So What escrita por Mahriana


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Yáh! *DesviandoDosGolpesMortais* Oi! Vejo vocês lá embaixo tá bom?! Er...
Mais uma coisinha...
Capítulo dedicado a uma das minhas queridas leitoras... isatokita. Aproveite flor =>
E a todas(os)
~ Apreciem sem moderação ~



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PDV Sahra:

Eu já estava na garagem faziam trinta minutos, e Mellany ainda não havia descido. Depois que ela foi se vestir, fui para o meu quarto, tranquei Jason na gaiola e me troquei. Tentei ao máximo ficar ao “estilo” que ela havia falado “Sensual e provocante”.

Ficar quase dez minutos olhando minhas roupas me fez desistir da ideia de me vestir do jeito que ela falou. Certo que eu até tinha roupas para sair do jeito que ela tinha falado, mas depois de um tempo fiquei pensando no porquê de estar me arrumando e estar preocupada com a roupa que iria vestir. Depois fiquei pensando no porquê de não fazer isso, acabei ficando em meio termo, pelo menos foi o que achei.

Coloquei uma calça jeans colada ao corpo, uma blusa curta, porém folgada deixando um dos meus ombros à mostra e minha tatuagem também, coloquei botas pretas por cima da calça, ela eram de zíper, sem salto e pareciam ser de camurça ou algo do tipo. Estava apresentável, deixei o cabelo solto afinal iria colocar o capacete mesmo, então qualquer coisa que eu pensasse em fazer no cabelo iria ser desmanchada.

Pensei em colocar maquiagem, mas a minha falta de coragem ou preguiça, tanto faz, não me deixaram. Optei por apenas passar um lápis de olho e gloss nos lábios. Troquei as lentes cor de rosa por outra cor de mel. Até que haviam ficado boas.

Mas a questão é que fiz isso em quinze minutos e desci. Agora já fazia trinta.. e cinco minutos, não entendo como ela poderia demorar tanto, se ela falou quinze por que ela não estava pronta em quinze minutos?

– Hey Sahra! –fui tirada dos meus devaneios por uma Mellany um tanto eufórica, com sapatos de salto altos e um vestido preto e colado ao corpo. –Cara me desculpa a demora é que eu não estava achando uma roupa legal então... Você tem uma tatuagem? –ela parou de falar de repente e perguntou enquanto se aproximava para ver a tatuagem.

–É o que parece não é? –perguntei sarcasticamente.

– Me deixa ver isso?! –ela falou em um tom bem animada. Depois puxou meu braço me fazendo ficar de lado para ela, logo em seguida levantou a minha blusa deixando metade da tatuagem exposta, a outra metade estava coberta pela calça. Lógica que eu não iria mostrar essa parte a ela. –Nossa! Como é que o papai não pirou quando viu essa tatuagem?

– Pra falar a verdade –comecei falando e puxando meu braço e a minha blusa. –Ele só não pirou porque eu dei um pouco mais de trabalho a ele. Fiz com que ele se distraísse fazendo outras coisas.

– Como ser presa assim que chegou aqui? –ela perguntou com ironia.

– É! Isso foi uma das coisas que eu fiz. Se você quiser fazer uma tatuagem e não quiser que o Jonh surte é só ir parar na cadeia. Ele vai esquecer a tatuagem –falei com um sorriso sarcástico estampado no rosto. –Agora vamos logo antes que eu mude de ideia.

– Não podemos ir de táxi? –ela perguntou fazendo uma careta assim que subi na moto.

– Fala sério? Você tem medo?

– Não é isso, mas se você ainda não percebeu, estou com um vestido um pouco curto.

– Falei que iríamos de moto, a culpa é sua – Disse dando um suspiro entediado. –Vamos logo. –Falei ficando impaciente. Logo em seguida estendi um capacete para ela.

– Ham... Mas eu não vou colocar isso na cabeça –falou fazendo uma careta. Lhe lancei um olhar mortal. –O que? Vai acabar com o meu penteado. –Se explicou empurrando o capacete de volta.

– Escuta só uma coisa –falei já perdendo a paciência. –Ou você coloca a porcaria do capacete ou a gente não vai. Antes que você fale alguma coisa, caso soframos um acidente creio que você não vai querer que os seus miolos fiquem espalhados pela rua ou voando por aí na barriga de algum abutre porque os legistas não vão conseguir juntar todos os pedacinhos –falei impaciente. Ela me olhava de forma estranha.

– Tudo bem eu coloco a porcaria do capacete –ela falou pegando o objeto em questão das minhas mãos e tratou de colocá-lo na cabeça.

Logo em seguida ela subiu na moto com um pouco de dificuldade, ela se acomodou e passou os braços por minha cintura. Virei à chave na ignição e senti o ronco baixo e suave, mas ao mesmo tento feroz e imponente do motor. Acelerei e me deliciei com a sensação de estar dirigindo novamente.

Pus o veiculo em movimento e saímos da garagem lentamente. Paramos para que Mellany abrisse o portão. Segundo ela não poderíamos usar o controle para abri-lo automaticamente, pois faria muito barulho.

Assim que finalmente saímos pude acelerar a moto com vontade. Sem medo algum de ser pega pela polícia ou até mesmo sofrer algum acidente. Já havia caído vezes demais para não ter pegado experiência.

– VOCÊ SABE ONDE É QUE NÓS VAMOS? –Mellany gritou apertando os braços em volta da minha cintura. Se ela continuasse a me apertar daquela maneira eu poderia dar adeus as minhas costelas. Só balancei a cabeça negativamente –ENTÃO EU VOU FALANDO A DIREÇÃO E VOCÊ SEGUE, OK? –Confirmei com um aceno de cabeça novamente.

Acelerei sem dar importância a Mellany quando hora ou outra largava um dos braços que estavam em volta da minha cintura e apontava em alguma direção. Não cheguei a passar dos 150km por hora, acho que se fizesse isso acabaria ganhando uma nova fratura nas costelas.

Finalmente havíamos chegado. Paramos em frente a uma casa grande e branca. Várias pessoas estavam por lá, algumas se agarrando com outras, algumas no segundo andar se exibindo nas janelas e outras pulavam da janela em uma piscina que havia nos fundos da casa, mas que era bem visível aos passantes da rua. A música era possível de se ouvir de longe.

Mellany desceu e eu fiz o mesmo logo em seguida. Abri o compartimento do banco da moto e guardei os capacetes. Fiquei olhando para a casa só parada esperando talvez que alguém saísse dali e apostasse correr comigo, precisava de grana.

– Vamos –Mellany falou. –Você vai adorar isso aqui.

Acionei o alarme da moto e coloquei as chaves dentro da minha bota. Caminhamos até a porta da frente e assim que passamos a música alta me atingiu.

