Mudando o Jeito de Viver escrita por Mayara Paes


Capítulo 3
O2 - A primeira vista. (Edward)




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"O amor é a primeira condição da felicidade do homem."

– Camilo Castelo Branco.


Fazia exatamente dois dias que havíamos nos mudado da Inglaterra para esta cidade pequena e monótona. Tínhamos deixado amigos, familiares e nossas vidas para trás, junto com país em que nasci e cresci. Tudo por uma proposta de emprego no único hospital deste lugar quase inexistente. Parecia até brincadeira, que até semana passada eu estava deitado no jardim de minha antiga casa e Alice, minha irmã caçula, viesse gritando dizendo que íamos nos mudar para um lugar sem shopping. Quase tive um aneurisma com essa noticia repentina.

Minha vida deu um giro de cento e oitenta graus por isso. Tive que correr para organizar tudo para a mudança. Mudança de casa, mudança de escola e principalmente, mudança de vida. Tudo muito rápido para meu cérebro processar.

A cada dia que passava, via minha casa se esvaziando, eram caixas para todo o lado. Minha mãe, Esme, estava à beira da histeria. Desdobrava-se, sempre verificando se estava tudo nos seus devidos lugares.

Não sabia o que esperar deste lugar, até agora.

Suponho que deve ser tedioso morar aqui, quase sem civilização a vista. Somente
verde, lojas a cem quilômetros de distância uma das outras e animais correndo
pela pista. Quase sem vizinhos.

Todos estão adorando a quietude e a paz que esta
cidade transmite. Menos eu, parecia tudo muito morto, sem vida. Eu gostava de
pessoas andando pelas ruas quase abarrotadas, carro buzinando insistentemente
pelos asfaltos, engarrafamentos quilométricos deixando praticamente um bairro
inteiro parado.

Tudo bem, tudo bem, tenho que concordar. Parece um pouco insano da minha parte, mas esse é o meu modo de explicar que eu gosto de cidades grandes.

Sinto falta de poluição droga!

Amanhã começará minhas aulas. Estou estritamente nervoso quanto a isso. É involuntário. Sempre acontece quando vou freqüentar umlocal totalmente desconhecido. Enfrentar o novo.

Ao que parece, somos a novidade daqui, todos, exatamente todos sabem da nossa chegada. Mal de cidade pequena. Pelo visto, privacidade aqui é quase zero. Como se existisse modo de piorar a situação.


Puff.

X-X



Hoje, tinha acordado excepcionalmente cedo para um domingo. Fiz minha higiene matinal e voltei ao quarto. Olhei ao redor. A única coisa que não estava coberta era minha cama. Claro, onde mais eu iria dormir?

Com um suspiro derrotado, comecei a trabalhar.

Tirando o pó de todos os moveis, desencaixotando livros, meus CDs e principalmente minha guitarra. Adoro música. Toco piano, violão e obviamente guitarra.

Coloquei-a em seu descanso e voltei à tarefa. Um de meus CDs tocava no radio recém-instalado, deixei em um volume baixo, pois provavelmente, todos ainda dormiam.

Limpei o quarto inteiro, guardei minhas roupas em seus devidos lugares. Retirei meus sapatos das caixas, arrumei meus aparelhos eletrônicos, enfim tudo que eu havia trago de lá.

Já se passavam das dez da manhã, quando ouço três batidas rápidas em minha porta.

–Entre! – permiti sentado em meio aos livros.

Antes mesmo de minha autorização, uma linda mulher com rosto em formato de coração e um sorriso acolhedor adentrou em meu quarto. Minha mãe.

–Edward, caiu da cama meu filho? Pensei que estivesse dormindo. – supôs, olhando-me meio surpresa.

–Acordei cedo para organizar este quarto, estava caótico. – respondi olhando a pilha de coisas que ainda existia para guardar.

–Venha tomar seu café primeiro, depois você termina isso. – sugeriu. – Te ajudo se você quiser.

Assenti, levantando-me e seguindo-a para fora do quarto. Andamos pelo longo corredor até as escadas, que davam para a cozinha.

–Todos já se levantaram? – perguntei descendo os últimos degraus.

–Sim, menos a Alice.

–Provavelmente se arrumando. – adivinhei o que a nanica estava fazendo há horas trancada no quarto.

Revirei os olhos.

–Você ainda tem duvida? Sua irmã é indomável. – respondeu risonha.

–Ih, estão falando sobre mim. – o comentário veio de trás de nós.

Olhei em direção a voz e pude ter um vislumbre de minha irmã totalmente enfeitada, como se fosse para uma comemoração importante. Mas, tinha que admitir, ela estava exageradamente linda.

–Aonde a senhorita vai? – perguntei brincalhão.

–Lugar algum! – respondeu passando por nós.

Logo em seguida, Esme e eu adentramos a cozinha e rapidamente nos acomodamos diante de uma mesa totalmente farta. Existia todo tipo de comida ali. Tudo muito exagerado. Acho que isso é de família.

–Bom dia meus filhos! – cumprimentou meu pai, Carlisle, acomodado em sua cadeira costumeira. Sempre na borda. Uma vez eu lhe fiz essa pergunta. Ele me respondeu que se sente no controle de nós sentando-se nela. Só rindo mesmo, vai entender.

–Bom dia papai! – respondeu Alice, mordiscando seu pão.

–Bom dia! – cumprimentei pondo suco.

