Full Circle escrita por Bella P


Capítulo 6
Capítulo 6




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Capítulo 6

Depois da visão de Alice o clima da festa ficou extremamente pesado enquanto Carlisle tentava extrair da filha adotiva mais algumas informações, mas sem muito sucesso.

- Eu não sei! - soltou a vidente exasperada em um ponto durante o interrogatório do médico. - Minha visão só vai até aí! É muito abrangente o alerta. Aro avisou a todos os Volturi e os ordenou que passassem a informação adiante, o que significa que logo vampiros e outras criaturas sobrenaturais ficarão sabendo sobre Kaylee. Agora quando virão atrás dela e o porquê só saberemos quando tomarem uma decisão. - com isto o assunto foi encerrado pelo bem da noite e para não arruinar a festa por completo.

Contudo, a manhã seguinte veio regada de novos planos para a família Cullen e a alcateia, um que tinha como principal objetivo acelerar o treinamento de Kaylee além de colocar os lobos em treinamento também.

- Para quê? - Leah protestou ao ouvir a sugestão de Jasper. - Acha que não sabemos nos defender? Preciso mostrar a você, na prática, o quão afiadas são as minhas garras e dentes?

- Não estou questionando as suas habilidades Leah. - Jasper se defendeu. - Mas o mundo sobrenatural não é feito apenas de vampiros e transmorfos... Há mais por aí. Coisas que nós mesmos não temos conhecimento. E se vocês forem atacados no meio de uma rua movimentada? O que vai fazer? Explodir em pelos e expor um segredo de séculos da tribo Quileute? Óbvio que não. O que são capazes de fazer na forma canina são na humana e o treinamento é para isto, ajudar a desenvolver suas habilidades nesta forma.

- É um bom argumento Leah. - Jacob concordou, o que o fez receber um olhar contrariado de sua beta. - Não vou colocar a vida de Kaylee em risco simplesmente porque estarei impossibilitado de me transformar para não expor o nosso segredo. Vamos treinar. - Jasper assentiu com a cabeça, aprovando a atitude do alfa. Aparentemente quando se tratava da segurança da jovem Whitaker ele não brincava em serviço.

E com isto o vampiro ex-Major do exército confederado começou a bolar estratégias de treinamento para os lobos, o problema era por onde começar a planejar o treinamento de Kaylee. Carlisle disse a todos que o Livro do clã da família da garota não especificava a extensão dos poderes de um curador, o que o médico concluiu que fosse para a segurança do mesmo, e portanto Jasper não tinha muita noção até onde poderia forçar a menina. A experiência com Emmett nos jardins fora uma coisa única, um golpe de sorte, mas não sabia dizer se seria repetida com sucesso. Isto até que em uma tarde ele obteve a sua resposta.

Estavam reunidos na sala, Jacob, Leah, Seth e Jasper, os quatro bolando táticas de combate e a melhor maneira de usar a força do lobo e a agilidade do mesmo na forma humana de modo ofensivo e defensivo, quando Emmett entrou no aposento e jogou-se no grande sofá, ligando a enorme televisão de 60 polegadas.

- Vou atrapalhar? - perguntou o vampiro ao ver que quatro pares de olhos tinham caído sobre ele.

- Não. - Leah sorriu de canto de boca. - Apenas estamos surpresos por ver que você assiste algo remotamente cultural. - e indicou a tela onde a mesma estava estacionada em um canal de notícias.

- Eles têm um boletim de esportes dentro do programa. - explicou Emmett.

- E eu que tinha esperanças. - a mulher rolou os olhos e voltou a sua conversa com os outros. Neste momento Kaylee também surgiu na sala, sentando-se com uma garrafa de soda na mão ao lado de Emmett e este sorriu para ela, passado um braço sobre os ombros pequenos da menina e vendo de rabo de olho que Jacob torceu o nariz.

