse amanhã.

– Tudo bem mãe? – Nicholas tinha o dom de ser cara de pau.

– Claro que sim e vocês? – Abri a boca para responder, mas fui interrompida – O que diabos está acontecendo aqui?

– Eu posso explicar – levantei o dedo para falar.

– Isso é um demônio sugador de almas – fui interrompida novamente, mas dessa vez por Nicholas. Rolei os olhos – Eu não consigo parar de jogar, eu não tenho mais moedas e o caixa ainda está fechado.

– Eu criei monstros – a mãe do Nick falou. – A propósito, feliz aniversário Sahra.

– Obrigada eu...

– Agora vocês podem voltar ao trabalho e nada de jogar nessa máquina ou eu vou tirá-la daqui e...

– NÃO! – Nick e eu gritamos.

– Então nada de jogar durante o expediente.

– Sim senhora – resmunguei. – Por que não estão me deixando falar?

– Sua voz é irritante – Nicholas falou.

– Jura?! – Destilei sarcasmo.

– Claro, sua voz é irritante – ele tentava reprimir um sorriso. – Me dá calafrios.

– Sim, sim. Com toda a certeza – empurrei seu ombro – agora vamos arrumar as mesas.

Minha pele se arrepiou enquanto arrumava as mesas da calçada, uma estranha sensação de alguém estava me observando se apossou de mim. Olhei em volta e não encontrei nada. Eu estava ficando paranoica.

– Muito bem, estamos aqui – Jonh me encarava com expectativa.

Eu não pedia nada a ele, então quando disse que queria conversar ele passou por um pequeno estado de choque.

– Eu gostaria que você deixasse a sua mente aberta para o que eu vou falar – respirei fundo –, não é algo fácil. Eu provavelmente não deveria conversar com você sobre isso nesse momento.

– Eu estava tranquilo até um minuto atrás, agora você está me deixando assustado – ele enrolou as mangas da camisa branca de botões até o cotovelo.

– Minha vida desandou desde que eu vim parar aqui – comecei –, eu tenho um pai, irmãs e frequento uma escola nova. Isso tudo deixa a mente de qualquer um confusa.

– Sinto muito pelo que fiz você passar.

– Sem problemas, as coisas já estão uma merda mesmo – rolei os olhos. Retomei a minha compostura séria. – O fato é que eu preciso da sua ajuda.

– Eu sou seu pai, estou aqui para isso – um sorriso ameaçava se espalhar por seu rosto, ele sumiria assim que eu terminasse de falar.

– Eu realmente vou precisar dela agora, mais do que nunca e espero que você interceda por mim. Minha mãe odiaria o que eu fiz e vou fazer, mas tudo bem. – eu queria ser cautelosa, jogar tudo nele seria abusivo demais e eu não sabia qual seria sua reação.

– Eu estou ficando cada vez mais assustado.

– Bom, hoje é o meu aniversário, então encare isso como um presente, eu não gosto de pedir isso tanto quanto você vai gostar de me dar, mas...

– É seu aniversário? – Ele me interrompeu, estava com uma expressão perplexa no rosto.

– Er... Sim. Você não sabia?

– Não. – ele continuava a me olhar surpreso, aquilo estava me incomodando. – Por favor, Sahra me desculpe por não saber a data do seu aniversário. Eu quero tanto ser a droga de um bom pai pra você e nem ao menos sabia quando era o seu aniversário. Isso é inaceitável, eu não sei o que eu devo fazer para me redimir.

– Parar de falar seria um bom começo – o interrompi de modo grosseiro, ele pareceu não se importar com isso. – O fato é que eu estou falida. Não tenho grana nem pra pagar uma pizza depois do trabalho. Recebi o dinheiro do seguro da moto, mas eu estava atolada em dívidas na Inglaterra, minhas economias também acabaram e eu estou com o saldo zerado. O emprego de meio período está me ajudando bastante.

– Você está precisando de dinheiro? Poderia ter pedido antes – ele puxou a carteira do bolso. Imediatamente sinalizei que ele parasse. – O que foi?

– Eu não quero o seu dinheiro, não dessa forma. Eu vou realmente abusar da sua generosidade, mas ir da escola para o trabalho comunitário e para o outro trabalho está me deixando exausta. – Respirei profundamente. – O que eu quero dizer com tudo isso é que – puxei outra longa respiração – euprecisodeumcarro.

– O quê?

– Eu... Eu... – aquilo estava sendo mais difícil do que pensava. – Eu preciso de um carro.

– Era isso? – Ele não parecia surpreso.

– Sim, olha eu sei que provavelmente é um absurdo o que eu acabei de pedir, eu também vou entender se você ignorar.

