Amor, Calibre 45 escrita por LastOrder, Luciss_M


Capítulo 24
Hysteria




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Penitenciária Saint Dominic Kai, Texas.

09/02/2010

3:00 AM

Embora não tivesse nenhum relógio a sua disposição ele sabia dizer que já haviam se passado aproximadamente oito horas desde que o toque de recolher fora dado e todos foram obrigados a sair do pátio comum e voltar para suas celas.

Miguel estava debruçado sobre a mesa velha de madeira terminando mais um de seus desenhos, a luz fraca da pequena lâmpada sobre ele era o único objeto que iluminava o recinto na madrugada chuvosa.

O lápis parou seu movimento inconstante quando uma sombra se espalhou sobre o papel. Suspirou fundo.

- Você está tampando minha luz.

Um riso feminino encheu a cela e se espalhou pelo corredor, mas ele sabia que ninguém mais poderia ouvi-la.

- Desculpe, mas você está tão concentrado nisso que fiquei curiosa. - Ele ergueu os olhos para a jovem ao seu lado. - É outro desenho meu?

E sorriu... Não podia acreditar em como sua mente consegui fazer uma cópia tão perfeita dela... Apenas para atormentá-lo ainda mais, para jamais fazê-lo esquecer. Os olhos, o sorriso, a voz... Tudo era simplesmente real demais...

- Você sabe muito bem que não é você.

Mas não era ela

- Ai, estamos mesmo irritados hoje... - Fez bico. - Acho que deviam te dopar menos vezes, você sempre volta nervoso e com essa cor vermelha horrível nos olhos.

Ele se levantou deixando o caderno sobre a mesa.

- Isso é porque eu espero não te ver de novo quando volto, mas você ainda continua me dando a honra de sua presença. - Disse seco e se dirigiu à pia enchendo-a com água.

Jogou o líquido gelado pelo seu rosto numa tentativa inútil de acordar daquele pesadelo ,tinha que fazê-la desaparecer. ... As gotas caiam do seu cabelo formando ondas sobre a superfície da água, distorcendo sua imagem.  .

Sentiu um aperto envolver seu corpo e a respiração quase debochada em seu ouvido, desta vez não fez nada para afastá-la.

- Parece tão abatido... - Sussurrou baixo. - O que fizeram com você dessa vez, meu amor?

Ergueu os olhos para vê-la pelo reflexo do espelho. Segurou com força na borda da pia, mesmo que soubesse que aquela não era a verdadeira Thereza, ainda doía tê-la tão perto de si. Um fantasma do seu passado pronto para assombrá-lo... Pelo resto dos seus dias.

- Não se preocupe, eu prometo que não vou te deixar sozinho de novo.

Miguel já quase nem ouvia o que ela dizia e muito menos percebia os dedos finos passarem pelos seus cabelos...

- Vamos ser muito felizes juntos.

Apenas se permitia mergulhar ainda mais na própria insanidade.  Levou a mão até o frasco de remédio sobre a pia e o segurou entre os dedos. Olhou sem ler as letras miúdas na bula; sabia o que aconteceria se toma-se mais do que quatro comprimidos ao mesmo tempo... A parada respiratória, a falência dos órgãos e depois... Finalmente...

Uma mão corada pequena segurou a sua, que já tremia pelo excesso de adrenalina em seu corpo. Apenas com aquele contato Miguel pareceu acordar de um estado inconsciente; seus olhos se focalizaram na garota a sua frente.

- T-tessa.

- Miguel? - Seus olhos quase chorosos praticamente partiram seu coração ao meio. - Você não me ama mais?

- O que?! Não seja tola, você sabe que...

- Então por que quer ir embora?

Ele engoliu em seco, segurou com, força o frasco em sua mão e fechando os olhos deixou que ele caísse num ruído oco ao se espatifar no chão.

- Desculpe.

Ela o abraçou com força escondendo o rosto em seu peito.

- Eu te amo tanto, Miguel.

Miguel acariciou os cabelos louros que caiam até a metade de suas costas.

- Eu também te amo.

(...)

Todos os dias os detentos  saiam para o pátio comum onde podiam tomar sol, se exercitar com os aparelhos de musculação enferrujados ou correr em volta da pequena quadra de futebol americano que quase nunca era utilizada.  Só tinham a permissão de sair os que apresentassem bom comportamento, os demais ficavam confinados em suas selas, ou pior, nas solitárias recebendo os calmantes fortíssimos que só serviam para pior seu estado mental.

