O Cisne Branco escrita por anonimen_pisate


Capítulo 20
Capítulo 20




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P.O.V – Hellena di Fontana

O feriado de fim de ano estava chegando, e todos pareciam animados com o natal. As preparações para a dança estavam praticamente terminadas, e Quenn estava alegre.

As danças de fevereiro estavam suspensas por um certo tempo, vínhamos ensaiando febrilmente, mas agora tínhamos de ceder lugar aos outros dançarinos.

Sai do campus, aliviada de não ter de passar o dia inteiro lá. Alec havia ligado para mim, e marcamos de nos encontrar na piazza magiore, e de lá iríamos sair, dar uma volta.

Passei por duas ruas que se cruzavam, entre o campus de dança e de musica, e mãos quentes como fogo seguraram meu braço, me puxando para dentro de um beco.

Abri minha boca para gritar, mas minha lerdeza humana, fez com que uma mão tapasse ela antes que eu pudesse dizer um ‘a’.

-Me solta! – disse com a voz abafada pela mão.

-Não grite. Sou eu! – Dacra apareceu em meu campo de visão.

-Agora você aparece! – falei depois que ela me soltou.

-Como assim? – franziu o cenho.

-Ontem de tarde, uma súcubo me visitou. – sibilei.

-Quem? Como?

-Eu estava sentada, e no instante seguinte, havia uma súcubo dentro da minha cabeça, fazendo o vento me cortar e pedindo para eu contar algo que não tenho a mínima idéia do que seja!

-Quem era a súcubo?

-Uma tal de Katherine, acho que o elemento dela era o do ar. – dei de ombros. Dacra entreabriu a boca, e escancarou os olhos.

-Ka-Katherine? – gaguejou.

-Isso mesmo, a princesa.

-Pela criadora. – me deu as costas.

-Aonde você vai? – segurei o braço dela.

-Preciso ir, e tome cuidado Hellena! Muito cuidado. – me advertiu e sumiu no meio de labaredas amarelas, como se chamas a consumissem.

Deixou um piso marcado de preto e um cheiro de fogueira e lenha para trás. As cinzas negras sujaram meus sapatos de saltos altos e veludo cinza claro.

-Droga... – murmurei tentando limpa-los.

Sai da viela suja, e tomei o caminho de ida para a praça. Suspirei passando a mão por meus cabelos, uma grande mania minha.

Dacra me deixou mais paranóica do que eu já estava, claro que eu sabia que tinha que ter cuidado, mas depois da advertência dela, me senti pior ainda.

Quando cheguei à praça central, Alec já estava lá, parado de braços cruzados, apoiado na barra de um grande ringue de patinação no gelo. Já haviam montado há algum tempo e eu não tinha patinado ainda.

-Oi. – cumprimentei ele com um aceno de mão, sem tirar os olhos do ringue.

-Ola Hellena. – ele me puxou para um beijo, me entorpecendo com seus lábios macios e doces. Quando se afastou eu fiquei parada esperando por mais, me sentindo uma Bella estúpida. Ele olhou por sobre o ombro.

Vários garotos e meninas patinavam desengonçados.

-Quer tentar? – ergueu uma sobrancelha sorrindo.

-É um desafio? – repeti seu gesto.

-Talvez.

-Se eu ganhar, você me dá o que?

-Estamos apostando algo? – colocou as mãos na minha cintura.

-Quer apostar algo? – pus minhas mãos em seus ombros.

-O que você tem para oferecer?

-O que você quiser. – disse ousada.

Ele sorriu tentado.

-E o que você tem para oferecer? – repeti sua pergunta.

-O que você quiser. – disse em mesmo tom.

-Eu tenho de fazer o que mesmo?

-Patinar.

-Sabe que vai perder.

-Não me importo.

Sorri junto com ele indo ate a bilheteria. Alec insistiu em pagar, e entramos juntos para pegar os patins.

Calcei o meu, e apertei bem os cadarços. Andando como um pato tonto, me posicionei para a pista. Ele olhou para mim sorrindo. “Tem certeza?” formou as palavras com os lábios em silencio.

Revirei os olhos, e peguei impulso, entrando no chão de gelo deslizante.

Comecei a me aquecer dando voltas, girando, andando de costas – nossa como demorou para eu aprender a fazer isso! – fiquei lá, deslizando sozinha.

Ele ficou parado, com um ótimo equilíbrio me analisando de longe.

Rodopiei ate ele, e peguei suas mãos.

-Esta com medo de ralar o joelho? – zombei.

-Ok. Você ganhou. – falou.

-Nem comecei ainda.

-Mas já ganhou.

Eu ri.

-Ah, e obrigada pelos gatinhos.

-Não ganhou nada de agradecimento?

Me puxou para outro beijo.

-Qual o nome delas? – murmurou com a boca na minha.

-Aubrey, Eponine e Satine.

-Satine de novo? – ele parecia não gostar daquele nome.