– É só um carro, Sahra. – Ele deu de ombros. – Podemos comprá-lo amanhã mesmo, eu vou ligar pra um amigo da concessionária, iremos lá amanhã.

– Não precisa. Eu procurei por alguns anúncios e encontrei bons carros.

– Tem certeza? Você pode ter um carro novo ao invés de um usado – ele estava franzindo as sobrancelhas perante a minha decisão.

– Sim, eu tenho certeza – ele deu um longo suspiro e eu senti que a sua animação inicial com o fato de me dar um carro havia desaparecido. – Você pode vir comigo?

– Como?

– Você gostaria de vir comigo? Pra ver os carros sabe? – A minha proposta o deixou feliz.

– Claro – ele estava sorrindo novamente – quando você quer ir?

– Bom, eu só estava esperando você concordar. Então quando estiver bom pra você nós podemos ir. – respondi com um dar de ombros.

– Então amanhã depois que eu sair do trabalho nós iremos.

– Por mim tudo bem. Muito obrigada.

Levantei da cadeira e já estava perto da porta quando ele me chamou. Esperei. Ele andou meio inseguro até onde eu estava.

– Feliz aniversário – ele abriu os braços e me abraçou.

Eu fiquei imóvel. Não era um abraço como outro qualquer, aquele abraço era dado pelo cara que reivindicou o papel de ser meu pai fazia pouco tempo. Lentamente o envolvi com meus braços. Aquilo durou menos que trinta segundos, mas eu já sentia que fora suficiente. Ele me soltou e sorriu largamente, dei um sorriso constrangido em troca.

– Nos vemos amanhã?

Concordei e saí do seu escritório. Jonh não havia relutado em nem um momento quando pedi o carro. Isso foi bom, no entanto eu não queria imaginar o que ele faria comigo quando contasse a ele a novidade que viria daqui alguns meses.

Espantei os pensamentos e me concentrei no que eu faria no resto do meu aniversário. Eu deveria comemorar no melhor estilo Shara Backers.

PDV Jason:

– O que você quer no meu quarto? – Drew bloqueava a porta do seu quarto com o corpo.

Aquilo já estava me irritando.

– Eu não quero nada no seu quarto. Vou demorar menos de um minuto dentro dele – tentei o empurrar, mas ele conseguiu me manter fora. Bufei de raiva.

– Então você vai entrar no quarto as Sahra? – Ele me olhava maliciosamente.

– Sim, eu vou entrar no quarto dela. Agora me deixa passar. – Forcei minha passagem novamente e ele continuou a me bloquear.

– O que você vai fazer lá?

– Nada que seja da sua conta – respondi de forma grosseira.

– Ótimo. Então você não vai entrar.

– O quê? Qual é?

– Você pode bater na porta do quarto e pedir pra entrar, isso seria bem mais simples – ele rolou os olhos e fechou a porta.

Fiquei parado no corredor, olhando para ambos os lados. Era impossível que Sahra me deixasse entrar, era como achar água em Vênus. Mas não custaria nada tentar.

Suspirei e caminhei até a sua porta. Dei três batidas e esperei. Olhei o relógio no meu pulso e bati na porta novamente. Ela deveria estar dormindo. Dei as costas para a porta a fim de ir até o meu quarto, quando ela fora aberta.

David Bowie - Rebel rebel

– Jason?

Virei-me e encontrei com Sahra vestida com um minúsculo short de algodão e uma camiseta larga do Sex Pistols. Ela estava sorrindo e me olhava com curiosidade.

– Jason? Você quer algo? – Ela levantou as sobrancelhas sugestivamente para mim.

– Claro, eu gostaria de conversar com você – me aproximei até ficar bem em frente a ela –, seria melhor se nós tivéssemos um pouco de privacidade.

– Com certeza – ela sorriu.

Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, Sahra agarrou minha camiseta e me puxou para o seu quarto. Suas mãos puxaram minha camiseta sobre minha cabeça e seus lábios encontraram os meus, suas mãos passeavam por todo o meu torso. Minhas mãos acariciavam seu corpo por cima da larga camiseta.

Ela me empurrou contra a porta para fechá-la. Enrosquei suas pernas em minha cintura e pressionei suas costas contra a parede, caminhamos a esmo pelo quarto.

Caí de costas em sua cama. Sahra sentou sobre o meu quadril e beijava meu tórax. Puxei sua camiseta, minhas mãos passearam por sua barriga lisa e puxei seu quadril em direção do meu. Ela gemeu no mesmo instante que eu.

Virei-nos sobre o colchão e continuei com as carícias. Sahra estava por baixo.