- Ótimo, ela vai ficar fedendo a sangue-suga. - foi o que ouviu o lobo murmurar sob a respiração em tom de desdém e Emmett mordeu a língua para não retrucar. Jacob por um acaso andava fungando a garota para saber que cheiro ou não ela carregava? Que interessante. Voltou a sua atenção para a televisão onde o apresentador chamava um repórter que estava cobrindo um tufão que passava pelo litoral da Flórida e as imagens mudaram do estúdio para uma Miami sob chuva e ventos de mais de 200 quilômetros por hora.

Casas destruídas apareciam na tela, ruas alagadas, assim como ondas gigantescas que estouravam na praia levando consigo toda a faixa de areia. O repórter praticamente berrava ao microfone, tentando se fazer ouvir sobre o silvo dos ventos e sendo praticamente bombardeado pelas gotas de chuva. Ao fundo o cenário era de escuridão completa e pessoas corriam desesperadas a procura de abrigo enquanto equipes de resgate tentavam auxiliá-las.

- Poderíamos começar com pares de lobo com lobo... - Jasper estava sugerindo, alheio a dupla no sofá, quando algo o fez se calar subitamente. Uma sensação de frustração apossou de seu ser, seguida da vontade de se mover o mais rápido que pudesse e oferecer ajuda. O problema era que ele não fazia ideia de quem deveria ajudar. Franziu as sobrancelhas, mirando de Seth, para Leah e Jacob que o encaravam de maneira curiosa. Sabia que este sentimento não era dele, assim como não vinha dos transmorfos na sua frente.

Em um estalo virou a cabeça na direção do sofá e os seus olhos aos poucos ficaram largos.

- Emmett! - chamou, erguendo-se em um pulo quando viu Kaylee espremer a garrafa de refrigerante com força na mão a ponto de parti-la em vários pedaços, com o líquido escorrendo entre os dedos dela e misturado-se com o sangue provindo do ferimento feito na palma.

Como um raio Leah e Seth cruzaram a sala e puseram-se na frente de Emmett e Jacob em um pulo pôs-se ao lado de Kaylee e a puxou pelo braço, a arrancando do sofá e a colocando às suas costas, usando o seu corpo como escudo e rosnando ameaçadoramente para o vampiro que parecia em transe por causa do cheiro do sangue. Em meio a esta confusão, Jasper reagiu de duas maneiras, a primeira foi desligar rapidamente a TV e a segunda foi a de expandir o seu dom empático para acalmar o cunhado cujo os olhos antes escurecidos aos poucos foram retornando ao usual tom dourado.

Quanto a sensação de frustração e impulso de ajudar, esta desapareceu assim que a televisão foi desligada e um “oh” baixo foi-se ouvido vindo das costas de Jacob. O cheiro de sangue que antes impregnava a sala foi sumindo aos poucos e Jasper virou-se na direção do lobo quando o ouviu soltar em um tom surpreso:

- Como você fez isso?

- Fiz o quê? - veio a resposta de Kaylee.

- Fechou o corte, com direito a efeitos especiais do sangue voltando para dentro do seu corpo e tudo mais.

- Ah... Não sei direito. Só sei que precisava sumir com o corte por causa do Emmett e do Jasper e então “puft”, ele sumiu.

- Cara... - Jacob se virou com as íris negras dos olhos brilhando de maneira perigosa na direção de Emmett. - a cada dia que passa você vai subindo para o topo da minha lista negra. - sibilou venenoso e o homem deu um sorriso sardônico para ele.

- Me emociona saber que chegará um dia em que finalmente estarei acima de Edward em alguma coisa. - Emmett gracejou e Jacob o respondeu com outro sorriso sardônico.

- E quem foi que disse que o Peter Pan está no topo da minha lista? - falou, o mirando com os olhos estreitos e depositando uma mão sobre a coluna de Kaylee, a girando e a levando para longe dos vampiros, só por segurança. Depois deste susto era melhor mantê-la afastada dos sangue-sugas por algumas horas, apenas por garantia.

