So What escrita por Mahriana


Capítulo 24
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

Oi! Rapidinho postando um capítulo aqui!
~~ Aproveitem sem moderação ~~



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PDV Jason:

Abri meus olhos lentamente. Claro que eu estava cansado, mas de certo modo satisfeito. Olhei para o meu lado e Sahra estava lá.

Deitada de bruços, coberta da cintura para baixo. Nua. Meu corpo estremeceu ao lembrar o que fizemos naquela madrugada. Nem ao menos sabia que horas havíamos ido dormir, no entanto completamente saciados, pelo menos sexualmente. Olhei meu despertador e constatei que ainda faltavam quinze minutos para o seu alarme soar.

Levantei. Não iria ficar ali olhando Sahra sem fazer nada. Tomei um banho e não me importei por ser cedo demais para começar a me aprontar para o colégio. Sai do banho com uma toalha enrolada na cintura, abri a porta do closet e comecei a procurar por uma roupa. O alarme do despertado tocou, virei em sua direção e desviei o olhar para Sahra. Ela colocou um dos meus travesseiros sobre a cabeça e tateou as cegas o despertador que ficava do seu lado da cama.

Cruzei os braços sobre o peito e fiquei observando o que ela faria a seguir.

Sahra apertou os botões de cima do despertador e parecia apertar em todos, menos o que desligava o alarme. Sua mão de abriu e ela começou a estapear o pobre relógio, aquilo também não surtiu efeito, então sua mão se fechou em punho e ela golpeou repetidas vezes. Seria impossível ela desliga-lo daquela maneira, o botão para desativá-lo ficava ao lado. Eu estava prestes a ir até lá e desligar para ela, mas Sahra simplesmente agarrou o aparelho e jogou longe. Fiquei pasmo olhando o despertador atingir a parede e cair no chão, enquanto algumas peças se soltavam e esparramavam. Voltei meus olhos para Sahra, que estava apoiando o peso do corpo sobre os cotovelos para se levantar.

– Você me deve um despertador novo – falei emburrado. Ela virou em minha direção com uma sobrancelha erguida e uma expressão que parecia dizer: Dane-se.

– Dane-se – foram as palavras que saíram da sua boca. Aquilo não me deixou surpreso.

– Acho que está na hora de levantar e ir para escola – joguei a indireta para que ela se levantasse e fosse embora.

– Que dia é hoje?

– Segunda-feira.

– Qual é a diferença entre um dromedário e um camelo? – ela me perguntou com a cabeça enterrada nas mãos.

– Acho que deferem pelo número de corcovas nas costas. Por que você está me perguntando isso?

– Obrigada. Onde estão minhas roupas? – Ela ignorou minha pergunta. Sempre fazia isso.

– Espalhadas pelo quarto – dei de ombros e passei a vestir roupas para ir à escola.

Sahra se enrolou com o meu lençol e contrariando minhas expectativas de que ela iria andar pelo quarto procurando suas roupas, ela simplesmente se dirigiu a porta para ir embora.

– Ei! – Chamei. Ela se virou em minha direção com uma cara entediada. – Suas roupas.

– Ache-as e depois me devolva – ela deu de ombros e saiu do quarto.

Sem sombra de dúvidas que ela era a pessoa mais estranha com que eu já havia ficado. Rolei os olhos e voltei a me vestir. Esse lance de amizade com benefícios era uma coisa bem parecida com filmes, mas eu não estava ligando muito para isso. Talvez eu nunca mais ficasse com Sahra, mas também eu poderia ficar com ela depois do café da manhã, aquilo era algo incerto. No mais eu não iria me preocupar tanto, deixaria as coisas rolarem. Já pronto para escola, desci as escadas e fui tomar café da manhã.

Margareth estava terminando de por a mesa, acabei a ajudando e me servindo logo em seguida. Eu era o único que já havia descido, contudo os outros não tardaram a descer, como sempre Sahra desceria por ultimo, deveria estar dormindo sentada sobre o caso sanitário. Ela era a pessoa mais sonolenta que eu já havia visto. Lembrei-me da nossa noite juntos.

Flash Back:

Quantas vezes nós já tínhamos transado, três, quatro? Não eram rapinhas e Sahra era realmente boa em reanimar um homem. Eu ainda ofegava por conta do ultimo orgasmo, ela não estava diferente do meu estado a olhei e vi a longa tatuagem, finalmente, por inteira. Também havia visto o desenho de uma borboleta atrás da sua orelha.

– Acho que não aguento mais uma – falei olhando para o teto.

– Olha só quem pediu clemência primeiro. – Ela me provocou – Não aguenta o ritmo Jason?

– Não me provoque – falei entredentes. – Acho que já está na hora de você ir pra o seu quarto, é uma boa hora e ninguém vai ver você pelos corredores.

– Não estou com muita vontade de sair daqui. Já estou em uma cama a única coisa de que preciso e me virar e dormir – ela falou se virando e puxando o lençol por cima do seu corpo – Durma bem.

Por um minuto achei que ela estivesse zoando com a minha cara, mas então olhei melhor e ela não se mexia, sua respiração era lenta e compassada, me aproximei e seus olhos estavam fechados. Afundei-me no meu lado da cama. Sahra era mais espaçosa que um trem.

Flash Back off~

Balancei a cabeça, dissipando aquelas lembranças, quando minha mãe chegou com Jonh ao seu lado desejando bom dia a todos. Os dois sentaram-se, Jonh na cabeceira e minha mãe ao seu lado, ela depositou um suave beijo nos lábios dele.

Não pude deixar de suspirar de frustração. Meu pai não era de todo ruim, eu gostava dele e gostaria que os dois ainda estivessem juntos. Apesar de que desde quando posso lembrar eles são divorciados. Pensei em como seria aquele natal, meu pai sempre passava conosco, ou ele vinha para os EUA ou nós íamos para a França, mas em todas às vezes nenhum dos dois estava se relacionando seriamente com alguém, então ficávamos em família. Meu parecia ainda gostar da minha mãe e isso deixaria as coisas mais complicadas. Será que Jonh nos deixaria passar o natal juntos?

Meus pensamentos foram interrompidos pela voz de Sahra, ela apareceu na sala de jantar falando ao celular com alguém.

– Eu sei que eu devia ter avisado antes – pausa. – Esqueci. Você precisa me levar para a escola e quem sabe pro trabalho também – outra pausa. – Agora? – uma pausa longa. Enquanto isso ela pegava torradas e pães recheados de cima da mesa, com o telefone equilibrado entre o ombro e a orelha. – Já estou saindo. – Ela desligou o celular e o jogou na mochila.

– Você não quer que o motorista a leve para a escola Sahra? – Jonh perguntou. Ela o olhou fazendo uma careta.