Britney Spears - Do Something

Tudo bem que a festa não era nem de longe parecida com as que eu frequentava em Londres, mas eu poderia me divertir. Estávamos andando por entre as pessoas e aquilo estava meio sufocante, era tanta gente por ali que eu não sabia se havíamos andando um metro ou uns cinco.

Vi Mellany olhando para os lados, de repente ela sorriu e foi andando para o outro lado. Antes que ela chegasse a qualquer que fosse o local, agarrei seu braço.

– Aonde você vai? –perguntei alto e bem perto do seu ouvido.

– Vou falar com uns amigos. Divirta-se por aí, a gente se esbarra –a olhei com os olhos cerrados. –Qual é Sahra? Vamos lá... Estamos em uma festa. Sabe o que fazemos em uma festa? Nos divertimos, não tem ninguém aqui que vá nos repreender agora vá brincar por aí –ela terminou me dando um empurrão e sumiu por entre as pessoas.

Dei um longo suspiro e olhei em volta. Não havia por que me sentir estranha ali, não conhecia ninguém e era uma festa, aposto que nem um terço daquelas pessoas se conhecia. Resolvi relaxar e aproveitar. Era disso que eu precisava. Esquecer os problemas por pelo menos uma noite.

Comecei a balançar o corpo no ritmo da música. Em poucos minutos já estava me sentindo solta e arriscava dançar de forma sensual e ousada. Passava as mãos pelo corpo, rebolava e jogava o corpo de um lado para o outro. Peguei uma cerveja e comecei a beber, a beber de verdade. Tomei uma, depois outra e mais outra. Havia parado de contabilizar quando estava na décima garrafa. Eu já dançava totalmente desinibida no meio da festa.

– E aí gata como é que tá? –virei e dei de cara com um dos gêmeos?

– Ei! –eu falei alto e fiquei o olhando, a fim de descobrir com qual dos dois eu estava falando ou eu falava com Chad ou Charles Gibson. –O que você tá fazendo aqui?

– O mesmo que você gata. Curtindo a festa, mas pelo que eu vejo você tá curtindo bem mais do que eu –ele falou no meu ouvido de forma sedutora.

– Você é o Chad ou Charles? –perguntei confusa. Eu os reconhecia facilmente quando estava sóbria, mas depois de ter tomado alguns goles de cerveja eu não estava distinguindo nada.

– Charles. Você bebeu quantas hein?

– Eu não faço ideia, mas eu quero mais e cerveja é uma bebida muito fraca –falei fazendo uma careta.

– Você tem razão, é por isso que eu tenho isso aqui –ele falou e levantou um litro de bebida o colocando bem na minha frente.

– TEQUILA!

Acordei com o sol batendo no meu rosto, coloquei os braços na frente dos olhos e os abri lentamente. Depois de abrir os olhos sentei lentamente na cama, minha cabeça rodou e apertei-a com força, mas é claro que aquilo não adiantaria. Dei um longo bocejo e quando coloquei a mão no colchão para me apoiar senti um corpo.

Arregalei os olhos e então como se a minha cabeça tivesse feito “click” percebi que não estava no meu quarto, nem o de Londres ou o de Tacoma, olhei ao redor e vi algumas garrafas espalhadas pelo chão e algumas peças de roupa. Engoli em seco e tomando o máximo de coragem possível e levantei o lençol olhando o meu corpo. Choraminguei ao constatar que estava somente roupas intimas. Mas fiquei um pouco aliviada por pelo menos ter acordado com alguma roupa cobrindo o meu corpo

Por isso que estou com frio! –pensei.

Depois disso levantei o lençol um pouco mais no intuito de ver quem estava ao meu lado, rezava internamente que fosse no mínimo bonito, assim que levantei o lençol vi Charles com o peito desnudo deitado de forma esparramada na cama. Fiquei admirando o corpo por um segundinho. Se alguém acordasse e se encontrasse em uma situação parecida, acho que no mínimo iria querer dar uma conferida no material já que não se lembrava de nada.

Que corpo! –meu lado pervertido pensava nas coisas que havia feito com ele. Ele era muito gato e eu gostava dele, era uma boa pessoa. Divertido e simpático. Levantei da cama com o máximo de cuidado possível, puxei um lençol e me enrolei, coloquei os pés para fora e assim que dei um passo meus pés se chocaram em outro corpo, gelei. Certo que eu não era nenhuma santa, mas nunca havia feito nada de bizarro. Três pessoas?

Olhei para o chão e vi um garoto somente de boxer verde escura. Ele estava deitado de bruços o que deixava a mostra uma bela parte traseira. Mesmo não sabendo o que eu havia feito, pelo menos havia feito com homens bonitos. Com o máximo de cuidado possível e agarrando com força o lençol que estava em volta do meu corpo, me abaixe e virei o rosto do garoto jogado no chão, para ver quem era. Dei de cara com... Alan?

A única coisa que se passava na minha mente era: “O que diabos o irmão da loira sebosa estava fazendo ali?”

De repente flashes da noite passada viram a minha mente:

1ª Eu estava em cima da mesa e rebolava me abaixando o máximo que podia, subia e passava a mão pelo corpo junto com a garrafa de tequila;

2ª Eu estava sendo prensada na parede e beijava loucamente alguém, de cabelos negros. Mãos subiam e desciam as minhas costas, passavam por minha barriga e algumas carícias mais ousadas eram distribuídas, mãos bobas no seio e na minha bunda. Beijos distribuídos por toda a extensão do meu pescoço, mordidas, puxões de cabelo e pegadas fortes;

3ª Estava novamente me agarrando com alguém agora cabelos castanhos eram vistos, meio loiros. Estava ofegante e não sentia o chão nos meus pés, pois minhas pernas estavam em volta da cintura de alguém, ele apertava a minha cintura. E puxava a minha blusa. Agarrações mais fortes e beijos bem mais indecentes eram trocados.

Depois borrões da noite foram passados. Desliguei a minha mente do que havia feito na noite passada quando as coisas começaram a ficar sem sentido, coisas como eu pulando dentro da piscina. Eu não sabia nadar então pular em uma piscina era algo que eu não faria.

Levantei e comecei a catar a minha roupa, vi a chave da minha moto em baixo do Alan e a puxei de lá tentando não fazer barulho, ele estava tão apagado que em todas as vezes que o toquei ele nem ao menos se mexeu. Vi a minha blusa do outro lado do quarto, caminhei em direção a ela e vi uma garota jogada no chão do outro lado da cama. Eu não a conhecia, mas pelo menos ela estava coberta por um lençol. Minha mente voltou novamente a trabalhar, havia dois casais naquele quarto, se três pessoas já me deixavam assustadas imaginem quatro.