Uma vez, alguém havia me falado que não importava o quão estranho poderia parecer, mas todo homem deveria dar prazer a uma mulher durante as preliminares. Funcionaria como um rito, eu não deveria me importar se eu estava pronto o suficiente, mas sim saber se ela já estava pronta.

O fato no momento era que eu estava prestes a explodir nas minhas calças, mas eu não sabia como as coisas iam com Sahra. Na verdade, eu não estava prestando tanta atenção nisso. Eu não prestava atenção em nada em especial, uma música tocava em algum lugar naquele quarto, mas meu interesse estava longe demais.

Eu estava mais do quê extasiado. Que o real motivo para minha ida até o quarto dela fosse a merda, o que interessava era que eu queria realmente transar com ela.

Sahra estava mais do que interessada na mesma coisa que eu, sua mão fora até a minha calça e tratou de abrir o botão e o zíper, ela me ajudou a empurrar a calça para baixo, aquilo estava sendo uma missão difícil levando em conta que nós dois não desgrudávamos os nossos corpos.

A música parou repentinamente e alguém pigarreou.

Empurrei-me para fora da cama o mais rápido possível, cai de costas no chão. Gemi por minha cabeça ter batido no chão, a sorte ainda não havia me abandonado, pois eu não cai de bruços, com toda certeza seria bem mais doloroso.

Assim que me recuperei da queda, olhei para a porta, não havia ninguém lá. Franzi o cenho e mais uma vez ouvi um pigarro, virei em direção a janela e três figuras distintas estavam paradas, olhando em minha direção.

Akim tinha as duas sobrancelhas erguidas, parecendo surpreso. Cheryl tinha somente uma das sobrancelhas erguidas e me olhava sugestivamente. Outro garoto estava parado e olhava tudo parecendo se divertir.

– Eu acho que você pode pegar o resto da sua dignidade, quando levantar as calças – Akim falou.

Recoloquei minhas roupas o mais rápido possível e sentei na cama. Eu estava ofegante, além do que o Akim havia falado ninguém mais deu nem sequer um “oi”.

– Então vocês... – Comecei a falar, mas fui interrompido.

– O que diabos vocês estavam fazendo? – Akim perguntou.

– Nós não estávamos fazendo, nós íamosfazer se vocês não tivesseminterrompido – Sahra respondeu azeda. Ela falava como se não tivesse domínio sobre a própria língua. – Agora eu pergunto como diabos vocês entraramaqui?

– Pela janela – Cheryl respondeu.

– Como vocês atravessaram o portão? – Perguntei.

– Longa história – o garoto desconhecido respondeu. Ele se encaminhou até a cama e se jogou de bruços nela, bem ao lado da Sahra, eu estava do seu outro lado.

– O que... Quer dizer... O que eu ia falar mesmo? – Sahra estava piscando lentamente e parecia estar em outro lugar. – Adam? O que você está fazendo aqui?

– Até que enfim você falou alguma coisa a meu respeito, estava com medo de que você tivesse esquecido de mim. – O garoto, que agora eu sabia que se chamava Adam, apoiou-se em seu cotovelo e sorriu para Sahra. – Vim visitar você.

– Por quê? – Sahra perguntou.

– Eu estava com saudades, ora.

– Sahra nós precisamos de você. – Akim falou e se sentou em um puff preto que estava no chão. – Eu tive um breve encontro com o seu garoto. O Natanael.

– Eu não tenhoum garoto – Sahra falou. – E por que eu ajudaria você? – Ela apontou o indicador para ele e seu dedo oscilava de um lado para o outro.

– Porque você queria ficar frente a frente com ele e eu estou armando o momento ideal pra isso – Akim deu de ombros.

– O que vocêquer que eufaça? – Sahra esfregou as mãos fortemente no rosto.

– Seria interessante conversarmos quando você estivesse sóbria. – Akim acusou.

– Eu não... – Sahra coçou a nuca e esfregou os cabelos, respirou fundo e por fim falou: – Sim, eu realmente e-e-estou chapada – ela levantou o indicador como se estivesse falando algo realmente importante e depois começou a rir.

– O que você andou tomando? – Adam perguntou, ele parecia estar se divertindo bastante com a situação.

– Você quermeeeesmo saber? – Sahra se curvou na direção dele e sorria tentando parecer sexy, ela roçou seus lábios nos deles.

Naquele momento eu me senti estranho, eu não sabia muito bem como denominar o que eu estava sentindo. Não era realmente ciúme, mas eu não havia gostado da intimidade desse garoto com ela.

– Você estava fumando maconha? – Adam perguntou e depois começou a rir.