–Alice querida, irá a algum lugar? – perguntou Carlisle fechando seu jornal.

–Não... – bufou. - Meu Deus, não se pode querer ficar bonita? Agora precisa sair de casa para se arrumar devidamente bem? – reclamou irritada

Carlisle riu.

–Não precisa exagerar para ficar bonita.

–Eu não estou exagerada. – declarou olhando para nós. – Estou?

–Sim, você está tão maquiada que parece uma palhaça de circo. – provoquei.

–Ai meu Deus, está falando serio? Mamãe, estou maquiada demais? Preciso tirar um pouco se exagerei. – dizia isso rapidamente, para logo sair correndo da mesa.

–Edward... – repreendeu minha mãe.

–Só estava brincando, ela que acredita facilmente. – esclareci dando de ombros.

Depois de longos vinte minutos, Alice voltou pisando duro e bufando. Sua respiração estava audível de onde eu me encontrava.

–Edward seu desnaturado, eu estou perfeita. Minha maquiagem está leve. – reclamou se sentando a minha frente e encarando-me ferozmente.

Não resisti, tinha que provocá-la mais.

–Então porque eu estou vendo seu batom borrado?

–Onde? – perguntou passando a mão pelos cantos da boca.

–Aqui! – respondi sinalizando em minha própria boca o local.

–Aqui? – perguntou passando a mão.

–Não, mais em baixo! – continuei sinalizando o local imaginário.

–Onde Edward? Mostra o lugar!

Sorrateiramente, passei meu indicador na geléia. Debrucei sobre a mesa finalizando minha brincadeira.

–Aqui nanica. –  passei o dedo sujo nos seus lábios.

Gargalhei com a careta que ela fez, ao perceber sua boca melecada de geléia.

–Seu idiota! – gritou limpando sua boca com o guardanapo.

–Eu também te amo! – gargalhei mais uma vez, perdendo o folego. Lágrimas escorriam sem parar de meus olhos.

Sem aviso, sinto algo acertar meu rosto. Parei a crise de risos e passei o dedo sobre ele. Estava suja de algo gorduroso e amarelado. Manteiga. Olhei ferozmente para a pintora de rodapé.

–Quem está rindo agora? – provocou.

Peguei a primeira coisa que veio a minha frente e joguei em direção a ela. Que gritou histérica com a blusa totalmente arruinada.

E assim começou. Jogávamos comida na direção um do outro. Eu ria cada vez que ela gritava. Para logo depois ser acertado com algo gosmento. Gargalhávamos de nossa brincadeira um tanto infantil, mas divertida.

Até que ouvimos algo novo. Nunca tínhamos escutado isso antes.

–CHEGA! – gritou minha mãe irritada.

Imediatamente paralisados no lugar. Ela nunca tinha elevado a voz para nós. Nunca em meus dezessete anos de vida.

Estamos ferrados.

–Olha o que vocês estão fazendo! Estão totalmente imundos de comida! – exclamou com os braços cruzados diante do peito.

–Esqueceram-se de nós aqui. – comentou meu pai, saindo de baixo da mesa. Parecia tentar reprimir a diversão.

–Desculpe! – repetimos Alice e eu em uníssono.

–Que isso não se repita! – pediu. – Olha isso! Tem comida grudada até no teto! – reclamou desgostosa olhando as paredes multicoloridas por nossa pequena guerra.


–Deixe isso conosco mamãe, nós iremos limpar. – garanti-lhe passando um guardanapo intacto no rosto. – Sua cozinha ficará totalmente limpa, pode ficar tranqüila.

–Não, eu farei a limpeza. É capaz de vocês fazerem mais bagunça do que já está! – decidiu olhando-nos aborrecida.

–Nós fizemos isso, então nós nos responsabilizamos. – Alice parecia decidia a limpar.

–Mas... - tentou argumentar, sendo interrompida por mim.

–Sem mais dona Esme, está decidido! – minha voz dizia claramente que eu era irredutível.

Ela olhou em volta, olhou para nós e depois olhou para meu pai, como se estivesse pedindo por arrego. Esse apenas deu de ombros, como se não se importasse. Por fim, suspirou derrotada.

–Tudo bem, vocês venceram. Mas, quero essa cozinha branquinha, sem nada comestível pelas paredes, entenderam? – perguntou apontando seu indicador para nós.

Prestamos continência, afirmando que tínhamos compreendido. Essa balançou a cabeça negativamente sorrindo e saiu, acompanhado por meu pai que antes de desaparecer de nossa vista nos lançou um olhar significativo e um sorriso largo.

–Então, mãos a obra. – dito isso, pegamos os matérias necessários e começamos literalmente o trabalho sujo.

Passamos praticamente a manhã inteira e uma parte da tarde arrumando a cozinha. Nunca iria imaginar que uma pequena guerra de comida fosse gerar tanta bagunça. Estava exausto, nunca tinha trabalhado tanto, limpamos até o teto. Limpamos não, eu limpei, pois Alice deu uma desculpa esfarrapada dizendo que não alcançava certos lugares, nem subindo em uma cadeira. Mas, eu fiz um favor a ela. Peguei uma escada na garagem, obrigando-a a me ajudar.

Para piorar, ainda fiquei escutando as reclamações e lamentações dela em meu ouvido. Dizendo coisas como:

–Estou cansada!

–Meus pés estão me matando!

–Acho que vou desmaiar de cansaço!

