Embora não quisesse admitir, Lúcia estava cansada. Edmundo olhava Mabelle de quando em quando, tentando disfarçar, mas sem muito sucesso. Catherine estava um pouco brava com Pedro, por culpa de sua personalidade instável. Nunca vira o garoto sendo tão rude e arrogante. A rainha Susana nunca fora sua preferida, mas Cathy estava caminhando ao seu lado e não agüentou mais; decidiu perguntar para a garota:

              -Susana, pela juba do leão, o que aconteceu com Pedro?

            A rainha a encarou confusa, sem saber exatamente o que ela quis dizer:
              -Como assim? - perguntou estreitando os olhos.

              -Pedro não era arrogante desse jeito da última vez - Cathy murmurou. - Agora ele parece um garoto prepotente, orgulhoso e mimado, acha que manda em tudo.

              -Ele manda de certa forma...

              -Não renegue sua autoridade, Susana. Ele é rei, mas nós também somos. Com essa arrogância toda ele deve estar se achando o próprio Aslam!
            Edmundo, que nesse exato momento passava por ali, murmurou:

              -Acredite em mim, ele não está muito diferente desde que você desapareceu. É claro que ele piorou muito quando voltamos para Londres - e acrescentou imitando o irmão: "Eu não era uma criança, há um ano! Somos reis! Blá blá blá!".

            Mabelle começou a rir. O garoto olhou para ela e sorriu, se alegrando por tê-la feito rir. Cathy rolou os olhos e Lúcia sussurrou para ela:

              -Acha que quando crescer, eu vou entender isso?

            Cathy reprimiu o riso e respondeu com certo ressentimento entalado:

              -Nem mesmo eu entendo como isso funciona direito, Lu.

            Continuaram andando para chegarem ao rio Rush. Trumpkin, o anão, não gostava da ideia de voltar para lá. Não queria nenhum pouco se jogar de um penhasco para achar o leão Aslam. Para ele, aquilo não passava de uma grande estupidez.
              "Eu esperava mais desses reis" pensava ele.

            Continuaram andando até que chegaram à conhecida foz do rio Rush. Ficaram calados por um tempo, encarando o penhasco e o rio correndo violento muito abaixo deles. Pareciam estar ponderando se era uma boa ideia. Cathy, com a mão no punho de sua espada, olhava em volta até que perguntou:

              -E então? Vamos ficar parados aqui ou vamos salvar Nárnia?

            Pedro pareceu dar-se finalmente por vencido, o que deixou Cathy com vontade de rir. Ele olhou para Lúcia:

              -Onde você o viu? – Perguntou Pedro humildemente a sua irmã mais nova

              -Eu achei que não íamos nos jogar do alto de um penhasco atrás de alguém que simplesmente não existe – Ironizou Catherine recebendo um olhar de Pedro

              -Bom, acho que Lúcia estava exatamente aqui quando... – Falava Mabelle dirigindo-se em direção ao local em que Lu tinha visto Aslam quando tropeçou e teria caído precipício abaixo, não fosse Edmundo tê-la segurado pela cintura. Ele a havia puxado com tamanha força que ambos caíram de costas no chão.

              -Por Aslam! – Exclamou Susana – Se Edmundo não estivesse prestando bem atenção nela, nem gosto de pensar no que poderia ter acontecido.

              -De fato, você tem toda a razão – Concordou Cathy com um sorriso malicioso

              -Obrigada, Ed! – Agradeceu Belle ainda no chão

              -Ah, não foi nada... – Respondeu Edmundo constrangido e ajudando-a a se levantar

              -Mas já que graças ao Edmundo todos estão sãos e salvos... – Falou Catherine – Lúcia, onde foi que você viu Aslam?

              -Ele estava logo ali... Ahhhh! – Gritou a garota quando o solo facilmente cedeu sob seus pés, fazendo-a cair num caminho no qual se podia descer o penhasco com segurança.

              -Edmundo, por favor, acompanhe Mabelle. Talvez seja mais seguro para ela descer tendo-o por perto. – Sugeriu Pedro também entrando na brincadeira, antes que os outros se pusessem a descer

Então todos percorreram a ladeira que os levava para o rio ao fundo do despenhadeiro. Atravessaram o rio pelas pedras, e depois de caminharem mais um pouco pela mata pararam em uma clareira e logo decidiram ascender uma fogueira, pois já era quase hora do crepúsculo. Organizaram uma refeição constituída de peixes fritos que haviam conseguido pegar e algumas frutas que todos comeram em silêncio e logo foram dormir.

            Enquanto o grupo dormia, Lúcia teve um sonho. Em seu sonho, ela acordava por ter escutado um barulho vindo da floresta, então respirou fundo levantou-se e seguiu bravamente e não hesitante em direção a mata. Depois de alguns passos, ela viu as arvores se inclinarem de tal forma que era como se quisessem abrir passagem para que pudesse passar, e também ouviu as singelas risadas e canções das dríades em borá não fosse capaz de vê-las.

            Depois de andar mais um pouco, finalmente sentiu aquela presença e então encontrou Aslam. Como não pôde resistir, correu para ele e abraçou aquela majestosa juba dourada.

              -Aslam! Senti tanto a sua falta! – Exclamou a garota – Você cresceu!

              -Para cada ano que você cresce eu também cresço. – Respondeu com um belo sorriso

              -Mas porque o senhor não nos veio ajudar como da ultima vez? – Perguntou Lúcia

              -Minha querida, nada acontece duas vezes da mesma maneira... – Falou o Rei dos reis com uma voz serena

            Um estalo fez com que Lucia despertasse de seu sonho, e seguisse para a mata, exatamente como sonhara. Contudo a floresta estava parada, sem vida e silenciosa. Tudo o que se podia ouvir era o vento gélido que batia nos cabelos da garota. Quando ela chegou na altura em que havia encontrado Aslam, chamou seu nome.

              -Aslam?

            A voz da garota fora rapidamente suprimida por uma mão grande e gelada.                 Era seu irmão mais velho, que agora fazia um sinal para que a irmã permanecesse em silêncio.

            Então desembainhou sua espada, e se ergueu sendo imediatamente atacado por um jovem guerreiro de aparência hispânica. O Grande Rei reagiu instantaneamente desferindo vários golpes, fazendo com que a espada de seu oponente escorregasse de sua mão, porém ao tentar golpear-lhe a cabeça Pedro conseguiu encravar a sua própria espada no tronco de uma arvore que estava logo atrás do outro rapaz.  O desconhecido aproveitando a chance chutou-o para longe a fim de tentar desencravar a espada, e enquanto fazia isto Pedro agachou-se pegou uma pedra bem afiada e quando iria finalmente abater seu adversário uma voz aguda o interrompeu:

              -PELA JUBA DO LEÃO, PEDRO! – Gritou Catherine vinda na direção deles juntamente com o resto do grupo – O que você pensa que está fazendo?