Amor, Calibre 45 escrita por LastOrder, Luciss_M
Flash back on
Miguel levantou-se abruptamente e segurou com força o agente pela colarinho da camiseta branca. Os olhos azuis brilhavam numa ira contida que se misturavam com o medo e beiravam a insanidade. Thompson não precisava ser perito em psicologia para saber que Miguel não estava no seu juízo perfeito.
- Onde. Ela. Está?! - As mão tremiam no aperto.
Thompson respirou fundo e encarou-o encarou fixamente.
- Eu já te disse. Nós não...
- VOCÊ PROMETEU CUIDAR DELA! - Gritou jogando-o sobre a cadeira de plástico. O som atraiu os guardas que só não renderam Miguel a pedido do agente. - DISSE QUE ELA FICARIA A SALVO SE EU NÃO RESISTISSE! - Bateu os punhos sobre a mesa e se deixou cair sobre a cadeira.
As mãos foram em direção aos cabelos segurando-os com força. A cabeça estava abaixada e o olhar perdido em algum lugar que com certeza não era o chão do quarto.
Gary fez um sinal com a cabeça e os guardas saíram a contra gosto. Se recompôs ajeitando a gravata.
- Ele é mentiroso... - Ouvi-o murmurar baixo. Miguel riu baixo e voltou o olhar para o policial. Um sorriso presunçoso nos lábios. - Sabe Thompson, no fundo eu sabia que você não passava de um devorador de rosquinhas. Vocês são todos iguais.
Gary suspirou e apoiou o peso sobre as mãos na mesa.
- Miguel, por favor entenda que essa não é a hora mais apropriada para isso. - O moreno franziu o cenho prestando atenção nas palavras do mais velho. - Sei que prometi algo que não sabia se poderia cumprir e me arrependo, mas estamos fazendo de tudo para encontrá-la e a prova é que estou aqui pedindo sua ajuda.
Ele suspirou e olhou para a parede.
- Eu não posso ajudar, lamento.
A resposta fez Gary arregalar os olhos.
- Como?!
Miguel se virou para ele.
- Eu já não sou o que costumava ser. Não consigo me lembrar nem como destravar um mísera arma. Tudo o que sei fazer é gastar meus comprimidos com cigarros e torcer para que eu não tenha nenhuma resistência genética contra o câncer de pulmão.
Thompson suspirou colocando as mãos sobre as têmporas.
- Miguel, eu sei que deve ter sido difícil, mas...
- VOCÊ NÃO SABE DE NADA! - Levantou-se aproximando o rosto ao do agente. Disse entre dentes, de novo tinha aquela expressão quase animalesca. - Sabe o que é isso, agente? - Sorriu ao abaixar a gola da camiseta branca. - É isso o que fazem conosco quando ficamos um pouco descontrolados.
Engoliu em seco e abaixou o olhar.
- Miguel... Eu...
- O que foi Thompson? - Encarou-o inocentemente antes de completar. - Você tem medo da dor?
Afastou-se rindo do olhar do agente. Gary já não tinha mais tanta certeza se fora uma boa ideia ter vindo até ali. Já lhe haviam falado que Miguel havia mudado desde a sua ultima visita, só não acreditava que houvesse ficado daquele jeito.
Fez um sinal discreto com os dedos para o guarda parado próximo a janela, ele respondeu com um aceno.
- Miguel. - O som sério fez com que ele parasse de rir.
- O que foi dessa vez, Thompson? - Sorriu de lado. - Não se preocupe com Tessa, ela está ótima. - Os olhos se foram para um ponto atrás do agente. - Não é mesmo, querida.
Gary suspirou fundo ao ver a gravidade da situação.
- Me desculpe, Miguel.
- O que?
Dois enfermeiros entraram na sala antes que ele pudesse responder qualquer coisa. Thompson virou o rosto quando Miguel começou a resistir a abordagem. Mas nem com isso deixou de ouvir os gritos e os xingamentos que o mais jovem dirigia a ele. Sentia-se culpado em fazer aquilo, mas precisava de Miguel agora, como nunca jamais pensou que precisaria de alguém antes.