E por último, o pior de todos:

–Ai, quebrei minha unha!

Escutei e como se não bastasse, ainda me acusou de ser o culpado por isso. Ri para não chorar com essa.

Era uma e meia da tarde quando finalmente, finalmente, acabamos. Queria correr para meu quarto e tomar um banho, mas minhas calças estavam petrificadas, não conseguia andar direito. Caminhava igual a um pingüim, de perna aberta.

Alice, como sempre, ria as minhas custas.

–Está parecendo que sujou as calças. – e soltou uma de suas gargalhadas escandalosas.

–Isso mesmo, ria. Pimenta nos olhos dos outros é refresco. – reclamei emburrado. Ao invés de me ajudar, achava graça.

–O que aconteceu com elas? – perguntou tentando parar de rir. Falhando totalmente.

–Não sei, acho que a geléia secou. – expliquei tocando nelas. Estava grudada em meu corpo.

Ela não segurou mais, gargalhou tão alto, que acho que a vizinhança inteira escutou seu escândalo. E olha que eles estão a uma distância significativa de nós.

Bufei.

–Você ri, mas não está melhor que eu! – provoquei olhando suas roupas igualmente grudadas. Mas, essas facilitavam, ela estava de saia.

–Minha blusa totalmente arruinada. – comentou chorosa.

–Alice, você tem mais blusas do que uma loja de roupa. Tenho certeza que não irá sentir falta dessa. – comente lembrando-me de seu enorme closet, que mais parecia uma butique. Ela tinha varias blusas de diversas cores, tamanhos e modelos e ainda reclama de uma única que está ruim.

–Mas, essa era a minha favorita! – exclamou com a voz embargada.

–Pare de ser melodramática, é claro que você tem outras como essa.

–Engano seu, essa é uma peça única. – explicou. – Eu a comprei quando nós fomos a Manchester, naquela excursão com os melhores estilistas da atualidade. Eles me disseram que só tinham fabricado duas dessa. Que era um modelo exclusivo.

–Tudo bem Alice, não quero saber de suas frescuras. Mas, se isso te deixa feliz, eu te levo em uma loja da região e você compra outra parecida. – tentei amenizar sua histeria, pois ao contrario dela, eu me preocupava, mesmo que essa preocupação seja por conta de roupas exclusivas e blá, blá, blá.

–Como se nessa cidade não tem shopping? E quase não tem loja para se fazer compras? – perguntou parecendo frustrada com esse fato.

–Tem Seattle, fica só há algumas horas daqui. Você compra a bendita blusa e aproveitamos e conhecemos a cidade, o que acha? – perguntei repentinamente animado, pelo menos veríamos pessoas.

–Achei a ideia ótima. – exclamou animada dando pulos de alegria. – Podemos ir depois do almoço, estou faminta. – sugeriu.

–Por mim tanto faz, o importante é sair um pouco de casa.

–Então está combinado. Agora vou para meu quarto, estou necessitando muito de um banho. – correu para seu quarto, batendo a porta.

Eu, pelo contrario, caminhei lentamente para o quarto indo diretamente para o banheiro. Como era de se esperar, tive certa dificuldade para tirar as calças grudadas. Parecia que estava colada com uma super cola. Nunca tinha experimentando o poder de uma geléia seca. Quando finalmente consegui essa proeza, tomei um banho demorado e relaxante. Meu cabelo estava um caos. Fiquei incontáveis minutos só nele, tentando tirar os restos de comida. Nota mental: Nunca mais fazer guerra de comida, principalmente com geléia. Ela é destrutível.

Por fim, desliguei o chuveiro e me vesti.

Voltei ao quarto e terminei de guardar as coisas que restavam. Não eram muitas.

Estava lendo um livro, quando Carlisle me chamou para almoçar.

Comemos em silencio, só se ouvia o barulho dos talheres batendo na louça. Minha mãe ficou aparentemente satisfeita com o nosso trabalho na cozinha. Disse que para quem nunca tinha pegado em um esfregão, tínhamos nós saído melhor que a encomenda.

A quietude agradável do ambiente foi rompida pelo barulho estridente e irritante do telefone tocando. Minha mãe fez menção de se levantar, sendo impedida por meu pai, que se apressou em atendê-lo.

Demorou algum tempo até ele voltar para a mesa. Ele estava obviamente diferente. Estava animado, sorridente e ofegante, como se tivesse corrido uma maratona. Olhava para nós com expectativa, percebi que ele esperava que nós perguntássemos o que havia acontecido.

–Quem era querido? – minha mãe se pronunciou.

–Os administradores do hospital. – respondeu com um largo sorriso. – Disseram que eu posso começar a trabalhar no hospital amanhã mesmo.

–Que ótimo Carlisle! – exclamou Esme abraçando-o.

–Parabéns papai! – parabenizou Alice.

–Meus parabéns, finalmente irá consegui fazer o que gosta. – saudei sinceramente feliz por meu pai conseguir o que tanto queria.

–Demorou, mais finalmente vou poder começar. – comentou risonho.

Na Inglaterra meu pai era um renomado médico de um grande hospital em Londres. Mas, depois de algum tempo, os ambiciosos donos do hospital perceberam que ele era um talento nato, que estava gerando mais lucro para si mesmo do que para há clinica. Como eles só pensavam em fama e dinheiro, sabotaram um dos exames do meu pai. Ele foi acusado de negligencia, sendo apreendido seu diploma e afastado de seu cargo por tempo indeterminado.

