Mudando o Jeito de Viver escrita por Mayara Paes


Capítulo 6
O5 - O desabafo. (Bell)




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"Desabafar chorando é bom .. refletir sobre tudo é melhor, mas a superação tem que imperar."



–O que faz aqui? – perguntei com os olhos arregalados e com as bochechas pegando fogo.

Silêncio.

–Edward, o que você está fazendo aqui? – perguntei acenando com as mãos para tentar chamá-lo a atenção.

Pareceu funcionar, pois seus olhos se focaram em mim. Mas o que saiu de seus lábios deixou-me totalmente confusa e desnorteada.

–Porque você não veio á escola essa semana? – perguntou mecanicamente, como se tivesse gravado uma fala.

Inicialmente fiquei confusa, não entendia o porquê de seu interesse as minhas constantes faltas, mas depois de um tempo refletindo, percebi que ele se importava comigo, que ele queria me entender, me conhecer e isso não parecia certo.

Passei muitos anos tentando afastar todos de mim e não seria agora que eu estragaria isso.

Então tomei uma dolorosa e impiedosa decisão. Teria que afastá-lo por mal.

–Não é da sua conta! – respondi rispidamente.

Essa reação desencadeou um arrependimento forte, que me fez cambalear levemente. Uma vontade louca de retirar o que tinha acabado de dizer se apossou de mim, mas me refreei. Se para morrer em paz, sem sofrimentos, precisava machucá-lo, era isso que faria.

Seus lindos olhos verdes estavam opacos, transbordando incompreensão e decepção.

–Mas... – tentou argumentar, sendo impedido. Qualquer palavra que saísse de sua boca naquele momento seria um desastre.

Respirei fundo e fechei os punhos, renovando minhas forças.

–Agora, peço que vá embora! – murmurei friamente. – Não quero sua presença aqui. – finalizei com um aperto no peito.

O vi se virar, atordoado e cambaleante para fora do estúdio de dança.

Ainda na mesma posição, cheguei ao meu limite.

Rapidamente grossas lagrimas escorriam livremente por minha face,denunciando todo sofrimento e dor que sentia naquele momento.

Parecia que cada palavra pronunciada por mim, criava rachaduras dolorosas e incuráveis em meu coração já totalmente estilhaçado.

A cada lágrima derramada, era um pedaço de mim que se quebrava, ou seja, já não restava exatamente nada. Nada inteiro para contar a história.

Não suportando mais tanto sofrimento e dor, meus joelhos cederam batendo-se no chão de madeira, fazendo um barulho oco.

Soluços subiam em minha garganta sufocando-me.

Minha respiração era ofegante e saia em lufadas audíveis, ecoando nas paredes do local.

Tentando juntar os pedaços, abracei os joelhos escondendo o rosto entre as pernas.

Depois disso, somente o que se ouvia era soluços desesperados e torturados, transparecendo não só a infelicidade e dor de um dia, mas de anos de solidão e abandono. Nunca preenchidos, nunca completos.

Porque tinha que ser assim?

Porque não posso ser completa comigo mesma somente com minha família?

Porque estou me abalando tanto em uma simples demonstração de afeto?

Porque justo Edward e Alice mexem tanto comigo?

Não podia ter falado daquele jeito com Edward. Ele provavelmente me odiará e me ignorará como todos os outros. Mas não era isso que eu queria?

Não, ele não!

Porque não consigo sentir felicidade?

Eu quero ser feliz! Eu tenho esse direito!

Eu mereço sorrir, um sorriso sincero, um sorriso alegre.

O que era esse aperto no peito? Estaria eu tendo uma de minhas crises? A doença já alcançará o coração? Finalmente estou morrendo?

Provavelmente não;

Seria o buraco nunca preenchido em meu coração pulsando? Doendo? Uma ferida nunca cicatrizada. Sempre inflamada, mas nunca curada.

Desejei morrer naquele momento, implorava a Deus para me levar para finalmente sentir a paz e alivio tão desejado.

Mas a única coisa que senti, foram braços fortes e quentes me envolverem.

Inicialmente pensei ser o começo do processo para morte, tamanho era o prazer e alivio que me preencheram assim que senti aqueles braços.

Engano meu, era Edward.

Tentando me consolar de algo que ele nem fazia ideia do que se tratava.

Sem me importar com as consequências, retribui o abraço o mais apertado que conseguia.

Era preciso, era necessário.

Então ele não fora embora, não me odiava. Sempre esteve ali, ao me lado. Comigo, não a frente de mim, me ignorando.

Em poucos dias, ele conseguiu o que ninguém, nunca tentou. Destruir as barreiras que nos dividia.

Muros que consegui construir com tempo e disposição.

Em questão de segundos, tudo virou escombros. Tudo virou pó.

NÃO ME ABANDONA! NÃO ME ABANDONA! NÃO ME ABANDONA!

Repetia minha mente berrando em meus ouvidos.

NÃO O DEIXE IR EMBORA, DEIXE-O ENTRA EM SUA VIDA!

Um soluço abafado;

VOCÊ PRECISA DELE, VOCÊ NECESSITA DELE! SOMENTE ELE.

Tanto tempo de luta, se acabou em horas.

Seu perfume aos poucos me acalmava, o aperto sumiu.