E foi assim que no dia seguinte, quando Lafayette amanheceu ensolarada, sem nenhuma nuvem no céu, o que impossibilitou os Cullen de deixarem o seu refúgio para ir à escola, que Jasper aproveitou para convocar Kaylee, Jacob e Leah, tendo como espectadores um Seth que possuía uma Reneesme excitada no colo, mais o restante do clã de vampiros, para um treinamento especial com a Curadora.

- Eu gostaria de saber por que sou sempre o escolhido para apanhar! - Emmett resmungou, parando em frente a adolescente com os braços cruzados sobre o peito.

- Ah qual é, está com medo de uma garotinha? Que vergonha Emmett. O que a Rose vai pensar. - Edward zombou, o que o fez receber uma careta infantil do irmão.

- Edward, por favor. - Jasper pediu em um tom complacente. - Não vamos deixar a baixa estima do Emmett pior ainda. Ele precisa ter algo grande para compensar o restante. - continuou sardônico o que fez Rosalie vir prontamente em defesa do marido.

- Pois fique sabendo que tudo no Emmett é grande!

- Menos o cérebro. - completou Leah.

- Há menores de idade no recinto, será que vocês poderiam parar com a baixaria? - Kaylee rolou os olhos e toda as atenções se voltaram para ela.

- Lee tem razão. - Alice aproximou-se da menina saltitando, sua pele alva brilhando sob a luz do sol. - Não vamos ferir os ouvidos virgens dela. Que indelicadeza. - sorriu para a garota.

- Não falo de mim. - Kaylee apontou para onde Seth e Nessie estavam. - Falo deles. Ou vocês já os estão preparando para eventos futuros com as suas frases de duplo sentido? - Bella, se ainda pudesse, ficaria vermelha até a raiz dos cabelos e Edward trincou os dentes.

- Acho que já chega. Estamos perdendo tempo. Emmett, se está com tanto medo assim podemos usar outro. Edward por favor. - Jasper pediu e Edward sorriu de canto, deslocando Emmett de sua posição com um tranco no ombro dele, que gerou o som alto de dua pedras se chocando, e pôs-se na frente de Kaylee. - Desta vez não entrelaçaremos as mãos, não quero que ocorra uma repetição do incidente da vez passada. Edward apenas ficará parado e Kaylee espalme as suas mãos no peito dele. - a garota torceu os lábios, mas fez o que o vampiro pediu, espalmando as suas mãos no peito do outro e separando as pernas para obter melhor equilíbrio. - Temos o mesmo cenário de antes Kaylee, mas desta vez... - Jasper chamou com uma mão Leah que colocou-se atrás de Edward. - a pessoa precisando de ajuda é a Leah.

Os olhos amêndoas de Kaylee encontraram-se com os escuros de Leah e o mesmo cenário que Jasper montou dias atrás com Jacob veio à sua mente. Os Volturi agora cercavam a mulher tão imponente, e mesmo que muitas vezes amaldiçoasse a sua condição lupina ainda sim sentia orgulho do que era. Podia vê-la entre os vampiros, quebrada como uma boneca de porcelana, ferida e caída enquanto era maltratada por eles. Podia ver a pose orgulhosa se perdendo sob os gritos de tortura e dor e as íris negras implorando por ajuda.

Seu sangue ferveu e as pontas de seus dedos comicharam, a pele dos mesmos estava sensível devido a frieza que o vampiro na sua frente emanava. Quando ergueu os olhos não viu Demetri. Desta vez o guarda era sem rosto, tendo o mesmo encoberto por um capuz, mas era igualmente grande e duas íris vermelhas brilhavam sob a sombra da capa, assim como o reflexo de um sorriso cruel e esbranquiçado era exposto aos raios solares. Ele sabia do seu dilema e da sua angústia, podia ouvir os gritos de Leah e ainda sim não iria deixá-la ajudar a mulher.