– Eu posso ter fumado, posso terbebido – então Sahra começou a rir também.

Alguns minutos se passaram até que Sahra finalmente se controlou.

– Você vai servir de isca – Cheryl disse de repente.

– Vou o quê? – Sahra a olhava com o cenho franzido.

– Eu quero dormir, então podemos acabar logo com isso? – Cheryl pediu.

– Vamos organizar um “encontro” –Akim falou – você vai e faremos com que ele pense que nenhum de nós vai estar lá. Por isso Adam está aqui, ele vai ajudar.

Durante todo o tempo, Adam estava esfregando sua mão na cocha de Sahra, fazia aquilo como se fosse normal. Certo, eu estava com ciúmes, só não queria estar com ciúmes de algo que não me pertencia. Mas ela seria mãe de um filho meu e aquilo não era algo legal de se fazer.

– E se eu não quiser ajudar vocês? – Sahra perguntou de forma provocativa.

– Você vai ajudar – Akim rolou os olhos.

– Ela não vai – falei por ela.

– Isso! Eu não vou! – Sahra bateu o punho contra a perna e se fez de determinada.

– E por qual motivo ela não iria? – Akim perguntou.

– É, por que eu não iria? – Sahra me perguntou.

– Porque você está grávida – respondi para Sahra.

– Claro, porque eu estou gráv...

– O QUÊ? – Todos, inclusive Sahra gritaram.

– Você está grávida e o filho provavelmente é meu. – Dei de ombros. – Não se preocupe, eu estou com você pra tudo o que precisar.

– Por que você não me contou que estava grávida? – Adam havia levantado, assim como Akim e Cheryl, e estava perplexo.

– Por que você não se precaveu? – Akim perguntou.

– Você está com quantos meses? – Cherry perguntou. Todos a encararam. – O que foi? Acho que uma mulher grávida é algo fofo.

– Como eu estou grávida? – Sahra perguntou. Ela estava ficando mais sóbria a cada momento.

– Você quer discutir como se faz um filho? – Perguntei.

– Não. Quero dizer, eu tomo anticoncepcional, não posso estar grávida.

– Mas você estava vomitando e depois que foi ao médico passou a comer melhor e balancear a sua comida – tentei explicar.

– Eu tive uma infecção estomacal, ele passou alguns remédios e pediu que eu parasse de comer algumas coisas. Como você pode ter pensado que eu estava grávida?

– Bem, um dia o Drew sugeriu isso e eu achei que... Você não está grávida? – Perguntei.

– Não, não estou nenhum pouco grávida.

Eu já tinha começado a me acostumar com a ideia de ser pai, porém não pude deixar de ficar imensuravelmente aliviado quando ela negou o fato. Levantei da cama e dei alguns socos no ar.

– Não me leve a mal – parei a minha comemoração para explicar. – Eu juro que tinha gostado do fato de ter um filho, mas nós somos jovens demais e seria muito estranho, então acho que foi bom você não estar grávida.

– Se você estivesse grávida, nossa amizade teria que tomar rumos diferentes. Afinal você seria uma mãe de família – Adam falou. Sahra jogou um travesseiro nele.

– Triste você não ter mais um filho – Cherry falou.

Todos, inclusive eu, olhamos para ela perplexos.

– O que foi? Ela seria fofa se estivesse grávida – Cheryl deu de ombros.

– Acho que nós temos que conversar a respeito do outro assunto que estávamos falando antes de você engravidar e depois desengravidar – Akim sugeriu.

– Eu estou muito chapada, então, por favor, vamos falar disso amanhã? – Sahra pediu.

Akim a encarou por algum tempo, enfim suspirou e concordou.

– Tudo bem, mas nós realmente vamos conversar a respeito disso – Akim advertiu. – Alguém poderia nos levar até a porta?

– Jason você poderia? –Sahra perguntou. – Acho que não vou conseguir – então começou a rir.

– Tudo bem, vamos.

Abri a porta e esperei que eles passassem. Akim e Cheryl passaram, Adam ficou para trás e estava abraçando Sahra, ambos trocaram algumas carícias e logo em seguida Adam passou por mim. Coloquei todos fora da casa sem fazer nenhum alarde e voltei.

Eu passaria direto para o meu quarto se a porta do quarto da Sahra não estivesse aberta. Eu não havia a fechado, mas pensei que ela houvesse feito. Dei duas batidas leves na porta e entrei, Sahra estava sentada no meio da cama com a cabeça entre as mãos. Ela estava uma bagunça desgrenhada.

– Passei pra saber se você está bem.

– Eu estou ótima, muito obrigada. Você pode ir dormir – Sahra me dispensou.

