Amor, Calibre 45 escrita por LastOrder, Luciss_M


Capítulo 16
One Last Breath I




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“ Mesmo com os olhos se fechando, deixando vencer-se pelo sono que teimava em leva-lo para o mundo das suas memórias destorcidas, ele ainda podia sentir os braços de Tessa o envolvendo num tênue abraço, seu coração batia junto com o dele, e seus cabelos dourados se esparramavam sobre seu corpo.

Desejou ser capaz de poder parar o tempo.

– Tessa? – Sussurrou quase dormindo de vez.

– Hmn... – Murmurou. Sem escutá-lo realmente.

– Acho que estou apaixonado por você.”

Hotel Bellagio, Las Vegas.

01/01/2008


A luz do sol entrou sem delicadeza alguma pela enorme janela de vidro batendo diretamente no rosto de Tessa. Sua cabeça latejou, seu corpo todo doía, parecia que havia sido atropelada por uma dúzia de caminhões.


Bufou frustrada e tornou a fechar os olhos, desta vez se virou para o outro lado da cama, contra a luz. Chegou à conclusão de que não estava em nenhuma condição de se levantar agora.


Só que nunca fora do tipo de pessoa que tinha facilidade em dormir, uma vez desperta não conseguia pregar o olho até que a noite chegasse. E isso, em momentos de ressaca, era uma grande inconveniência.


Abriu os olhos e deparou-se com o rosto de Miguel, muito próximo ao dela. Ele ainda dormia.


Uma expressão tão calma e serena predominava no rosto dele, que Tessa quase teve dificuldade em associa-la com o homem arrogante e prepotente que conhecia. Parecia tão indefeso. Ela sorriu para aquilo. Quem diria que Miguel podia ser fofo.


Seu sorriso foi sumindo à medida que seu cérebro começava a despertar realmente, e tudo ao seu redor era processado... O que Miguel fazia dormindo na mesma cama que ela? E por que ela não estava... Ah, Deus, ela não estava vestida! O que estava acontecendo??!! O que havia acontecido?!


O nervosismo só aumentou quando viu os olhos de Miguel começarem a se abrir e então...


Em algum lugar do centro de Nevada...

– Hã? – O velho fazendeiro olhou para o céu azul e quente. – Queriiidaaaa! Você ouviu isso?


A senhora saiu de dentro de um casebre com um pote de massa de bolo na mão.


– Ouvi o que?


– Esse grito.


– Não teve nenhum grito, continua trabalhando, folgado. – E voltou pra casa.


O velho deu de ombros e continuou seu trabalho com a enxada.


Seguindo...

Tessa pulou para o lado da cama, caindo no chão, levando alguns travesseiros e o lençol azul consigo. O enredou rapidamente em seu corpo, como se sua vida dependesse disso.


– Seu pervertido! O que está fazendo na minha cama?! – Suas orelhas queimavam tanto que achou que iriam começar a derreter a qualquer momento.


Miguel, que no susto havia caído no chão do outro lado da cama, pensou estar vivendo um pesadelo. Sua cabeça doía fortemente e não conseguia se mover direito, já que se enrolara todo no cobertor. Afinal, que ótimo jeito de acordar.


– Tessa... Por favor, fale mais baixo. – Pôs a mão na cabeça. Agora se lembrava muito bem por que nunca havia gostado de beber.


– Ora! Não me peça para falar mais baixo, Miguel! Você fica se metendo nas camas alheias e quer que fique por isso mesmo?!


Ignorou aquele último berro e o seguinte, Tessa estava fazendo um escândalo e ele nem sabia por que. Tentou fazer seu cérebro raciocinar, tentou se lembrar de qualquer coisa que havia feito na noite passada, mas suas memórias paravam no momento em que Tessa o levava para uma casa de jogos e dizia que ele era avarento demais, que devia apostar mais dinheiro e... Josy? Quem era Josy... Ah sim, a adolescente com quem quase se casara.


E o que mais...


– Não consigo lembrar de nada.


Tessa se calou de repente, ela tampouco se lembrava de muita coisa. Suspirou.


– De qualquer forma não há muito o que lembrar. – Falou num tom mais moderado. – Nós bebemos demais, chegamos e dormimos na mesma cama. Só isso. É... Só isso.


Miguel ergueu uma sobrancelha, será que ela realmente acreditava nisso?