-Eu adoro Moulin Rouge. E a Nicole Kidman é perfeita. Tem a voz linda.

-Você também.

Puxei ele pela mão, e começamos a andar um ao lado do outro de mãos dadas. As pessoas a nossa volta nos encaravam, talvez pela beleza de Alec, ou talvez por minha grande experiência nos patins.

Esta ficando convencida Hellena.

É o que da ter o garoto mais lindo de toda a Itália comigo...

-Hugh. – gemi.

-O que foi? – ele perguntou.

Fiquei de frente para ele, ainda segurando suas mãos, e indo de costas.

-Me sinto aquelas personagens terrivelmente chatas dos livros. As que são perfeitas, as que sempre são escolhidas, tem tudo, todos os caras, e sabem fazer tudo bem.

-Já tinha dito isso outro dia desses.

-As meninas gostam de Bella, por que... Bem... Ela era uma... Fracassada. Uma garota sem nada, nenhum atrativo, nenhum talento, ela era desastrada, não era loira nem tinha olhos azuis, nem um corpinho perfeito, apenas a cabeça fechada para o Edward.

-Você não é loira e não tem olhos azuis.

-Mas eu tenho o cara. – ele revirou os olhos. – Eu sei dançar, a Bella odiava dançar. Eu sei tocar, cantar, pintar, eu sei tudo! E isso é chato, porque parece que estou me achando. – bufei.

-Você só sabe essas coisas porque seus pais gostavam disso.

-E não faz sentido eu saber fazer tudo. E ter o mocinho.

-Não sou um mocinho. – ele parou bruscamente. – Fala como se os Volturi fossem os bons, e não os vilões.

-Você se acha um vilão?

-Sim.

-O seu trabalho, é um trabalho de vilões?

-Todos crêem que sim. Todos nos temem.

-Só porque vocês são poderosos.

-Porque você não gosta do Jacob ou do Edward? Os principais daqueles livros? – voltou a andar. – Porque não pode ser normal?

-Quer que eu seja normal? – me exaltei rindo. – Eu namoro um vampiro. – falei mais baixo rindo. - Você leu Crepúsculo?

-Leio tudo que vocês fazem como referencia a nos. Como eu disse ontem... – deu de ombros.

-O Jacob é um porre! Eu odiava ele no livro, ele era um idiota egoísta, e que não suportava ver a Bella com o Edward, e o idiota não deixa de odiar o Edward nem depois que Renesmee nasce. Cara... Renesmee só nasceu por causa de Edward, Jacob devia agradecer.

-Mesmo? – ele prendia uma risada.

-Sim. – disse séria. – E... Alem do mais, eu nunca gostei de personagens bonzinhos, tipo o Edward, acho eles chatos.

-Então admite que eu sou mau.

-Não existe o bom ou o mau; é o pensamento que os faz assim.

-Ok, minha shakespeariana. – acariciou o meu rosto.

-Eu sempre... Tive uma paixão pelos Volturi... Quando eu li a serie Crepúsculo, o livro que mais gostei foi Lua Nova, pois mostrava vocês pela primeira vez. – falei enrubescendo.

-Mesmo? – repetiu, parecendo surpreso.

-Uhum... E... Sempre procurei saber mais sobre você. Sempre foi um mistério para mim quem você era. Ate gravei o primeiro parágrafo que você aparece.

-Diz para mim? – falou singelo.

-Tenho vergonha. – desviei o olhar.

-Por favor. – suplicou com os olhos. Aqueles lindos olhos.

-Ah... – suspirei. – Ta bom. – concordei de má vontade. – “(...) O rapaz pálido de terno cinza perola podia muito bem ser gêmeo de Jane. Seu cabelo era mais escuro e os lábios não eram tão cheios, mas era tão lindo quanto. Ele veio nos receber.” Daí eu não sei mais.

Desviei o olhar, sentindo o sangue coagular em minhas bochechas.

Alec riu fluido. O som mais lindo e viciante que eu já ouvira. Podia passar o dia inteiro ouvindo a musica que era o seu riso.

-Pare... – não consegui conter meu riso.

-Você é perfeita Hellena! – ele segurou meu rosto.

-Não. Eu sou humana!

-Por ser humana você é perfeita.

-Pare de ser tão Edward.

-Pare de ser tão Bella, em qualquer sentido. – riu.

-Seu bobo.

Andamos mais um pouco.

-É incrível a capacidade que temos de brigar, e voltar tão rápido. – ele meneou com a cabeça.

Olhou para o céu cinzento.

-Quer ir para minha casa? – disse sem mal algum.

-Claro. – concordei, com certo mal.

Ok. Estávamos juntos há quatro dias, mas eu não posso desejar não?

Tiramos os patins e fomos a pé para sua casa.

Entramos e passamos a tarde toda conversando, debatendo e comendo. Era incrível como nos dávamos bem, e tínhamos uma mesma linha de conversa, apesar de Alec saber muito mais sobre qualquer coisa.

