So What escrita por Mahriana


Capítulo 26
Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

Não se assustem! Sim sou eu e não, eu não morri! Vejo vocês lá embaixo, no mais...
~~ Apreciem sem moderação ~~



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Capítulo 24

PDV Sahra:

Meus olhos estavam fixos na folha de papel enquanto eu fazia um lápis deslizar de um lado para o outro formando traços, formas e algumas noções de espaço...

Nossa! Há quanto tempo eu não desenhava? Um sorriso preencheu meu rosto ao constatar que eu não desenhava havia muito tempo.

– Então você simplesmente bateu neles? – Uma voz autoritária, mas calma interrompeu meu raciocínio artístico. Rolei os olhos e bufei.

– Pela décima vez: Sim. – Nem me dei o trabalho de levantar os olhos e encarar o psicólogo da escola.

– Posso saber o real motivo para o ato?

– Explicando novamente, – respirei fundo – a escola inteira está brincando com a minha cara, algo como: “a Sahra é tão idiota, vamos convidá-la para a festa de Halloween”. Então os garotos me convidaram e eu bati neles.

– Isso não justifica o que você fez, somente...

– “Antipatias violentas são sempre suspeitas e traem uma afinidade secreta”. – Falei com uma voz baixa e sombria o interrompendo.

– Você lê William Hazlitt? – Ele perguntou um tanto surpreso e interessado, por eu falar algo diferente.

– Na verdade não, – confessei sorrindo, sem nunca tirar os olhos do papel a minha frente – eu li isso em algum lugar por aí, não lembro, achei que a frase se encaixaria nesse contexto.

– Em algum momento não passou por sua cabeça que os garotos querem, realmente, levá-la para o baile de Halloween? – Ele supôs.

– Não, na verdade não. Eu sinto que há algo por trás disso, mas não posso fazer nada a respeito sem saber realmente – confessei minhas suspeitas.

– Você é nova aqui, eles querem ser hospitaleiros, talvez só queiram fazer com que você se sinta em casa.

–Não, definitivamente não. – Neguei novamente. – Eles querem tudo, menos fazer com que eu me sinta em casa, acredite.

– Eu quero ajudá-la Sahra, mas você não está deixando – o médico comentou suspirando.

– Talvez seja porque eu não pedi ajuda. – Levantei os olhos do papel e olhei para o relógio de parede perto da saída do escritório. Logo em seguida me virei para o homem, vestido formalmente, atrás de uma mesa. – Eu sei que esse é seu trabalho, mas acredito que a ajuda oferecida pelo senhor, no momento, não me é útil, apesar de todos pensarem o contrário.

– Todos precisam de ajuda, mas poucos aceitam ser ajudados. Você não deve se sentir fraca, ou envergonhada por pedir para alguém ajudá-la.

– Meus problemas são menores que os dos outros, não posso me dar ao luxo de simplesmente sentar aqui e desabafar com o senhor meras idiotices quando existem pessoas com problemas de verdade. – Coloquei meu lápis dentro da minha mochila, deixei o papel em cima da mesa e me retirei da sala. – Meu tempo acabou. Até a próxima, doutor. – Sai da sala sem esperar alguma resposta.

Caminhei pelos corredores da escola vagarosamente, a situação já estava passando dos limites. Minha vida poderia se equiparar com um espetáculo circense, tudo não passava de uma palhaçada mesmo. Passei em frente à enfermaria e minhas mãos apertaram fortemente a alça da minha mochila, suspirei e entrei na sala.

Nicholas estava com uma bolsa de gelo sobre seu colo e segurava outra sobre seu olho esquerdo, fiz uma careta e realmente me senti mal por ele.

– Você tem um minuto? – Falei fazendo com que ele notasse minha presença, seus olhos se voltaram para mim e seu rosto se contorceu em uma careta.

– Depende, você vai me espancar novamente? – Ele foi sarcástico.

– Na verdade não – sentei ao seu lado em uma maca e larguei minha mochila no chão. – Me desculpe, de verdade, eu não queria bater em você. – Ele bufou. – Estou sendo sincera, acredite em mim, você só me pegou em um mau momento, já perdi as contas de quantos garotos me convidaram, antes de eu realmente o reconhecer acabei... Você sabe. – Apontei para os lugares onde se localizavam seus machucados.

– Acho que você acabou com todas as possibilidades de Olívia e eu termos filhos – ele comentou suavemente. Sorri em resposta.