– Com certeza não. Mas obrigada por oferecer. Agora eu tenho que ir.

Ela saiu porta a fora.

Depois do café fomos à escola. Eu me sentia relaxado, tinha feito exatamente o que eu deveria fazer... Nada. Minha mente passou a madrugada pensando somente em: como não ser inferior a essa garota que acha ser o centro de tudo?

Mas eu sabia que Sahra não se achava o centro do universo, muito pelo contrário. Sahra parecia achar que era somente uma mais uma pessoa dentre tantas outras, aquilo parecia fazer com que ela crescesse. Pelo menos para mim.

Eu não era amigo dela, não era seu namorado, mas depois da noite que passamos juntos, desde o momento em que ela simplesmente me colocou no carro da Cheryl e depois transou comigo... Eu não me sentia capaz de continuar com o que a Alexia planejava. De modo algum eu interferiria, no entanto, não iria mais ajuda-la. Com um sorriso no rosto acabei decidindo o que faria dali em diante.


PDV Sahra:

– Como você chegou aqui tão rápido? – Perguntei para o Akim, assim que entrei no carro.

– Na rua de trás tem uma máquina de café que simplesmente me viciou – ele deu de ombros e estendeu um copo para mim.

Peguei o copo e dei um gole. A cafeína se espalhava por minhas veias e parecia me trazer um efeito calmante, o contrário do que fazia com as outras pessoas.

– Onde a Cherry está? – perguntei enquanto sorvia minha bebida.

– Em minha casa – ele deu de ombros novamente.

Akim estava relaxado, mais que o normal, seus olhos tinham um estranho brilho e pareciam estar sorrindo. Além de tudo ele parecia estar cansado, como se não tivesse dormido e apesar de não parecer ter dormido, ele simplesmente estava relaxado, até mesmo contente. Meus olhos se arregalaram de surpresa.

– Você transou com a Cherry – quase berrei. Ele fez uma careta. – E provavelmente bebeu.

– Dá um tempo Sahra.

– Como assim “Dá um tempo Sahra”? Você me traiu! É meu namorado e transou com uma garota sem ao menos romper nosso compromisso.

Paramos em um sinal e ele me olhou com uma careta.

– Você é louca? – Me perguntou.

– Não. – Falei com os olhos crispados e dei um pequeno sorriso. – Só queria ver qual seria a sua cara. – Ele rolou os olhos.

– Eu vejo você com uma expressão enorme de tranquilidade no rosto e nem por isso pergunto com quem você transou – ele me acusou. Logo depois disso desligou o carro e percebi que havíamos chegado à escola.

– Não fiz nada com ninguém.

– Sei. Eu poderia dizer que você passou o resto do final de semana se cortando, mas fazer aquilo não traz alívio pra você e muito menos a deixa relaxada – ele falou me olhando acusadoramente.

– Você não se mete na minha vida e eu não me meto na sua.

– Não me lembro de termos firmado esse acordo. Agora você já pode falar o que fez, porque eu aposto que você não fumou durante todo o dia de ontem, você fica com os olhos vermelhos quando fuma demais.

Olhei espantada para ele. Akim sabia ser invasivo quando queria e me conhecia bem demais para eu esconder alguma coisa dele.

– Vamos lá Sahra – ele me incentivou –, o que aconteceu? – Seus olhos eram profundos e me sondavam.

– Nada. Que tal deixarmos isso para outro dia – falei dando um falso sorriso, bem descarado.

– Eu conto que fiquei com Cherry e você não fala com quem ficou. Obrigado pelo voto de confiança – Akim estava sendo dramático demais.

– Você só pode estar de brincadeira. Que tal deixarmos isso de lado, ou então pra depois. Nós dois estamos relaxados. Vamos aproveitar esse momento de paz – falei e levantei as mãos agitando-as como se aquilo significasse alegria.

– Por falar em momento de paz – Akim desviou o foco da conversa que estávamos tendo. –Cherry me disse que quando passou por Seattle, um cara ofereceu uma grana para que ela fizesse o serviço de acabar com você. Ela dispensou.

– Por que ela não falou isso quando estávamos na sua casa?

– Jason. – Ele falou aquilo com um tom de obviedade gritante. – Ela não sabia que o trabalho seria feito aqui em Tacoma. Pareceu bem surpresa.

– Surpresa quanto?

– A ponto de não estar mentindo. Eu chequei a analisei em todos os momentos e ela não parece ser o tipo de pessoa que faz qualquer coisa por dinheiro.

– Que ótimo! O Natanael está atrás de mim e o Daniel é idiota demais para admitir alguma coisa. – Desabafei frustrada.

– Daniel? – Akim perguntou com uma sobrancelha erguida.

– Ele me pediu para não envolver Jason e confessou que está com o Burnier.

– Isso é tão maravilhoso. Fico extasiado por saber disso – ele falou sarcasticamente. – Você acha que o Jason ter ido lá e o Daniel pedir para que você se afaste dele é algo proposital? Quer dizer, ele pode ter armado tudo isso não?

– Essa é a minha opinião – fiz uma careta. – Minha vida é uma merda – resmunguei.

– Nem tanto. Ela tem emoção, isso é o que importa – Akim deu um meio sorriso. Enfiou a mão no bolso e tirou a carteira, pegou algumas notas e depois pegou um maço de cigarros dentro do porta -luvas e me entregou tudo. – Você vai precisar comer muita porcaria e, apesar de ser um hábito que desaprovo totalmente, vai precisar desses cigarros. Não exagera.

– Valeu – agradeci pegando o dinheiro e os cigarros. – Você me conhece bem demais, é espantoso.

– Você só fuma ou se corta quando está sobre algum estresse emocional – ele continuou: – você deveria achar hábitos menos destrutivos. Apoio o fato de você comer porcarias e apesar de não admitir, você gosta de conversar ou ficar na companhia de algumas pessoas quando está muito estressada. Prefiro que você se agarre a esses dois últimos hábitos do que os dois primeiros.

– Não gosto de conversar ou ficar perto de pessoas quando estou estressada – falei fazendo uma careta.

– Gosta sim – ele me contradisse.

– Não.

– Sim.

– Não.

– Sai do carro e vai estudar – ele falou rolando os olhos. – Eu me esqueci de dizer que você é persistente e irritante. – Ele destravou a porta e esperou que eu saísse.

– Que tipo de namorado é você? Cara, você deveria sair do carro e vir abrir a porta pra mim.

– Prefiro quando você está de mau humor. É menos irritante – ele falou crispando os lábios.

– Ok! – Falei rindo. Tirei o cinto e sai do carro.

Acenei para o carro, o aceno foi retribuído por um rápido piscar dos faróis dianteiros. Ajustei a mochila nas costas e caminhei para a entrada da escola, antes que eu pudesse colocar meus pés dentro do prédio fui interrompida por Marjorie e Laila.