Soltei um choramingo baixo. Peguei a blusa e de repente meus olhos se focalizaram em um relógio em cima do criado mudo próximo a cama, os números vermelhos mostravam que já eram 07h15min da manhã.

– 07h15min. Acho que deveria voltar pra casa e...

De repente meus olhos se arregalaram e a minha mente finalmente voltou há processar o tempo e espaço ao redor. Rapidamente comecei a vestir as minhas roupas rezando para que conseguisse pegar no mínimo uma das aulas antes do intervalo, acho que chegar a tempo da detenção já estava bom. Vi uma porta aberta e pude perceber que ela levava a um banheiro. Enfiei-me lá dentro e joguei uma água no rosto e no cabelo.

Fiquei choramingando durante todo o tempo. As pessoas poderiam falar o que quisessem dos ingleses, mas nós não éramos anti-higiênicos, pelo menos eu não me incluía nessa categoria. Vi uma garrafinha de enxaguante bucal e a virei como se estivesse tomando água, engoli um pouco também.

Saí do quarto apressada, mas sem fazer nenhum barulho. De repente lembrei que não havia chegado aquele lugar sozinha. Então comecei a abrir todas as portas que se encontravam abertas pelo corredor, o bom da coisa era que todas estavam abertas. Não havia visto Mellany em nenhum lugar desci as escadas ainda correndo, quase havia desistido, quando avistei uma garota jogada no sofá bem ao meio do que parecia ser uma sala de estar, mas que estava irreconhecível por ter lixo por todos os lados, garrafas, papeis e até mesmo roupas. Mellany estava esparramada no sofá com uma garrafa de bebida na mão. Eu tinha plena consciência de que estava em um estado deplorável, mas eu tinha certeza de que ela não ficava para trás.

– Mellany –chamei e depois dei uma leve sacudida no seu ombro. –Mellany acorda –repeti o movimento, mas ela não acordou.

– Só mais uns minutinhos –ela resmungo e depois se acomodou no sofá abraçando a garrafa ainda mais. Dei um suspiro.

E não deveria fazer isso, mas já estava atrasada e se eu faltasse à aula Jonh provavelmente me mataria. Peguei pela perna da garota e sem dó nem piedade a puxei do sofá. Ela caiu e bateu a cabeça no chão, o litro saiu rolando e ela estava um caus.

– Que merda é essa? –ela levantou assustada do chão.

– Vamos embora agora –eu disse séria. Já indo em direção a porta.

– Espera aí garota. Por que a pressa toda? –ela perguntou ainda atordoada.

– Temos que ir pra escola agora.

– Oh meu Deus! A escola! Vamos logo! –ela disse e saiu correndo. Ela ainda estava com a mesma roupa e isso incluía os saltos. Saímos correndo e fomos em direção a moto. –Espera, espera.

– O que foi? –perguntei já abrindo o compartimento do banco e pegando os capacetes.

– Temos que passar em casa. Eu preciso de um banho, passar uma escova no cabelo e ainda tenho que tomar café –ela falava contando as coisas nos dedos.

– Pega –disse e joguei a garrafinha de enxaguante bucal. –Você pode tomar banho em algum dos vestiários da escola, qualquer uma das suas amigas tem uma escova na bolsa e você pode comer no refeitório. Agora vamos embora se não vamos perder todas as aulas de hoje.

Subi na moto e logo em seguida ela fez o mesmo. O esquema de ida a escola foi o mesmo que o da festa. Mellany me indicava as direções e eu ia. Só que o contrário da festa dessa vez eu não poupei o motor da moto e fomos a uma velocidade que aposto que perderia alguns pontos na carteira por ultrapassar sinais e não respeitar as placas. Fora que andei o caminho de volta quase sempre na contramão, não tinha culpa se no meu país era de outra maneira. Chegamos à escola e rapidamente estacionei a moto. Assim que parei Mellany desceu instantaneamente.

– NUNCA MAIS EU VOU SUBIR EM UMA MOTO NA MINHA VIDA E PRINCIPALMENTE SE VOCÊ ESTIVER DIRIGINDO! –Mellany berrou e me passou o capacete. Percebi que ela estava pálida.

– Não foi tão ruim assim e ainda chegamos rapidinho –falei e dei um sorriso presunçoso.

– Isso foi verdade, mas não adiantou de nada já que são... –Ela olhou em um relógio que havia em seu pulso –Oito e meia.

– E o que isso tem haver? É só entrarmos oras –falei rolando os olhos.

Em Londres quando chegava atrasada entrava na segunda aula ou na terceira. Sempre conseguia entrar. Mas ao que parecia aqui às coisas eram diferentes.

– Não é bem assim. Nós só entramos as oito, se não for as oito não entramos. Ou seja, perdemos a aula de hoje –ela grunhiu. –Eu to ferrada! O papai vai me matar e ainda vai descobrir que eu fui à festa.

– Ele não vai e nós vamos entrar nessa porcaria de escola nem que seja a última coisa que eu faça nesse mundo –falei tentando soar convicta, mesmo não estando nenhum pouco.

– E eu posso saber como gênio? –ela ironizou.

– Vamos até o portão e veremos as nossas possibilidades –falei e ativei o alarme da moto.

Atravessamos o estacionamento que se encontrava deserto, só os carros se encontravam por lá. Fomos em direção a um enorme portão com uma fechadura elétrica, eu poderia abri-la facilmente, mas o porteiro estava nos olhando de longe com um sorriso presunçoso estampado no rosto.

– Não tem como a gente entrar, acho melhor voltarmos pra casa e esperar pelo aumento no castigo –ela comentou com um  suspiro.

– Escuta eu até poderia voltar com você, mas aí a culpa iria cair sobre mim, pois eu sou a má influencia aqui, e acredite se o seu pai vier mais uma vez tentar me colocar de castigo e me ditar ordens... Eu juro que vou matá-lo ou de forma mais simples eu vou fugir de casa e voltar para o meu país –resmunguei.

– Só quero ver como você vai conseguir nos fazer passar por esse portão sem que o porteiro nos veja.

– Me siga –a chamei pensando em algo para que pudéssemos entrar.

Caminhamos pelo estacionamento. Fiquei atenta a qualquer brecha que pudesse ser utilizada para uma entrada sorrateira, mas escola era como um forte. Os portões enormes ficavam trancados e o muro era bem alto e ainda havia o babaca do porteiro. Teria que ver o local com o muro mais baixo e mais escondido que encontrasse para poder entrar. Fiquei observando por um tempo até que encontrei o lugar perfeito.

Como existiam dois prédios havia uma separação entre eles. Um muro pequeno que qualquer um pularia e também havia uma pequena portinha para o livre acesso entre os prédios. O muro não iria me servir muito, mas perto dele havia enormes arbustos e uma nogueira grande, ela estava estrategicamente colocada para que o segurança não visse se alguém pulasse o muro.