Carlisle em nenhum momento se aquietou, recorreu a esse resultado gerando um grande escândalo, deixando tanto os donos do estabelecimento quanto os juízes do caso totalmente enfurecidos. Como era de se esperar, ele foi julgado e declarado culpado, sendo praticamente expulso do local onde trabalhava. Desde então ele vem lutando para tentar retomar ao seu cargo, mas só tendo algum resultado agora, depois de três intermináveis anos afastado de sua amada profissão.

–Disseram que o médico que atendia antes demonstrou resistência ao deixar o hospital, mas que finalmente, depois de um mês, ele aceitou sair. – explicava quase não conseguindo controlar a voz, tamanha era sua felicidade e empolgação.

–Quem era esse médico? – perguntou minha mãe sorridente. Sua curiosidade era quase palpável.

–Chama-se Gerald, Gerald Scott. Ele trabalhava há quase vinte anos naquela clinica. Sempre dava a desculpa de que tinha muitos pacientes na sua lista de espera. – ria enquanto explicava. – Vou ficar com todos os seus pacientes. Informaram-me pelo telefone o básico. Disseram que ele era especialista em doenças crônicas, cardíacas e doenças raras.

–Doenças raras? – perguntei curioso.

–Sim, ele era meio que cientista. Pesquisava as complicações e suas possíveis curas.

–Nossa estou tão feliz por você papai! – exclamou Alice, abraçando Carlisle novamente.

–Eu também minha filha, eu também. Não sabe o quanto esperei por isso, depois de tantos anos. – divagava com a voz embargada.

–Sem choradeira, hoje é só alegria. Vamos viver o presente, o passado já passou. – tentei amenizar um pouco a situação.

–Você tem razão, vamos terminar nosso almoço em família e depois tomamos um bom vinho para comemorar. – dizia. Ao que parece, essa proposta era somente para eles dois. Eu e Alice estamos excluídos dessa comemoração, tivemos que nos contentar com suco de uva. Fazer o que?

Terminamos nossa confraternização em família em meio a risos e brincadeiras. Era bastante perceptível que o humor do ambiente havia mudado e bastante.

Comíamos nossa sobremesa, quando Alice comentou nosso pequeno passeio dessa tarde.

–Eu e o Edward vamos a Seattle está tarde! – avisou empolgada.

–Tudo bem, mas não quero que voltem tarde. Vocês têm aula amanhã cedo. - comandou. Fiz uma careta com o lembrete.

–Pode deixar, só vamos fazer algumas compras e conhecer a cidade. – explicou se levantando da mesa e subindo as escadas.

Logo em seguida subi para meu quarto. Peguei tudo que precisava, incluindo um casaco e bati na porta do quarto de Alice.

–Anda, quero chegar cedo. – e bati novamente em sua porta.

–CALMA! –gritou com a voz um pouco abafada.

–Você já estava arrumada, não precisa de mais nada, vamos logo!

–ESTOU QUASE PRONTA!

–Se você não sai desse quarto em cinco segundos e vou sem você. – ameacei.

Nem terminei minha ameaça, quando a baixinha abriu a porta.

–O que você dizia? –perguntou petulante.

–Vamos logo!

Despedi-me de meus pais e fui até a garagem, onde se encontrava meu amado Volvo prata. Destravei o alarme e entrei. Logo depois, Alice se senta no banco de passageiro e dou a partida.

–Podíamos ter vindo com o meu Porshe.

–Chamativo demais. – declarei simplesmente.

A viagem até Seattle durou pouco mais de duas horas. O caminho foi regado de risos e gritos. Sim, gritos de Alice cantando as músicas que tocavam, sempre dizendo que eram suas preferidas.

Assim que pusemos nossos pés na cidade, minha irmã era incontrolável. Nosso objetivo era apenas comprar uma única e singela blusa, mas, quem disse que levamos somente isso? Praticamente compramos em todas as lojas. Alice parecia outra pessoa. Nunca a tinha visto tão afoita e histérica. Confesso que me assustei um pouco. Em todo lugar que entrava, saia com varias bolsas nos braços. Mas, quem serviu de empregado e ficou encarregado de carregar tudo? Eu, é claro.

Tínhamos o intuito de conhecer a cidade ou pelo menos um pedaço dela. Mas, como a doida parecia insaciável, não deu tempo. Quando olhei no relógio novamente já se passava das oito da noite e ainda tínhamos uma longa e perigosa viagem de volta pela frente.



–Alice, temos que ir! – chamei-a. Essa estava
distraída demais enquanto olhava para as vitrines das lojas procurando mais
coisas para gastar seu dinheiro.



–Só mais uma loja? –
implorou.



–Não, já está tarde. –
neguei não só pela hora, estava exausto.



–Só mais uma, por
favor! – pediu parando a minha frente e fazendo sua famosa carinha de cachorro
pidão.



–Sabe que essa
chantagem não funciona comigo, não é? – perguntei agradecendo por não cair mais
em seu apelo.



–Sim, mas não custava
tentar.



–Vamos pequena, não
queremos dona Esme preocupada conosco ou você quer mais uma bronca além da que
você vai receber? – perguntei, pondo meu braço em torno de seu pescoço enquanto
íamos em direção ao carro.



–Que bronca?



–A de seu cartão de
crédito estourado. – gargalhei da careta que ela fez.



