Ao chegar à casa dos Hale naquele dia, Bella reparou mais uma vez em um movimento incomum.

- Bella querida, você vai ter de ajudar a Mary a limpar a sala, eu dou um jeito aqui na cozinha. A Sra. Hale vai receber convidados, mais amigos do Sr. Jasper que vêm para o almoço e ela quer a casa brilhando. – Sua mãe disse logo que avistou a garota. Bella suspirou, pegou o balde e partiu para a sala de estar. Mary já estava limpando ali.

- Você pode limpar a biblioteca, eu não fui lá ainda. – Mary falou sem nenhum cumprimento prévio. Estavam todos com os nervos à flor da pele hoje.

Bella se dirigiu até a biblioteca e se ajoelhou para começar a lavar o chão. Estava nesse trabalho havia uns cinco minutos quando a porta se abriu.

- Desculpe, não sabia... – Era Edward. – Bella?

- Edward! – Ela se levantou depressa, estava feliz por vê-lo mais cedo hoje.

- O que você está fazendo? – Ele perguntou impetuosamente.

- Limpando o chão, como eu faço sempre. – Se bem que ela se limitava à cozinha sempre.

- Ah, não quero atrapalhar então. – Edward falou constrangido. Ele havia esquecido que ela era uma das empregadas da casa depois de todas as suas conversas.

- Você não está atrapalhando. – Na verdade estava, mas Bella não queria dizer isso.

- Estou sim. Podemos nos falar mais tarde. – Edward sorriu e saiu do cômodo, deixando-a sozinha.

A garota limpou o chão, os móveis, os livros e voltou à sala de estar.

- Precisa de mais alguma coisa Mary? – Bella perguntou para a empregada, que ainda estava atarefada com o maior cômodo da casa.

- Só falta a sala de jantar. – Mary falou levemente mal-humorada.

- Estou indo. - Bella se dirigiu à sala de jantar e voltou rapidamente à cozinha para terminar o almoço junto com a mãe.

Algum tempo depois Mary apareceu muito suada e cansada.

- Pode me ajudar a servir o almoço Bella? Acho que não vou dar conta. – Ela perguntou.

- Claro, se puder me emprestar um dos seus uniformes. – Bella assentiu. Ambas trocaram de roupa e esperaram a ordem da Sra. Hale. Ouviram quando a porta bateu e a Sra. Marshall, a governanta, atendeu-a.

Haviam vozes animadas na sala e durante algum tempo apenas conversaram. Pouco depois a Sra. Marshall apareceu na cozinha e ordenou que servissem a comida.

Bella e Mary se encarregaram da tarefa rapidamente. Além de Edward e seu irmão, havia mais visitas na mesa do almoço. Dois homens que Bella já havia visto na cidade, mas que não sabia direito quem eram, apenas sabia que eram jovens senhores proeminentes e importantes.

Fizeram tudo em silêncio, Bella freqüentemente lançando olhares a Edward, que retribuía sem sorrir. Talvez não quisesse ser indiscreto.

Depois do almoço todos foram para sala de estar, que estava brilhando de tão limpa. Mary podia ser muitas coisas, mas era uma boa empregada.

Ambas ficaram a um canto da sala, como a Sra. Marshall ordenara, esperando para serem úteis quando necessário. Muito tempo depois voltaram à cozinha e finalmente se sentaram. As pernas de Bella doíam por ficar tanto tempo de pé. Mas ela não poderia ter muito tempo de descanso. Mais para o final da tarde elas tiveram que servir o chá.

- A companhia das doces senhoras é muitíssimo agradável, mas cremos que um momento apenas para homens se faça necessário. – Um dos senhores, que tinha um cabelo loiro, falou.

- Claro, achei que esse momento chegaria. – A Sra. Hale sorriu.

Os rapazes levantaram-se e beijaram as mãos da Sra. e da Srta. Hale, e em seguida saíram do aposento para o vestíbulo. Mary correu a alcançá-los para entregar-lhes as capas e os chapéus. Bella fez o mesmo. Então saíram os cinco para a rua. Mary se recostou na parede e suspirou, cansada. Olhou para Bella e para a parede.

- Ah não. O Sr. Cullen esqueceu o chapéu. Bella, vá atrás e o entregue para ele, por favor. – Mary pediu quase chorando. Mesmo que Mary não tivesse pedido, Bella iria só para ver o Edward mais uma vez.

A luz que vinha do sol estava alaranjada com o avançar da hora. Viu-os atravessando o pátio para entrar na carruagem de alguém.