Caminhei em direção do muro e o examinei, Mellany estava sempre me observando. Vi que naquela parte o muro se encontrava um tanto quanto disforme, tornando a escalada mais fácil.

– Faz apoio pra mim –falei.

– O quê?

– Faz. Apoio. –falei pausadamente.

– Eu não vou fazer apoio pra você –ela comentou incrédula. –Você tá de tênis, as minhas mãos vão ficar imundas –falou com uma voz típica de garota mimada. Só rolei os olhos.

– Eu tiro o sapato e...

– Você não vai pisar na minha mão –ela me interrompeu.

– Quer saber? Se você não quer cooperar então que se dane, eu não dou à mínima –falei perdendo a paciência.

– Tudo bem –ela disse com um suspiro. –Mas você vai ter que me levantar, eu não tenho tanta força assim. Você me passa por cima do muro, aí eu falo com o porteiro e ele libera a sua entrada. Quer dizer se eu conseguir convencê-lo.

– Tá –concordei. Afinal a ideia não era tão ruim assim.

Uni as minhas mãos em frente ao corpo e preparei meus músculos para receber o peso da garota. Mas antes que ela colocasse o pé eu retirei minhas mãos do caminho, resultando em uma quase queda da parte dela.

– Mas que droga é essa?! –ela falou com raiva. –Por que você fez isso? Se você queria que eu caísse bastava me jogar no chão de uma vez.

– Você não vai pisar na minha mão com esse saltos –falei tranquilamente. –Ou você tira, ou me deixa subir, escolhe.

– Certo eu tiro os sapatos, mas não pense que eu vou deixá-los aqui –ela falou tirando os saltos enormes.

– Tanto faz garota! Vamos terminar logo com isso –falei.

Já estava tentando me acalmar. Pois se eu começasse a bater nessa garota, não iria ter castigo que me fizesse parar. Posicionei as mãos novamente e então ela colocou um dos pés e fez força para baixo. Ela não era muito pesada, mas dava um pouco de trabalho.

– Você... Precisa –falava entre arfadas para conseguir fazer mais força. –Fazer... Uma dieta.

Finalmente ela tinha conseguido ficar em cima do muro. Lá do alto pude ver a sua cara de indignação.

– O QUÊ? –ela berrou.

Rapidamente peguei uma pedra que estava no chão e joguei em sua direção. A pedra não era tão grande, mas acertou a sua testa em cheio. Rapidamente virei e comecei a assoviar. Disfarçando o incidente, claro que ninguém é tão idiota a ponto de não suspeitar, mas não custava tentar.

– Você tá ficando louca garota? –Mellany vociferou de cima do muro.

– Eu? –perguntei na maior cara de pau. –Por quê?

– Você me jogou uma pedra e ainda pergunta?

– Eu joguei uma pedra em você? –me fiz de cínica. –Acho que você é quem está louca ouviu? Agora desce logo daí e vai falar com o porteiro.

Ela me olhou irritada, mas desceu para o outro lado. De repente o barulho de um baque alto e forte, era como se alguém tivesse caído feio. Esperei e não ouvi nenhum barulho, fiquei um tempo esperando e fui até o portão para ver se via um corpo estatelado no chão. Mas não consegui ver nada e o porteiro continuava lá. Voltei e esperei ouvir algum barulho do outro lado.

– Mellany? –chamei e não fui respondida. –Mellany você tá me ouvindo? –de repente escutei um choro baixo vindo do outro lado. – O que aconteceu? Você tá bem? Olha não se mexe, espera que eu vou buscar ajuda e...

– Chama um sapateiro –ela falou com a voz chorosa

– O quê? –perguntei sem entender nada. Ela só poderia ter batido a cabeça com muita força, provavelmente ela havia pedido um médico, ou para chamar o porteiro e não um sapateiro. Acho que havia ouvido errado.

– Chama um sapateiro –ela falou novamente. –Eu caí e o meu sapato quebrou o salto –de repente o choro se tornou incontrolável ela soluçava alto.

– Deixa de frescura e vai lá fazer o que havíamos combinado –falei irritada, com a cabeça colada ao muro, para não precisar gritar.

– N-n-ã-ã-ãoooo –a palavra havia saído de forma totalmente desconexa. –E-ee-u não p-p-o-ss-s-s-o andar c-cc-c-om s-s-s-ooo-men-te um lado do sapato –ela continuou a falar de forma desconexa. Pelo que havia entendido o plano havia ido por água abaixo.

Resolvi passar para o outro lado com a intenção de dar uns tapas na cara da garota. Em todos os anos da minha vida nunca havia visto uma garota tão... Tão... Tentei achar palavras para classificá-la, mas acabei desistindo. Tentei colocar um pé no muro e me impulsionar para cima, mas na estava obtendo muito sucesso.

Depois de dez minutos tentado subir, não desisti. O motivo agora não era eu subir, mas bater na cara da Mellany. Aquilo havia se tornado questão de honra, nenhum muro nunca havia feito com que eu deixasse de conseguir alguma coisa. Aquele não seria o primeiro. Quando escorreguei mais uma vez até chegar ao chão ofegante uma sombra apareceu, olhei para cima e dei de cara com Alan.

– Tentando invadir uma propriedade privada? –questionou sarcasticamente.

– Acredite... –falei entre lufadas de ar. –Depois... Que... Eu... Conseguir... Me... Recuperar... Dou... Uma... Resposta a altura. –ele riu.

– Sabe o que me deixa irritado? –ele perguntou e eu não entendi o motivo daquela pergunta no meio de um assunto que não tinha nada haver com que falávamos. Mesmo sem entender neguei com a cabeça. –Ontem fui a uma festa e assim que cheguei encontrei com uma garota dançando em cima de uma mesa, fiquei com essa garota e pedi que se por um acaso ela acordasse mais cedo que eu, que ela me chamasse, para poder chegar à escola a tempo, mas ela não me acordou isso não te irritaria?! Porque a mim irrita muito –então ele ficou calado e me olhou com os olhos serrados, continuei a encará-lo sem perceber sobre o que ele estava falando.

– Hum –murmurei o olhando com uma careta, acho que ele ainda estava chapado. –Isso deve irritar mesmo, er... Boa sorte com essa garota.

– Eu to falando de você –ele disse me olhando como se eu fosse uma retardada.

– Eu? –perguntei. Ele só assentiu. –Bom –disse com um suspiro. –Eu estava completamente chapada ontem, vi você deitado somente de cueca hoje pela manhã –vi seu rosto ficar um pouco vermelho. –Eu não me lembro de nada do que aconteceu na noite passada.

