O Frambhale Boarding School parecia um castelo medieval. Pelo menos pelo lado de fora. Ele era embutido em rochas, todo de pedras escuras e polidas, um conjunto de janelas estreitas, escadarias externas e rodeado por uma lagoa negra.

Minha primeira sensação? Arrepio. Segunda sensação? Medo. Terceira sensação? Cara, como esse lugar é bizarro para um internato! Mas era aqui que eu teria de ficar, tempo o suficiente para sobreviver e pensar numa maneira de vingar a morte da minha família. Porque não era simplesmente matar o Jasen. De uma forma ou de outra ele ainda era meu irmão, e matá-lo seria a mesma coisa que declarar que eu sou tão cruel quanto ele.

Entrei no castelo-escola em silêncio seguindo Mirade que ainda permanecia com a sua elegância intacta. Seu scarpin ressoava no chão de madeira bem encerado – e isso era a única coisa possível de se escutar. Estava tudo quieto demais para uma escola.

Nós subimos um lance de escada e viramos a esquerda no corredor. Ela me abriu uma porta onde estava escrito DIRETORIA em baixo relevo dourado.

Sentado atrás da mesa de mogno havia um homem que aparentava ter uns 50 anos bem preservados. Mas Mirade apenas o cumprimentou com um aceno de cabeça e se dirigiu a uma outra porta à direita da sala.

– Entre – disse ela quando eu parei no meio da primeira sala.

Eu entrei.

Não sei se essa foi apenas minha reação a entrar em um lugar desconhecido com esculturas estranhas, mas a gravidade parecia ter aumentado, eu me sentia pesada, sobrecarregada.

– Não estranhe. É um ambiente puro – disse ela como se estivesse lendo meus pensamentos.

Ela deslizou até a cadeira de escritório atrás de sua mesa mogno, depois fez um gesto com as mãos pedindo para me sentar a sua frente.

Eu me sentei, não sei por que, mas um pouco relutante.

– Primeiramente – começou ela – você precisa saber que o Frambhale não é mais um colegial de Londres. Podemos dizer que aqui é um colégio especial.  Todos os adolescentes aqui sofrem de algum distúrbio mental ou... – Ela olhou de forma curiosa em meus olhos. – sobrenatural.

Ela deixou a palavra sobrenatural pairar no ar por longos e desagradáveis dois segundos.

Eu limpei a garganta e pigarreei.

– Dengen, certo?

Eu senti um calafrio na espinha quando ela disse isso.

– Como você sabe disso?

– Perigoso... muito perigoso – ela murmurou enquanto desfolhava uma pasta de arquivos, ignorando minha pergunta – Mas tenho certeza que não é isso que te trouxe até aqui – Ela suspirou – Hmmm, Zoey, me fale sobre seus problemas familiares...

Polleni não podia ter falado tanto! Tudo bem sobre os problemas familiares, mas o dengen é – ou era – um segredo de família. Polleni sabia porque era praticamente da família já que era nossa au pair. Sei que ela nunca falaria nada a ninguém.

Isso não está nada legal.

– Não culpe a Polleni – disse Mirade erguendo sua sobrancelha perfeita.

– Você lê mentes – sussurrei. Poderia estar dando uma de louca, mas essa era a explicação mais sensata.

Ela esboçou um sorriso soturno.

– Você é inteligente – sussurrou ela de volta.

– Aonde você quer chegar?

De novo ela ignorou minha pergunta. Desta vez ela abriu a gaveta debaixo da mesa e me entregou uma folha onde havia a grade de horários.

– Boa aula – disse ela sorrindo simpática.

Tudo que eu menos precisava era que a subdiretora da minha nova escola infernal lesse mentes! Ok, ela disse que é uma escola para adolescente com distúrbios mentais e sobrenaturais. Eu realmente não estava preparada para nada disso! Me preocupar comigo mesma já era um tremendo problema. Por isso me bloqueei a sentir qualquer coisa; de amor à ódio, de sorrir à chorar.

Atrás da mesma folha que ela me deu havia um mini-mapa da escola e no rodapé da folha havia o número do meu quarto. A grade de horários tinha a hora de acordar, a hora do café da amanhã, o horário de cada aula até o almoço, educação física, lanche da tarde, tempo livre, janta e horário de ir para a cama. Isso me fez lembrar ligeiramente de Hogwarts... quer dizer, em Hogwarts as coisas deveriam ser mais divertidas.

Eu me orientei pelo mapinha até a minha sala de aula. Agora eu teria aula de química. Isto é, já começou, mas talvez eu não esteja tão atrasada assim.

– Bom dia – sussurrei parada na soleira da porta.

O professor estava sentado em sua mesa lendo um livro enquanto os alunos – estranhamente quietos – tentavam não explodir suas experiências. Todos eles estavam vestidos com um jaleco branco e óculos de proteção.

– Você deve ser a aluna nova – disse o professor se levantando de seu posto com certa animação.

Ele apertou minha mão num comprimento, sorrindo. Eu apenas correspondi ao seu aperto de mão.

– Seja bem-vinda! Pode se sentar ao lado Darien Moulegh – disse ele apontando para o garoto que estava sentado na penúltima mesa da sala, perto da janela.

Eu assenti e fui até ele ignorando todos os olhares curiosos sobre mim enquanto eu atravessava a sala.

Ao me aproximar eu pude captar todos os detalhes do rosto de Darien. Ele tinha o rosto de uma criança de treze anos, mas o seu corpo musculoso e esquio dizia o contrário. Ele tinha cabelos castanhos lisos que caiam sobre seus olhos claros.

Darien estava concentrado e não errar uma gota do líquido verde que adicionava no líquido vermelho. Ele parou com calma e olhou para mim quando me sentei ao seu lado.

– A resposta é Zoey – disse baixinho adivinhando sua pergunta.

Ele sorriu. Seu sorriso provocava-lhe covinhas.