Voltamos em completo
silencio para casa. Na volta à viagem foi mais curta, durou pouco mais de uma
hora e meia.



Como era de se esperar,
recebemos um lindo sermão de nossos pais pela hora, mas o de Alice foi duplo.
Um pela hora e outro por seu cartão novamente estourado por compras
desvairadas.



Assim que libertados, comemos algo, somente para tapear o estomago e subimos cada um para seu quarto.

X-X

Já tinha me deitado há algum tempo, mas não conseguia dormir. Rolava de um lado a outro na cama, tentando encontrar uma posição confortável. Fechava os olhos, mas minha mente vagava para outro lugar, muito longe da inconsciência esperada. Encontrava-me estranhamente nervoso sobre o dia de amanhã. Além do normal. Não sabia o que esperar de uma escola nova, pessoas totalmente desconhecidas.



Suspirei, forçando-me a fechar os olhos novamente.



Sentia uma leve sensação de desconforto no estomago, como se algo fosse acontecer no dia seguinte. Uma intuição?

X-X



Acordei alarmado com o
barulho estridente e extremamente alto de meu despertador. Desliguei-o com uma
força exagerada e escondi o rosto com meu travesseiro. Não havia dormido quase
nada essa noite. Passava das duas da manhã quando finalmente engrenei em um
sono profundo, sem sonhos.



Suspirei frustrado me
levantando contra minha vontade. Tomei um banho rápido e me vesti. Parecia
frio. Guardei todo meu material em minha mochila e desci para tomar café da
manhã.



Entrei na cozinha, onde
somente estava minha mãe sentada à mesa lendo o jornal.



–Bom dia! –
cumprimentei dando-lhe um beijo na testa.



–Bom dia filho!



–Onde estão todos? –
perguntei.



–Seu pai saiu cedo para
o hospital e Alice, como sempre, ainda não desceu.



–Ando querendo
novidade.



Depois de alguns
minutos, a mesma entra na cozinha saltitante e visualmente empolgada.



–Bom dia família linda!
– cumprimentou-nos com um beijo estalado no rosto.



–Vejo que alguém está
de bom humor. – comentei comendo um
biscoito.



–Claro, hoje vamos
começar algo novo. Vamos conhecer pessoas novas, não está empolgado?



–Não. – dei de ombros,
displicente.



–Sei.



Terminamos nosso café
rapidamente. Alice não parava quieta. Saltitava para todo o lado, nem um minuto
sequer parada.



–Alice, pelo amor de
deus, pare quieta um pouco, estou ficando zonzo com tanta movimentação. – pedi,
na garagem esperando pela pulga saltitante.



–Não consigo, estou
muito empolgada!



–Tudo bem, mas vamos
logo, não quero me atrasar no primeiro dia de aula. – pedi destravando as
portas de meu carro.



–Hoje vamos com meu
carro. – declarou destravando as portas de seu Porshe.



–Pequena, quero
descrição. Chamar o menos de atenção possível, entende?



–Não, ontem nós fomos a
Seattle com seu carro, hoje vamos com o meu. Na ordem, compreende? – perguntou
como se estivesse explicando algo para um deficiente mental.



–Tudo bem, você vai com
o seu, que eu vou com o meu. – entrei no carro antes de ouvir qualquer
reclamação de sua parte.



Dei partida e em
questão de segundos estava na estrada molhada. Liguei o som em um volume baixo.
Dirigia distraído pelas ruas cercadas de árvores cantarolando baixinho de
acordo com a música.



Não foi difícil
encontrar a escola. Também era a única.



Dirigi em círculos até
encontrar uma vaga no estacionamento. Este estava praticamente lotado de alunos
conversando e rindo em grupos.



Respirei fundo. Bem- vindo ao inferno.



Ainda não havia saído
do carro quando Alice estacionou seu Porshe amarelo canário na vaga ao lado da
minha. Peguei minha mochila e sai. Grande erro. Praticamente toda a escola
parou o que fazia para nos observar, nos encarando descaradamente. Afinal, somos a novidade, não somos? Nunca
gostei de chamar atenção, mas parece que minha irmã desnaturada não tinha o
mesmo gosto que eu. Só agora tinha percebido; a roupa de da mesma era
totalmente extravagante como seu carro. Eles combinavam.



Revirei os olhos.



Caminhamos lado a lado
até a secretaria, por onde passávamos rostos curiosos viravam para nos olhar. Sentia-me
encabulado com a situação.



Pegamos nossos horários
e nos encaminhamos para nossas respectivas aulas, mas não sem antes nos desejar
boa sorte. Acho que iríamos precisar.



Segui cautelosamente
até a sala que me foi designada. Ela já se encontrava abarrotada de alunos.
Novamente todos pararam o que faziam e me observaram. Suspirei frustrado e me
sentei na cadeira mais afastada de todos, queria pelo menos passar despercebido
por alguns.



Por fim um sinal soou.
Alunos afoitos entraram em sala e se acomodaram nas cadeiras disponíveis
seguido por um professor que parecia novo demais para estar aqui.



A primeira coisa que
fez foi escrever o nome do que julguei ser um livro no quadro negro. “Orgulho e
preconceito”.



–Bom dia alunos, espero
que tenham lido o livro que pedi mês passado... – ouve um resmungo coletivo da
turma. – Que isso, tiveram tempo o suficiente para lê-lo, desculpas não serão
aceitas.