– Acho que vou enviar um pedido de desculpas formal para ela.

– Isso será realmente necessário. – Ele fez uma pausa. – Eu a desculpo, que dizer, não é como se eu tivesse muitas escolhas não é mesmo? Você é a única pessoa que fala comigo e trabalhamos juntos então...

– Ausência de conversas é totalmente inviável – completei –, principalmente se tratando de um tagarela como você.

– Argh!

– Ok! Mas eu acho que não sou a única a conversar com você.

– Vou reformular minha frase – ele se empertigou em seu assento e puxou a respiração. – Você é a única pessoa que fala comigo e não me acha insuportável, ou tentou algum relacionamento, ou se aproveitou de mim.

– Sou uma babaca por não fazer isso – falei dando de ombros.

– Acho melhor você sair daqui antes que eu resolva bater em você, a propósito, me lembre de nunca mais convidar você para uma festa. – Ele se jogou de costas na maca.

Concordei sorrindo, peguei minhas coisas e sai.

Não havia mais nenhum aluno no prédio e quando cheguei ao estacionamento quase nenhum carro se fazia presente, os poucos provavelmente eram dos alunos que ficavam nos treinos de seus respectivos esportes e em atividades extracurriculares.

Uma garoa caia e eu realmente não me importei de ficar molhada, iniciei minha caminhada até o restaurante calmamente, não chegaria atrasada e o clima fresco me daria tempo para divagar a respeito de qualquer banalidade.

Espirrei.

Claro que eu espirraria, um resfriado idiota insistia em me atormentar a algum tempo, aquilo era irritante. Coloquei o capuz do moletom sobre a cabeça e a chacoalhei.


Flash Back:


– Vamos? – Adam me chamou.

– Nem pensar. – Retorqui, fazendo uma careta.

– Qual é Sahra? Você não é sempre tão solta e espontânea, eu acho que não. Então me faça engolir minhas palavras agora.

Rolei os olhos, estávamos naquela situação há quanto tempo? Adam tentava me convence a fazer uma das coisas mais idiotas da minha vida.

– O que eu vou ganhar fazendo isso? – Perguntei sem mostrar interesse, mas no fundo eu estava muito excitada com tudo o que viria acontecer.

– Satisfação. – Ele respondeu com um dar de ombros. – Mas eu acho que você é muito medrosa para fazer isso, então...

– Vou fazer você engolir suas bolas Fraiture.

– Isso foi uma ameaça?

– Definitivamente – falei com os olhos cerrados.

Caminhei até o carrinho de supermercado e apoiei meus pés na parte de baixo dele, fechei minhas mãos fortemente ao redor do apoio de empurrar e respirei fundo.

– Isso vai ser divertido – Adam gargalhou.

– Seja homem e pule aqui dentro, ou você tem medo de molhar as calças?

– O quê?! – Ele riu mais, me olhou e olhou para o carrinho, então pulou dentro.

– Se eu sair viva dessa idiotice – respirei fundo – me lembre de chutar sua bunda bem forte.

– Acredite quando digo que eu mesmo vou me chutar.

Uma pancada de chuva caiu inesperadamente, meus olhos se arregalaram enquanto a chuva ficava cada vez mais forte.

– O que nós vamos fazer? – Perguntei, enquanto ficava seriamente ensopada.

– Empurrar o carrinho ladeira a baixo como havíamos combinado. – Suas mãos se apertaram e ele sorriu.

– Mas e a chuva? – a ideia parecia se tornar cada vez mais idiota.

– Você já está ensopada, vamos dar emoções a nossas vidas.

– Por que eu já estou começando a me arrepender dessa ideia?

– Porque você é muito chata. – Ele falou enquanto rolava os olhos. Dei um tapa em sua cabeça.

Ri e respirei fundo mais uma vez, depois de tudo o que eu havia passado aquilo não era nada, mas eu temi me quebrar por inteira. Ignorei todos os medos e empurrei o carrinho.

Um pé apoiado no carrinho e outro empurrando, vi Adam apertar as mãos nas laterais do carrinho. Aos poucos ficamos mais e mais rápidos, a chuva chicoteava contra minha pele, meus olhos estavam arregalados enquanto o vento cortava o espaço por onde passávamos, ou nós cortávamos o vento?