– Tessa, lamento te contradizer, mas... Acho que dormir foi a última coisa que fizemos aqui. - Sorriu malicioso. – Se é que você me entende.


Thereza pegou os travesseiros e iniciou uma sequencia de lances em direção a Miguel.


– Seu atrevido! Como tem coragem de falar uma coisa dessas?!!


O fato dele só rir de sua ira contida a fazia ficar mais irritada, nessas horas tinha vontade de ter a coragem necessária para matá-lo de vez.


– Cuidado,Tessa, o lençol está escapando. – Anunciou entre uma travisseirada e outra. No instante seguinte, Tessa se encolhia toda sobre o tecido, segurando-o fortemente contra o corpo, corando até o ultimo fio de cabelo.


– Idiota. – Virou o rosto. – Odeio você.


Sorriu de lado, ela era tão engraçada quando ficava toda corada. Simplesmente não podia deixar de provocá-la.


– Claro que odeia. Eu sei bem o quanto.


Tessa o fuzilou com o olhar, de novo aquelas frases com duplo sentido. Se bem o conhecia nunca pararia de inferniza-la pelo que havia acontecido.


– Será que não entende. Miguel. – Falou seria. – Não podíamos ter feito isso! Eu tenho que prender você! Eu sou sua policial, não devia nem ter aceito fazer esse acordo!Eu não devia nem estar trabalhando!! – E se encolheu novamente. – Ah, Deus, estou perdida.


Miguel segurou uma careta. Vê-la daquele jeito o estava machucando, não queria que ela ficasse triste ou preocupada. Queria que voltasse a xingá-lo e dizer que o odiava, era mais cômodo, mais típico dela. E o fazia feliz vê-la vibrar no seu jeito espontâneo de ser.


– Thereza, pare com isso. – Ela o encarou. – Não seja tão exagerada. Somos dois adultos que beberam demais e foram para a cama, só isso.


– Mas...


– Só isso. – Cortou-a. – Mas se você se sentir melhor se eu for embora... – Fez menção de se levantar.


– Nem pense em se levantar! – Tessa impediu seu movimento.


– Ora, achei que fosse querer ficar sozinha agora.


– Eu conheço sua laia, Miguel. – Levantou-se. – Sei que vai fazer tudo o que puder para me deixar mais constrangida.


Encostou o cotovelo no colchão e apoiou a cabeça sobre a mão. Sorriu torto.


– É melhor ir se vestir logo, Tessa, o lençol é meio transparente.


Fechou as mãos em punho, contou até dez mentalmente e respirou fundo.


– Sabe, eu realmente devia enfiar uma bala no meio dessa sua cara de palhaço. – E virou as costas indo em direção ao banheiro enquanto ouvia o riso de Miguel. Não tinha idéia de qual era o problema dele.



(...)



Tessa sentou-se no chão frio no banheiro branco extremamente espaçoso. A água do seu cabelo pingava nas suas costas cobertas pela toalha felpuda. Sua cabeça parecia que havia parado de doer. Ela nunca teve tantos problemas com ressaca, sempre foi algo passageiro.


Fez bico e deixou a cabeça encostar na parede.


Fechou os olhos devagar, embora não se lembrasse de muita coisa da noite passada, ainda podia sentir os braços fortes de Miguel a apertando, a sua respiração em seu pescoço... Os beijos. Eram como flash's sem sentido, mas que bastavam para deixá-la arrepiada.


Suspirou fundo, balançou a cabeça. Sentia-se tão boba com tudo aquilo, parecia até uma jovenzinha apaixonada. Quase riu daquilo. Como alguém em sã consciência se apaixonaria por uma criatura arrogante, prepotente e infantil como Miguel?


Hmpf, ela não precisava disso. Não... Não precisava, o que ela mesmo queria era um jeito de pegar suas roupas que havia conseguido esquecer no quarto. Queria que de algum jeito elas se materializassem no banheiro para evitar ter que travar uma batalha moral com Miguel de novo.


Levantou-se e foi até a porta. Quais eram as chances dele ter saído para comprar algo para comer? Ou para fechar a conta? Ou para fazer qualquer coisa que fosse?


Mínimas, tinha que admitir.


Abriu a porta devagar e aquela última esperança que devia ser a ultima a morrer...


– O que está fazendo com minhas roupas?!