Marjorie com seu uniforme completamente personalizado com detalhes rosa, lilás e de acordo com o dia da semana ela mudava. Laila com o uniforme cheio de botos de bandas, desenhos animados e outras coisa, a sua saia estava desfiada. Percebi que eu era a única pessoa ali que não havia feito nada com o uniforme, às vezes afrouxava a gravata, tirava o paletó, mas era só isso.

– Bom dia! – Marjorie me saudou.

– Bom dia! – Devolvi com menos entusiasmo que ela.

– Como foi o seu fim de semana? – Jô perguntou. Olhei para Laila e ela estava sorrindo e parecia pular no lugar onde estava parada.

Maldito poço de ânimo ambulante!

– Foi ótimo! – Não era mentira. – E o de vocês? – Perguntei enquanto entrava na escola.

– O meu foi maravilhoso – Laila falou. – Você sabe aquele garoto que...

Deixei-a falar, o resto foi só um grande blábláblá sem sentido, pelo menos para mim. Acenava vez ou outra com a cabeça, eu até me esforçava para que o assunto parecesse interessante para mim, mas era tão monótono. Marjorie começou a contar sobre o seu fim de semana e eu não estava dando a mínima atenção. Era estranho como elas não se importavam por eu não estar dando atenção, ou se eu começasse a falar elas me escutariam. Eu precisava ser menos distraída e me importar nem que fosse minimamente com elas.

– Então você deu um fora nele? – Perguntei à Laila, pelo que tinha entendido, um garoto ficou afim dela, mas ela não havia dado chance.

– Sim – ela pareceu se empolgar quando perguntei. – A cara dele foi hilária. – O sinal bateu e eu agradeci mentalmente por isso. – A gente se vê depois Sahra.

– Claro. Até o almoço meninas.

Despedi-me delas e fui para minha sala. As aulas passavam de forma monótona como em todos os dias, quando o penúltimo sinal bateu praticamente saltei da cadeira. Minha barriga roncou, eu precisava que a aula fosse rápida. Depois de ter que escutar Marjorie por uma aula inteira minhas energias tinham acabado e eu precisava comer, estava muito sociável.

Caminhava rapidamente até a próxima sala quando meu braço foi agarrado com força e puxado para dentro de uma pequena sala. Uma mão grande tapou minha boca, eu estava a ponto de mordê-la quando a luz de um celular iluminou o ambiente e enxerguei o rosto de Drew. Rolei os olhos para ele. Olhei ao redor e vi que estávamos no armário de produtos de limpeza. Ele retirou a mão da frente da minha boca.

– O que diabos você quer? – Quase gritei. Ele recolocou a mão em minha boca e sinalizou que eu falasse baixo. Puxei sua mão bruscamente, depois sussurrei: – Se você quer continuar tendo uma mão, é melhor parar de fazer isso!

– Calma! – Ele sussurrou.

– O que você quer? – Perguntei entredentes. – Caso você não tenha notado, eu estava indo para a próxima aula.

– Desde quando você se importa em assistir as aulas? Você sempre cabula pra poder dormir por aí.

– Vai se danar – falei e me virei para sair do armário de limpeza. Meu braço foi agarrado novamente. Bufei. – O que você quer? Eu ficaria tão agradecida se você fosse direto ao ponto.

– Tudo bem. Preciso que você me ajude com uma coisa – ele falou olhando para o chão, parecia sem jeito ao falar. Levantei uma sobrancelha em sua direção, ele não parecia ser o tipo de pessoa que se envergonhava fácil.

– Que tipo de coisa? – Cruzei os braços.

– A Laila tem algum namorado?

– Não que eu saiba – o olhei intrigada. – O que você quer com ela? – Perguntei com um sorriso brotando nos lábios.

– Não é nada do que você está pensando – ele levantou os braços.

– O que eu estou pensando? Nada vem em minha mente. No que eu deveria estar pensando? – Estava me segurando para não cair na risada.

– Para com isso. Olha eu não deveria ter te procurado – Ele bufou.

– Claro que deveria. Quem mais ficaria rindo dessa situação? – Não aguentando mais comecei a rir com a mão sobre a boca para abafar as risadas.

– Já parou?

– Claro!

– Agora que você já sabe o que eu quero, pode me ajudar?

– Porque eu tenho que ajudar? É algo tão simples. Você chega perto dela e pergunta se ela está afim de dar uma volta e essa coisa toda.

– É diferente – ele encolheu os ombros.

– Você gosta dela. Nossa! Eu não acredito! – Ri mais um pouco. – Quem diria. Isso é sério? – Ele concordou acenando com a cabeça. – O que falta pra você fazer o que eu falei?

– É que ela é tão legal e diferente.

– Estranha você quer dizer.

– Simplesmente fala com todo mundo – ele continuou como se eu não tivesse interrompido. – É engraçada e sempre fala coisas legais a respeito de tudo. Fala sobre a cultura dos povos e age como eles. – Os olhos dele pareciam brilhar.

– Você não chama ela pra sair porque...

– Porque ela é legal demais pra sair comigo – ele falou em um resmungo.

– Não seja idiota – abanei a mão. – Você é inteligente, faz parte do time de alguma coisa da escola e é popular. Todas as garotas querem sair com você.

– Ela não.

– Claro que a Laila adoraria sair com você. Aposto que ela espera o convite há tempos.

– Eu não sei... Que tal você sondar um pouco e depois me falar o que ela acha? – Os olhos dele suplicavam.

– Tudo bem – falei com um suspiro derrotado. – Vou fazer isso porque eu gosto de você. Agora me deixa sair daqui e ir assistir aula.

– Obrigado Sahra! – Ele me abraçou. Meus olhos se arregalaram de surpresa. Devolvi o abraço meio incerta e logo me separei.

– Certo. Agora eu tenho que sair daqui.

Abri a porta do armário e sai arrumando minhas roupas que estavam amarrotadas. Olhei o relógio em meu pulso e eu havia passado quinze minutos com Drew dentro daquele armário. Espera com sinceridade que o professor me deixasse entrar e tolerasse meu atraso, além disso, precisava pensar em uma maneira de ajudar Drew com Laila. Ser cupido não era minha especialidade, mas como tinha prometido a ele, não era agora que iria descumprir minha promessa.

Assim que passei em frente ao laboratório meu braço foi agarrado novamente e não pude evitar rolar os olhos. Eu tinha tudo para que meu dia fosse bom, estava de bom humor, relaxada na medida do possível, mas, como sempre, algo tinha que dar errado. Alguém tinha que me tirar do sério. Estava com meu corpo prensado contra parede, meus olhos se ajustaram e vi quem havia me puxado para dentro da sala. Alan.