Ajustou-se em sua mesa
e provavelmente viu a informação minha transferência na mesma.



–Hum... Vejo que temos
um aluno novo. – comentou. – Acho que o único que tem uma desculpa plausível
para não ter feito minha tarefa foi o rapaz ali. Apresente-se meu jovem. – pediu



–Edward Cullen, senhor. – apresentei-me
formalmente. Todas as cabeças se viraram para me olhar.



–Não precisa ser tão
formal. – pediu sorrindo gentilmente. – Bom, veio de onde Edward?



–Inglaterra, Londres.



–Agora percebo de onde
vem sua extrema cordialidade. – riu. - Inglaterra é um país diferente daqui,
espero que esteja se ajustando a cidade.



–Também espero senhor.
– declarei sorrindo.



E assim passou a
primeira aula. O sinal soou novamente, mas nenhum aluno sequer levantou da
cadeira. Todos ficaram em seus devidos lugares com uma postura exemplar, o que
eu achei estranho. Pois na maioria das vezes, quando acaba a aula tudo fica uma
extrema desordem.



Visualizei o horário
novamente, agora seria biologia. Olhei em volta e as cadeiras da primeira
fileira estavam totalmente vazias.



Não tinha pessoas
sentadas ali antes? – questionei-me mentalmente.



Acabei dando de ombros
e indo me sentar em uma delas. Adorava essa matéria. Gostaria de prestar a
devida atenção, o que seria difícil de onde eu estava.



Percebi alguns alunos
olharem para mim de olhos arregalados, como se não acreditassem que eu fosse me
sentar lá. Encarei-os de ceio franzido, não entendendo o motivo de tanta
apreensão.



Nesse momento, o que
julguei ser o professor, adentra em sala a passos largos e duros. Em uma
postura aparentemente militar postou-se de frente para a classe olhando-nos com
olhos semicerrados quase em fendas.



–Espero que tenham
estudado para a minha avaliação. – berrou para a turma que imediatamente se
recostou nas cadeiras.



Agora entendi o motivo
da primeira fileira vazia.



–Antes de começarmos,
tenho algumas regras que devem ser seguidas por... – seu discurso foi interrompido
por três batidas hesitantes na porta.



Imediatamente toda a
turma inclusive o professor olharam para a pessoa corajosa que ousava
interromper-lo.



–Entre. – permitiu com
uma voz grossa e afiada feito navalha.



Assim que pronunciadas
essa palavras, pude ter o vislumbre de uma linda menina. Tímida, encantadora. Tinha
estatura mediana, corpo esguio e pele branca feito neve. Não consegui olhar
seus olhos, pois essa olhava seus pés, certamente desconcertada. Parecia
hesitante. Envergonhada. Ela aparentava ser tão frágil.



–Atrasada Swan! –
murmurou irritado o professor para a indefesa menina, essa mordeu os lábios,
nervosa.



–Desculpe-me, isso não
irá se repetir. – pude ter o privilegio de ouvir sua voz de sino. Levemente
entrecortada mais ainda assim doce.



–Assim espero! – disse alterando
a voz. – Olhe para mim enquanto eu estiver falando Swan. – gritou exaltado.



Levantou seu olhar e
nesse momento nossos olhares se encontraram. Senti-me afundando um sua
imensidão. Olhos expressivos, opacos, lindos. Não conseguia nem queria desviar
meus olhos de um intenso e ingênuo chocolate. Eu me sentia estranhamente conectado a essa bela menina deslumbrante.



De repente suas
bochechas transformaram-se em duas bolas róseas, dando-me vontade de mordê-las.
Seus lábios rosados e carnudos eram tão convidativos. Suprimi um impulso de tomá-la
em meus braços ali mesmo.



O
que está acontecendo comigo?



–Swan, está prestando
atenção em mim? – perguntou ferozmente o professor obrigando-a a desviar sua
atenção para ele.



–Desculpe-me senhor
Gregory. – desculpou-se baixando novamente seu olhar aos pés.



–Sente-se, mas que seu
atraso não se repita.



A menina ajustou sua
mochila e caminhou a passos largos pelo corredor ao meu lado. Não sei ao certo
o que aconteceu, só sei que ela tropeçou em algo deixando todos os seus livros
que tinha em mãos caírem de seus braços.



Antes de sequer pensar,
eu estava abaixado junto à menina, recolhendo-os de forma gentil e cortês. Ela
pareceu surpresa a me ver ali. Suas mãos tremiam levemente quando pegou seus
livros de mim.



Mandei-lhe meu melhor
sorriso, estava estranhamente feliz por ter ela perto o suficiente para poder
sentir seu cheiro adocicado e inebriante. Morango, essa era a fragrância.



Ela, por outro lado,
passou por mim sem pronunciar uma singela palavra, um singelo agradecimento.



Hã?



Franzi o ceio.



Frustrado e sem opções,
voltei para meu lugar e tentei inutilmente voltar minha atenção aos berros que
o professor pronunciava. Mas, parecia quase impossível. Encontrava-me
totalmente absorto em pensamentos relacionados à bela menina de olhos azuis.



Até que fui totalmente
arrancado desses devaneios quase brutalmente por um professor que gritava em
meu ouvido.



–Escutou o que eu disse
rapaz? – perguntou com uma carranca.



–Não, desculpe! – para quê
mentir?