Suspirei e sentei ao seu lado na cama. Coloquei um braço em volta dos seus ombros e a puxei para perto de mim. Eu não estava fazendo aquilo com interesse sexual, mas sim como um amigo, era isso o que eu gostaria de ser dela. Um amigo.

– Eu não estava brincando quando disse que apoiaria você caso estivesse grávida. – Não sei por que falei aquilo, mas senti que precisava.

– Muito legal da sua parte – ela apoiou sua cabeça no meu ombro. – Você seria um bom pai.

– Tenho minhas dúvidas, mas você seria uma boa mãe.

– Eu também tenho as minhas dúvidas – ela riu baixinho. – Na verdade eu acho que seríamos um desastre.

– Eu tenho certeza disso, acho que passei por dias bastante tenebrosos enquanto achava que você estava grávida.

– Você é muito estranho – Sahra falou e cutucou minhas costelas, me encolhi.

– Espera – enfiei minha mão no bolso da calça e tirei a pulsei que havia comprado mais cedo. – Olha, eu sei que não é mais seu aniversário, mas eu ainda posso dar um presente certo?

– Desde que o presente seja cara, eu não me importo – Sahra riu.

– Silencio sua aproveitadora – nós dois rimos. – Bem, toma.

Coloquei a pulseira na sua mão.

– Meu nome está escrito aqui – ela olhava a pulseira, depois me entregou e estendeu o pulso para que eu pudesse colocá-la.

– Eu comprei uma no tamanho infantil, mas eu acho que não vai servir em lugar algum – Mostrei a outra pulseira a ela.

– Acho que sei em quem ficaria perfeita.

Sahra pegou a pulseira e foi até a gaiola de Jason, abriu e pegou o furão. Ela mexeu nele um pouco e quando voltou para cama o furão tinha a pulseira presa a um lenço que envolvia seu pescoço.

– Ele gostou – falei.

– É – Sahra sorriu. – Acho que ele é meu filho, posso emprestá-lo a você de vez em quando.

– Oh claro. Eu com certeza gostaria de ter seu furão emprestado algumas vezes, algo realmente útil.

– Cala boca!

Ela bateu no meu ombro, soltou Jason e se deitou na cama, deitei ao seu lado.

– Como você sabia que era meu aniversário? – Ela perguntou.

– Eu passei no seu trabalho e o Nicholas falou que dispensaram você mais cedo por isso. – Dei de ombros.

– Fico feliz em saber que você ficaria ao meu lado em uma situação dessas. Acho que eu estou começando a confiar em você.

– Você já deveria ter confiado ha mais tempo. – Virei de lado e a encarei. – Você fica bonita assim.

– Claro que sou – ela falou ironicamente. Virou-se também de lado e ficou me encarando.

Aproximei-me lentamente e rocei meus lábios contra os seus, demos um beijo lento e demorado. Aquilo parecia selar um contrato de amizade entre nós dois. A atmosfera de tensão havia se dissolvido. Eu não sabia o que tinha acontecido, mas eu estava gostando de ficar ao lado da Sahra como se fossemos verdadeiros amigos.


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Notas finais do capítulo

Eu tinha prometido postar ainda no ano passado não foi? Mas acabou que o meu fim de ano foi conturbado demais, ressacas poderosas que derrubariam até os mais fortes seres humanos.
Não postei antes porque meu começo de ano foi mais agitado que o final do ano. Eu havia me afastado durante todo o ano passado não é? Pois bem, me afastei por conta da falta de tempo pra conciliar a escrita com os estudos, enfim... Eu passei no vestibular. o/
Passei em todas as universidades em que havia me inscrito e vocês estão falando com uma futura estudante de jornalismo [não vale muita coisa, mas fazer o que né]
Aí vocês se perguntam: Mas você passou e daí? Poderia ter escrito mais.
Então eu respondo. Comemorei muito e a ressaca da minha última aprovação foi a pior. Parecia que eu não voltaria mais andar, aquilo foi cruel. Tirando essas ressacas, eu fiquei ocupada procurando um lugar pra morar.
A universidade que vou cursar fica na cidade vizinha, então tive que ir atrás de moradia e blá, blá, blá... O lado bom é que voou realizar aqueles sonhos infantis do tipo "Vou morar com os amigos quando tiver fazendo faculdade". Isso mesmo sem os pais por perto!
Ok, espero que tenham gostado do capítulo, eu gostei e quero saber o que vai acontecer depois. Se vocês quiserem saber o que vai acontecer falem naquela caixinha de review que tem aqui :B Ficarei feliz em responder. Até o próximo, que espero postar o mais rápido possível.
B'jos e persigam @LoydeSilva :3



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