Não tive tempo de pensar a respeito, as rodas do carrinho travaram e meu corpo foi arremessado para frente, assim como o de Adam. Pelo curto espaço de tempo em que meu corpo voou, senti uma sensação de liberdade imensa, percebi que um sorriso enorme se encontrava estampado em meu rosto. Talvez o ser humano descobrisse uma maneira de voar sem o auxílio de máquinas.

Meu corpo se chocou contra o chão e dava voltas e mais voltas, até finalmente parar. Gemi por conta do choque. Virei-me de barriga para cima e deixei a chuva banhar meu rosto, aquilo era tão bom.

– Sahra?! Ei! – Escutei Adam chamar, mas o ignorei, a adrenalina ainda corria por minhas veias e junto com a chuva a sensação era maravilhosa. – Sahra! – A voz estava irritantemente mais próxima. Senti mãos tocarem o meu rosto, abri os olhos.

– O que você quer? – Respondi azeda.

– Você está viva – ele suspirou aliviado. Ele sentou e eu o acompanhei. – Nível de danos?

– Ainda não sei, não sinto muita coisa, por enquanto. Acho que meu braço não está bom, a minha perna não parece muito legal, nem minhas costelas e você? – Comecei a me avaliar, eu deveria estar uma merda e amanhã não conseguiria me mexer.

– Acho que meu tornozelo já era e meu quadril... E meus dedos. – Ele gemeu quando tentou mexer os dedos da mão direita.

– Não, seus dedos não. – Brinquei. – Como você vai me fazer massagens?

– Com a boca – ele falou provocativamente.

– Isso seria uma boa opção – rebati. – Babaca.

– Feliz aniversário bebê monstro. – Ele me abraçou desajeitadamente. Ambos gememos de dor.

– Obrigada – Sussurrei em seu ouvido.


Flash Back off.


Eu me curvei enquanto ria, aquelas eram boas lembranças de um dia chuvoso e um aniversário, horas e horas no hospital compensaram alguns minutos de diversão.

O dia passou rápido e tão cedo quanto eu podia cheguei a casa, passei pela cozinha e avisei que não iria descer para o jantar, me tranquei no quarto e peguei meu celular para verificar o calendário, dentro de alguns dias seria 30 de setembro, ou seja, a porcaria do meu aniversário.

Eu não odiava a data, talvez um pouco por algumas péssimas lembranças, mas eu amava o fato de ficar mais velha. Parecia que quanto mais velha eu ficava, mais próxima da liberdade eu me encontrava, sorri com o pensamento. Aquilo era somente um passo para dar o fora daqui.

Eu faria 18 anos e não iria comemorar, suspirei, pelo menos não com os meus amigos. Eu precisava fazer algo a respeito, por mim mesma, uma espécie de comemoração mostrando meu amadurecimento pessoal, ou algo como uma noite regada de bebidas, enquanto estava trancada no quarto. Rolei os olhos para os pensamentos absurdos que rodavam minha mente. Ficar bêbada sempre era uma opção viável, no entanto ficar bêbada sozinha não era nem de longe algo legal.

Vasculhei por entre as minhas coisas e puxei uma caixa com algumas lembranças, CDs, DVDs, cartas e pequenos objetos que acabaram por se tornar especiais. Separei um a um e notei que a maioria das coisas me traziam lembranças de Natanael, isso me levou a pensar no que Akim e Cheryl estariam fazendo nesse momento.

Qualquer coisa poderia estar acontecendo e eu simplesmente estava sentada no meio do meu quarto pensando no meu aniversário e nos momentos em que tive com Nate. Respirei fundo e decidi me tornar menos patética, afinal não é como se ele ainda guardasse todas as idiotices com que eu o presenteei, ou talvez ele ainda guardasse.

Sacudi minha cabeça fortemente.

Eu não deveria dar esperanças a minha mente doente, como se ele ainda ligasse para mim, depois de tudo o que havia acontecido eu deveria ter ao menos um pouco mais de amor próprio.

Passei minha mão por todas as cicatrizes que se encontravam marcadas em meus braços, os últimos dias tinham sido difíceis. Nenhuma notícia a respeito do Nate, ou Akim e Cherry.

Olhei para a mesa que tinha em meu quarto e vi maços de cigarros e algumas garrafas de bebida abertas, acho que eu estaria enrascada se Jonh por acaso visse isso, mas com o meu isolamento e o fato de eu não me meter em nenhum problema, pelo menos nos últimos dias, fez com ele me deixasse em paz.