–Mal chegou à escola e
já está dando-me dor de cabeça! – murmurou rudemente. – Pedi para
apresentar-se. – repetiu quase cuspindo as palavras. Deixou claro em seu tom de
voz a insatisfação.



Contrariado, fiquei diante
da turma. Apresentei-me diante a alunos totalmente amedrontados. Todos ainda se
encontravam recostados em suas cadeiras, totalmente paralisados. Era até engraçado
de se ver, se você não estivesse na mira de um leão pronto para te devorar.



A todo o momento, a menina
que era denominada por Swan, encarava-me com uma expressão indecifrável. Seus
olhos encontravam-se mortos, sem brilho, sem vida. Quando finalmente pude
voltar a meu lugar, ela me acompanhou com a mesma expressão. Não consegui
compreende-la.



Depois de ser liberado
por motivos óbvios da avaliação grotesca do professor Gregory, fiquei
totalmente absorto em meus próprios pensamentos. Pensamentos totalmente
direcionados a ela. Fiquei intrigado com suas reações. Como quando o ultimo
sinal antes do almoço soou, ela praticamente pulou de sua cadeira e saiu de
sala antes que qualquer aluno tivesse tempo de fazê-lo. Estranho, muito
estranho. Sentia uma enorme vontade de conhecê-la melhor, desvendar suas
expressões aparentemente impenetráveis.



Andava pelos corredores
ignorando os olhares curiosos e quase sempre interessados de alguns alunos e
alunas. Essa situação já estava incomoda. Parecia que a qualquer momento eles
iriam pular em mim como se eu fosse carne fresca em meio a lobos famintos.
Esperava terminantemente que isso não acontecesse.



Adentrei ao refeitório
e o mesmo estava totalmente abarrotado. Olhei em volta, tentando encontrar uma
baixinha desnaturada que esqueceu seu irmão perdido em meio a pessoas
totalmente desconhecidas. Esta se encontrava sentada em volta de alguns alunos
desconhecidos por mim, mas aparentemente íntimos dela. Caminhei cautelosamente
até lá. Alice distribuía sorrisos com o pessoal, como se os conhecesse de longa
data e não a meras horas.



–Alice, esqueceu de
mim? – perguntei fingindo falso ultraje.



–Nunca irmãozinho,
estava apenas distraída. – respondeu sorrindo. – Estava agora mesmo falando de
você para meus novos amigos.



–Espero que não esteja
me difamando para eles. – disse divertido.



–Claro que não, dizia
que você era o melhor irmão do mundo. – explicou fazendo piada.



–Claro, claro. –
concordei desconfiado olhando as pessoas a mesa. Era uma menina e dois meninos.



–Bom, deixe-me
apresentá-los. – pediu. – Esse é Emmett McCarthy – gesticulou para um homem
grande, cheio de músculos com cabelo curto e crespo. – Essa é Rosalie Hale. – gesticulou para uma loira espetacular. Corpo
esquio, cheio de curvas e cabelo até o meio da cintura. – Por fim, esse é o
Jasper Hale, irmão gêmeo de Rose. – senti certa afobação quando Alice
pronunciou o nome do loiro.



–Pessoal esse é Edward.
– disse por fim gesticulando para mim.



–Oi. – cumprimentei
simplesmente.



–Olá. – responderam em
uníssono.



–Sente-se conosco. –
convidou Rosalie.



–Tudo bem. – concordei
sentando-me ao lado de Alice.



Aos poucos fui
conversando mais abertamente com eles. Cada um tinha uma personalidade. Emmett
era o burro engraçado, Rosalie era a gostosa individualista e o Jasper era o
tímido intelectual. Enfim, pareciam pessoas de bom convívio.



Nesse momento, Emmett
contava uma piada sobre loiras o que estava deixando Rosalie enfurecida.



–Vocês sabem como se
apaga a memória de uma loira? – perguntou quase não conseguindo formular a
frase tamanha era sua diversão.



–Não. – respondemos
risonhos.



–É só soprar sua
orelha. – respondeu dando uma gargalhada estrondosa.



–Emmett eu já pedi para
parar. – exigiu Rosalie chegando à beira da histeria. Percebendo a humor negro
dela, todos imediatamente pararam de rir, menos o cadáver que chegava a se
contorcer de tanto gargalhar.



–Edward sopre a orelha
de Rosalie, ela não irá se lembrar de você amanhã. – comentou com lagrimas
escorrendo de seus olhos.



Por fim, Rosalie
levantou-se de sua cadeira e com suas unhas gigantes e vermelhas deu um tremendo
beliscão no braço de Emmett que imediatamente cessou a crise.



–Aiii, ROSALIE, doeu! –
gritou ele esfregando seu braço.



–Era para doer seu
idiota. – gritou. – E a próxima vez que qualquer um fazer uma dessas
brincadeiras outra vez, terá que lidar comigo.
– generalizou a ameaça.



Ninguém pronunciou
nenhuma palavra.



Mas o silêncio não
durou muito, rapidamente começou murmúrios baixos na mesa sendo assim esquecido
o episodio anterior.



Comia distraidamente
uma maçã quando a vi, sentada no canto mais afastado do local a menina que
povoou meus pensamentos o dia inteiro. Ela se encontrava sozinha na mesa.
Somente uma bandeja aparentemente intocada de seu lanche e papeis espalhados
pela mesma. Não me viu observando-a, pois essa escrevia algo em um dos papeis.



Novamente fui tomado
pela curiosidade.



