Comentários em Testamento

Yokichan

20/10/2018 às 18:34 • Capítulo Único
Olá!
Que ótimo poder ler mais uma história tua! As leituras que venho fazendo dos teus textos são sempre experiências bastante surpreendentes e que realmente mexem com os sentidos. Não se trata apenas de "ler com os olhos", superficialmente, mas de ser tocado pela narrativa. E essas experiências de leitura nos fazem pensar sobre um bocado de coisas.
Por exemplo, eu também sinto um pouco dessa revolta e desse desprezo do narrador pelo que a sociedade transformou o Natal. Não sou praticante de nenhuma religião e nem acredito no Deus da Igreja Católica, mas penso que, já que temos o Natal como uma celebração tão importante, ele deveria nos fazer retornar a sentimentos de comunhão, de amor ao próximo, e não ser utilizado como marketing pra vender. Pra grande parte das pessoas, o Natal apenas significa que você precisa comprar presentes, que vai comer aquelas coisas típicas e que tem o Roberto Carlos pra assistir na TV (ou seria no Ano Novo? HAHAHAH). Realmente, temos vivido tempos de uma banalização cada vez maior. Fazemos coisas sem entender o motivo. Nos apegamos ao material e esquecemos do espiritual. Então eu achei maravilhosa aquela frase onde você diz que "Jesus Cristo foi trocado por um velho gordo vestido de vermelho". O peso que essa frase teve na leitura foi sensacional.
Outra coisa em que esse texto me fez pensar foi no extremismo que estamos experimentando na nossa própria realidade. Parece que as pessoas chegaram a um limite perigoso, em que a única solução possível é a violência como forma de colocar as coisas nos trilhos novamente. Isso tem me assustado bastante e acho que teu texto surgiu num momento muito propício. De repente, endireitar a sociedade desviante pela força, não importa sobre quem tenhamos que passar, tornou-se algo muito bem aceito... Acho que o protagonista aqui, meio que segue por esse caminho.
Ah, não posso deixar de falar que, em algum momento da leitura desse conto, me vi ouvindo a voz do Cabo Daciolo nesse personagem, HAHAHAHHAHAHA. Horrível, eu sei, mas o discurso dele sobre Deus e sobre ser o escolhido para esse tipo de missão me lembrou muito esse maluco, HAHAHAHAH. Bom, de certa forma, o final foi bastante cômico, o que ficou até coerente com a minha visão do Daciolo aí, HAHAHAHA. Aliás, sobre o final, FOI MUITO UAU. Nunca imaginei que fosse acabar assim, com o protagonista sendo enganado de forma tão lamentável, HAHAH. Eu estava até pensando que, no final da transmissão (se houve mesmo transmissão), ele detonaria as bombas e tudo iria pelos ares, mas aí o texto não seria digno de um autor como você, que sempre surpreende a gente da forma mais inusitada, HAHAHAH.
Incrível essa curva absurda (no bom sentido) que a narrativa fez. Durante 80% do texto, predominou um tom sério que ameaçava tornar-se trágico, mas, no fim, a gente acaba a leitura quase rindo do desfecho ridículo (novamente, no bom sentido HAHAH) que o protagonista teve. É tipo quando você quer roubar um doce do prato do seu irmão e diz "OLHA LÁ, UM GATO VOADOR", a pessoa olha e você têm êxito no furto, HAHAHAHAH. Eu já disse isso algumas vezes, mas uma das coisas que me instiga a ler tuas histórias é esse jogo entre coisas muito distintas que tu faz, colocando dicotomias e paradoxos em questão.
Enfim, adorei a leitura. ♥
Parabéns pelo conto e pelo talento incrível.
Até!