Flash back off
Central do FBI, Chicago.
10/02/2010
- Quanto tempo mais até ele recobrar a consciência? - Miguel pode ouvir a voz familiar. Não tinha ideia de onde estava.
- Senhor, em breve. Tivemos que usar remédios e sedativos fortes. Precisa dar tempo para que o...
- Nós não temos tempo!
Um suspiro.
- Sim, lamento, não há mais nada que eu possa fazer.
A porta se fechou e Miguel fez força para abrir os olhos. O quarto não era branco. Tinha tons pastéis, mas estava numa cama que lembrar a de um hospital e um parelho monitorava seus batimentos cardíacos.
- Onde... - Sua garganta estava seca. Era estranho falar. - Onde estou?
Gary Thompson entrou na sua área de visão.
- Como está se sentindo?
- Á-água.
Ele assentiu e depois o ajudou a bebericar de um copo com água que havia trazido. Não sabia de onde. Sua visão ainda estava turva e sua cabeça latejava.
- Está melhor?
- Não sei. - Respondeu. - O que houve? Onde estou, Thompson? - Miguel tentou se sentar e mais uma vez precisou da ajuda do agente.
Gary sentou-se num banco ao lado da cama.
- Do que se lembra?
- Odeio que responda minha pergunta com outra pergunta, inferno! - Disse já perdendo a paciência. - Me diga de uma vez o que houve!
Gary sorriu. Esse era o Miguel que conhecia. Só esperava poder mantê-lo assim pelo tempo que precisava. O sorriso logo desapareceu ao se lembrar por que precisava dele.
- Talvez não se lembre... Mas não está mais na penitenciaria.
Isso fez Miguel sorrir sarcástico.
- Ah, não? Quer dizer que o diabo finalmente resolveu me expulsar do inferno? E por que não me lembro desse fato memorável.
- Você desenvolveu distúrbios mentais e teve um ataque. Precisei que te dopassem. - Miguel ficou extremamente ao ouvir isso. - Está sobre efeito de remédios fortes agora... Para manter a lucidez.
Suspirou.
-É claro. - Olhou em volta esperando ver Tessa ou seu pai em algum lugar. Thompson tinha razão. - E para que precisa de mim?
O semblante de Gary foi da seriedade profissional a preocupação no mesmo instante.
- Thereza foi seqüestrada a duas semanas atrás.
Diferentemente de antes, Miguel continuou impassível.
- Tem alguma pista?
- Quase nada. Encontramos a bolsa dela num beco perto do seu antigo apartamento. - Miguel fechou os olhos ao ouvir isso. É apenas uma coincidência, repetiu a si mesmo.
- E o que mais?
- Nada. - E continuou. - Mas isto chegou numa carta alguns dias depois.
Gary lhe entregou um papel amarelado. Seus olhos se arregalaram ao ver o desenho do parque que ele havia feito para sua irmã doente... O mesmo desenho que nunca havia conseguido entregar para ela...
- O remetente é de uma vila perto do Alaska, fomos até lá e não encontramos nada.
Virou a página e leu na odiosa caligrafia que... Não, ele ainda estava vivo.
" Volte para o começo."
- Esperava que você tivesse alguma...
- Eu sei onde que lugar é esse.
Gary piscou duas vezes.
- Como?
Miguel o olhou sério.
- Acha que consegue um avião para Londres em quanto tempo?
(...)
Antiga casa de Miguel, Londres.
12/02/2010
A casa continuava vazia. Os rumores do assassinato da família que morava lá se espalharam rapidamente e, devido a isso, nunca foi comprada. O governo não achou necessário sua demolição por estar num bairro antigo.
Então ficou lá.