–Jasper, quem é ela? –
perguntei apontando discretamente a menina com profundos olhos castanho chocolate.



Ele olhou em volta até
encontrar de quem eu falava.



–Ah, aquela é Isabella
Swan. – respondeu de boca cheia. – Por quê?



–Nada, só curiosidade.
– fingi indiferença.



–Ih Edward, acho melhor
você desistir. Ela não fala com ninguém, ninguém literalmente. – explicou. - Desde
que eu entrei na escola ela é solitária. Nunca há vi conversando. Sempre se
senta naquela mesma mesa somente ela e seus livros. No começo eu até tentei
fazer amizade, me socializar um pouco, mas ela simplesmente se recusou.
Afastava-me educadamente dizendo não estava interessada. Por fim, eu desisti. –
explicou dando de ombros no fim.



Franzi o ceio.



Agora todos prestavam
atenção à conversa.





–Mas, por quê? –
perguntou Alice curiosa.



–Alguns dizem que ela
tem problema mental, outros dizem que é frescura de sua parte não querer se
misturar com os subalternos, mas ninguém sabe ao certo. – explicou. – Todos
simplesmente a julgam sem saber o real motivo.



–Nossa, coitada. –
comentou minha irmã com pena.



–Algo me diz que ela
não quer sua piedade Alice. – comentou Rosalie.



Pensava nas palavras de
Jasper. Sozinha. Como uma menina dessa idade quer ser solitária?!



Fui retirado de meus
devaneios por um barulho extremamente alto. Olhei por reflexo o motivo de tanta
barulheira e observei Isabella recolher seu material rapidamente derrubando as
cadeiras vazias a sua volta com os movimentos desajeitados e desleixados. Sua
badeja estirada no chão, com a comida espalhada por toda a extensão do
refeitório. Todos olhavam incrédulos, a mesma correr com a mão tapando a boca
até sair de nossas vistas.



–O que será que deu
nela? – perguntou Alice.



–Não sei, mas estou
começando a considerar a ideia de doença mental. – comentou Emmett.



–EMMETT! –
repreendemos.



–Que foi? Desculpe! –
redimiu-se baixando a cabeça.



Ninguém falou
absolutamente nada até o sinal tocar. Recolhemos nossas coisas ainda em
silencio e cada um seguiu para sua respectiva aula.



Antes de seguir para o
local designado, passei rapidamente na secretaria para pegar a combinação de
meu novo armário. Depois segui para o mesmo com a intenção de guardar alguns
livros que estão sendo inúteis no momento.



Guardava o material
quando ouço um resmungo baixo.



–Droga!



Olhei para a direção da
voz e observei Isabella ajoelhada ao chão recolhendo folhas e livros espalhados
por toda a extensão do corredor.



–Quer ajuda? –
questionei prestativo.



Somente negou com a
cabeça.



Não me importando com
sua resposta, ajudei-a a recolher os que a mesma não havia pegado ainda.
Olhou-me de rabo de olho, suspirou e continuou a recolher.



Quando se levantou
percebi que ela estava diferente. Estava muito pálida, com o nariz vermelho e
suava, pois seu cabelo grudava na testa.



–Sou Edward, prazer. –
ela sabia meu nome, mas não consegui formular nada coerente para dizer. Em um
ato totalmente antiquado, estendi-lhe a mão em cumprimento.



–Desculpe, estou
atrasada. – cortou-me, ignorando minha mão estendida passando por reto por mim.



Observei-a se
distanciar cada vez mais, até que ela parou e ainda de costas para mim disse:



–Agradeço a ajuda. –
disse alto o suficiente para ser ouvido por mim. E começou a caminhar
novamente.



–Posso pelo menos saber
seu nome? – gritei. Ela não precisava saber que eu já havia me informado.



A mesma virou-se ainda
andando e respondeu.



–Isabella, Isabella
Swan. – deu um breve sorriso e saiu de minhas vistas.



Sorri meio abobalhado.



Balancei a cabeça
negativamente e fechei meu armário. Estava prestes a ir para minha aula quando
algo me chamou a atenção. No chão de piso escuro encontrava-se uma folha.
Curioso, peguei-a e li. Estava identificado como “Música da Bell”.


Eu me sinto tão sozinha, revirando as minhas coisas
Procurando um caminho, despedir das minhas dores
Se você está me ouvindo, me arranje uma saída
Eu me sinto tão sozinha.



Solidão.
Solidão que me assombra todo dia
Está assim, tão perto deu enlouquecer
Solidão. Solidão que me segue todo dia
Está assim, tão longe deu sobreviver.



Isso ainda é o começo, tenho muito pra sofrer.
Está difícil de agüentar.

Eu só tinha um desejo, ser feliz o quanto durar.


Quando se está sozinha,
ninguém ao seu lado quer estar,
e quando em um quarto escuro,
a solidão, me faz chorar...e quando triste estou,
não sei mais quem sou,

pois o meu corpo está aqui,

mas a minha alma jaz ali...



Solidão.
Solidão que me assombra todo dia
Está assim, tão perto deu enlouquecer
Solidão. Solidão que me segue todo dia
Está assim, tão longe deu sobreviver. ”

Até o momento, nãosabia o que significava essas palavras. Mas, de uma coisa tinha absoluta certeza; estava disposto a conhecer a menina solitária que tanto me intrigava.


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Notas finais do capítulo

CAPITULO REPOSTADO: 24-4



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