Ofegou, fechando os dedos no tecido na sua frente e estreitou os olhos. Pois bem, se ele achava que poderia se colocar entre ela e Leah, era bom pensar duas vezes. E então, com esta última conclusão, tudo pareceu escurecer a sua volta e quando retornou a si foi para ouvir dois gritos ecoarem nos jardins:

- Edward!

- Papai! - Reneesme e Bella correram na direção de um Edward caído enquanto Kaylee piscava os olhos repetidamente, tentando colocá-los em foco.

- Não quebro fácil Bella, esqueceu? - o vampiro brincou quando a esposa o segurou pelos ombros, o ajudando a se levantar, e ao mesmo tempo colocou uma mão sobre os cabelos sedosos de Nessie que tinha se abraçado as suas pernas. - Acontece isto com você também Jasper?

- Acontece o quê? - Jasper perguntou.

- Quando ela faz isto, tudo clareia para você? Pois antes dela me arremessar para longe consegui ler a mente dela com clareza e só tinha uma coisa nela: “remover obstáculo, salvar vítima”. E isto se repetia e repetia, quase como um mantra.

- Sim. Quando Kaylee irracionaliza, por assim dizer, ela fica suscetível aos nossos poderes.

- Conseguem me ler quando eu apago? - a jovem perguntou surpresa.

- Apaga? - Jasper e Edward viraram-se para ela com expressões confusas.

- Sim. Me desculpe ter te arremessado longe, mas eu não tinha consciência do que fazia. Parece que quando isto acontece eu desligo e quando volto a mim já aconteceu e o obstáculo está fora do caminho. - explicou.

- Interessante. Edward, volte a posição de antes. - Jasper ordenou e com muito custo Edward conseguiu soltar Nessie de suas pernas e retornar a posição de antes. - Bella... Atrás do Edward.

- Como? - Bella não entendeu.

- Faça o que eu disse. Kaylee, a posição de antes por favor. - pediu e Kaylee assumiu a postura anterior, espalmando as mãos no peito de Edward e trocando o peso das pernas para proporcionar melhor sustentação. - Agora a mesma situação, mas quem está sob o ataque dos Volturi é a Bella. - Kaylee sentiu os músculos de Edward retesarem sob as suas mãos, o homem com certeza estava imaginando adiantado por ela. - Edward, se controle. É tudo uma hipótese.

- Desculpe. - pediu.

- Vamos Kaylee. - a garota mirou Bella sobre o ombro de Edward. Será que Jasper tinha escolhido a outra vampira por saber que a jovem não ia muito com a cara dela? O sujeito era empata e além disso bastante observador, então deve ter notado a troca de olhares e algumas tiradas secas da menina para cima da mulher. Inspirou profundamente, fechando os olhos e tentando imaginá-la na mesma situação que os outros. Não seria fácil, já que não morria de amores por ela, mas não custava tentar.

E então na sua mente o jardim dos Cullen sumiu e estavam na mesma rua escura de Chicago sob a neve. Os Volturi cercavam Bella, mas Kaylee ainda não conseguia sentir nenhuma compaixão por ela, nem mesmo ao ouvir os seu gritos e vê-la se contorcer sob o olhar sádico de Jane. Talvez este negócio de correr ao resgate só funcionasse com pessoas por quem ela tivesse um pequeno apreço ou consideração. Mas então, um novo fator foi adicionado a equação. Uma voz aguda, chorosa, que gritava mamãe. E então o olhar de Kaylee caiu sobre Reneesme presa nos braços de Demetri.

A menina se debatia desesperada, com os braços esticados na direção de Bella cuja pele de mármore apresentava rachaduras na superfície. A mulher ofegava, também esticando os braços na direção da filha e tentando balbuciar o nome dela, mas cada vez que abria a boca gritos de dor era o que saíam dela. Alguma coisa dentro de Kaylee pareceu estourar. Poderia não morrer de amores por Bella, mas a morte dela com certeza iria prejudicar alguém. Reneesme seria a primeira afetada, visto que nutria uma adoração suprema pela mãe. Edward com certeza tornaria-se um verdadeiro zumbi, sem trocadilhos, e a família toda seria abalada.