– Por que as pessoas pensam que eu não tenho nada pra fazer a não ser ficar sendo puxada para dentro de salas vazias? – Destilei sarcasmo.

– Prenderam você antes de eu fazer isso? – Dei de ombros. – Por isso demorou tanto para aparecer.

– O que você quer Alan? – Perguntei enquanto me saltava do seu aperto que me segurava contra a parede.

– Preciso de um favor seu.

– Desculpe-me, mas vou ter que fazer mais uma pergunta retórica: Por que as pessoas pensam que eu fico feliz em ajuda-las?

– Por favor.

– Diga logo o que é antes que eu me arrependa – falei bufando e rolando os olhos.

– Preciso ter um encontro com a Cherry – ele soltou me olhando com expectativa.

– Eu tenho cara de cupido? Agora é sério, eu realmente quero que você me responda com toda a sinceridade do mundo. Eu tenho cara de uma boa samaritana, que gosta de ajudar a todos e que lida bem com questões amorosas? – Eu estava ficando de mau humor novamente. – Não, me responda. Porque se eu tiver, com certeza vou ter que mudar isso.

– Por favor, Sahra! Você é a única pessoa que eu conheço e que também a conhece.

– Porque você não fala com ela pessoalmente?

– Eu não tenho o número dela – ele deu um suspiro frustrado. – Depois de toda aquela confusão e com todo mundo correndo, eu não achei você novamente.

– Sorte a sua.

– A propósito, aquele acidente foi com a sua moto não foi?

– Sim, mas isso não interessa – desviei do assunto.

– Claro que interessa – ele rolou os olhos. – Como foi que aquilo aconteceu?

– Eu ajudo você com a Cheryl – falei para me livrar das suas perguntas.

– Ótimo. – Ele estava mais feliz. – Você merece um beijo por isso.

– Quê?

Antes que eu pudesse pensar em alguma coisa Alan me agarrou. Seus braços me envolveram pela cintura e me beijou ferozmente na boca, não era nada romântico, malicioso ou com pretensão de qualquer outra coisa, era somente o que ele havia dito... Aquilo era um agradecimento. Dei tapas nos seus braços para que me soltasse e assim ele o fez.

– Mas que merda, garoto. Você borrou o meu batom – rolei os olhos enquanto pegava um espelho de mão em minha mochila.

– Você acabou de ganhar um passaporte para o céu. – Ele estava contente.

– Certo, mas não se anima tanto assim – falei dando de ombros. – Ela pode não estar interessada.

– Não importa – foi a vez de ele dar de ombros. – Ela pode ficar.

– Isso é tão patético. Se você tivesse noção do quanto sou ruim com relacionamentos não estaria me pedindo ajuda.

– A única coisa que eu sei é que você vai tentar conseguir um encontro com ela – ele falava enquanto se encaminhava em direção a porta para sair. – Se conseguir isso eu te recompenso e se você conseguir com ela venha ao baile de Hallowen comigo, eu monto um altar e faço adorações para você todo dia.

Ri e ele saiu porta afora. Olhei novamente meu relógio e decidi que não valeria a pena tentar entrar na aula, faltavam poucos minutos até que a campainha do intervalo soasse. Andei até a sala onde conheci Nick e por total obviedade ele estava lá. Fico me pergunto como ele consegue passar de ano se sempre cabula as aulas para ficar ali.

– Olá! – Cumprimentei-o. Ele estava sentado, um abajur ligado ao seu lado, com um livro nas mãos.

– Oi – ele me respondeu sem tirar os olhos do livro.

Sentei do lado oposto ao seu e me pus a pensar em tudo o que teria que resolver.

Burnier estava em minha cola, ele sabia onde me encontrar e eu não fazia ideia de que tipo de jogo ele estava tramando, talvez ter contratado alguém para me matar fosse apenas uma distração. Natanael me conhecia, apesar de eu ter mudado ele ainda sabe como eu penso, com certeza ele contava com que eu ficasse viva.

Deu um longo suspiro, tirei do bolso os cigarros e um isqueiro.

Eu tinha um novo problema, virar cupido, eu não fazia ideia de como ajudar a fazer com que ficassem juntos. Laila e Drew poderiam ser mais fáceis, no entanto, Cheryl e Adam... Seria complicado. Além de todos os problemas eu teria que me preocupar com uma coisa fútil como essa, parecia brincadeira, contudo eu tinha que fazer isso. Ajudaria a me distrair.

Ainda tinha Jason, esperava que ele honrasse o que havíamos combinado, agora, o que eu menos precisava era de alguém me enchendo a cabeça com mais problemas.

– Preciso fazer uma área para fumantes aqui – levantei meus olhos e Nick me olhava com o cenho franzido.

– Desculpe-me – soltei com a fumaça. – Estou tentando relaxar.

– Você deveria arranjar meios mais saudáveis para relaxar, já tentou fazer yoga?

– Já, achei chato, isso não funciona – dei de ombros. – Eu não sei realmente o que me relaxa, mas fumar e algumas outras coisas fazem isso.

– Acho que vou procurar algo pra que você – ele baixou a cabeça, pensativo.

– Você não fuma?

– Tentei uma vez, mas não achei nada empolgante sugar fumaça e depois soltá-la, não faz nada a não ser nos deixar com tosse e prepara nossos pulmões para um possível câncer – ele falou enquanto fazia uma careta. – Eu acho que você não tem idade o suficiente para isso não é?

– Ninguém precisa saber e você também não tem idade para beber e mesmo assim não o vejo rechaçar qualquer tipo de bebida alcóolica.

– Então estamos quites. – Ele deu por encerrado. O sinal do intervalo tocou e eu levantei do meu lugar. – Você não vai ficar aqui?

– Sei que você ama a minha presença, mas hoje tenho coisas a fazer.

– Então até mais – ele deu um sorriso de canto e voltou à vista para o livro.

A movimentação nos corredores era intensa, uma agitação fora do normal pairava entre as pessoas, eu não fazia ideia do que estava acontecendo, mas não estava nenhum pouco empolgada para saber. Fui até o refeitório para fazer um dos itens da minha lista, o que eu esperava que fosse mais fácil.

Sentei em minha mesa habitual e esperei que ela fosse preenchida, sem convite, pelos habituais ocupantes. Uma a um eles chegaram, com exceção de Drew que decidira almoçar com o time de algum esporte idiota da escola. Marjorie saltitava na cadeira juntamente com Laila.

– O que está havendo hoje? – Perguntei.

– A festa – Marjorie respondeu batendo as mãos.

– Que festa?

– Como assim que festa? – Clair perguntou. – Você é a pessoa mais desinformada de toda a escola. A festa de Hallowen.

– Ainda estamos em setembro.