Resposta do Autor [Oliveirando]: Heeey! Antes de mais nada, quero pedir desculpas pela demora para respondê-la. Vai parecer repetitivo, mas essas duas últimas semanas foram uma loucura e só agora pude respirar. Então vamos ao comentário :D
Eu fico feliz demais em poder escrever mais e mais. É um momento catártico bem pessoal e eu me sinto verdadeiramente livre. É quase que indescritível hehehe. E é engraçado que, muitas vezes, não pensamos nas mensagens que nossas histórias passam enquanto escrevemos. Eu, ao menos, estou sempre mais interessado na história em si do que em qualquer mensagem subliminar. Pode ser até meio egoísta da minha parte, mas eu realmente amo as histórias pelo que elas são, ainda que eu saiba que sempre tem uma grande carga de informação por trás. E muitas vezes eu vejo as mensagens internas das minhas próprias histórias só após escrevê-las. Acho que viajei nesse parágrafo, mas você vai entender HAHAHAHA.
Eu sou Católico, então o Natal tem um significado realmente impactante para mim. E é bem triste ver pessoas que supostamente seguem essa linha de fé e basicamente se esquecem do símbolo de todo esse "ritual", digamos assim. Não sei se tu sabe, mas psicologicamente os rituais (falo isso de uma maneira geral, indo de aniversários, formaturas e até o Natal em si) são importantes para que sejam criados "marcos" na nossa mente, meio que guias e lembretes de quem somos, do que passamos e conquistamos. Um dos rituais mais importantes ao longo da história humana é o ritual fúnebre (que aí varia de uma cultura para outra, logicamente), pois ele marca a despedida de um ente querido e, psicologicamente, coloca um "ponto final" em uma história. Sei que parece doido, mas tudo isso tem alguma importância. Da mesma maneira, o Natal e outras celebrações tem sua importância psicológica para aqueles que acreditam. E você colocou muito bem em seu comentário que é meio triste ver o que o ritual se tornou para a maioria das pessoas.
Extremismo nunca é bom. Acho interessante ver também que o conceito de "extremo" pode ser facilmente manipulável. Não é algo abordado nessa história, mas é interessante notar que, para quem está em um extremo, qualquer posição mediana se torna "extrema". Falei "extremo" muitas vezes nesse parágrafo, que coisa extrema HAHAHAHA.
Eu pensei no protagonista como Jared Leto parecendo Jesus, mas assim, preferi não descrevê-lo pra dar liberdade ao leitor. Espero não ter estragado sua visão dele HAHAHA. E olha, o final foi a coisa mais difícil de ser definida. Esse texto por si só foi uma complicação para ser feito, sem brincadeira. Primeiro, eu queria fazer algo em terceira pessoa e focado na investigação da polícia e afins. Depois, decidi partir do olhar do maluco. Então retornei para a polícia e apaguei o texto umas três vezes até finalmente chegar no resultado que você leu. Acredite, não foi fácil HAHAHA.
No fim, eu resolvi realmente dar essa "quebrada" na expectativa. Foi a ideia da cena de "Deus" falando com o maluco que me fez decidir pela narração em primeira pessoa, misturando a percepção distorcida dele com a realidade e mostrando a idiotice de uma mente extremista. Ainda que aguerrido e dedicado em relação às suas crenças, o protagonista foi facilmente enganado baseado naquilo que ele tanto nutria e acreditava. Irônico, não? De toda forma, fico MUITO feliz em saber que você gostou desse final com um quê de cômico.
"Eu já disse isso algumas vezes, mas uma das coisas que me instiga a ler tuas histórias é esse jogo entre coisas muito distintas que tu faz, colocando dicotomias e paradoxos em questão." Eu tô aqui só pra confundir HAHAHAHA. Obrigado por isso, sério ♥
Pela décima vez: muito obrigado por esse textão lindão! Sei que demorei demais para dar a merecida resposta, mas saiba que faço isso de coração. Espero poder voltar a escrever em breve (sim, "O Justiceiro" vai demorar mais do que pensei x.x) e contar com seus comentários mais que brilhantes ♥
Até!