Em meio a tantos pensamentos difusos, uma única pergunta sobrou:

Dará uma chance á Edward?

Ainda confusa, libertei-me de seu abraço, recolhi minhas coisas e sai.

Precisava pensar, reavaliar meus pontos. E essa não era a hora, nem lugar.

Corri e rapidamente entrei em um corredor mais movimentado. Na verdade, estava abarrotado de alunos. Todos espremidos em poucos centímetros, deixando pouco espaço para a passagem.

Pouco me importando com eles, comecei a empurrá-los. Liberando minha passagem. Alguns resmungavam e olhavam-me de cara feia. Mas quem disse que liguei?

Afinal, cara feia para mim é fome.

Olhei de relance e vi Edward tentando passar pelos alunos, certamente a minha procura.

Agora não Edward, dê-me um pouco de tempo!

Fui em direção à porta do estacionamento, precisava sair de lá;

–Isabella, o que houve? – pude ouvir a voz de Alice ao longe, mas não parei.

Arrg! Como odeio ser chamada pelo meu nome inteiro.

Destravei o alarme do carro e entrei no banco do motorista, rapidamente dei partida e sai da área escolar.

Suspirei aliviada.

Dirigi devagar, não tendo pressa em chegar em casa.

Minha mente em um turbilhão.

–Deixe Alice e Edward virar seus amigos, somente eles.

–Mas, quando eu morrer, eles iram sofrer por mim.

–É sua felicidade que está em jogo Bell.

–Mas...

–Pelo menos tente, não custa nada.

–Custa sim, a felicidade deles!

–E com a sua, você não se importa?

Felicidade! Suspirei tentando não pensar sobre o assunto, pelo menos não agora.

Estacionei o carro na garagem e soltei Jolie, deixando-o correr pelo quintal.

Destranquei a porta e entrei em casa.

Silêncio.

–Mãe, pai cheguei! – gritei indo ao pé da escada e deixando a mochila.

Silêncio.

Fui até a cozinha e havia um bilhete preso há geladeira;


Bell,

Fomos ao supermercado fazer as compras do mês. Se estiver com fome, tem comida pronta. Apenas requente-a; Preciso que busque Marie no ponto de ônibus, ela chegará às 17h30min. Dê-lhe banho e obrigue-a a comer comida, pois ela só quer comer porcaria. Não deixe! Eu e seu pai iremos jantar fora, mas não chegaremos tarde. Se cuide e ponha sua irmã para dormir cedo, amanhã tem aula.

Beijos, qualquer coisa ligue. Te amamos, mamãe e papai!


Sorri, satisfeita por eles terem saído para se divertir. Há tempos não faziam programas á dois.

Olhei o relógio e marcava 16h00min.

Bom, ainda tem uma hora e meia até Marie chegar. Posso tomar um banho e descansar um pouco.

Corri, pegando minha mochila e indo em direção ao meu quarto.

Joguei a mochila em qualquer canto do mesmo e fui diretamente para o banheiro, necessitava tomar um banho quente e relaxante.


X-X


Deitada na cama, sonolenta, uma cena me veio à mente.

Era Edward e Alice. Ambos totalmente vestidos de branco e mãos entrelaçadas.

Olhavam para frente e sorriam lindamente. Totalmente perfeitos. A beleza se destacava.

Seus olhos verdes brilhavam intensos. Um brilho diferente. Um olhar transbordando prazer e alegria.

Seus cabelos voavam, esvoaçantes em um vento primaveril.

–Faça o que tiver que fazer Bell, sempre estaremos ao seu lado. – sussurraram em uníssono. – Nós te amamos! – disseram e tudo se apagou.

A imagem ficou gravada em minha memória, sorrindo, cai na inconsciência.


X-X


Despertei alarmada. Olhei para os lados, encontrando nada, somente a escuridão.

Suspirei e vi o relógio em cima da mesa de cabeceira. Marcava 17h40min.

–Droga! – gritei levantando em um pulo e pondo rapidamente o sapato.

Corri em disparada para fora do quarto, descendo as escadas em um salto e saindo de casa, sem nem ao menos trancá-la.

Dormi demais, e agora estava atrasada para buscar Marie no ponto de ônibus. Ficava a exatamente duas quadras depois de minha casa, ou seja, tive que me esforçar bastante para chegar no máximo em cinco minutos.

Suor escorria por minha face, minhas pernas totalmente tremulas e sem força para continuar. Estava completamente esgotada.

Quando ao longe, vi uma silhueta pequena e esguia sentada na calçada. Olhava para suas mãos, que seguravam uma folha de papel.

Respirei aliviada.

Corri mais um pouco e parei em sua frente.

–Desculpe pequena, dormi demais e me atrasei! - disse pagando-a no colo.

–Tudo bem Bell, você está aqui agora dorminhoca! – zombou dando um beijo estalado em minha bochecha.

Ri.

–Como foi seu dia? Fez coisas boas na escola? – perguntei sorridente.

–Fiz isso para você! – virou a folha que segurava e me mostrou um desenho. Não era uma imagem perfeita, mas era o bastante para deixar meus olhos marejados. –Essa aqui sou eu e essa maior aqui é você! Aprendi hoje na escola e esse foi o primeiro que tentei. Mas não conta para a mamãe, ela vai ficar com ciúmes se souber que não fiz um para ela também. – riu analisando sua obra.