– Como se isso fosse impedir as pessoas de começarem a planejar algo.

– Eu comentei com você sobre isso Sahra – Adam disse.

– Acho que não prestei muita atenção – respondi fazendo uma careta, mas logo em seguida uma ideia passou por minha mente. – Geralmente as pessoas vão acompanhadas não é?

– Isso é óbvio – Laila bufou.

– E já que estamos no fim de setembro e todos já estão comentando e fazendo os preparativos, vocês devem ter seus pares não é? – Perguntei levantando as sobrancelhas.

– Na verdade ainda não. Estou esperando ser convidada – Jô falou e lançou um olhar significativo para Alan que estava olhando para seu refrigerante.

– Laila?

– Também não tenho par.

– Clair?

– O primário não participa.

– Então que tal irmos atrás de garotos? – sugeri fingindo empolgação, todos me olhavam de forma estranha. – Qual é gente? Vamos procurar uns garotos por aí.

– Se me permite dizer – Clair se pronunciou. –Esse é um comportamento estranho vindo de você.

– Eu sei que vocês devem estar achando estranho, mas eu também quero me divertir, então vamos atrás de garotos.

– E o seu namorado? – Laila perguntou.

– Eu vou com ele, mas isso não quer dizer que eu não possa ir com vocês atrás dos seus pares.

O resto da conversa se passou a respeito de possíveis garotos que ainda se encontravam disponíveis e que seriam bons pares, Alan saiu da mesa e Clair também, então Marjorie, Laila e eu engajamos em uma “conversa feminina”.

– Sahra? – Chamaram por cima do meu ombro bem no momento em que estava quase sugerindo que Laila fosse com Drew.

Virei na direção que me chamaram e dei de cara com um rapaz moreno, alto, cabelos curtos, musculoso. Ele era um belo conceito para a palavra “bonito”. Levantei as sobrancelhas em sua direção.

– Eu sou Derek – se apresentou e estendeu a mão, peguei-a cordialmente e esperei que continuasse a falar. Ele era bonito, no entanto, tinha me deixado com raiva. – Eu queria saber se você gostaria de ir comigo para a festa.

– Isso é uma piada? – ele me olhou sem parecer entender o que eu havia perguntado. Resolvi facilitar as coisas dizendo: – Não.

– Você já tem um par?

– Tecnicamente não, mas eu não gostaria de ir com você, agora se puder se retirar eu agradeceria, você interrompeu um assunto importante.

Ele me encarava de boca aberta. Só revirei os olhos e voltei a falar com as garotas.


PDV Jason:

Ainda não acreditava em como falar com Alexia havia sido fácil, ela não mostrou resistência em nem um momento quando falei que não iria mais participar de nada que ela fizesse contra Sahra.

E assim que a convidei para a festa de Hallowen o assunto morrera definitivamente. Essa festa provavelmente era o assunto mais comentado do momento e nem estávamos em outubro. O segundo assunto mais falado era sobre quem levaria Sahra para a festa, todos os garotos do time de futebol americano inteiro estava apostando sobre isso, eu não estava entendendo muito, mas era algo relacionado a demonstração de poder masculino. Quem conseguisse levar Sahra ao baile seria um guerreiro.

Nisso eu tinha que concordar, Sahra era um demônio em forma de gente. Completamente insuportável, tinha suas poucas qualidades, mas em questão de defeitos eles eram muito mais pesados que os comuns. Derek foi o primeiro a levar um fora e os outros já estavam programando quem seria o próximo e pela primeira vez não tive que aturar Alexia falando da Sahra, mas o time de futebol falando nela.

Chegar em casa foi um alívio, como sempre era. Nada melhor do que passar o resto do dia sem fazer nada, eu tinha essa vontade, contudo fui surpreendido ao ver uma figura um tanto ilustre parada no meio da sala conversando com minha mãe.

– Tia Kelly?

– Jason! – Fui esmagado pelos braços magros e malhados de minha tia Kelly – Minha nossa como você cresceu! Está tão lindo, aposto que todas as garotas querem ficar com você.

– Tia Kelly? – Drew teve a mesma reação que eu quando entrou na sala.

– Drew! – Ela correu em direção e dele e se atirou em seus braços. – Como você está forte, olha só esses músculos! Catch você tem que me contar o que deu para esses meninos, eles estão lindos!

– O que a senhora está fazendo aqui? – Perguntei, sendo respondido com um tapa na nuca. – Ai!

– Senhora? Quantas vezes vou ter de lembra-lo Jason? – Levantei as mãos em forma de rendição. – Bem, eu vim visitar vocês.

– Que legal – Drew falou com um sorriso forçado no rosto. – Por quanto tempo?

– Drew seu danadinho! Se eu não o conhecesse diria que estava contando as horas para que eu vá embora.

– Claro que não! – Nós dois falamos ao mesmo tempo.

– Só queremos saber quanto tempo de diversão vamos ter – Drew sabia mentir muito bem quando queria. – Falando em diversão, você não trouxe seus filhos, trouxe?

Nesse momento minha espinha gelou e passei a orar para que ela não os tivesse trago. A tia Kelly era uma boa pessoa, mas quando estava longe, passar um tempo com ela significava ter uma perua que gostaria de ser jovem novamente falando o tempo todo em festas e saindo o dia inteiro para fazer compras deixando os filhos para algum empregado cuidar e seus filhos eram pestes.

– Claro que eu os trouxe – ele rolou os olhos como se fosse óbvio. Drew e eu soltamos longos suspiros. – Vocês ainda se lembram da Sophia? Ela está aqui – falou apontando para um carrinho de bebê perto do sofá.

Drew e eu pedimos licença e fomos olhar a pequena Sophia, ela tinha um ano e, se eu não estivesse enganado, seis meses. Ela era uma gracinha de olhos castanhos e cabelos da mesma cor, com a pele alva, com certeza ela não era uma peste, pelo menos não por enquanto.

– Você acha que ela vai demorar muito? – Drew me perguntou sussurrando.

– Espero sinceramente que não. – Sussurrei de volta.

– Cara, eu ainda tenho as marcas das mordidas do Simon nos meus braços – Ele choramingou.

– Minhas costas ainda doem por conta dos pulos da Stephanie, acho que nunca mais vou conseguir chegar perto de um pato novamente.

– A gente tá ferrado. – Drew fez uma careta de choro.

– Aguenta firme – falei o segurando pelos ombros. – Vai ficar tudo bem, nós vamos sobreviver, têm mais pessoas pela casa, ou seja, mais pessoas para eles torturarem.

– Você tem razão – Drew abriu um largo sorriso. – Acho que sobreviveremos.