Acabou morrendo.


Ele estava sentado na cama, devidamente vestido, segurando um amontoado de roupas que, com certeza, eram dela. Tessa quis que a Terra se abrisse agora e a engolisse.


– Achei que fosse querê-las. – Disse inocentemente.


– Obrigada, pode trazer para mim? – Não sabia se teria coragem suficiente para sair de toalha e pegar as roupas por si mesma.


– Por que não vem pegar? – E sorriu. Aquele sorriso zombeteiro, malicioso, irônico. Como uma pessoa podia ter tantos sorrisos de uma só vez.


Ela sabia que a intenção de Miguel era provocá-la, deixa-la constrangida. Ele via um terrível prazer em fazer isso com ela, embora não soubesse o porque. Mas não daria mais esse gosto a ele. Pelo menos não sem lutar.


Com o mínimo de dignidade que lhe restava, saiu a passos firmes do banheiro, certificando-se que a toalha estava bem presa em seu corpo. Tirou as roupas de suas mãos com um gesto grosseiro e lhe deu um peteleco na testa.


– Idiota. – Murmurou voltando para o banheiro.


Miguel a observou até que a porta se fecha-se num baque ensurdecedor, mais uma demonstração de como estava frustrada, realmente, Tessa era tão fácil de se entender. E ao mesmo tempo tão difícil.


Jogou-se no colchão. Sua cabeça ainda doía com força,mas nem isso conseguia deixa-lo de mau humor perto daquela criatura fascinante que era Thereza. Fechou os olhos, queria se lembrar mais da noite passada, mais do que os fragmentos sem conexão que sua cabeça dolorida lhe passava.


Riu de si mesmo, estava ficando idiota.



(...)



Tessa saiu do banheiro alguns minutos depois, preparando-se psicologicamente para uma próxima rodada de provocações. Miguel estava impossível hoje. Caminhou até o meio do quarto e o encontrou deitado sobre a cama... Dormindo.


Sim, ele parecia mesmo estar dormindo.


Sentou-se na cama ao seu lado, evitando fazer o menor ruído. Gostava de vê-lo assim. Tinha vontade de acariciar aqueles cabelos escuros rebeldes, de afagar seu rosto com a mão... Era uma pessoa tão só.


Seus olhos desceram para as cicatrizes em seus ombros que podia ver pela gola larga da camisa. Tessa se lembrava vagamente da existência de muito mais daquelas marcas que cobriam suas costas e seu peito. Que tipo de maluco faria aquilo com o próprio filho?! Pensou na ultima lembrança que tinha da noite anterior.


Quando voltou a olhar para seu rosto, foi surpreendida por dois grandes olhos de gelo a encarando fixamente. Virou o rosto para que Miguel não percebesse a vergonha estampada na sua face.


– Você se lembra.


Não era bem uma pergunta.


– Desculpe. – Sussurrou, sabia que Miguel não gostava de dividir a historia de sua vida com ninguém. Nunca teria lhe dito nada se não tivesse bebido tanto.


– A culpa não é sua.


– Mas você não queria me dizer... Eu... Eu não devia me lembrar dessas coisas. Da sua vida...


Miguel a segurou pela mão e puxou-a para que se deitasse sobre ele. Abraçou seu corpo e fundou o rosto em seus cabelos dourados, inspirando aquele cheiro tão dela.


O coração de Tessa bateu descompassado, estava tão confusa. E surpresa. O que havia acontecido com Miguel nesses poucos minutos que o deixara sozinho? Será que isso também era só mais um joguinho para irritá-la? Não... Não podia ser.


– Eu não me arrependo de ter te contado sobre quem eu sou. – Disse. – Mas não quero que sinta pena de mim.


Tessa deu um sorriso pequeno e se acomodou melhor no abraço, segurou a camisa de Miguel com força, fechou os olhos. Sentia-se tão segura ali que poderia dormir tranqüilamente.


– Você se lembrou de algo? – Perguntou, buscando algum motivo para aquela mudança repentina.


Miguel fechou os olhos e aquele pequeno fio de memória voltou a sua mente mais uma vez.


“Acho que estou apaixonado por você”.


– Não. – Mentiu.


Ele devia ter mesmo bebido muito noite passada.



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Notas finais do capítulo

Ainda vai ter a segunda parte desse cap.Então não percam.Bjs



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