–É lindo, pode deixar que ficarei de boca fechada! – prometi fazendo um gesto representando um zíper em minha boca.

Soltou uma gargalhada deliciosa que não pude deixar de retribuir.

Em questão dê minutos, chegamos ao portão de casa e Marie correu para brincar com Jolie, ainda solto pelo quintal.

–Jolie fofinho! – murmurava acariciando seu pêlo. Ele lambia sua mão, gostando de seu afago.

–Vamos Marie, você precisa de um banho. – avisei entrando em casa.

–Ah não Bell, eu estou com fome! – reclamou me seguindo. – Posso comer antes? – pediu juntando as mãos.

–Não minha linda, banho primeiro, depois a refeição. – disse pegando-a no colo e subindo as escadas, indo em direção á seu quarto.

–Mas Bell... – tentou argumentar, mas a impedi, sabendo que eu acabaria cedendo a sua suplica.

–Já para o banho mocinha! – pedi fazendo-lhe cócegas.

–Para... Bell. – disse com dificuldade, gargalhando alto. – Tudo... bem, você... venceu. Eu... vou... tomar... banho... agora! –disse-me contorcendo-se sobre minhas mãos.

–Ok, parei! - rendi-me rindo eufórica. –Mas se não ficar cheirosa, irá sofrer com um castigo.

–Já estou indo! – gritou correndo em direção ao banheiro.

Fui para a cozinha preparar sua janta.

Tirava o frango do forno quando sou agarrada pelas pernas.

–Já está pronto Bell? Estou faminta! – perguntou sentando-se na cadeira.

–Já sim meu amor, vou coloca-la para você agora mesmo! – murmurei providenciando seus talheres.

–Obrigado! – agradeceu com a boca cheia.

–Não fale de boca cheia Marie, é falta de educação! – a repreendi sentando-me ao seu lado com a minha refeição.

Ela engoliu a comida e sorriu.

–Desculpe! – murmurou envergonhada.

O silêncio reinou, somente preenchido com o barulho de nossos talheres batendo na louça.


X-X


–Estava delicioso Bell! – comentou quando já estava satisfeita.

–Que bom que gostou. – agradeci terminando de lavar os pratos.

–Posso ver um pouco de televisão antes de dormir? Vai dar maratona do meu desenho preferido e eu não quero perder! – pediu juntado as mãozinhas e fazendo um beicinho lindo, como se estivesse prestes a chorar.

Olhei para o relógio de marcava 20h40min. Já estava tarde, mas como eu disse antes, eu nunca resisto a essa carinha. Essa chantagem devia ser proibida por lei.

–Tudo bem pequena, mas não por muito tempo, pois daqui a pouco a mamãe chega e se ela te ver acordada até tarde brigará comigo! – esclareci arrancando um sorriso exagerado de Marie, que me deu um beijo no rosto e correu gritando “Bob Esponja” até a sala.

Sorri balançando a cabeça negativamente.

Dei uma rápida passada no meu quarto para pegar alguns objetos que eu precisava no momento.

Organizei tudo na mesa da cozinha e deixei Jolie entrar em casa. O mesmo deitou-se ao lado da mesa e lá permaneceu. Quieto, somente sua calda se mexia de acordo com sua animação.

–Isso mesmo amigão, fique quietinho que hoje você dorme dentro de casa. – agachei acariciando seupêlo macio e brilhante.

Latiu em resposta.

Sentei a mesa e procurei por minha última composição. A inspiração veio no fatídico dia de minha internação.

Ela parecia perfeita, descrevia todos os meus sentimentos daquele momento. O quanto me sentia sozinha, fechada em uma solidão aterrorizante.

Suspirei, remexendo os papeis desorganizados em minha mochila.

Ué, ela não está aqui.

Franzi o ceio, tentando relembrar onde tinha posto a folha com a música.

Voltei ao quarto, remexendo os moveis, procurando de baixo da cama, vendo se a tinha colocado dentro de meu guarda-roupa, mas não a encontrava em parte alguma.

Sentei na cama, exausta.

Como ela pode ter sumido assim? Uma folha não evapora de repente.

Forcei minha mente a lembrar da última vez que a tinha visto.


# Inicio do Flashback #

Acontecimento do capitulo “A primeira vista”, uma pequena parte na visão da Bell.


Meu estômago e garganta queimava como se estivessem em chamas. Minha mente não trabalhava direito, somente focada em ir para casa.

Havia acabado de vomitar sangue novamente e já sentia os primeiros vestígios de desmaio. Meu corpo avisando que estava prestes a ceder.

Corria pelos corredores o mais rápido que meus pés permitiam, querendo inutilmente chegar á um lugar seguro, um lugar com assistência necessária.

Mas como querer não é poder, acabei tropeçando em algo e caindo de joelhos, espalhando todo meu material pelo chão.

–Droga! – murmurei revoltada, recolhendo rapidamente todas as folhas espalhadas.

De repente, ouço passos se aproximando e logo avisto pernas há minha frente.

–Quer ajuda? – perguntou uma voz conhecida.

Olhei para cima e pude ter um vislumbre de Edward Cullen, olhando-me em um mesclado de expectativa e ansiedade.

Putz, justo ele! É muita falta de sorte para uma pessoa só!

Neguei e continuei a recolher os papeis.

