Ele me contou sua trágica história.

Seus pais eram muito pobres, pobres a ponto de servirem de ‘cobaias’ para garantir seu sustento.

Eles se mudaram para a mansão de um ‘doutor que estava criando um novo remédio’. O trato era o seguinte: ele oferecia moradia, comida e um pouco de dinheiro; e eles o corpo.

Este doutor na verdade estava à procura de seus órgãos e não de seu voluntarismo.

Então, este ‘doutor’ os fez assinar um contrato que dizia que se algo acontecesse com suas vidas (falecimento), ele poderia ficar com seus órgãos.

Uma espécie de contrato que garantia a posse do corpo por inteiro. Detalhe: da família INTEIRA.

Assim era só os envenenar pelas injeções que dizia ser uma ‘forma diluída do remédio’.

Os pais faleceram, e tiveram os órgãos retirados.

Os garotos foram levados a um orfanato,e só sobreviveram porque seu sistema imunológico era mais forte do que os dos pais.

Seu irmão logo atingiu a maturidade e saiu dali. Prometeu que voltaria para pegar o garoto... Mas, então o pegaram e vingaram o contrato.

-Aposto que deve ter morrido como mamãe e papai...Lembro-me deles delirando,tendo convulsões,tossindo sangue e finalmente morrendo...

-Deve ter sido difícil para você garoto.

-Sim.Como se não bastasse,ele ainda fez questão de tirar os órgãos deles na minha frente.

Era estranho como ele falava sobre a morte de seus pais...Sua fala era carregada de frieza.Eu gostava daquilo.

-Queres ver teu irmão?

Sem dizer nada ele me seguiu até a cova.

-Podes me deixar sozinho?

Disse ele ao olhar para a lápide vazia.

-Sim, estarei lá dentro.

Entrei e peguei o retrato de minha amada.

“Veja, Caroline.Atendi ao último pedido de alguém.Acho que não sou tão incompetente assim,não é?”

Comecei a pensar como estaria agora Caroline se estivesse viva...Os filhos que agora teríamos,da casa que viveríamos...

“Oh, Caroline! Porque me deixaste querida?Tu eras tão bela moça...Não merecias aquele fim...”

O barulho da porta me tirou dos meus devaneios.

-Perdão. Atrapalhei-te?

-Não.

Ele tentou falar algo, hesitou. Mas logo proferiu suas palavras.

-Tu não falaste o teu nome...

“É mesmo...”

Não o revelei nem para você querido leitor(a).E você acha que o revelei para ele?

-Me chame de Cristopher.

Nome falso.

-Tenho que mudar meu nome...

-Por quê?

-Porque senão aquele doutor vai me achar. E vingar o contrato.

-Só o nome não basta...Teu cabelo e o rosto terão que mudar também.

O ajudei a cortar o cabelo...Agora,este,se encontrava curto e com a franja acompanhando o resto do cabelo.

Também o ajudei a escolher um nome:Stanley.Um tanto estranho,mas este foi o único que lhe agradou.

Bem,o rosto...

-Corte-o.

-Como garoto?Enlouqueceu?

-Isso,ou queimá-lo.

Ele me entregou um canivete e indicou o local do corte:na bochecha direita.

Um grande corte,que ia da orelha até o queixo.Grande desperdício com um rosto tão belo...

O corte demorou algumas semanas para cicatrizar.Logo após terminada a transformação ele pediu minha opinião.

-Então?
-Irreconhecível.

-Ótimo.

-Pronto para aprender a cavar covas,Stanley?

-Sim.