Hereditary escrita por almightymag


Capítulo 8
Firing!


Notas iniciais do capítulo

Esse é para compensar o capítulo anterior... ou não :x Queria dizer que foi difícil escrever esse capítulo porque eu estou num momento feliz para escrever coisas como... Zoey.
Aaah, e eu mudei a capa, comentem também se gostaram :D E acho que vocês sabem beem o motiva da cicatriz '-' e eu tbm coloquei o Darien ali no ladin *o*



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Parecia impossível, mas a Frambhale ficava mais sombria quando a noite se aproximava.

De acordo com a grade de horários eu teria de estar na cama às nove e meia. Certo, eu estava na cama, mas o sono não viria tão cedo. Aliás, já passava das onze. Uma hora perfeita para chorar, lamuriar...

Doía demais saber que toda a minha família estava morta, e mais ainda ter que aceitar que foi o meu irmão que fez isso. E sem uma motivação considerável. Quer dizer, nenhuma motivação considerável daria a ele o direito de fazer isso! E o que mais me intriga é: por que ele não me matou?

Tudo que ele fez foi deixar essa lembrança horrível em meu rosto, e eu teria de lidar com ela todos os dias quando me olhasse no espelho. Eu nem culpo a cicatriz por eu estar diferente, aliás, eu não sou mais a mesma menina de semana passada. Eu me olho no espelho, mas não me vejo.

As lágrimas começaram a vir mais pesadas. Acho que não faria mal nenhum chorar, prender os sentimentos dentro de mim que era perigoso. A razão pela qual eu me proibi de sentir qualquer coisa, fechar meu coração para qualquer emoção, qualquer palpitação diferente. Por isso evitei contato visual direto com o Darien na aula de química...

Agora as lágrimas ardiam em meus olhos, então eu os fechei.

Minha cabeça doía muito em um ponto lateral. Eu tateei e senti meus cabelos úmidos. Abri meus olhos lentamente e os pisquei várias vezes, colocando-os em foco. Quando finalmente o fiz percebi que estava de volta àquele cenário fúnebre.

Eu tentei me levantar, mas minha cabeça doía demais, eu cambaleei para trás e acabei encostada em uma das paredes do hall da mansão McGraien.

Eu comecei a ofegar quando olhei para a sombra que estava parada na porta.

– J-Ja-Jasen – gaguejei num sussurro.

Eu vi a sua sombra sorrir. E de repente oscilar como se outra sombra interferisse a sua. A outra sombra era mais alta que ele, e mais magro. Eu fiquei confusa por um tempo até que a sombra mais alta se fixou. A sombra gargalhou para mim então eu soube que era um homem. Sua gargalhada era alta e metálica.

Numa fração de segundos ele estava perto de mim. Quer dizer, perto de mim, com o rosto bem próximo ao meu. Mas agora era o Jasen com um sorriso soturno nos lábios.

– Oi irmãzinha, sentiu minha falta? – ele sussurrou e eu senti sua respiração resvalar em meu rosto.

Seu rosto se distorceu por um segundo, tomando a forma de outro, mas ele voltou a ser ele. Agora com a expressão tão confusa quanto a minha.

Jasen franziu o cenho se afastando de mim. Nesse momento eu vi vestígios do antigo Jasen. O irmão engraçado, reconfortante, chato e protetor e o filho exemplar. Sofri o ímpeto de correr, abraçá-lo e perguntar o que estava acontecendo, mas continuei parada encostada na parede sem conseguir organizar meus pensamentos, nem mesmo para ordenar um único membro de meu corpo.

Ele olhou para os corpos no chão e depois para mim.

– O que aconteceu? – sua voz era de espanto – Quem fez isso? – tristeza e um pouco de raiva.

Eu deixei algumas lágrimas escaparem antes de exclamar seu nome e correr para abraçá-lo.

– Jasen, é você?

– Claro! – Ele me pegou pelos ombros e olhou em meus olhos. – Você deve estar apavorada – comentou ele me abraçando de novo, só que mais forte. – Me desculpe, me desculpe. Eu deveria... eu deveria ter feito alguma coisa... – Ele me afastou de novo com as mãos sobre meus ombros. – Quem fez isso, Zo?

Sim, eu estava completamente apavorada. E confusa. Muito confusa. Eu abri a boca para responder, mas não consegui achar uma resposta. Quer dizer, eu sabia a resposta certa, só não sabia qual era a melhor a se dar.

Jasen largou meus ombros, seus braços caíram frágeis e ele tornou a olhar para o chão. Ele deu alguns passos hesitantes para trás... E começou a gritar. Ele pôs as mãos na cabeça, seu rosto retorcido de dor e um desespero de suplica, e gritava.

Depois seu grito se transformou em uma gargalhada sobreposta. A gargalhada metálica da sombra e a do meu irmão.

– E a resposta certa é: eu – disse ele, sua voz também era sobreposta, e me causava sérios calafrios na espinha.

Ele sorriu.

E foi apenas isso.

Enquanto encarava o seu sorriso com o pavor de volta a mim eu sentia a superfície da minha língua formigar. Era como vários alfinetinhos afundando na superfície da minha língua, lentamente. Eram como cacos de vidro.

Eu abri a boca tossindo... tossindo sangue e com ele vários pedacinhos minúsculos e cortantes de vidro. Soltei um grito abafado de dor e recuei. Sentia os caquinhos de vidro descendo pela minha garganta. Forcei-me a tossir de novo, mas nada adiantava, o número de caquinhos continuava aumentando e se espalhando pelo interior do meu corpo. A dor ia se tornando insuportável. Irrevogavelmente insuportável. Eu estava a ponto de implorar que ele me matasse...