Perdê-la faria mal aos Cullen. Faria mal ao Jacob. Por mais que não gostasse de admitir, Jacob ainda considerava a recém-nascida vampira sua amiga e o laço entre eles, antes fragilizado, estava aos poucos sendo reconstruído. Perdê-la antes que o mesmo fosse restaurado o faria se sentir culpado pelo resto da vida. Novamente o grito de Bella ecoou em seus ouvidos, junto com o sangue latejando, e tudo desligou mais uma vez.

Quando voltou Edward estava sendo ajudado a se levantar pela esposa e Jasper a mirava com uma expressão pensativa.

- O quê? O que foi? - perguntou a Jasper, confusa. - Não foi bom? Não foi isto que você planejou?

- Sim. - o vampiro coçou o queixo e rodou os olhos por todos nos jardins que tinham ido ali mais para assistir o treinamento do que para auxiliar de fato. - Venha – deu meia volta, seguindo a trilha de lajotas que levava até a garagem da mansão. - vamos sair. Você e eu.

- Como é? - Jacob protestou. - Com licença Polígrafo...

- Confie em mim Jacob. - Jasper pediu. - Afinal, você viu do que ela é capaz. - o lobo estreitou os olhos, cerrando os punhos. Fazer jogo de arremesso com vampiros não era lá grande coisa.

- Jacob... Por favor. - Kaylee soltou com um olhar pidão. Não sabia o que Jasper planejava, mas sabia que era importante e confiava nele. Contrariado e cedendo aos poucos sob aquele olhar, ele permitiu, o que fez Leah gargalhar e soltar um:

- Eu adoro esta garota!

E com isto Kaylee e Jasper foram para o Mercedes do vampiro com vidros fumê e o mesmo os dirigiu até o centro da cidade, parando em uma rua movimentada e desligando o motor enquanto percorria os olhos pelas pessoas que transitavam em um amplo cruzamento.

- Pensei que só caçasse animais. - brincou a jovem.

- Estamos treinando.

- Com o quê? - os olhos de Jasper continuaram a percorrer a multidão até que o sinal do cruzamento ficou verde para os carros e várias pessoas pararam na calçada.

- Veja aquela mulher ali de bolsa marrom, calça jeans e camisa vermelha, bem à frente das pessoas a espera do sinal fechar. - apontou e o olhar de Kaylee seguiu até a dita mulher.

- O que tem ela?

- Ela está na beira da calçada, distraída, digitando algo no celular. Provavelmente mandando uma mensagem. Quantos anos tem? Metade da casa dos trinta? Mão esquerda, aliança, casada. Suponhamos que tenha filhos. Um menino, três anos. A mensagem é para avisar ao marido que está retornando para casa, perguntando a ele por que não deixar o pequeno com a babá e aproveitarem uma noite fora em um jantar à dois?

- Mente criativa a sua.

- Não. Imagine Kaylee.

- Certo. Estou imaginando.

- Olhe pelo retrovisor. Há um caminhão vindo lá atrás. - Kaylee olhou e percebeu que Jasper estava certo, pois pelo espelho ela pôde ver um pequeno ponto que aos poucos se distinguia como um caminhão de transporte de alguma coisa que parecia ser alimentos congelados. - Ela está distraída. Percebe o menino que vem com a bicicleta? - havia um rapaz vindo de bicicleta pela beira da rua, bem rente a calçada. - Quando ela finalmente termina de passar a mensagem vê este garoto e se assusta. Em uma reação instintiva tenta sair do caminho dele e acaba indo parar na rua. O sinal está aberto para os carros e aquele caminhão se aproxima. O motorista a viu, ele até pisou no freio. Mas o peso contra a velocidade...

- Ele vai continuar em movimento. Vai acertá-la. - completou Kaylee, praticamente vendo o propenso acidente se desenrolar em frente aos seus olhos.