Cortar-me, beber e fumar estava se tornando um hábito muito mais comum do que eu gostaria que fosse.

Dei um longo suspiro e voltei meus olhos para as coisas que estavam estendidas a minha frente, juntei uma a uma, com bastante cuidado, coloquei de volta a caixa e saí do quarto, desci as escadas lentamente, para que ninguém me visse. Acabei ficando tempo demais olhando tudo e não notei o tempo passar quando olhei meu relógio já se passava da meia-noite.


Coldplay - Yellow


Andei até a parte mais afastada do vasto quintal e sentei no chão, sem me importar se sujaria minha roupa, com a caixa diante de mim. Enfiei a mão no bolso da minha calça de moletom e retirei um isqueiro.

Aquilo tudo era patético. Minha vida, o drama envolvido as porcarias todas. Eu me lamentava por coisas que fugiam totalmente do meu controle. Eu ainda era uma adolescente, eu deveria estar reclamando sobre garotos por telefone com alguém, ou discutindo a respeito da minha festa de aniversário. Então aqui estou bem no meio da enorme propriedade do Sr. Benson.

Peguei as fotos e queimei uma, depois outra e assim por diante. Eu realmente achava que tinha me livrado de todas as coisas dele, mas aquela caixa diante de mim desmentia tudo.

Eu sentia, e realmente doía admitir isso, mas uma fagulha de esperança ainda parecia estar presente no meu peito. Uma vontade de que talvez ele ainda se importasse comigo e aquilo tudo não passasse de um mal entendido.

Coloquei as cartas em uma pilha e novamente coloquei fogo, algumas pulseiras artesanais foram colocadas, CDs, colares de contas... O fogo consumia tudo, as labaredas lambendo e consumindo cada novo item colocado ali.

Acha que um dia vamos dividir uma casa? Por que isso seria muito estranho.”

Um nós estranho se formou na minha garganta.

“– Olhe as estrelas, elas estão lindas, mas não como você.”

Meu estômago se contraiu.

“– Será que vou conseguir superar esse abraço? Parece que eu nunca consigo parar de pensar em você.

Sinto a mesma coisa sussurrei.”

Um soluço rasgou minha garganta, minha mão apertou o lado esquerdo do meu peito, me curvei e apertei meu tórax.

“– Se algum dia eu magoar você de alguma forma, pode me bater, porque eu provavelmente vou estar louco.”

– Maldito psicopata! – Minha voz não passou de um sussurro estrangulado, passei a mão no meu rosto e lágrimas escorriam de forma desenfreada, eu não conseguia parar, simplesmente não conseguia.

“– Você está me cansando, está me deixando louco! Nate gritou enfurecido.

Então me deixe em paz! Gritei de volta. As coisas funcionavam melhor sem mim, afinal quem eu sou? Maldito imbecil.

Quem você acha que eu sou. Por favor, Sahra vá se danar.

Dane-se você, seu inútil imbecil.Joguei um cinzeiro de vidro em direção a ele, que acertou a parede atrás dele.

Nos encarávamos enfurecidos.

Corremos em direção um do outro, me joguei em seus braços, minhas pernas se envolveram em sua cintura, seus braços agarravam minhas costas e minha nuca, nossos lábios se esmagaram um contra o outro.

Vamos parar de brigar, por favor? Ele pediu sussurrando contra os meus lábios.

Sim devolvi.”

– Por que diabos você tinha que aparecer na minha vida? – Gritei para a pilha de lixo flamejante a minha frente.

Esmurrei o chão, inúmeras vezes, a cada soco um novo soluço. Há quanto tempo eu não chorava?

Joguei-me de costas no gramado e encarei as estrelas. Meus dedos agarravam a grama e eu a puxava descontroladamente. Agarrei minha cabeça e puxei meus cabelos, lembranças de diversos momentos passaram por minha mente, debrucei-me e pressionei minha testa contra o chão, encolhi minhas pernas e no momento eu não passava de uma pequena bola no meio do imenso espaço. Soluços irrompiam com força do meu peito, eu não conseguia respirar normalmente, não sabia há quanto tempo eu estava daquele jeito.

Ajoelhei-me no chão e puxei uma longa respiração, era complicado fazer isso, tanta luta interna para simplesmente mandar Nate e tudo o que ele fez comigo foi me mandar à merda e eu me encontrava chorando, no meio da madrugada, como um maldito bebê. Uma risada irrompeu por minha garganta. Não parecia um riso, mas um alarde desesperado, as lágrimas ainda caiam, mas as risadas estavam vindo com mais força. Eu não estava entendendo nada.

