- Dra. Granger?

                Hermione suspirou e ergueu os olhos da revista que estava aberta em cima da mesa do refeitório e viu um homem de cabelos ruivos cacheados e de óculos grossos que a estava observando com um olhar impaciente parado a sua frente. A médica fez uma careta quase imperceptível enquanto tentava adivinhar o que Percy queria com ela... Será que um de seus pacientes estava causando algum problema? Era sempre por isso que eles a chamavam.

                - O que foi, Percy? – ela sorriu, tentando ser simpática.

                - O diretor quer falar com você.

                - Ah, tudo bem – Hermione se levantou e virou-se para falar com o homem novamente – Você sabe o que ele quer?

                - Não – o outro deu de ombros – Ele apenas pediu para chamá-la.

                A mulher segurou-se para não soltar um muxoxo ao ver a falta de interesse de Percy e simplesmente murmurou um “obrigada por avisar”, antes de sair de perto do ruivo e ir até a sala do diretor, ainda tentando descobrir o que o Dr. Dumbledore poderia querer com ela.

                Ao chegar a frente da sala, Hermione olhou para a plaquinha onde estava escrito “ Dr. Albus Dumbledore”, antes de erguer a mão para bater na porta, mas foi interrompida quando a porta foi aberta bruscamente por outra mulher, que saía do escritório com o rosto vermelho e parecendo irritada.

                - Me desculpe, chefe, mas não dá para ficar perto dele! – Hermione reconheceu a outra como sendo Amélia Bones, outra psiquiatra que trabalhava junto com ela. Amélia parou bem a tempo de evitar colidir contra a outra médica e a olhou por um tempo – Boa sorte, Hermione.

                A mulher ficou observando a outra se afastar rapidamente do escritório, antes de entrar no mesmo.

                - Bom dia, Dra. Granger - Hermione sorriu ao ver Dumbledore, que estava usando uma camisa roxa e uma gravata azul turquesa com desenhos de estrelinhas por debaixo do jaleco branco – Você deve estar se perguntando a razão de eu a ter chamado até aqui...

                - Bom dia, diretor... Ahm, sim.

                - Bom, será que a senhorita poderia me acompanhar? – a mulher concordou com a cabeça e seguiu o velho doutor, que a conduziu para fora de sua sala – Você sabia que você e a Dra. Bones são as únicas psiquiatras deste hospital que tiveram o treinamento específico em psiquiatria forense?

                - Amélia trabalha com psiquiatria forense? – a mulher murmurou – Não sabia... Bom, eu também não trabalho muito com isso, apesar de ter tido o treinamento apropriado.

                - E por que a senhorita nunca trabalhou nesta área?

                - Não sei – ela deu um risinho, vendo que Dumbledore também estava sorrindo – Eu vim trabalhar em Hogwarts e acabei esquecendo da área legal.

                - E o que você diria sobre se arriscar na psiquiatria forense novamente? – o diretor perguntou quando os dois entraram no elevador.

                - O que...? – os olhos da médica se arregalaram enquanto ela se virava para olhar Dumbledore.

                - Nós contratamos um novo médico legista para preencher o cargo que o Dr. Corner deixou vazio  –  o homem sorriu gentilmente – Ele está trabalhando aqui faz uma semana e a Dra. Bones estava trabalhando junto com ele.

                - Estava trabalhando?

                - Sim, ela acabou de pedir para ser retirada do cargo – Dumbledore falou enquanto os dois saiam do elevador – De acordo com a Dra. Bones o nosso novo legista é... Como ela disse? Ah, “Totalmente arrogante e acha que não precisa da ajuda de ninguém” – um sorriso maroto apareceu nos lábios do diretor – Pelo o que eu entendi, ele “monopolizou” tudo no necrotério e não deixou ela nem chegar perto dos prontuários dos pacientes.

                - Então, nosso novato acha que consegue trabalhar sozinho? – ela riu.

                - Sim, parece que nem a Dra. Bones e a sua conhecida paciência deram conta dele.

                - E o senhor quer que eu trabalhe com ele? – Hermione perguntou enquanto os dois atravessavam um corredor vazio e frio.

                - Sim, se você não se importar, é claro...

                - Por mim está tudo bem – a médica sorriu.

                Dumbledore sorriu de volta e se adiantou até a porta do necrotério. A mulher não era muito fã daquele lugar, apesar de já ter se acostumado com a idéia de ficar na companhia de cadáveres (afinal, todo aquele tempo que ela passara dentro do laboratório de anatomia durante a faculdade deveria servir para alguma coisa, não?), a palavra “necrotério” sempre lhe causava um leve calafrio.

                - Você conseguiu irritar a Dra. Bones – o diretor falou ao entrar na sala – Isso é um feito e tanto.

                Hermione esticou seguiu o mais velho e esticou o pescoço para poder enxergar o outro médico. Pelo que a mulher pôde ver, o legista estava inclinado sobre o corpo de um homem no qual ele terminava de dar alguns pontos no peito, obviamente fechando o corte que ele havia feito para examinar o seu interior. O médico não ergueu a cabeça, apenas desviou os olhos azuis da pele pálida do cadáver para encarar os dois recém chegados.

            - A Dra. Bones conseguiu me irritar – a voz do homem foi abafada pela máscara que ele estava usando sobre a boca e o nariz – E eu não preciso de uma psiquiatra na minha cola enquanto eu trabalho.

            A Dra. Granger revirou os olhos ao ouvir isso, mas se conteve para não falar nada.

            - Acho que o senhor precisa – Albus gesticulou para que a outra médica se aproximasse – E é por isso que eu gostaria de lhe apresentar a Dra. Hermione Granger.

            Uma sobrancelha negra do médico se arqueou enquanto ele analisava a mulher com os olhos frios. Hermione sentiu-se mal ao ver como aquele homem parecia estar tentando descobrir tudo sobre ela com apenas um olhar.

            O médico voltou a abaixar os olhos para o cadáver, dando mais alguns pontos, antes de endireitar o corpo e soltar os instrumentos que estava usando em cima de uma mesinha de metal. Hermione observou enquanto o outro retirava as luvas e arrancava a máscara que estava usando. Ela observou o rosto inexpressivo do médico enquanto ele dava a volta na mesa metálica e se aproximava dela e do diretor.

            - É um prazer conhecê-la – apesar das palavras que haviam deixado a boca do outro serem claríssimas, a mulher duvidava que ele realmente sentisse algum prazer em conhecê-la.

            - O prazer é meu, Dr. ... ?

- Riddle – o homem sorriu de leve – Tom Riddle.