– Nada?! Quer dizer que você não se lembra de ter feito um quase striptease? –o olhei assustada. –Nem de ter pulado na piscina e depois começar a gritar por socorro já que você não sabe nadar? –ele estava começando a me assustar. –Você não lembra nem de ter começado a...

– Pára! –falei levantando e colocando a mão em frente a sua boca. –Eu não lembro e acredite, não preciso lembrar nada! –falei com os olhos um pouco abertos de mais. Ele confirmou com um aceno de cabeça e puxou as minhas mãos da sua boca.

– Uma dica –ele disse levantando o indicador. –Nunca mais faça isso. Mas antes que eu comece a relembrar o que você fez na noite passada eu gostaria de saber por que você está tentando pular o muro. –ele falou me olhando.

– Eu preciso entrar no colégio e o porteiro não deixa.

– Pensei que você não gostasse muito das aulas –ele falou me olhando com uma expressão estranha.

– Não é que eu não goste das aulas. O problema é eu ter vindo pra cá –falei o olhando nos olhos. –Mas agora eu preciso entrar porque a Mellany tá do outro lado com “problemas” –falei fazendo aspas com as mãos quando disse que ela estava com problemas.

– E você acha que vai conseguir pular o muro? –ele perguntou erguendo as sobrancelhas.

– Eu não acho nada. Agora me ajude –falei me preparando.

– Não seria mais fácil conversar com o Frankie? –ele perguntou com uma cara de óbvio.

– Quem é Frankie? –perguntei.

– O porteiro –ele falou como se eu fosse uma retardada. –Vamos, vou fazer a gente entrar.

Ele saiu andando e eu o segui. Chegamos ao portão e pensei que o porteiro ficaria nos encarando com aquele jeito idiota, mas para minha total surpresa ele caminhou em nossa direção.

– Olá Frankie! –Alan o cumprimentou. O senhor era da mesma altura que ele, ou seja, era alto, tinha a pele um pouco bronzeada e os olhos pretos. Não era um homem que se podia classificar como bonito.

– Bom dia Alan! –a voz dele era grossa, mas ao mesmo tempo suave me lembrava algo como John Peel¹. Ele tinha uma bela voz de locutor de rádio. –O que você deseja criança?

– Bom, acontece que hoje eu teria um teste nas últimas aulas, então eu gostaria de saber se posso entrar –Alan falava aquilo como se já houvesse acontecido várias.

– Sei que não há teste algum, mas vou deixar você passar garoto. Mas se o seu pai souber que eu fiz isso mais uma vez, vou parar no olho da rua.

– Não precisa se preocupar Frankie, ele não vai saber de nada –finalmente o senhor abriu o portão. Alan entrou e quando fiz menção de segui-lo o senhor bloqueou minha passagem. –Ela é aluna também –Alan falou calmamente.

– Eu sei disso. Ela me causou alguns problemas por usar uma certa máquina de tirar cópias indevidamente – ele falou me olhando com uma sobrancelha erguida. Fiquei um pouco sem jeito por ter criado problemas a ele, então baixei um pouco a visão.

– Ela estava comigo e você mais do que qualquer um aqui nessa escola sabe que a Alexia merecia aquela surra –Alan falou o olhando. Por fim o senhor abriu passagem e me deixou entrar.

– Obrigada –falei quase em um sussurro.

– Disponha –ele falou com uma voz risonha. –Qualquer um que possa dar uma lição em Alexia Boss é meu amigo. Tenham um bom dia de aula.

Fiquei um pouco surpresa. Aquela garota deveria ser um demônio, o porteiro e até o irmão não gostavam dela. Passado o meu pequeno “estado de choque” comecei a andar em direção a árvore para conferir se Mellany ainda se encontrava por lá. Percebi Alan em meu encalço, mas não me preocupei, andamos até a árvore e pude avistar Mellany em posição fetal abraçando os joelhos e segurando os sapatos com força nas mãos.

– Ela tá bem? –Alan me perguntou.

– Eu não faço ideia –falei suspirando. –Mellany você... Er... Tá bem? Quer dizer... Você não se machucou não é?

– Não –ela falou chorosa. –Mas a minha vida acabou.

– São só sapatos. Você pode comprar novos –falei fazendo pouco caso. No mesmo instante em que falei isso ela levantou do chão com uma cara furiosa, parecia uma maníaca psicótica.

– Não são “só sapatos” –ela falou fazendo aspas com as mãos. –São sapatos da nova coleção do Jimmy Choo².

– Hum... –falei sem saber do que ela estava falando. –Legal não é?! –falei olhando sugestivamente para Alan. Ele somente deu de ombros e me olhou com uma expressão de quem não estava entendendo nada.

– Legal? –ela perguntou ironicamente e me olhou com a mesma cara de psicótica de antes. –Eles eram de uma edição limitada e agora olha só isso –ela falou e mostrou os sapatos. Um deles estava com o salto quebrado.

– Em Londres eu conheço um sapateiro que pode deixá-lo como novo. Acredite o cara é bom.

– Você não pode mandar um Jimmy Choo para o sapateiro –ela falou me olhando horrorizada.

– Mas você disse que era para eu chamar um sapateiro –falei franzindo o cenho.

– Mas não literalmente. Se você manda um desse para o sapateiro eles perdem todo o Glamour.

– Tudo bem, então vamos embora já estamos atrasados demais –Alan interrompeu. Só concordei com um aceno de cabeça.

– Eu não vou a escola hoje –Mellany falou emburrada. Rolei os olhos para o drama da garota por causa de um sapato.

– Quer saber? Cansei! –falei jogando meus braços para o alto. –Nós poderíamos ter ido embora no momento em que chegamos, mas você disse que não podia. Afinal o seu amado papai ficaria furioso. Tive que te aturar reclamando e ainda fiz o favor de te colocar para dentro da escola. Agora por causa da porcaria de um par de sapatos você vem me dizer que não quer ir à escola?! –meu olho direito com certeza estava tremendo de tamanho estresse. –Acho melhor você se defender porque eu juro que vou bater em você garota –falei estalando os meus dedo. Nesse momento Alan entrou na minha frente e Mellany correu para ficar protegida em suas costas.

– É melhor nos acalmarmos não acha? –Alan falou devagar com os braços levantados na frente do corpo e olhando para mim. –Eu tenho certeza que a Mellany irá para a escola e todos nós vamos ficar bem. Não é Mellany? –então ele olhou para ela, que somente confirmou com um aceno de cabeça.

– Certo –ela resmungou. –Mas eu preciso de um par de sapatos –eu a olhei com uma cara incrédula. –Que foi? Eu não vou andar descalça por aí.

– Eu tenho o que você precisa vamos.