Depois de alguns minutos tudo parou.

Não vieram as risadas, as lágrimas ou qualquer outra coisa, uma inercia enorme se apoderou do meu corpo.

Maldita seja essa vadia que se chama vida! – Amaldiçoei em pensamento.

Olhei a pilha de lixo a minha frente e não pude evitar a pontada de tristeza que me assolou, afinal eu tinha queimado o que parecia ser uma vida inteira ali. Eu não sabia ao certo o que faria se encontrasse com Natanael, talvez esse fosse um dos motivos de eu querer tanto ir atrás dele, eu não sabia qual seria a minha reação, eu precisava vê-lo novamente. Vê-lo em uma situação que não envolvesse o barulho de sirenes e luzes vermelhas piscando, sem ninguém gritando, queria saber o que eu realmente ainda sentia por ele.

Não que eu ainda sentia algo tão forte como quando nos conhecemos, mas... O que eu sentia agora?

Toquei o cordão que usava, eu não o faria queimar junto com as outras coisas, apesar de tudo, nós tivemos bons momentos, eu não queria esquecê-los, não totalmente.

– Que eterna contradição – resmunguei.

Levantei, peguei a caixa em que eu tinha levado as coisas para baixo e esperei até o fogo se apagar. Usei as mãos para colocar as cinzas dentro da caixa e espalhar pelo imenso quintal, assim que terminei joguei a caixa no chão, algo pequeno saiu de dentro dela e rolou pela grama.

A caixa era grande e feita com duas camadas de papelão duplo e pintada de lilás, com pequenos desenhos variados sobre toda a superfície. Uma pequena caixa de metal havia saído dela, peguei-a nas mãos e franzi as sobrancelhas.

A caixinha era menor que uma caneta e não passava de um dedo e meio de espessura, abri a tampa e dentro encontrei algo no mínimo interessante, peguei a caixa grande do chão e vi que o fundo havia se soltado. Um sorriso invadiu meu rosto, peguei um dos quatro pequenos baseados, prontos, que estavam na caixinha, fora uma quantidade de erva esperando para ser enrolada.

Segurei um entre os dedos e ponderei a respeito, fazia um bom tempo em que eu não fumava maconha. Claro que isso não era algo legal, eu realmente não deveria andar com isso por aí, ou mesmo estar ponderando sobre usar. Eu tinha prometido que não iria mais usar. Mordi os lábios, eu tinha prometido a mim mesma, no entanto essa não seria a primeira promessa pessoal que eu quebraria. Eu era uma adolescente e deveria agir como uma pelo menos agora eu tinha um pai para me castigar se eu fizesse algo errado. Dei de ombros e acendi o back.

Puxei a fumaça lentamente, prendi, e soltei a sugando.

Depois de fumar um inteiro já sentia meu corpo relaxado e minhas pálpebras pesadas, uma estranha sensação de satisfação me abateu. Deitei na grama por uns instantes e comecei a rir, o movimentos das nuvens no céu parecia tão cômico.

– Tudo bem, queimei lembranças ruins, amanhã vou resolver o problema com o seguro da minha moto e esses serão meus presentes de aniversário. – Falei comigo mesmo.

Recolhi meus pertences e sai em direção à entrada dos fundos da casa, eu estava mais do que relaxada. Entrei sorrateiramente e ouvi alguns barulhos vindos da cozinha, me encolhi em meio ao escuro e caminhei da forma mais cautelosa que podia. De modo algum Jonh poderia me pegar chapada. Alguém estava enfiado na geladeira e várias embalagens de comida estavam dispostas sobre o balcão ao lado da pia.

Franzi o cenho, ninguém comeria tudo aquilo no meio da noite. Talvez eu comesse, mas a minha situação era diferente. Dei um longo suspiro e fui em direção de quem quer que fosse.

– Uh-hum! – Limpei minha garganta para chamar atenção do indivíduo.

Para minha surpresa, ou não, Mellany virou em minha direção com um pote de sorvete em mãos.

Oh Droga!

Eu gostaria de ter encontrado qualquer um, menos ela. Mellany significava problemas e isso era justamente o que eu não queria.

– Sahra?! – Ela estava assustada. Encolhi meus ombros.