– Queridos? – Minha mãe chamou. Viramo-nos rapidamente. – Vocês poderiam olhar as crianças? – Meus ombros caíram, Drew ficou tão desanimado quanto eu. – A tia Kelly veio de surpresa e hoje é a noite de folga da Margareth.

– Temos outras empregadas – Drew apelou.

– Claro que não vou deixar meus bebês nas mãos de desconhecidos, elas são novas demais para cuidar deles.

– Não vamos demorar – Minha mãe falou com um sorriso.

– Tudo bem – falei suspirando.

– Ai como eu amo os meus sobrinhos – tia Kelly nos abraçou e saiu puxando minha mãe pelo braço, não sem antes gritar pelos outros dois pestinhas, assim que chegou a porta de entrada.

Duas miniaturas de pessoas entraram correndo pela porta e gritando. Minha mãe e minha tia foram embora. Eles ficaram olhando de Drew para mim por um tempo.

– Nossa! Como vocês estão grandes – Stephanie falou abrindo os braços. – Não é Simon?

– É sim.

– O que vocês querem fazer? – Perguntei tentando soar indiferente. – Drew e eu vamos tomar conta de vocês.

Os dois se olharam de forma maliciosa e sorriram em nossa direção. Meus ossos tremeram. Com certeza eu havia arranjado o que fazer.


PDV Sahra:

– Não vão precisar de mim hoje? – Perguntei para o Nick.

– Não.

– Mas por quê?

– Não temos muito movimento hoje Sahra e não adianta ficar segurando você aqui – ele falou dando de ombros, enquanto colocava as mãos atrás da cabeça. Ele estava sentado atrás do caixa reclinado na cadeira, com os pés encima da caixa registradora.

– Não quero ser dispensada do trabalho – falei bufando.

– Não estamos demitindo você, só te dispensando por hoje, agora vai embora e me deixa em paz.

– Babaca – falei rolando os olhos e saindo.

– Idiota – ele devolveu.

Não estava com vontade de voltar para casa e ficar sem fazer nada. Akim iria até Seattle com Cherry e eu ficaria aqui esperando. Estava tão entediada, que tentar acertar a lua com uma pedra parecia ser uma atividade muito interessante.

Chamei um táxi e fui para casa, conversando, durante todo o caminho, com o motorista. Ele parou em frente a casa, sai do carro dando tchau. Arrastei os pés enquanto atravessava o jardim de entrada e enrolei até para abrir a porta. Ocupei minha mente, nesse pequeno período de tempo, com formas diferentes de matar Natanael caso o encontrassem, aquele desgraçado não sairia ileso após ter destruído minha moto.

Assim que tranquei a porta atrás de mim, me deparei com uma bizarrice sem tamanho.

Um bebê estava, sentado no sofá, chorando. Jason segurava uma garotinha sobre o ombro, Drew fazia a mesma coisa, mas com um garoto, as duas crianças se debatiam e o bebê não parava de chorar. Gritos das crianças e gritos dos dois babacas.

Mellany estava parada na soleira da porta que dava acesso a sala de jantar. Passei por toda a confusão sem ser notada e fui em direção a ela.

– O que está havendo? – Perguntei a ela.

– Pelo que a Clair me contou, ela chegou ante de mim e está trancada no quarto, esses três são primos dos dois.

– Por que estão se matando?

– Não faço ideia. A mãe das crianças saiu e hoje é o dia de folga da Meg, então os dois grandões estão cuidando dos três pequenos.

– Não está dando muito certo. – Falei balançando a cabeça.

– Clair não aguentou por muito tempo e eu também não estou mais aguentando os gritos, então vou subir para o meu quarto, você vai vir?

– Não. Vou dar um jeito nisso aqui – falei apontando para a zona de batalha.

– Boa sorte! Você vai precisar.

Mellany subiu as escadas e eu fiquei olhando aquilo por mais alguns instantes. A situação não havia evoluído nem um pouco. Dei um longo assovio e bati palmas duas vezes. Todos se calaram, até mesmo o bebê por alguns instantes, logo em seguida voltou a chorar. Caminhei em sua direção e o coloquei no colo, era uma garotinha.

– O que diabos está acontecendo aqui? – Perguntei enquanto balançava a criança em meus braços e ela se acalmava gradativamente.

– Eles querem me matar – o garoto falou. – Socorro! Me ajuda, por favor! – Rolei os olhos diante do exagero do garoto.

– Jason e Drew soltem as crianças, por favor. – Eles atenderam meu pedido e os garotos correram para ficar atrás de mim.

– Foram eles que começaram – Drew se defendeu.

– Eu sei – falei concordando com a cabeça. – Eles sempre começam. Acho que alguém precisa de uma fralda nova. – Falei olhando para o bebê em meus braços e os estendi em direção aos dois.

– Eu não vou tocar na fralda dela – Jason levantou os braços. – O Drew pode fazer isso.

– Eu?! Claro que não.

– Vocês estão cuidando de um bebê e não sabem trocar uma fralda? Quem foi o idiota que deixou essas crianças para vocês cuidarem?

Os dois se entreolharam e ficaram calados. As duas crianças sentaram no sofá e pareiam estar cansadas.

– Quais os seus nomes? – Perguntei.

– Eu sou Simon.

– E eu sou Stephanie.

– Muito bem, então Simon e Stephanie vocês já tomaram banho? – Eles balançaram a cabeça negativamente. – Então peguem a roupa extra que vocês provavelmente trouxeram e vamos tomar banho, depois vou fazer o jatar e vão para a cama entenderam?

– Sim senhora! – Eles falaram juntos e saíram correndo, logo em seguida voltaram com uma mochila cada um.

– Vocês sabem onde está a bolsa dessa pequenina?

– O nome dela e Sophia – o garotinho falou e correu novamente trazendo uma bolsa. – Qual o seu nome?

– Sou Sahra. Agora vamos fazer o que eu pedi?

Eles correram escada acima.

– Como você conseguiu?

– Basta falar com jeito – dei de ombros – são apenas crianças.


PDV Jason:

Sahra havia conseguido realizar a façanha de domar os pestinhas. Stephanie e Simon estavam tomando banho e sendo supervisionados por Drew, enquanto ela trazia Sophia e sua sacola para o meu quarto.

– O que você vai fazer? – Perguntei me lembrando de que a garotinha havia sujado a fralda, só de pensar nisso me dava ânsia de vômito.

– Limpá-la.

– Você vai usar o meu quarto?

– Tecnicamente eu vou usar o seu banheiro.

– Ew! Dá para não fazer isso?

– Você quer fazer?

– Não.

– Então me deixa em paz.

Fiquei olhando ela entrar no meu banheiro e tirar a roupa do bebê. Resolvi sair e não olhar o que ela iria fazer. Trocar fraldas não era algo que eu gostaria de aprender tão cedo, sentei na cama e esperei, depois de alguns minutos Sahra saiu do banheiro com a pequena Sophia enrolada em uma toalha, as duas riam.