Entramos no prédio da escola e todos os corredores estavam vazios. A escola toda estava em aula e nós três estávamos vagando por ela. Chegamos até o meu armário e tirei um par de tênis e o entreguei para Mellany. Depois disso peguei uma pequena necessaire e rumei ao banheiro arrastando ela junto comigo. Eu estava um caco, mas Mellany estava pior. Acho que deixá-la pular o muro não havia sido uma boa ideia. Entramos e assim que paramos em frente a um espelho ela parou e se olhou estática.

– Por que você não me disse que eu estou um lixo? –ela perguntou se olhando e tocando o rosto, os cabelos e as roupas. Parecia estar desacreditando que o reflexo era seu.

– Não estou muito melhor que você –falei impaciente. Abri a necessaire e comecei a tirar algumas coisas de lá. –Aqui tem maquiagem e o máximo que eu consegui foi um pente pra você dar um jeito no seu cabelo –ela rapidamente lavou o rosto e começou a passar algumas coisas nele. Limpou o vestido, calçou o tênis e penteou o cabelo retirando quase toda a grama dele. Não havia ficado tão ruim assim, mas poderia estar melhor.

Também havia feito algo para melhorar a minha aparência, mas fiquei com tédio e resolvi parar. Passei um lápis e coloquei uns óculos escuros. Minha dor de cabeça estava começando a dar sinais de vida.

– Como estou? –ela perguntou. Somente a olhei e balancei a cabeça.

– Vamos logo.

Saímos do banheiro e o sinal do intervalo tocou. Dei um longo suspiro e dei tchau a Mellany enquanto caminhava em direção ao meu armário. Guardei tudo o que havia pegado e rumei para o refeitório. Assim que passei pelas portas e olhei para mesa onde sentava avistei Drew e Clair sentados conversando, ao lado deles Marjorie e Alan.

Caminhei em direção a mesa e sentei em uma das cadeiras. Todos olharam para mim e continuaram me encarando. Tirei os óculos e lancei um olhar mortal a eles que rapidamente desviaram a atenção de mim.

– Onde é que você estava? –Clair perguntou me olhando com raiva. Aquilo era tão irônico, uma criança passando sermão em mim. –O papai quase descobre que você e a Mellany saíram durante a noite.

– Ele quase descobriu? –perguntei levantando uma sobrancelha para Clair. Ela me olhava com uma expressão comicamente raivosa.

– Eu fui obrigada a mentir –ela falou um pouco indignada. Depois olhou para mim com um olhar zangado. –Onde você estava?

–Não devo explicações a ninguém, especialmente a uma pirralha como você –falei seca. Só depois percebi que havia sido rude demais com a garota. Dei um longo suspiro e olhei para o seu rosto, ela estava com as bochechas um pouco vermelhas e um pequeno bico se formou em seus lábios.

–Eu me preocupo com você –ela falou baixo sem realmente me encarar. –E o papai também –ela completou. Apesar de tentar não ser rude com ela, não consegui deixar de agir assim novamente. Jonh preocupado comigo era tão cômico como um sapo querendo proteger um gafanhoto.

– Sério?! –perguntei de forma sarcástica. –Quero mais é que Jonh vá se danar!

Disse isso e levantei da mesa. Caminhei para fora do refeitório, aquilo tudo mal tinha começado e eu já estava cheia, gostaria que tudo não passasse de um sonho, ainda esperava a hora em que o meu maldito despertador iria tocar e eu levantaria para mais um dia na minha antiga vida. Era extremamente como eu achava que a minha vida era: uma porcaria. Mas creio que agora ela estava uma tremenda porcaria. Antes seguia as minhas regras, me sustentava, às vezes passava por certas dificuldades, mas sempre conseguia superar. Agora tudo virou uma bagunça e tudo antes da semana terminar. Estava contando os minutos até conseguir minha aceitação na faculdade e ir embora daqui.

Fiquei sem saber para onde ir, tinha feito um enorme sacrifício para entrar e agora o que eu mais queria era sair dali. Caminhei pelos corredores desconhecidos, pelo menos para mim.

Cigarettes in Hell - Oasis

Os corredores não estavam vazios, mas praticamente todos os alunos da escola ficavam no refeitório. Algumas pessoas me olhavam quando eu passava, mas não liguei. Estava fazendo uma “excursão”, conheci os corredores, vi a sala dos professores, a biblioteca, o banheiro e quase todas as portas que havia no meu caminho.  Estava distraída olhando para alguns lugares até que vi uma escada.

Ela ficava afastada dos outros lugares, quer dizer as pessoas não pareciam querer ficar ali, pelo menos os poucos alunos dos corredores não ficavam naquele lugar. A escada ficava atrás de um portão que no momento não se encontrava trancado. Minha curiosidade me atiçava para que eu subisse as escadas e como sempre fui mais fraca que ela... Subi.

A escada não era larga, mas também não era estreita, duas pessoas caminhando lado a lado passariam tranquilamente por ela. As paredes brancas, juntamente com a escada de concreto que também havia sido pintada de branco. Quanto mais degraus subia mais evidente ficava que eu tinha medo de altura. Às vezes esquecia isso, esquecia muitas coisas. De repente um som começou a se alastrar pelas escadas. Parecia ser alguém cantando acompanhado da batida de um violão.

Então tem alguém aí, pensei. Não poderia chegar gritando ou perguntando: “Tem alguém aí?”.

Aquilo era idiotice, porque se houvesse alguém e esse alguém estive lá, mas não quisesse que o encontrássemos, assim que ouvisse o nosso chamado na certa se esconderia ou fugiria. Não se pode entrar em um lugar e sair gritando, pois além de tudo se o alguém que estiver lá for um assassino, ficará atento até que baixamos a guarda e nos ataquem.

Balancei a minha cabeça dispersando os meus devaneios e me concentrei em caminhar escada acima, com todos os pensamentos não havia percebido que tinha parado no meio da escada. A música começou a ficar clara e percebi os acordes da música “Cigarettes in Hell” do Oasis, ela era uma das minhas preferidas daquela banda. Certo que eu não fumo, mas do jeito que andava poderia até ir para o inferno, mas aquela música era muito bonita.

Subi mais um pouco a escada e vi uma porta, essa estava encostada, abri um pouco e vi um garoto sentado de costas para a porta, onde me encontrava. Ele estava sentado no chão concentrado em tocar o violão e cantar, sua voz era bonita, doce e calma. Entrei devagar no cômodo a fim de não incomodá-lo e sentei perto da porta. Lá fiquei. A melodia me acalmava me deixava mais leve, trazia uma sensação boa e a doce voz ajudava. Fechei os olhos e fiquei “curtindo” a música.

– Quem é você? E o que faz aqui?