Ignorando-me completamente, agachou-se e começou a pegar as folhas mais afastadas de mim.

Suspirei resignada e tentei esquecer sua presença. O que eu achava meio impossível.


# Fim do Flashback #


A imagem de Edward pegando as folhas se repetia em minha mente, em um replay doloroso.

–Não! – gritei levantando em um pulo e procurando desesperadamente pela bendita folha. – Ela tem que estar em algum lugar por aqui!

Revirei o quarto inteiro encontrando nada.

–Merda! – murmurei frustrada.

Ele não podia saber dessa música, ela descrevia tanto de mim. Ninguém podia ter visto aquela composição.

Foi quando eu ouvi a campainha soar. Quem será a essa hora? Será que papai e mamãe esqueceram as chaves?

Desci em disparada pela escada e encontro Marie olhando pela janela com um sorrisinho nos lábios. Fiz sinal para que ela voltasse para o sofá e fui abrir a porta.

Para minha surpresa era Alice. A irmã do Edward. O que será que ela esta fazendo aqui?

Alice? - perguntei retoricamente.

-Oi Isabella. - saudou-me com um grande sorriso nos lábios e certo brilho no olhar. Excitação transbordava de seus olhos verdes.

-Bell. - corrigi por reflexo, sem pensar direito.

-Oh! Claro, me desculpe não sabia que não gostava de ser chamada por seu nome inteiro. - respondeu um tanto desapontada, talvez esperasse outro tipo de resposta.

Odiei-me por isso.    

De repente passou por minha cabeça todos os momentos em que Alice tentou se aproximar de mim. Imaginei como seria se eu aceitasse ser sua amiga. Como seria divertido ter uma amiga. Como deveria ser uma festa do pijama?

- O que está fazendo aqui? - questionei sendo rude mais por costume. 

-Bom, é que eu queria ter a oportunidade de ter uma conversa particular com você. O que no colégio não é possível e... – interrompi-a bruscamente.

-Então, vamos ao que interessa. Sobre o que você quer conversar comigo?- perguntei displicente, e logo que minhas palavras foram sendo cuspidas, seu sorriso saudoso murchava gradativamente.

Novamente ao ver seus olhos tristes senti uma grande pontada no meu coração, e um conflito interno inoportuno se iniciou.  

Você não vê que ela só quer ser sua amiga?

Mas não posso, ela irá sofrer.

Você sabe o que é ter uma amiga? Ou melhor, você conhece essa palavra? Olhe para você, você exala solidão. Você exala sofrimento. Dê uma chance a quem ainda se importa com você. Pois os outros da escola já desistiram.

Nesse momento senti uma leve esperança vinda de dentro de mim. Impulsiva, tagarelei:

- Desculpe a indelicadeza, mas você não quer entrar? - nesse momento o sorriso de Alice voltou exuberante e o brilho de seus olhos retornou com força total.

Alegrei-me.

Quando olho para trás para entrar com a Alice, vejo Marie com um grande sorriso no rosto fazendo uma espécie de dança comemorativa.

- Bell tem uma amiga! Bell tem uma amiga!- cantarolava repetidamente.

Desespere-me arregalando os olhos. Corri até a mesma e tapei sua boca com as mãos.

-Marie, olhe a indelicadeza com a visita. - olhei para o relógio e já marcavam 21h15min. – Agora, vá até a sala, desligue a televisão e suba para o quarto. Olhe a hora! Já passou da hora da senhorita estar na cama.

- Mas Bell, só mais um pouquinho, por favor. - implorou com o olhar triste e já ia juntar as mãozinhas, mas logo a interrompi.

-Sem mais um minuto Marie, se mamãe chegar e ver que você está acordada estarei encrencada. Portanto, suba e coloque seu pijama que já irei lá para colocar você na cama, certo?

-Tudo bem Bell. – cabisbaixa, arrastou-se com os ombros caídos até a sala, desligou a televisão e antes de subir as escadas foi em direção a Alice antes que eu pudesse evitar. - Sei que não te conheço, nem sei seu nome, mas por favor, vire amiga da minha irmã. Ela é tão sozinha.

Meu coração acelerou.

–Marie, é para subir agora!

Alice abaixou-se até sua altura e deu um leve beijo em suas bochechas gordas e rosadas.

-Pode deixar, vou tentar o possível e o impossível para fazer o que me pediu, tudo vem? – lançou lhe uma piscadela.

Marie subiu saltitante e alegre, quase não se aguentava.

-Desculpe minha irmã, e que ela é muito pequena, não sabe o que faz. – justifiquei encabulada.

- Sem problemas, Bell. Ela é um amor. – sorriu.

- Sente-se aqui na cozinha que eu já volto. Como você viu, tenho que colocar Marie na cama. Fique a vontade.

- Obrigada.

Subi as escadas com rapidez e fui direto ao quarto de Marie.  Encontrei-a deitada na cama, já com o pijama me encarando com olhos pedintes.

- Bell, por favor, não brigue comigo, sei que você ficou chateada porque eu pedi aquilo para a menina que está lá em baixo, mas é que eu acho você muito sozinha, eu não gosto de ver você assim. Você não sabe o quanto é legal ter uma amiga. Eu tenho algumas no colégio e é tão divertido. A gente brinca, conversa, fica implicando com os garotos. Tenta vai, só um pouquinho.