Eu adorava historia, e ele era um especialista nisso, como qualquer vampiro milenar que se preze.

Como sempre acontecia, não demorou muito para o sol sumir no horizonte, e uma nevasca começar a cair fortemente lá fora, criando um manto fofo e grosso de neve branca.

-Acho que não poderá sair hoje Hellena. – Alec comunicou ao olhar pela janela. Voltou-se para mim. Meu coração acelerou. Passar a noite toda com ele? – Tudo bem? – perguntou ao ouvir meu coração acelerar.

-Sim... – murmurei.

A luz piscou duas vezes e depois caiu.

-Ah que droga. – reclamei.

-Acho melhor subirmos. – comunicou.

Estava tão escuro que eu não conseguia ver nada. Depois de pouco tempo, senti as mãos gelada de Alec tocarem meu rosto. Ele me pegou no colo, e me levou escada acima.

Entramos no gabinete/ateliê.

-Espere aqui. Vou pegar umas velas.

-Vou com você.

-Não. – ele me parou antes que eu ficasse de pé. – Eu enxergo no escuro, você não. Fique aqui.

Apenas distingui seu vulto passando pela porta. Fiquei parada ali, no completo escuro, esperando ele voltar.

Estava sentada na cadeira perto da mesa onde eu colocava meus materiais. Aquarelas de todas as cores pintavam a mesa de madeira, já manchada de tinta. Pinceis de todos tamanhos e formas se espalhavam pela madeira.

Havia um quadro em branco no cavalete, e novas cores que eu mesma criara, se empilhavam ao lado da tela.

O silencio a minha volta era colérico, eu conseguia ouvir o som de meu coração, e isso não era algo agradável. Trinquei os dentes, eu sempre detestei o escuro, e não parecia mais agradável ficar nele agora.

Uma chama amarela e tremulante surgiu no negrume do corredor, e reluzia de uma forma macabra no rosto dele. Suas mãos vieram cheias de velas grossas e compridas.

Me levantei, indo ajudar-lo. Juntos, espalhamos velas por todo o canto, e havia tantas, que o quarto chegou ate a ficar mais iluminado do que antes.

-Acho melhor você dormir aqui hoje... – saiu de novo, e voltou com travesseiros e cobertas.

-Não estou com sono. – reclamei pegando um pincel, ele estendeu o lençol no chão, e se deitou em cima, olhando o que eu fazia. Deitei ao seu lado.

Havíamos pintados as paredes da casa juntos, e agora eu fazia ondas curvilíneas na extremidade de baixo dela. Peguei outra cor e fiz um barquinho, desenhei o sol, e depois uma ilha com coqueiros. Pulei para o lado e desenhei arvores, eram tão grandes que pareciam pilares de um castelo, fiz pontos brancos nelas, como luzes.

-Por que Alec? – perguntei.

-O que?

-Vocês não escolherem me matar?

Ele hesitou.

-Aro acha que você pode ser descendente de alguma criatura mágica. Que talvez tenha um dom.

As palavras dele me lembravam totalmente as palavras de Dacra.

-Acha que eu posso ser o que? Só não me diga que sou filha de um demônio. – revirei os olhos, tonta.

-Não... Não um demônio. Na pior das hipóteses deve ser filha de uma bruxa... – sussurrou chegando mais perto ainda, eu podia sentir o cheiro dele perfeitamente.

-Daí eu não vou poder ser uma vampira. – falei temerosa.

-O veneno mataria você. – ofeguei. – Ei Hellena, não chore... – ele deu uma risada baixa, secando os cantos dos meus olhos. – Você não é uma bruxa. Você pode ser a filha de um anjo, ou um mago... Os descentes dessas criaturas sempre nascem perfeitos e com certa... “proteção” mental.

-Apenas essas três opções? – solucei.

-Não... Poderia ser filha de um íncubo...

-Ou de uma súcubo?

-Impossível.

-Por quê?

-Pela lógica você já seria uma súcubo. – sua voz saiu carregada de ódio.

-Alec... – ele meneou a cabeça. – Porque odeia tanto as súcubo? – ele não respondeu, desviou o rosto em outra direção. Segurei o rosto dele, e virei para que ele me encarasse abertamente. – Contei tudo da minha vida para você, dê dos meus pais ate a aquarela que eu mais acho bonita.

-Contou tudo mesmo? – olhou meus pulsos.

-Isso não vem ao caso, não mude de assunto.

-É perigoso Hellena. Não podemos ficar tão próximos. – sabia que ele não falava da mínima distancia entre nos agora, mas sim de outra forma de aproximação.

-Só me diga por quê. O porquê de você odiá-las tanto. – agora eu me aproximara. O lençol abaixo de nos estava todo enrolado em nossas pernas.

-Sabe por que eu tenho esses dentes Hellena? – sussurrou em voz baixa. Neguei com a cabeça. – Eu... Eu sou filho de uma delas.


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