... Quando acordei gritando.

A primeira coisa que vi foi a luz do fogo e um buraco no teto bem acima de mim. Senti a umidade na minha boca, um gosto horrível de ferrugem. Vi as imagens perdendo o foco, como se minhas pupilas estivessem se estreitando, voltando ao normal. Eu sentia a ponta de meus dedos dormentes e então eu soube o que havia acontecido. E o que eu havia feito. De novo! Quase como na primeira vez, só que pior, porque dessa vez eu coloquei fogo no meu quarto!

– Zoey! – eu ouvi alguém me gritando.

Saí do meu estado de êxtase e me levantei rapidamente. O quarto inteiro estava em chamas, mas a minha cama e eu estávamos intactas.

– Zoey! – a voz era masculina e tinha um tom de desespero nela – Onde você está? – Era a voz do Darien.

Sua voz costumava ser monótona, entediada e cheia de ironia. Ouvi-lo berrando desse jeito era estranho, me causava até um aperto no coração. Até porque desde que eu entrei nessa escola ele foi o único que tentou trocar palavras comigo. Nem mesmo as meninas – Luce Darson e Judie Karst – que dividiam o quarto comigo tentaram falar comigo, nem um mísero “boa noite”.

E agora pensando nelas me veio outro aperto no coração. Eu não sei como havia começado o incêndio, mas será que elas conseguiram escapar?

– Estou aqui! – gritei em resposta para Darien. Eu não conseguia vê-lo, afinal, mas ele continuava gritando meu nome.

Eu pulei da minha cama e escapei para a primeira brecha que não havia fogo. Eu não senti o fogo deslizar em minha pele, e quando olhei para trás, numa questão de segundos, minha cama estava em chamas. Eu voltei a olhar em volta procurando pelo Darien. Havia fogo em todo o quarto, mas nenhuma faísca me tocava.

– Darien? – Agora eu tentava achar a saída. – Darien!

– Zoey! – Senti braços musculosos e gélidos me envolverem e me tirarem dali.

Darien não estava suado, mas a sua camisa estava chamuscada – na verdade, o que sobrou da sua camisa porque a metade de seu tórax estava à mostra.

Depois que conseguimos alcançar a porta para o corredor eu vi que o mesmo também estava em chamas. Talvez todo o colégio estivesse, mas eu não queria pensar nisso, mesmo sendo obrigada e tomada pela raiva a todo corredor que nós virávamos. Todos estavam em chamas.

Houve uma hora que o Darien parou ofegante. Eu até agora não sabia como ele ainda não havia desmaiado, asfixiado pela fumaça. Tudo bem, eu também ainda estava lúcida o demais para aquela situação, mas ao meu caso há explicações. Digamos que o feitiço nunca prejudica o feiticeiro – em algumas ocorrências.

Darien olhou para mim, havia medo em seus olhos, e me abraçou. Me abraçou tão forte que o meu corpo parecia se fundir ao dele. Então eu entendi o que ele queria fazer. Seu corpo ainda estava frio – não sei como – e o chão a nossa volta estava se desfragmentando. Caindo lentamente aos pedaços. Então me agarrei a ele o máximo que pude. Podia sentir seu coração acelerando, podia sentir sua respiração na minha nuca...

– Se nós morrermos – começou ele, mas eu o interrompi.

– Não vamos morrer!

– Agora você é otimista? – Ele soltou um riso abafado.

– Não, mas acho que ainda há uma luzinha em minha vida pela qual vale a pena viver – Eu não sabia da onde eu havia tirado isso, apenas disse. – Por que você voltou?

– Porque eu acho – ele sussurrava em meu ouvido – que ainda há uma luzinha em minha vida pela qual vale a pena um sacrifício.

Eu não queria olhar para o chão, apesar de que o que estava sob nossos pés estava intacto. Olhei tudo a volta e vi as janelas. Um pensamento insano passou pela minha cabeça.

– Isso vai parecer loucura...

– Loucura é ficar aqui! – retrucou ele.

– Certo. Pelo menos eu avisei.

Não sabia se eu era forte o suficiente para fazer isso, levando em conta que Darien é mais pesado que eu – por causa dos músculos, e porque ele era mais alto e tudo mais. Mas eu me agarrei ao corpo e nos lancei pela janela. Nós descemos espiralando e chegamos ao chão, fofo e gramado, rolando. E, cara, doeu!

Todos estavam reunidos no gramado em frente a escola. Apesar de a Frambhale ser uma escola estilo medieval e assustadora era uma cena triste vê–la incendiando.

Alguns alunos choravam, alguns até comemoravam, outros estavam chocados. A Sra. Mirade estava discutindo com os professores e com o diretor. Eles estavam discutindo algo sobre a casa grande do campus. Não demorou muito ela perceber a minha presença.

Ela olhava para mim com raiva e surpresa ao mesmo tempo. Mirade começou a caminhar em minha direção, e parecia estar me amaldiçoando mentalmente porque de repente senti minhas orelhas arderem. Ela parou no meu lado e sussurrou:

– Eu quero você longe daqui, você só tem dois dias. Me ouviu bem?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :3 E postem bastante reviews, porque eu já até pensei em parar com essa fic .-. Se eu to continuando é por causa de vocês *---* Postem reviews o/



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