Comovi-me. Meus olhos instantaneamente marejaram.

- Ah! Bell, não chora. Desculpa-me. Eu não vou fazer de novo. Prometo. -  cruzou os dedinhos e beijando em sinal de juramento.

Peguei-a no colo e apertando lhe em um abraço.

- Marie, não é por que você disse aquilo para a Alice. É pela sua atitude. Você é tão pequenina, mas é tão esperta. Eu me orgulho de você. – confessei emotiva. - Agora você irá dormir, pois amanhã tem aula bem cedinho.

- Tudo bem Bell, eu estou tão cansada. – abriu a boca em um grande bocejo.

Coloquei a na cama e depositei um beijo em sua testa, a cobri até a altura do peito, liguei o abajur e fui em direção a porta.

-Boa noite meu anjo! – desejei com ternura encostando-me no batente da porta.

-Boa noite Bell!

Fui em direção à escada. Alice já tinha esperado demais.

-Desculpe a demora, é que Marie gosta muito de falar. – justifiquei sorrindo amarelo.

-Sem problema, afinal nem foi tanto tempo assim. – abanou as mãos. –Então,  você prefere que eu te chame de Isabella ou Bell? Fiquei um tanto confusa.

- Bell é melhor. Minha família me chama assim. Eu não gosto de ser chamada de Isabella, acho muito grande. Desnecessário.

-Bem, Bell, eu vim aqui hoje porque eu queria ter uma conversa meio urgente e particular com você. – seu tom e rosto ficaram sérios como nunca havia visto antes.

- Pode falar, mas antes, posso lhe oferecer algo?

- Não, estou bem, obrigada. – sorriu.

Sentei-me na cadeira a sua frente.

-Já que eu irei chamar você de Bell, gostaria que você me chamasse de Allie, só meu irmão de vez em quando me chama assim. É carinhoso.

- Então está certo Allie. – sorri em resposta.

- Bell, a história é a seguinte. Eu sou uma pessoa que gosta muito de conversar e fazer novas amizades. Sou muito alegre, divertida, adoro fazer compras e viajar. Eu e minha família morávamos em Londres, e nos mudamos para essa cidade porque meu pai Carlisle, que é médico, recebeu uma proposta de emprego muito boa aqui. E depois de muita conversa resolvemos aceitar a proposta e como consequência nos mudamos para cá. No começo, confesso que não queria, mas depois que cheguei aqui, comecei a conhecer as pessoas e vi o quanto elas são legais e gentis. Eu amo o ar puro do campo, por isso acabei gostando daqui. Só não gostei que não tem shopping, mas as lojinhas de Port Angeles e Seattle são muito boas também. Você deve tá se perguntando por que eu estou contando minha vida toda para você sem ao menos ter me perguntado nada, estou certa? – questionou respirando fundo.

Meu Deus, parece que ela não respira, ela fala muito rápido.

-Bem, sim. – respondi ao mesmo tempo em que um toque preenchia o ambiente.

- Espera um pouco. – pediu atendendo seu celular. “- Oi Edward. – passou um tempo. – Não, não irei demorar, não precisa ficar preocupado, quando eu estiver indo embora eu te ligo, ok?-  ...  – Beijos.”

Era o Edward, ele está preocupado com ela? Ele sabe que ela está aqui? Meu Deus, se ele souber...

Tenho certeza que meu rosto demostrava surpresa, pois Allie examinava o mesmo.

-Hum... Alice, seu irmão sabe que você está aqui? – perguntei receosa.

-Fique tranquila, ninguém sabe meu paradeiro. – sorriu faceira. – Voltando ao assunto.

-Claro.

-Eu estou lhe contando minha vida quase toda, porque eu tenho uma grande vontade de ser sua amiga. Eu procuro você por todo o colégio todos os dias, eu quero que você não fique mais sozinha, como sua irmã me disse. Queria que confiasse em mim e que me contasse a sua vida também. – pediu em um tom serio.

Minha surpresa foi ainda maior ao ouvir suas palavras.

- Allie, confesso que estou muito surpresa com sua visita e mais ainda com suas palavras. Eu não estou sozinha porque quero. É necessário. – quando percebi que esta quase contando a verdade para ela eu travei. Foi tão fácil, tão natural. Era como se minha mente funcionasse como um alarme, quando eu estava perto de contar, ela travava. Isso é bom, ou não? Allie ficou esperando uma resposta, e nada saia de minha boca.

- Porque é necessário? Aí Bell, eu tenho tantas perguntas para lhe fazer. Por favor, responde só uma. – fez cara de suplica, abaixei a cabeça na mesma hora por causa da minha fraqueza para carinhas de cachorro pidão. Eu certamente cederia.

- Bem Allie, quem sabe um dia eu responda suas perguntas. Desculpe-me se não estou tendo a reação que você esperava, mas é que... – fiz uma pausa e respirei fundo. – Bem, acho que já está ficando meio tarde, amanhã teremos aula e seus pais já estão preocupados com você, acho melhor você ir.

Vi seu olhar se transformar em decepção, mas logo depois virar esperança.

- Você está certa, acho melhor eu ir afinal, já são 22h00min. Amanhã nos vemos? – perguntou levantando-se da cadeira e colocava sua bolsa no ombro.

- Claro.