E o sol era insuportável. Miguel odiava aquele sol terrivelmente forte que fazia sua cabeça latejar. Por isso ficava sentado num dos bancos de ferro sob um toldo perto do paredão que o separava da sua liberdade.

Seus olhos passavam por todo o pátio sem prestar muita atenção. Havia ali cerca de vinte prisioneiros, o mais velho, tinha 43 anos. Os guardas se escondiam na penumbra próximos a entrada com armas em mãos.

Parou sua inspeção rápida ao vê-la passar por entre as barras de levantamento de peso. Um risco vermelho cortava sua garganta e o sangue escorria do ferimento para o vestido branco . Seus olhos verdes o fuzilavam.

- Ei, Miguel! - Virou em direção a voz que o chamava e respondeu como se nada estivesse acontecendo.

- Finalmente chegou, Juan. Por que demorou tanto?

Juan era alto e moreno, seus olhos eram tão escuros quanto os cabelos. Havia sido pego no tráfico de drogas pela polícia do estado e, diferente de Miguel, tinha apenas poucos meses de vida.

Corredor da morte. Se ele soubesse que sua vida se transformaria nesse tormento teria feito o juiz rever sua pena...

- Você acha que é fácil? - Deu um sorriso debochado e sentou-se ao seu lado passando-lhe discretamente um maço de cigarros por debaixo da mesa. - Tsk, vocês assassinos são todos iguais, acham que são os melhores. Mas vou te dizer uma coisa, difícil mesmo é lidar com gene viva.

Miguel guardou o produto no bolso da calça e pôs um frasco de remédio na mão do americano. Levantou-se, não tinha mais nada para fazer ali.

- Então é bom torcer para que eu não me canse de lidar com você.

Disse sem olhar para trás ou esperar resposta. Entrou no prédio passou pelo refeitório que naquele momento ainda estava vazio e se dirigiu para o banheiro.

Trancou-se em uma das cabines e tirou de um bolso o cigarro e do outro o isqueiro, este, também adquirido graças ao "mercado negro" que ocorria dentro da penitenciaria. Aquilo que mais se desejava eram remédios, cigarros e drogas. E tudo se baseava na base da troca. Você tem algo que eu quero e eu tenho algo que você quer.

Felizmente para Miguel, as alucinações lhe garantiam um bom estoque de alucinógenos que podia também usar para sustentar seu mais recente vício.

Tragou lentamente e esperou alguns instantes antes de soltar a fumaça por entre seus lábios. Logo se sentiu mais calmo. Passou a mão livre pelos cabelos... Estava cansado. Olhou para o teto pensando em como ela estaria... Duvidava que já estivesse casada, mas talvez pudesse estar com alguém. Com certeza ainda estava no FBI ainda mais animada pro ter finalmente saído de baixo da asa do Thompson.

Riu daquele pensamento, já tinha pena dos coitados que deviam estar sob as ordens de Tessa.

Levou o cigarro a boca mais uma vez antes de apagá-lo e sair do banheiro onde havia se isolado por pelo menos meia hora. Andou pelos corredores até o refeitório; estava quase lotado, a fila para pegar comida era enorme.

Suspirou fundo e decidiu que iria voltar para sua cela e tentar dormir até o jantar. No entanto ,no caminho, foi abordado por dois guardas com cara de poucos amigos. Franziu o cenho.

- Em que posso ser útil? - Não tentou disfarçar a ponta de sarcasmo em seu tom de voz.

- Você tem uma visitas Owen, venha conosco.

Eles o algemaram nos pulsos e tornozelos e o levaram até uma ala separada dos prisioneiros cheia de salas pequenas onde eram recebidas as visitas. Um dos guardas entrou primeiro enquanto o outro permaneceu apontando a arma contra suas costas.

- Ele chegou.

Miguel entrou em seguida. E percebeu o quanto aquilo era estranho.

- Podem tirar essas algemas dele. - Disse o homem sentado numa das cadeiras.

- Senhor, para sua segurança recomendo que...

- Isso foi uma ordem! Desalgemem o detento agora!

E assim o fizeram antes de sair. Deixando claro que estariam do lado de fora esperando caso ocorresse qualquer imprevisto.

Miguel sentou-se na outra cadeira de frente para o visitante.

- O que faz aqui Thompson?

O velho policial suspirou fundo apoiando as mão sobre a mesa que os separava. Seus semblante estava cansado e preocupado. Levantou o rosto e olhou diretamente para os olhos de Miguel.

- Vou direto ao ponto Miguel... - Parou mais uma vez como se escolhesse as palavras certas. - Thereza foi seqüestrada e precisamos de você para encontrá-la.


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