– Eu queria um copo com água e... Eu... Desculpe. – Ela ainda me encara surpresa, não parecia nada bem e eu não estava em condições de realmente ajudar alguém, ainda estava meio “aérea”. – Você está bem? – Antes que eu pudesse me impedir as palavras saíram.


Cavo - Beatiful


Para minha completa surpresa, Mellany “quebrou” bem diante dos meus olhos. Ela largou o pote de sorvete, ajoelhou-se no chão e começou a chorar. O-ou! Aquela não era uma cena que eu gostaria de presenciar. Senti-me perdida, afinal o que eu poderia fazer?

Eu não sabia o que fazer, mas eu sabia o que gostaria que fizessem comigo, então caminhei até onde ela estava e a envolvi em meus braços. Ela agarrou meu roupão e o ensopou de lágrimas. Eu não estava no meu estado normal, então eu simplesmente não poderia conversar com ela, pelo menos não por enquanto. Afaguei seu cabelo e suas costas enquanto ela tentava parar de chorar. Aquele momento pareceu durar horas até ela enfim parar.

Mellany largou meu roupão lentamente e começou a se afastar. Eu sabia o que ela estava fazendo, ela comeria tudo o que aguentasse e depois se trancaria no banheiro para por tudo para fora. Eu era uma especialista a respeito de comportamentos destrutivos, mas isso não queria dizer que eu sabia como lidar com eles.

– Eu não quero mais fazer isso – ela me olhou com os olhos cheios de súplica. – Eu não consigo parar.

Uma nova onda de choro a tomou.

Eu também quero parar, Mellany.

– Eu sei – sussurrei de volta. Respirei fundo e resolvi tomar uma iniciativa. – Vamos. – Falei me levantando e a trazendo junto comigo. – Agora me diga o que, dessa vez, fez você fazer isso? – Ela me olhava com os olhos inchados e a cara amassada, vi dor em perpassar por seu rosto.

– Falta praticamente um mês para a festa de Halloween e ninguém me chamou. As garotas disseram que eu não estava em forma e...

– Cala a boca. – a cortei. – Você provavelmente é a garota mais magra que eu conheço e se ninguém a chamou é porque são todos idiotas, você é linda. Você precisa arranjar novas amigas porque as suas provavelmente passaram do prazo de validade. – Puxei-a para um abraço. Aquilo surpreendeu até a mim. Seu eu não estivesse sob o efeito de alguma droga nunca faria aquilo.

– Eu n...

– Se você é gorda então sou obesa. – A interrompi novamente. – Vamos lá, você não é uma garota idiota e nem vai passar o resto da sua vida comendo e vomitando. Você vai me ajudar a limpar a cozinha e amanhã nós iremos até um cara que entenda realmente do assunto e ajude você, is...

– Eu não quero! – Ela me cortou alarmada. – Eu não estou ficando louca, não preciso de especialista nenhum. Você não vai me levar. – Ela bateu o pé no chão e aquilo realmente parecia algo de filmes adolescentes idiotas.

– Mel. – Falei em um suspiro. Ela tinha que ceder, eu não faria aquilo se a tivesse encontrado sem estar meio chapada. – Você não precisa se não quiser, mas você acabou de me dizer que quer parar, não precisa passar por isso tudo sozinha e você realmente precisa de novas amigas.

– O papai vai querer me matar se souber o que eu venho fazendo – ela completou com uma risada sem humor.

– Ele seria um idiota se ficasse preocupado com outra coisa além do seu bem estar – falei enquanto começava a jogar embalagens vazias de alimento no lixo. Mellany começou a fazer o mesmo que eu.

Ficamos um tempo trabalhando nisso, sem dizer uma palavra. Eu sentia que ela queria falar algo, mas não parecia se sentir a vontade. Eu definitivamente não iria força-la, senti vontade de rir quando uma colher escapou de minhas mãos, mas me mantive firme, não seria nada legal se ela soubesse que eu não dispondo da normalidade das minhas faculdades mentais.

– Eu não tenho me sentido bem. – Mellany falou de repente. Aquilo me pegou de surpresa.

– O que houve?

– Eu tenho sentido tonturas e eu realmente não estou com energia para fazer atividades físicas, faltei os últimos treinos das líderes de torcida... Eu não menstruo faz algum tempo. – Ela estava constrangida. – As garotas disseram que eu estava grávida, mas isso ridículo já que eu nunca fiz sexo com ninguém – ela corou.