Levei-a até a porta, trocamos leves beijos nas bochechas e a vi ir em direção ao seu deslumbrante porsche amarelo. Fechei a porta imediatamente desabando no chão.

Minha mente em um turbilhão.

Como você pode fazer isso? Agora ela acha que é nossa amiga. E quando nós morrermos ela irá sofrer, assim como mamãe e papai já sofrem e tudo porque a egoísta não quer terminar seus últimos dias sozinha, solitária.

Eu sou infeliz, eu preciso desabafar. Afinal de contas, eu não disse nada de mais.

Você acha que “é necessário ficar sozinha” já não é o bastante? Você viu a esperança brotar nos olhos dela. Ela tem esperança de ser nossa amiga.

Eu não sou egoísta, é só que... Eu também sou humana. Também tenho o direito de ser feliz.

Já estava cheia de conflitos e perguntas novas sem respostas.

Suspirei tentando me recompor.

Arrastei-me até a cozinha catei meu material escolar, que eu nem havia tocado. É meus estudos vão ficar atrasados. Subia as escadas quando ouço meus pais entrarem em casa.

-Chegamos! – exclamou minha mãe retirando o casaco.

-Olá, se divertiram? – perguntei.

-Muito, fomos a um restaurante novo em Port Angeles. Uma maravilha, um ambiente bem aconchegante. – explicou com um sorriso. – Levarei você e sua irmã lá um dia.

-Vou cobrar. – brinquei. – Bom, agora vou dormir, boa noite! – cumprimentei-os.

-Espere, quero te fazer um pergunta. – pediu meu pai. – Vi um carro amarelo sair da garagem, quem era? – perguntou encurralando-me.

Pensa rápido, pensa rápido.

-Hum... provavelmente foi a... Alice. – respondi com dificuldade.

-Alice? Quem é? – questionou minha mãe curiosa.

-É uma menina da escola, filha do doutor Carlisle Cullen. – expliquei de má vontade.

-E o que ela fazia aqui? – desconfiou.

-Bom, ela... ela quis me fazer uma visita, nada demais. – respondi rapidamente tentando fugir.

-Uma visita? De amiga? – perguntou meu pai um tanto incrédulo.

-Não... quero dizer... sim. Ela veio conversar um pouco comigo, nada muito importante! – esclareci sorrindo amarelo.

-Sei... – minha mãe olhava-me como se pudesse ler minha mente, como se tentasse desvenda-la.

-Então, é isso. Tenham uma boa noite! – beijei ambos os rostos e corri escada acima.

Rezava para que eles não me fizessem mais perguntas.


X-X


Já havia deitado há algum tempo. Tentava inutilmente dormir, descansar meu corpo, pois hoje havia sido um dia cansativo.

Mas minha mente vagava para outro lugar, um lugar muito longe da inconsciência esperada.

Virei para o canto e olhei o relógio. Marcava 01h35min. Suspirei.

Quando ouço passos leves fazendo um barulho baixo no piso de madeira.

–Bell... – sussurrou com a voz chorosa.

–Marie? – acendi o abajur.

Ela estava parada ao lado de minha cama, agarrada a seu urso de pelúcia. Mas o que me chamou a atenção foi seu rosto. Com lagrimas escorrendo por sua face, olhava-me de olhos arregalados.

–O que foi meu anjo? – perguntei preocupada acolhendo-a em meu colo.

Soluços ecoavam enquanto ela chorava em meus braços.

–Diz Marie, o que aconteceu? Está me deixando preocupada minha linda! – sussurrei tentando olhar seu rosto.

–Eu... tive um... pesadelo. – disse baixinho. Um soluço.

–Quer me contar como foi? Eu mato os monstros que assustaram você! – tentei ajuda - lá.

–Não sonhei com monstros, sonhei com você. – explicou, olhando-me assustada.

–Comigo? – perguntei confusa.

–Sim, sonhei que você... que você... morria e me deixava sozinha! – e começou a chorar com mais desespero.

Deus! Como posso conforta-la se é a verdade!

–Promete não me abandonar? Promete que nunca irá me deixar sozinha? – perguntou olhando em meus olhos.

Como posso prometer se nunca vou poder cumprir?

–Prometa Bell, prometa! – e começou a chorar novamente.

–Shiii, pequena. Prometo, mesmo que você não possa me ver, eu sempre estarei ao seu lado, está me ouvindo? – perguntei.

Acenou positivamente com a cabeça.

–Fique calma, foi só um sonho, um terrível pesadelo. – balançava-me ninando-a.

E ficamos assim por algum tempo. O tempo em que eu desejava que tudo desse certo no final.


X-X


Nesse momento, caminhava á passos largos e rápidos pelos corredores.

Meus olhos pesavam de sono. Mal havia dormido na noite passada. Sempre que pegava no sono Marie acordava chamando-me. E isso durou a noite toda, já se passava das cinco quando ela finalmente engrenou em um sono profundo.

De repente, uma tontura me atinge forte, tudo girava. Escorrei-me na parede para não cair. Tentava respirar, mais parecia que não existia ar o suficiente. Meu peito doía com a força que eu fazia para conseguir oxigênio. Minha cabeça latejava pedindo por ar.

Quando, ao longe, ouço o barulho de sapatos de salto batendo no piso. Parecia correr.