– Muito bem, agora vamos colocar uma roupa em você – ela falou para a garota e a colocou sobre a minha cama. – Jason vem aqui.

– O que foi?

– Você vai aprender a colocar uma fralda em um bebê. – Ela disse enquanto sorria para Sophia.

– Não vou não.

– Olha só Sophia, você tem um primo covarde – ela cutucou as costelas de Sophia fazendo-a rir com vontade.

– Não sou covarde – resmunguei. – Isso é trabalho de mulheres.

– E ainda por cima é machista. – Sahra virou em minha direção com um sorriso de canto. – Ou você troca ou ela vai ficar sem fralda e acho que a mãe dela não vai gostar disso.

– Você não faria isso comigo – falei com os dentes trincados.

– Duvida? Acho melhor você pegar a fralda na sacola dela e vir trocá-la.

– Droga.

Peguei a bolsa e tirei uma fralda descartável dela.

– Pegue o talco e a pomada para assaduras.

Rolei os olhos e peguei o que ela falou. Fiquei em frente à Sophia e ela me olhava risonha, segurando o pé e o levando para boca. Bebês eram flexíveis.

– Vamos mostrar para ela que eu sou demais, não é prima?

– Claro que é. Vai lá Jason! Estou torcendo – Sahra sentou na cama, bem ao lado da garota e ficou me olhando.

– Isso é fácil – bufei. – Só preciso pegar essa pomada e passar no bebê e depois o talco e por ultimo a fralda.

– E o que você está esperando para começar? – Ela falou com uma falsa animação.

– Não me apresse, eu vou fazer as coisas do meu jeito – dei um longo suspiro, peguei a pomada e comecei a passar na garota.

– Er... Jason?

– O que é? – Perguntei emburrado.

– Não precisa passar pomada no pescoço, nem nas axilas e muito menos no cabelo – ela levantou e veio para o meu lado.

– Ela pode assar o pescoço – falei enquanto empurrava Sahra com o quadril. – E o cabelo dela tem que ter estilo, ela tem pouco então um moicano iria ficar legal.

– Sai de perto dela – Sahra me empurrou com o quadril e tentou pegar a pomada das minhas.

– Ei! Você me mandou trocá-la, agora me deixa fazer isso em paz – a empurrei novamente e passei um pouco da pomada na sua bochecha.

Sahra rolou os olhos e tentou pegar a pomada novamente, levantei o braço, ela tentava pegar e eu levantava o braço cada vez mais. Comecei a rir, eu corria pelo quarto e ela atrás de mim, estava me divertindo, ela tentava parecer estar emburrada, mas vez ou outra ela deixava um sorriso escapar. Eu tinha pomada no cabelo e na orelha, ela tinha nas bochechas, no cabelo e também nas orelhas.

Ela me empurrou me fazendo tropeçar, puxei por seu braço, consegui apoiar minhas costas na parede e ela veio parar entre minhas pernas, nós dois riamos. De repente as coisas mudaram, seu rosto estava próximo ao meu e o seu sorriso era tão bonito, seu nariz era arrebitado, ela tinha um sinal na orelha, seu rosto era fino e o queixo era pequeno. Ela também me olhava. Levantei minha mão em direção ao seu rosto e toquei sua bochecha.

Uma risada alta e infantil irrompeu o ambiente, Sahra se afastou e eu rapidamente me endireitei. Sophia estava de bruços nos olhando, com um sorriso preenchido somente com os dentinhos da frente.

– Olha só, quase nos esquecemos de você Sophia – Sahra falou indo em direção a ela.

– Você ia esqueceu, eu estava ciente o tempo inteiro.

–Claro que estava – ela rolou os olhos e foi até Sophia. – Me dá a pomada e vem ver como se troca um bebê.

Sahra limpou o cabelo de Sophia e depois fez tudo certo. Prestei atenção ao que ela fazia. Pomada, talco e fralda. Penteou os cabelos dela, passou uma colônia para bebês e Sophia estava pronta.

– Ela cheira bem – comentei.

– Eu sei disso. Adoro essas fragrâncias de talcos para bebês – pegou Sophia no colo e cheirou seu pescoço. – Você é uma criança muito bonita Sophia. Pena que tem um primo tão babaca.

– Ei! A Sophia me adora e não me acha um babaca não é bebê? – Perguntei sorrindo para ela, que bateu no meu rosto e riu com gosto.

– Ela te ama Jason – Sahra ironizou e saiu do meu quarto. – Já que ela gosta tanto de você fique com ela um instante enquanto vou olhar os outros dois.

Sahra foi até o quarto de Drew ver como se saiam Simon e Stephanie. Segurei Sophia sentada no meu braço e a olhei com os olhos crispados.

– Você gosta de mim não é? – Ela levou dois dedos a boca e riu. Sorri. – Que tal você exercitar as perninhas? Vamos andar?

Coloquei-a em pé e segurei seus braços, ela andava desajeitada de um lado para o outro, sem que eu a segurasse. Desse jeito era fácil gostar de crianças. Sahra saiu do quarto com os outros e Drew estava todo molhado.

– Se virem, eu não vou mais ficar perto dessas pestes! – Drew esbravejou e bateu a porto d quarto. Os dois pequenos rolaram os olhos.

– O que vocês fizeram?

– Bomba de água! – Ambos falaram e riram, foi a minha vez de rolar os olhos.

– Vamos descer e ver o que tem na cozinha para vocês comerem.

Sahra olhava as prateleiras da cozinha e retirava pratos de comidas, que provavelmente Margareth havia deixado prontos para nós comermos. Ela esquentou e começou a nos servir, minha mãe ligou avisando que ela, Jonh e a tia Kelly iriam jantar fora se tudo estivesse bem, garanti que tudo estava bem e os garotos reafirmaram ao falarem com a mãe ao telefone.

– Vocês têm que comer as verduras – Sahra falou para Simon e Steph. –Tem alguma mamadeira na bolsa da Sophia?

– Tem sim – Steph respondeu.

– Olha ela um instante – Sahra falou comigo. – Eu já volto.

Ela foi buscar a sacola que estava no meu quarto, peguei Soph no colo e chacoalhei um brinquedo em forma de oito, com pequenas bolinhas que faziam barulho.

– Quem é essa moça Jason? – Steph me perguntou.

– É a Sahra.

– Eu sei, quero dizer se ela é nossa babá, tua namorada... Você é muito burro. – Ela bateu a pequena mão em punho na testa.

– Ela não é minha namorada e nem a babá de vocês, Sahra é filha do novo marido da minha mãe.

– Ótimo! – Simon comemorou.

– Porque a felicidade? – Estranhei.