- Neste exato momento outro carro veio da rua oposta e então o desastre. A mulher, casada, mãe de um adorável menino de três anos, não foi mais atropelada, foi praticamente esmagada. Pode vê-la Kaylee? Presa entre o para-choque do caminhão e a traseira do outro carro? Esmagada entre as ferragens?

E Kaylee podia vê-la, prensada, ofegante, sangrando, com os seus ossos partidos e expressão atordoada. Podia ver as pessoas ao redor alucinadas, ligando para a emergência e tentando prestar socorro, mas sem saber o que fazer. Podia ver o trânsito parando, o motorista do caminhão saindo da cabine do mesmo com um olhar horrorizado, se perguntando o que tinha feito. O motorista do carro também estava ferido, mas foram ferimentos leves, o airbag o havia salvado. Mas a mulher não parecia ter salvação, não quando praticamente se tornara uma criatura só com as latarias dos veículos.

E então o olhar dela estava sobre a sua pessoa, desesperada, chorosa, implorando por ajuda porque ela não queria morrer. Tinha um filho para criar, um marido que a esperava para o jantar. Sua ilusão até acrescentara mais dados a cena. E se o jantar fosse para contar as boas novas? E se fosse para dizer ao esposo que a família iria aumentar? Agora não era mais ela prensada entre os carros, era ela e mais uma vida que se esvaía junto com ela. E havia gritos e pessoas reclamando que o socorro não chegava, algumas tentando acalmar a mulher, mas nenhuma delas oferecendo ajuda. Afinal, de que ajuda elas seriam? O que elas poderiam fazer?

Mas ela podia fazer alguma coisa. Tinha os conhecimentos. Poderia parar o sangramento, poderia imobilizá-la. Se quisesse, poderia até arrancá-la das ferragens. E então decidida se moveu, apenas para sentir um braço passar pela sua cintura a impedindo de sair do carro. Irritou-se com isto, pois havia alguém precisando da sua ajuda e a impossibilitavam de ajudar. Debateu-se contra o braço que permaneceu firme e insistente e então o som de um estouro a fez piscar e acordar.

- Opa... Melhor irmos embora. - a voz de Jasper penetrou a sua mente nublada e Kaylee piscou os olhos apenas para ver que em seu desespero para salvar a mulher ilusória acidentada, e ao tentar se livrar do aperto de Jasper e dos obstáculos em seu caminho, acabou por chutar a porta do Mercedes, a arrancando de suas bases.

- Foi mal. - pediu baixinho e o vampiro apenas deu um meio sorriso, sacudindo a cabeça em uma negativa e arrancando com o carro, com uma porta a menos, sob os olhares curiosos das pessoas na rua. Com isto retornaram para a casa dos Cullen onde um Jacob ansioso os esperava na entrada e arregalou os olhos quando viu o veículo preto chegar com uma porta faltando no lado do carona.

- O que aconteceu? - perguntou enquanto ajudava Kaylee a sair do carro.

- Espero que o seguro cubra ataques de garotas psicóticas. - a menina virou com um sorriso apologético para Jasper.

- Não se preocupe, já estava na hora mesmo de trocar o carro. - respondeu, dando tapinhas sobre o capô do Mercedes enquanto via Kaylee lhe dar um sorriso e ser levada embora por Jacob. Segundos depois Carlisle desciu as escadas da casa, olhando com curiosidade o carro parcialmente destruído.

- Edward me informou que você levou Kaylee para um teste com estranhos na rua. - o médico mirou o lado do carona sem porta. - Vejo que foi bem sucedido.

- A porta teve um destino parecido com os de Emmett e Edward em nossos treinos. Carlisle... Estou começando a considerar que a existência do Guardião não é para proteger o Curador de perigos externos. - ponderou.

- Creio que sei onde quer chegar.

- Então estou correto em afirmar que chegamos a mesma conclusão. - Carlisle assentiu com a cabeça.

- O Guardião existe para proteger o Curador de si mesmo.


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