–Bell? – meu nome foi chamado ao longe. –Bell, você está bem? – Alice questionava.

–Allie, por favor, me leve para o banheiro! – pedi desesperadamente.

Meu pedido foi atendido prontamente. Ela circulou seus braços em minha cintura, apoiando-me, em quanto me guiava um pouco mais adiante.

–O que você está sentindo? Está melhor? Quer que eu pegue água? Aí, eu preciso te levar para a enfermaria! – dizia isso rapidamente apertando o passo.

–Quero que me leve para o banheiro, por favor! – pedi novamente.

–Tem certeza?- indagou-me duvidosa.

–Absoluta. – afirmei.

Caminhamos mais um pouco e em instantes estávamos no sanitário feminino. Escorrei-me na pia do mesmo, lavando meu rosto e nuca.

Gradativamente a tontura ia cedendo e minha respiração voltava ao normal.

–Vamos Bell, diga-me o que está sentindo! – pediu Alice ansiosa, olhando-me pelo espelho.

–Uma tontura forte e falta de ar, normal. – respondi dando de ombros.

–Normal? Você pode estar doente e não sabe, precisa ir ao médico. – dizia gesticulando com as mãos rapidamente.

–Estou dizendo que é... normal para mim! – comentei olhando-a nos olhos e vendo confusão.

–Como assim normal para você? – indagou-me de ceio franzido.

Sabia que essa conversa estava tomando rumos perigosos, mas eu precisava conversar com alguém, desabafar.

Tinha plena consciência de que me arrependeria depois, mas me deixei levar.

–Estou me referindo... a uma crise costumeira... um dos sintomas normais... de minha doença. – confessei com um pouco de dificuldade.

–Doença? Desde quando você está doente Bell? – perguntou confusa. – Que doença é essa? É grave? – fazia varias perguntas de uma vez, deixando-me desnorteada.

–Sim, muito grave! – disse baixando os olhos.

–O quão grave é? Explique-me direito, por favor. Está me deixando nervosa. – pediu preocupada.

–Grave a ponto de óbito Alice, eu estou morrendo! – olhei em seus olhos e pude ver que eles transmitiam preocupação, desespero, nervoso e principalmente, pena.

–Deus! – disse tapando a boca com as mãos.

Ficamos em silencio alguns minutos. Eu sentada na borda da pia, Alice em pé a minha frente, ainda horrorizada.

–Descobri quando eu tinha dez anos de idade. Naquela época, eu era muito imatura, não entendia a gravidade da situação. Mas com o tempo, fui descobrindo da pior maneira o que eu realmente tinha. Minhas crises foram ficando cada vez mais constantes e dolorosas, até que enfim, com onze anos de idade, entendi tudo. Que eu estava morrendo. Que eu não podia mais fazer planos para o futuro, não podia sequer pensar no dia seguinte, pois não tinha certeza se sobreviveria até ele. – contava olhando para meus próprios pés, não tinha coragem de olhá-la. – Minha vida se seguiu assim, semanas e mais semanas no hospital, fazendo tratamentos que não funcionavam. Um dia para mim, parecia durar uma eternidade naquele quarto. – respirei fundo.

–Que tipo de doença é essa? Talvez meu pai possa te ajudar. Ele é médico, trabalha em diversas áreas e... - a interrompi.

–Ninguém pode me ajudar, mesmo assim, agradeço o apoio que Carlisle está me dando! – sorri fracamente.

–Conhece meu pai? – perguntou.

É ele cumpriu sua promessa.

–Sim, ele é meu novo médico. Ele substituiu o outro, então agora ele acompanha meu caso. – expliquei.

–Então, se ele é quem te auxilia, porque ele não nos contou? Não faz sentido. – disse Alice atordoada.

–Há meu pedido! – respondi. –Quando o conheci, descobri pelo sobrenome que você e Edward eram filhos dele. Então o fiz prometer que nunca contaria nada á vocês.

–Porque pediu isso Bell? Não entende que seriam mais pessoas te apoiando, te ajudando. – perguntou confusa.

–Meus pais já sofrem o bastante, eu não queria infligir mais dor e sofrimento a ninguém.

De repente, os olhos de Alice brilharam de modo diferente. Como se tivesse descobrindo algo novo e ao mesmo tempo obvio.

–Nossa! Como não percebi isso antes? Deus, como fui desligada! – murmurou pondo uma das mãos na testa. – Mas é claro! Você se afasta de todos por esse motivo, não quer ver ninguém sofrer por você, não quer que sintam a dor de sua perda.

–Exatamente isso. – concordei. – Ah, e peço desculpas pelo modo que eu te tratei no começo. Acho que agora você entende. – expliquei sorrindo amarelo.

–Entendo, mas não concordo. – disse. –Olha, você é nova demais para ficar sozinha independente de você está morrendo ou não. Você não acha que deve viver o máximo possível? Você não quer morrer feliz? Sem culpa?

Afirmei.

–Então, minha amiga, você tem que começar a mudar hábitos que não lhe fazem nem um pouco bem. Sofrer, todos iram, é inevitável. Mas você, nesse momento, precisa pensar em si mesma em primeiro lugar, fazer o que lhe faz bem, o que lhe faz feliz. – dizia olhando em meus olhos, agora marejados.