A grama já parecia matagal e escondia toda a fachada do que um dia fora um simpática casinha branca ao lado do parque infantil Violet Hill. Pedaços de madeira foram, há muito tempo, presos nas janelas e portas para evitar a entrada de vândalos, mas algumas já haviam se soltado.
As viaturas rodearam a casa e os policiais se ajeitaram para cobrir todo o perímetro do terreno. Em pouco tempo a rua ficou deserta. As mães chamaras as crianças aos gritos e o resto das pessoas correu para longe o mais rápido possível.
- Estão todos prontos? - Thompson vestia, assim como todos os outros, um colete a prova de balas e botas de couro. Carregou a arma. Estava perto do carro por que não entraria devido a perna. - Ao meu sinal.
Olhou de lado para Miguel.
Ele estava também com uma arma e um colete. Podia ver em seus olhos como se segurava para não sair correndo e desobedecer sua ordem. Sorriu para si mesmo. Se tudo terminasse bem, ele sairia da prisão e terminaria sua pena sob custódia.
Era o mínimo que poderia fazer por ele e Thereza.
- Agora!
Um policial abriu a porta com um forte chute. Entrou. Atrás dele foram outras cinco e Miguel. Passaram se pelos menos dez minutos até voltarem frustrados, Miguel mais do que todos. A casa estava vazia. Nenhuma alma havia pisado naquele lugar pelos últimos quinze anos.
- Acalme-se Miguel. - Thompson pôs a mão sobre o ombro de Miguel. - Vamos encontrá-los.
- ME DEIXE! - Afastou-se num ímpeto. Apoiando os braços no balcão da velha cozinha. Pode ouvir os peritos buscando provas de que Boris havia estado ali com Tessa em algum momento. Imbecis.
Gary suspirou.
- Quando foi a última vez que tomou o remédio?
- Não preciso da droga do remédio. - Murmurou baixo.
- Miguel... Já conversamos sobre isso. Você precisa se manter lúcido se não.
Ele se endireitou de repente encarando Thompson nos olhos.
- Eu vou te dizer do que preciso. - Disse muito irritado. - EU PRECISO DELA! OUVIU?! - Apoiou as costas no balcão escondendo o rosto nas mãos. - Eu nunca vou me perdoar se algo acontecer com ela. Não vou.
Gary sentiu muita pensa ao vê-lo daquele jeito. Não sabia o que dizer ou fazer. As coisas estavam realmente difíceis.
Pegou o frasco em seu bolso e deixou-o ao lado de Miguel. O ruído fez com que o moreno o encara-se.
- Se realmente quer salva-la. Então, primeiro terá que salvar a si mesmo.
E saiu fechando a porta.
Miguel arregalou os olhos para aquela afirmação. Como? Pensou consigo mesmo ao segurar o frasco entre os dedos. O abriu e pegou um dos comprimidos, mas antes que pudesse colocá-lo na boca... Ele apareceu.
- Volte para o começo.
Miguel deu um passo para trás derrubando o frasco no chão este espatifou em mil pedaços.
- O que você quer aqui? - Disse num sussurro para a pessoa a sua frente.
- Volte para o começo.
A versão infantil de si mesmo sorriu maldosa e tirou uma faca de trás das costas... Deu dois passos para frente fazendo Miguel dar os mesmo dois para trás até bater o pé na parede.
- Volte...
- Onde?! - Sobressaltou-se. - Onde é o começo?!
- Volte para o começo.
E então foi esfaqueado por si mesmo no estômago. A dor foi real o suficiente para que fechasse os olhos e perde-se a força nas pernas, mas quando os abriu viu que estava sozinho e sem nenhuma ferida... No entanto, já sabia para onde ir.
Passou pela sala correndo ignorando os olhares dos peritos e policiais que ainda estavam ali. Gary até tentou correr atrás dele, mas não conseguiu.
Miguel subiu numa das viaturas, a chave estava na ignição. Ligou o carro e partiu em máxima velocidade.
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