– Você não pode continuar vivendo assim, você sabe não é? – Ela concordou acenando com a cabeça. – Podemos ir até o psicólogo da escola amanhã e você sabe... Ninguém precisa saber disso por enquanto. O que você acha?

– Você realmente deveria ter sido minha irmã desde o começo. – Dei um sorriso de lado, meio desconcertada com o que ela havia acabado de dizer.

– Certo, então amanhã depois da aula nos encontraremos na sala do psicólogo, você pode ficar com o horário depois do meu – sugeri.

– Você está frequentando o psicólogo do colégio? – Ela perguntou surpresa.

– Sou muito violenta e preciso de tratamento – respondi sorrido. – Acho que você deveria ir dormir não é?

Ela me deu um último braço e se foi.

Eu tive minha quota de abraças por uma semana inteira. Ajudar Mellany fez com que eu me sentisse ótima, talvez eu tivesse o dom de ajudar as pessoas. Eu poderia me tornar psicóloga, eu parecia fazer um bom trabalho. Eu podia sentir um sorriso preenchendo o meu rosto.

– Isso aí Sahra! Você é uma garota e tanto – comecei a conversar sozinha. – Resolver os problemas alheios é realmente fácil... Hehe – comecei a rir toscamente. Dei tapinhas mentais nas minhas costas. – Talvez eu deva abrir um consultório, algo como “Sahra, resolvendo problemas em apenas uma seção”, isso parece algo como uma vidente charlatona. Cara, eu seria uma boa vidente, realmente... Eu realmente... É, eu realmente preciso parar de me drogar.

Bati com a mão em minha testa. Akim deveria estar aqui para me ajudar com essas coisas. Suas palavras eram melhores do que as minhas. Onde será que aquele idiota estava?

Balancei minha cabeça espantando os pensamentos. Peguei a caixinha com os baseados e fui até o cesto de lixo, eu deveria jogar fora, estendi a mão para fazer isso, mas algo dentro de mim se recusou. Aquilo poderia ser útil em algum momento futuro. Segurei a caixinha firmemente e voltei para o meu quarto, dentro de algumas horas eu daria um rumo para minha vida, ou pelo menos tentaria.

POV Narrador Observador.

Akim estava cansado, mal sentia alguma parte do seu corpo da cintura para baixo. Ofegava como um animal e parecia que não iria aguentar por muito tempo, era como se estivesse correndo uma maratona. Suor escorria de todo o seu corpo.

– Eu não vou aguentar por muito tempo. – Ele resfolegou.

Uma mão agarrou seu ombro e aquele foi o estimulo para que ele explodisse. Os barulhos de gritos ecoaram e um corpo caiu ao seu lado.

– Eu não aguento uma 4ª vez. – Cheryl Beaclez arfou ao seu lado. Sua pele coberta por uma camada fina de suor.

– Não se preocupe com isso, eu também não aguento uma quarta rodada. Você é realmente uma bomba de cereja – Akim sorriu e deslizou sua mão por todo o corpo de sua parceira.

Ambos passaram dias indo de um lado para o outro, a procura de Natanael. Haviam o encontrado nos arredores de Tacoma. Ele estava em um bar junto com outras pessoas, não parecia estar participando das apostas costumeiras, das disputas, ou qualquer coisa do tipo.

Akim conseguira encontrar a pessoa que ansiava por tanto tempo, mas a oportunidade se esvaiu de suas mãos. Tão logo o viu, Natanael conseguiu fugir e depois de passados alguns dias ninguém sabia de nada a respeito dele.

Tanto Akim quanto Cheryl ficaram tão frustrados, os gêmeos estavam trabalhando em localizar o fugitivo, mas era como procurar uma agulha em um palheiro. O crime mais bem executado de todos, aquele que não deixa rastros.

– Acho que eu preciso descansar – Cheryl falou com um suspiro. – Você vai ficar bem?

– Claro, eu também preciso dormir. – Akim respondeu.

No entanto passaram-se alguns longos minutos e os olhos de Akim continuavam abertos e encarando o teto sobre sua cabeça, Cheryl tão logo caiu no sono.

Akim levantou da cama com cuidado para não despertar sua parceira, um sorriso carinhoso se espalhou por seu rosto enquanto olhava para a garota. Rapidamente catou suas roupas do chão e as vestiu desajeitadamente, procurou por seu celular e saiu do quarto de motel na beira de uma estrada em que se encontrava.