–Alice, eu desejo fazer tudo o que você está me dizendo, mas simplesmente não posso. Vou lhe contar o motivo para isso. – comecei. – Já havíamos descoberto fazia algum tempo, as probabilidades não estavam á meu favor. Praticamente todo dia acontecia algo comigo e todos os dias eu ia pararno hospital. E foi em um momento desses que vi a pior coisa que uma criança poderia presenciar. Observei meu pai, sentado no chão, com as mãos na cabeça, chorando desesperadamente. Seus soluços eram altos, demonstrando o quanto sofria. Aquela cena me marcou demais, pois nunca tinha visto meu pai, meu herói chorar. Pensei em ir lá, consola-lo, mas o que veio a seguir me fez paralisar em choque. Minha mãe saiu da cozinha, gritando, praguejando a si mesma. Dizendo que era tudo sua culpa. Que ela não havia tomado às devidas precauções comigo. Pedindo aos céus para levaram ela, não a mim. Aquele momento foi como um... um surto de realidade. Percebi o que eu estava fazendo com as pessoas que mais amo, entendi e vi que não era certo, muito menos justo com eles. Então daquele dia em diante, prometi a mim mesma que nunca mais teria um amigo, nunca mais pensaria ter algum tipo de afeto por ninguém. Pois sabia que não aguentaria ver outra pessoa daquele jeito. – percebi com certo espanto que Alice chorava, seus olhos vidrados em meu rosto transbordando lagrimas grossas encharcando seu pequenino rosto.

Sem pensar duas vezes, corri em seu encontro e a abracei. Um abraço apertado, demonstrando o quanto ela estava sendo importante para mim naquele momento. O quanto ela estava me ajudando a superar tudo isso, a segui de cabeça erguida.

–Você é exceção Allie, você não desistiu. Obrigado. – sussurrei com a voz chorosa.

–Com o tempo você vai perceber que nunca desisto do que eu quero. – disse fazendo-me gargalhar. Finalmente uma risada feliz.

O sinal soou alto.

–Acho que perdemos a primeira aula! – comentei sorrindo.

–Não me importo Bell. – deu de ombros.

–Vamos, não queremos perder mais alguma, já burlo muitas para o meu gosto. – rimos e limpamos nossos rostos.

Assim que saímos do banheiro, pude me sentir renovada. Uma nova Isabella Swan caminhava pelos corredores. Uma Isabella finalmente feliz.

Sim, havia feito á coisa certa.

–Até mais Allie! – disse e entrei em minha sala, já praticamente cheia.

Como costumes nunca mudam, retrai-me um pouco com os olhares de algumas pessoas e fui timidamente para meu costumeiro lugar, ao fundo da sala.

Suspirei estranhamente contente ao encontrar um par de olhos verdes conhecidos encarando-me. Edward Cullen olhava cada movimento meu, até quando eu me acomodei na cadeira, ele virou-se para trás, deixando transparecer claramente que queria dizer algo.

Mas, não disse. Apenas, olhava-me com seus olhos hipnotizantes, demonstrando suplica e ansiedade.

Corei um pouco baixando o olhar.

Alguns minutos depois, o professor de Língua inglesa entra em sala com uma grande urna em mãos.

–Bom dia turma! – cumprimentou depositando todo seu material em cima de sua mesa, inclusive a caixa, onde a ajustou exatamente no centro. – Creio que devem estar se perguntando o porquê desta urna aqui, estou certo? – perguntou e alguns alunos afirmaram. – Bom, vou explicar. Eu decidi que nesse bimestre, irei fazer uma pequena apresentação sobre assuntos diversificados, com a qual cada dupla irá escolher o tema. – explicou.

Ouve uma comemoração coletiva da turma.

–Então o senhor quer dizer que será dupla? – perguntou um dos alunos.

–Exatamente. – concordou. -Nesta urna, está depositado o nome de cada um de vocês. Eu irei sortear as duas pessoas com quem cada um irá ficar.

Agora houve um resmungo coletivo.

–Que isso pessoal, é só uma precaução. Vai ser divertido! – incentivou sorrindo.

Deus! E agora? Com quem vou ficar? Já estou preparada para esse tipo de intimidade? Aí, o que vou fazer?

–Hum... professor Grossman, será que eu não posso fazer o trabalho individualmente? – sussurrei desejando que ele concordasse.

–Não, desculpe senhorita Swan. O trabalho é longo e não terá tempo suficiente para uma pessoa apenas resolve-lo. – meu rosto desmoronou.

–Ok, obrigado! – agradeci encolhendo-me na cadeira.

Estou pronta para trabalhar com alguém desconhecido? Provavelmente ainda não.

–Bom, vamos ao sorteio! – disse visualmente empolgado.

Chacoalhou a caixa e tirou o primeiro nome.

Acho que vou desmaiar!

–Taylor Samuel e Vince Blake. – ambos concordaram.

–Evan Smith e Jessica Stanley. – algumas meninas deram gritinhos.

Bufei revirando os olhos.

–Carrie Maloney e Joey Peck. – sorriram.

Minhas mãos suavam.

–Hum... Interessante. – comentou olhando os dois papeis em suas mãos. – Isabella Swan e ... –Uma Ajuda? Por favor! – Edward Cullen.

–O QUÊ? - gritamos de susto.

Agora, com certeza, era um bom momento para se morrer.



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