PDV Jason:

Acordar cedo era realmente uma porcaria, eu poderia passar anos nessa mesma rotina e ainda assim não me acostumaria. Eu poderia dormir por doze horas, mas acordar cedo é um tormento de qualquer maneira.

Fiz minha higiene matinal e desci para o café. A mesa estava posta e percebi que Sahra e Mellany não estavam presentes. Ainda era cedo e elas não poderiam ter ido para aula à uma hora dessas, fiquei curioso.

O dia anterior considerei como “O primeiro passo”, havia conversado com Sahra certo que trocamos algumas palavras hostis, mas nada grave. Ela ainda era esquiva e calada sobre os seus assuntos, ainda teria que conquistar a sua confiança. Ao mesmo tempo minha mente debatia sobre o porquê de conquistar sua confiança e mais a frente traí-la. Aquilo era errado, mas ultimamente não estava me importando tanto com as pessoas. O meu foco agora era sobreviver até a formatura, entrar em alguma faculdade e deixar tudo para trás.

– Onde estão Mellany e Sahra? –Jonh perguntou. Ele estava tomando café enquanto lia um jornal.

– Elas já foram –Clair falou de cabeça baixa.

– Mas ainda falta bastante tempo até o sinal tocar. O que elas foram fazer tão cedo na escola? –nesse momento até eu fiquei curioso com o que a garota iria responder. Era claro que ela estava escondendo algo e comecei a ficar bem mais atento a conversa.

– Bom, a Mellany é veterana na escola e ouvi Sahra falando que precisava pegar alguns livros na biblioteca. Então Mellany foi ajudá-la –Clair falou sem levantar a cabeça.

– Precisava ser tão cedo? –Jonh perguntou.

– Esse é o horário em que tem menos pessoas... Então elas foram agora, para não pegar fila sabe? –Clair falou e deu uma olhada nervosa para Drew. Que só deu de ombros e continuou a devorar uma panqueca.

– Fila?

– Sim. Fila. A biblioteca da escola é bem requisitada sabe?  Então sempre que precisamos pegar um livro temos que ir bem cedo para lá. Até tentei pegar um livro ontem, mas não consegui, pois havia pessoas demais lá.

– Sério? –perguntei. Clair me mandou um olhar de repressão. –Eu gostaria de pegar alguns livros lá. O que eu devo fazer Clair? –perguntei com um sorriso enquanto tomava um gole de café.

– Você tem que ter uma ficha e chegar cedo.

– Será que encontro com as duas lá se eu for agora? –perguntei alargando o sorriso. –Porque seria menos trabalhoso pra mim. Ela poderia pegar o livro emprestado no nome dela sabe?

– Er... Mas... Bom... –ela estava nervosa, a garota não sabia mentir. Isso dava para ver de cara. –Acho que, à uma hora dessas com certeza elas já pegaram os livros e os outros alunos já estão fazendo fila. É melhor você deixar para outro dia –ela terminou e deu um sorriso amarelo.

– Você tem razão. Vou deixar para outro dia.

Fui sozinho para escola. Drew levou Clair e Daniel iria do seu apartamento. Cheguei e estacionei em uma vaga habitual. Drew chegou e foi falar com algumas pessoas, Clair se dirigiu para o seu prédio. Fiquei encostado na porta do carro, estava distraído quando sinto braços envolvendo minha cintura e lábios encostando-se em meu pescoço. Era Alexia. Ela me olhava com um sorriso enorme no rosto.

– Bom dia meu amor! –ela disse me dando um pequeno beijo nos lábios.

– Bom dia! –respondi com um sorriso.

– Você conseguiu alguma coisa ontem? –ela perguntou. Aquilo soava estranho, pois ela era minha namorada e estava perguntando sobre algo relacionado à outra garota.

– Depende do que você chama de “alguma coisa” –ela ergueu as sobrancelhas para mim.

– Estou falando do nosso “plano” pra abaixar a crista da tal Sahra –ela falou um pouco irritada.

– Bom... Conversei com ela ontem, mas nada que fosse muito “produtivo”. Se é que você me entende.

– Sei... –ela murmurou pensativa. Depois abriu um largo sorriso e me olhou com o que parecia ser animação. –Eu consegui algo bem legal, só não sei o que fazer ainda.

De repente Alexia começou a me puxar em direção a escola.

Eu ainda olhava para a pequena televisão com a boca aberta. Imagens da Sahra dançando e beijando um cara e depois o irmão da Alexia se repetiam ali. Uma cena dela tentando fazer um striptease, mas sua tentativa foi frustrada pelo irmão da Alexia. Ela estava em cima de uma mesa e então começou a tirar a roupa e a rebolar sensualmente.

Ela tinha um corpo maravilhoso. E possuía uma tatuagem, uma fênix na lateral de seu corpo. Alan a puxou de cima da mesa e jogou-a sobre seus ombros. Depois cortaram a imagem e mostrou-a agarrando um garoto. Depois ela estava com Alan e eles pareciam se engolir bem no meio de um corredor, logo depois os dois entraram em um quarto, e então o vídeo acabou.

– E então? –Alexia perguntou com expectativa.

– Então o quê?

– O que você achou?

– Ela é muito bonita e seu irmão é sortudo –falei sem pensar. Logo depois levei um tapa no braço. –Mas é claro que você é melhor. Você é muito mais bonita que ela –completei logo em seguida a abraçando.

– Acho bom mesmo –ela resmungou. –A propósito falei com Daniel e ele disse que você conseguiu a chave do quarto dela. Isso é verdade? Se isso for verdade vai ser muito fácil acabar com ela. Humilhação pública. O mesmo que ela fez comigo.

– Você não acha que tá levando isso muito a sério? E bom, eu ainda não tenho a chave, mas vou mandar fazer uma cópia hoje. Estou com o que preciso no carro.

– Não estou levando isso a sério. Só quero me divertir e mostrar para essa escola que Alexia Boss não pode ser humilhada –ela falou com sorriso presunçoso.

Depois disso fomos para a aula. Era incrível como ela tinha acesso a tudo com tanta facilidade. Assistimos ao vídeo em uma sala para professores, ninguém questionou nada. Ela era linda e poderosa. Acho que esses eram os adjetivos que a resumiam. Aquilo me fazia ficar confortável por estar ao lado dela.

As aulas se passaram tediosas e em momento algum vi Sahra, Mellany ou Alan. Não tinha aulas com eles, mas sempre os via pelos corredores durante as trocas delas. Quando o sinal do intervalo tocou me dirigi até o refeitório.

Sentei em uma mesa habitual onde fui recebido com beijos da parte de Alexia, alguns sorrisos das líderes de torcida e acenos dos jogadores. A mesa dos populares, aquilo me incomodava, pois só estava lá por estar ao lado de Alexia.