Caminhou até o posto de gasolina que se encontrava em frente ao local onde passava a noite e comprou um maço de cigarros e uma garrafa de Uísque barato. Sentou na beira da estrada e encarou o céu, levou a garrava de bebida a boca e seu rosto se contorceu em uma careta ao sentir a bebida forte descer por sua garganta. Acendeu um cigarro e com um grande suspiro pegou seu celular.

Passou os dedos pela tela do aparelho e por fim encontrou o que queria, apertou a opção que completaria uma ligação e deu um longo gole em sua bebida enquanto esperava.

Alô? – uma voz falou do outro lado da linha.

– Aqui quem fala é o Akim – Ele se encontrava frustrado com a sua incapacidade de cumprir o que havia prometido a uma garota com estranhos cabelos coloridos.

Ao que devo a honra de sua ligação?

– Preciso da sua ajuda. – Akim admitiu. – Acho que a Sahra não vai estar tão segura daqui pra frente e eu não faço ideia do que fazer.

Você está pedindo a minha ajuda para proteger a Sahra? – A voz do outro lado da linha parecia surpresa e até mesmo sarcástica.

– Tive um tempo desagradável em um bar faz alguns dias e eu acho que as coisas desandaram – Akim esfregou os cabelos e sorveu outro gole de sua bebida.

Que grande ironia não? – Falou a voz do outro lado da linha com um tom jocoso.

– Você quer que eu me arrependa de ter ligado? – Akim perguntou de forma grosseira.

Não! De modo algum! – A pessoa rapidamente contrapôs e logo em seguida emendou. – O que você gostaria que eu fizesse?

– Eu só gostaria que você ficasse de olho nela. – Akim falou frustrado, um longo suspiro escapou de seus lábios.

Não é isso o que eu sempre faço? Cuidar dela. Aliás, nunca entendi o motivo de você se preocupar tanto com ela. – A pessoa parecia ter uma curiosidade real a respeito do assunto.

– Ela é uma boa garota e eu prezo pela segurança dos meus amigos. – Akim estava desconfortável por estar tendo aquela conversa, tomou mais um longo gole de sua bebida.

Ok! Vou continuar a fazer o meu trabalho.

– Tudo bem, nos falamos depois.

Se despediram e o garoto continuou onde estava. Sua mente parecia estar a mais de mil por hora. Ele não gostava de esconder as coisas, mas naquela situação era preciso.

Akim relaxou os ombros e suspirou, a tensão e a necessidade o havia feito passar uma boa parte da sua noite fazendo sexo com Cheryl, ambos pareciam estar precisando extravasar um pouco de energia de alguma forma. Agora Sahra estava protegida e ele não podia fazer mais coisas. Ele se levantou caminhou de volta ao seu quarto, era hora de voltar.



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Notas finais do capítulo

Bom, eu sei, eu sei... Eu estou desviando das pedras que vocês estão jogando em mim nesse exato momento, sou uma pessoa horrível =/
O que aconteceu foi que: Eu tive um tempo muito ruim pra escrever essa estória e não foi por falta de inspiração, mas sim de tempo e cansaço.
Cara, eu fiz o ENEM e na semana passada fiz a prova do vestibular federal daqui e no próximo domingo (16/12) faço a estadual. Essa é a minha última semana de curso preparatório, ou seja, a partir da semana que vem eu vou ter minhas tardes e finais de semana livres (eu tinha aula nos fins de semana).
Eu fiquei feliz por receber alguns reviews e por ter recebido uma MP perguntando se eu estava bem. Fiquei parecendo o gato Cheshire sabe? KKKKKKKK'
Me desculpem por eu ter falado que eu voltaria, mas eu ficava tão esgotada dos estudos que não tinha vontade de ficar na frente do PC' eu simplesmente acessava pelo celular.
Essa semana tive esse surto e escrevi esse capítulo, que tava entalado pra sair, mas finalmente chegou. Desculpem, desculpem mesmo por ter sumido e eu espero que alguém ainda leia isso aqui.
Estou sem Beta novamente, porque a Biand possui projetos e vocês sabem, as agendas não bateram... Bom relevem os erros e prometo melhorar cada vez mais.
Obrigada pela compreensão e planejo postar mais capítulos ainda esse ano.
B'jos e até o próximo!
P.S: Deixem comentários, por favor. *-*