- Edward! Edward! – Ela chamou para que ele se voltasse. Em realidade os cinco se voltaram para ela.

- Ora, como se atreve! – Bradou o senhor loiro que falara na sala. – Chamar um senhor pelo nome e ainda mais em plena rua. Que tipo de servente é você garota?

- Eu... – Bella corou furiosamente.

- Não seja tão cruel James! – Disse o outro senhor que Bella não conhecia, que tinha cabelos muito pretos.

- Mas se não formos cruéis elas nunca aprendem! – James falou imperiosamente. Bella olhou para os outros três. Jasper a olhava com a testa franzida, Emmet Cullen a olhava curioso, mas Edward meramente encarava o chão. Ela se recompôs.

- Sinto muito. O Sr. Cullen esqueceu o chapéu. Perdão pela inconveniência. – Ela falou e se voltou sem pedir licença, querendo esconder as lágrimas de humilhação que agora ardiam em seus olhos.

É claro que Edward não queria que ela o chamasse pelo nome na frente dos outros. Era apenas quando estivessem sozinhos. Fora burra em imaginar que pudesse haver uma amizade verdadeira entre pessoas de classes tão diferentes.

Na verdade ela agora via realmente que Edward talvez estivesse apenas tentado concretizar o desejo que expressou na primeira vez que lhe dirigiu a palavra. Queria Bella para sua cama, mas nunca para sua mesa.

A garota se sentiu péssima ao voltar para a casa. Ficou amarfanhada na cozinha pelo resto da noite. O jantar foi servido apenas para as duas senhoras da casa, já que os rapazes ainda não haviam voltado.

Bella foi para casa se sentindo cada vez mais idiota. Lembrava-se de cada vez em que se encontrara com Edward e percebia as segundas intenções por trás de cada gesto. Se bem que isso poderia ser sua imaginação trabalhando por causa da raiva, mas era nisso que ela acreditava.

Edward não queria que James tivesse tratado a Bella daquele jeito, mas também não conseguiu defendê-la. Sentiu-se péssimo pelo ressentimento que entreviu em seu rosto quando a garota se afastou. Queria voltar pra a casa, para conversar com ela, pedir perdão, mas os rapazes o seguraram. Queriam uma verdadeira noite de homens, regada a muita bebida e várias prostitutas. Não via como deixá-los sem parecer mal educado.

Quando voltaram para casa, quase com o dia amanhecendo, já não dava mais tempo de encontrá-la. Deitou-se quase desmaiado na cama. Acordou com as batidas da governanta em sua porta. Era hora de se levantar, partiria em breve.

Sabia que Bella em geral se limitava à cozinha e pediu a Mary que a chamasse.

- Sinto muito Sr. Cullen, Bella não veio trabalhar hoje. A Sra. Swan disse que ela acordou febril. – Mary respondeu surpresa com o súbito interesse. Edward ficou decepcionado. Agradeceu e se afastou.

Mary estava voltando para a cozinha quando a Srta. Rosalie a chamou a um canto. Estivera ouvindo a conversa dos dois. Rosalie estava muito interessada no Sr. Edward Cullen e não gostava dos encontros secretos que ele tinha com a Swan. Ela já havia ouvido um deles escondida e ele parecera muito interessado na garota que era apenas uma pobre coitada.

- Você sabe por que o Sr. Cullen está tão interessado na Srta. Swan? – Rosalie perguntou para Mary.

- Não senhorita. Eu nuca vi os dois juntos. – Mary respondeu com sinceridade.

- Obrigada. – Rosalie falou.

Não devia se preocupar. A garota era apenas uma empregadinha e seria assim pra sempre. Ela era rica, bela e bem educada. Só havia uma escolha possível ai. Ela riu com a própria maldade.

Se bem que... Se bem que até agora Edward não se mostrara interessado em sua beleza. O único que demonstrava interesse nela era o Emmet Cullen, mas ela estava cansada de homens caindo aos seus pés. Nunca dera intimidade a nenhum. Mas Edward... Era ele que Rosalie queria.

Naquele dia Bella acordou totalmente suada e um tanto febril. Sua mãe a mandou ficar em casa. Ela não quis ficar, a princípio. Sabia que aquele era o último dia de Edward na casa e queria vê-lo pela ultima vez. Mas depois se lembrou da humilhação que passara e que ele não fez nada para impedir, e se sentiu enjoada. Não, não queria vê-lo. Apenas faria com que a dor aumentasse.