– Ela não é sua namorada, então ela pode ser a minha. – Arregalei os olhos em espanto, comecei rir. O garoto com certeza não tinha noção do que estava falando.

– Muito bem, Sophia espere um minuto e você já vai comer – Sahra apareceu na sala de jantar e foi para cozinha com uma mamadeira nas mãos, pouco tempo depois voltou. – Agora vamos esperar mais um pouquinho para esfriar. Me dá ela aqui – passei ela para os seus braços. – Você pode ir jantar Jason.

– E você?

– Comi alguma coisa na lanchonete antes de vir para casa, não estou com fome.


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Jantei enquanto olhava as crianças comerem e Sahra alimentar Sophia. Aquilo era estranho. Sahra parecia ser a mãe delas e eu... Bem, o pai. Balancei a cabeça para espantar a visão, eu nem havia bebido e estava tendo alucinações. Eu deveria me tratar.

Depois do jantar fomos assistir televisão e dentro de poucos minutos todos os três estavam caindo de sono. Minha mãe tinha mandado preparar um quarto para eles, os deitamos e os deixamos confortáveis nas camas. Sahra foi saiu e voltou com uma pequena lâmpada, ela a ligou na tomada e deixou acesa, bem no canto do quarto. Uma luz parca preencheu o quarto.

Saímos e Sahra me convidou para ir com ela até o jardim dos fundos. Sentamos em cadeiras ao redor da piscina, ela tirou uma carteira de cigarros do bolso e um isqueiro do outro.

– Desde quando você fuma? – Perguntei.

– Não lembro – ela falou com o cigarro entre os lábios. – Mas faço isso para aliviar o stress.

– Meio destrutivo esse hábito não?

– Você não é o primeiro que fala isso.

Acomodei-me na cadeira e fiquei olhando o céu, não havia tantas estrelas visíveis.

– Aonde você aprendeu a cuidar de crianças?

– Trabalhei como baby-sitter. Apesar de não gostar de crianças, mas era um dinheiro a mais – deu de ombros.

– Você não gosta de crianças? – Perguntei surpreso.

– Não é que eu não goste delas é só que... Bom. É difícil explicar – ela fez uma careta.

– Tenta. – Insisti, ela me olhou e deu uma longa tragada no cigarro soltando a fumaça logo depois.

– As crianças me assustam – ela disse num sussurro.

– Assustam você?

Uma corrente de ar passou e vi Sahra estremecer, ela estava com uma camiseta fina. Levantei da minha cadeira e sentei ao lado dela. Abri meu casaco e enrolei nós dois nele. Passei um braço ao redor da sua cintura e me espremi na cadeira. Ela deu um tapa no meu braço e me empurrou a agarrei com mais força e ficamos nessa guerrinha por um tempo até ela desistir e eu jogar seu cigarro fora.

– Nada de fumar perto de mim – falei.

– Vai se ferrar. Não pedi para você ficar perto de mim.

– Fica quieta – ela rolou os olhos, mas acabou cedendo e deitando a cabeça no meu ombro. – Agora que já terminamos, o que você dizia sobe as crianças?

– Não que eu tenha medo de crianças, é só que elas são sinceras demais, são felizes demais, tristes demais, tudo o que fazem é exagerado.

– Nisso você tem razão.

– Mas tive que aturar.

– O que você acha de entrarmos e nos aquecermos? – Perguntei de forma maliciosa. – Sem as roupas é bem mais rápido. – Sussurrei contra sua nuca, ela estremeceu.

– Alexia ainda é uma falsa puritana? – Ela perguntou com uma pontada de sarcasmo. – Vou ter que deixa-lo na mão hoje. Estou cansada e eu fumaria todos aqueles cigarros se você não tivesse atrapalhado.

– Você é tão chata – resmunguei.

– Pode entrar Jason.

– Não. Vou ficar aqui com você, vamos conversar – dei de ombros.

– Sobre o que você quer conversar – ela apoiou o queixo no meu peito e me olhou com os olhos entediados.

– Não faço ideia, onde está o seu namorado? Quer dizer, o Akim.

– Foi a Seattle com a Cherry. Foram resolver assuntos referentes a perda da minha moto.

– Já descobriram para quem o cara trabalha?

– Não. Foi isso que foram descobrir – ela deitou e ficou parada ali.

– Você não poder ir a chateia não é?

– Você não sabe o quanto. Odeio ficar no escuro, sem poder ajudar, gosto de ser útil.

– Por isso você sabe fazer tantas coisas?

– Não. – Ela riu levemente. – Sei fazer essas coisas porque fui obrigada a aprender.

– Obrigada – falei de forma pensativa.

– Tive que cuidar da minha casa, não gostava de ficar pedindo ajuda o tempo todo e eu sempre achava que as pessoas não gostavam de ficar tomando conta de mim sabe?

– Por que você não foi para um orfanato? – Sussurrei para ela.

– Meus vizinhos tomaram conta de mim, eles eram amigos da minha mãe. E você Jason, onde está o seu pai?

– Na França – falei suspirando.

– Sente a falta dele, ou esse suspiro foi de alívio?

– Sinto falta dele junto da minha mãe. – Confessei e agradeci por ela não estar olhando meu rosto naquele momento, pois eu tinha certeza que estava corando. – Não me leve a mal, eu só não gosto muito do fato de ela estar com Jonh e não com o meu pai.

– Eles viveram muito tempo juntos?

– Não, para falar a verdade desde que eu me entendo por gente eles já eram divorciados.

– Passam-se os anos, mas as dores continuam as mesmas.

– Concordo – Aquela frase era verdadeira. – Os dois se dão bem e até hoje não entendo porque não ficam juntos.

– Às vezes não dá certo. – Mais silêncio.

– Sente falta da sua mãe? – Perguntei em um sussurro novamente.

– Muita.

– Por que você não procurou por Jonh?

– Por que ele não me procurou antes?

Não falei mais nada e nem ela, ficamos quietos curtindo o momento. Aquilo era estranho, mas eu pensaria a respeito disso depois, por hora eu só queria a tranquilidade e a paz que Sahra estava me transmitindo.



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Notas finais do capítulo

Gente eu to sem internet desde o ano passado e to postando o cap. na casa de uma amiga, ela tem um compromisso e eu to digitando as notas finais mais rápido que tudo! O_O
Não consegui responder os comentários por causa da internet! Me desculpem! :(
Gostaram do capítulo? Foi fofinho né?! :B
Ok, ok! Gente queria conversar mais só que não vai rolar, ela tá saindo então né?! :B LKJAÇDALKSJASKDAJÇSDLJDÇALSJALKDJ
Até mais e eu respondo os comentários assim que puder e desculpem a demora porque os problemas com internet tão complicadas! Até mais! Fuiz!