Olhei ao redor e vi Drew sentado em uma mesa afastada, a mesma que havia estado com Sahra no dia anterior. Sahra não estava lá, mas Alan já estava sentado e conversava com as pessoas da mesa. Estava me sentindo incomodado, Drew havia virado amigo da Sahra, provavelmente ficaria com raiva se descobrisse que estava “tramando” contra ela. E eu não gostaria de ficar mal com ele. Ele era meu irmão, mesmo não sendo um irmão realmente de sangue eu o considerava assim.

A porta do refeitório foi aberta e por ela passou uma Sahra com óculos escuros, cabelos bagunçados, o que a deixava com uma aparência selvagem e sensual e uma blusa que deixava seus ombros e um pedaço da sua tatuagem exposta. Ela poderia ter aqueles olhos e cabelos estranhos, mas quando vestia roupas que a valorizava ela ficava muito bonita.

Ela não chamou somente a minha atenção, mas a de quase toda ala masculina do refeitório. Ela carregava uma expressão arrogante, ainda perguntaria a ela o porquê de querer parecer arrogante e indiferente a tudo. As diferenças dessa Sahra que entrava pelo refeitório e a que estava no vídeo eram notáveis.

Ela caminhou até a mesa em que Drew se encontrava, sentou, trocou algumas palavras para logo em seguida levantar e sair a passos duros de lá. Pensei no que poderia fazê-la sair dali, mas fui interrompido por uma Alexia exigindo atenção. Tratei logo de fazê-lo.

– Olha só pra ela –Alexia falou. –Se acha a rainha da escola. Mas ela tem que saber que só pode existir uma rainha e esse cargo já está ocupado por mim.

– Você não pode se intitular desse jeito Alexia.

– Por que não? –ela me perguntou com uma sobrancelha erguida. Nesse momento eu mesmo me perguntei o porquê de ela não poder se intitular assim, pois era o que ela parecia. Mandava em todos então não tinha um título mais adequado.

– As pessoas podem não gostar –finalmente respondi. –Elas passam a se sentir inferiores.

– Jason aprenda uma coisa –ela falou me encarando com um olhar esnobe. –Elas são inferiores.

– Elas merecem um pouco mais de respeito não acha? Quer dizer, elas são inferiores só porque são menos ricas que você?

– Não –ela respondeu indiferente. –Elas são inferiores, porque todas são adolescentes problemáticos e idiotas. Olha aquilo –ela falou e apontou para Mellany que estava na fila enchendo a sua bandeja com comida. –Mellany não engana ninguém, ela tem o corpo perfeito, mas como você acha que ela consegue se manter assim se nunca pisou em uma academia? –ela perguntou retoricamente. –Se você quer saber como ela fica com o corpo assim a siga até o banheiro depois que ela terminar de comer, ela vai botar tudo pra fora.

– Ela... Ela...

– Ela tem Bulimia. –Alexia respondeu tranquilamente como se estivesse lendo seu horóscopo. –Aquele ali tem problemas com drogas –ela falou apontando para um garoto que passava a mão constantemente pelos cabelos e parecia estar meio paranoico sentado em uma mesa. –E todos –ela sussurrou a última parte no meu ouvido. –Todos os atletas tomam anabolizantes. Querido nenhuma deles é melhor que eu, você está no mesmo patamar, mas o resto... O resto é o resto Jason.

Fiquei um pouco chocado com aquilo. Ela sabia dos problemas das pessoas e não fazia um mínimo esforço para ajudá-los, mas fiquei pensando no que ela poderia fazer afinal ninguém pode se meter na vida de ninguém. As pessoas são livres para fazer qualquer besteira que quiserem. O resto do intervalo foi preenchido por conversas banais, passando tranquilamente, as aulas seguintes também foram assim, mas uma coisa estava me incomodando muito. A manhã inteira se passou e não vi nenhum sinal de Daniel, eu tinha certeza de que aquilo não era um bom sinal.


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Notas finais do capítulo

John Peel: Ele foi um importante radialista, crítico musical e jornalista inglês, sendo um do primeiro radialista a tocar reggae e punk nas rádios britânicas... Eu particurlamente acho a voz dele muito bonita... Vocês podem conferir entrevistas deles para ouvirem a sua voz no youtube.

Jimmy Choo: É um design de sapatos mundialmente conhecido. Acho que vocês já devem ter ouvido falar nele.



[Nota da beta:] Oi, licencinha Mari (olha a beta invadindo aqui!!)

A-d-o-r-e-i! Que capítulo foi esse?? teve até striptease kkkkk,

/*Amei =S2*>/ Só faltou o super fofo do Akim, eu quero!!

Agora vamos falar de uma coisa super séria que é : “Deixe seu comentário.”

Afinal a Mariana merece! Tem passado uns maus bocados com alguns problemas de saúde e mesmo assim está aqui firme e forte escrevendo So what!

Então não esqueça de deixar sua marca aqui e comente, ok?

Bjkas. By:Carol
N/A: Oi todo mundo querendo me bater né?! Eu sei ¬¬'
Tá olha só gente eu escrevi esse cap. e não sei se vocês gostaram... Querem explicações?! Então lá vai... Vou fazer algo beeem resumido...
To com um problema de visão e estou sujeita a tratamento e visitas constantes ao médico. Na minha casa tá tudo bem tumultuado, meu irmão tá de mudança e tal's... To ajudando, aulas começaram... ¬¬' Enfim...
Deixa um comentário? Olha só pra minha carinha de pidona -> *-*
Amo receber... Se vocês quiserem me ver feliz podem ficar me mandando comentários *--*
Agradeço a todas as minhas leitoras que comentam e que não comentam também... Porque todas são importantes... E sabem o que me deixou muito feliz mesmo garotas?!
Eu recebi dois comentários de leitoras do além... Sim nossas fantasminhas fofas... Kobato_Hanato que lia sempre e ficava me importunando, mas nunca havia deixado um comentário... [/ElaEstudaComigo/] E a super fofa da carolinagil que me mandou um "Bú!" *---* Gente eu amei... E se vocês estiverem com preguiça de comentar podem me mandar um "Bú!" também... É divertido e legal... Podem escrever bastante se vocês quiserem também, eu amo responder os comentários... Cara eu adoro todas e agradeço cada uma de vocês que dão um click e com paciencia lêem essa estória louca aqui! *-*
Cara a Sahra se meteu em roubada de novo? Quem será o garoto misterioso que toca violão? Onde o Daniel foi?
Confira nos próximos capítulos! [/NãoGostoDaAlexia¬¬/]
B'jus e até a próxima ^3^ o//
P.S.: Carol é fofa! o/ @LoydeSilva



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